sexta-feira, 31 de maio de 2013

temos em comum uma alma desassossegada

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.


Fernando Pessoa

(já disse que adoro pessoa, não já?)

hoje

Não importa o que se ama. Importa a matéria desse amor. As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor. As palavras são só um princípio - nem sequer o princípio. Porque no amor os princípios, os meios, os fins são apenas fragmentos de uma história que continua para lá dela, antes e depois do sangue breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O sujo, a luz, o áspero, o macio, a falha, a persistência.

Inês Pedrosa,
fazes-me falta 

eu

Enganavas-te tanto sobre as pessoas. Desenhavas tudo a preto e branco. Uma atitude negativa, uma frase infeliz - e lá se ia aquele ser para o caixote do lixo.

Inês Pedrosa,
fazes-me falta

o amor é fodido

Como se o amor não fosse exatamente essa fornicação metafísica que não nos diz respeito - sofremos-lhe apenas os estilhaços, que nos roubam a vida e a vontade.

Inês Pedrosa, 
fazes-me falta

bitchy

Ainda a propósito da minha antiga explicadora, reparei no outro dia que o filho tem duas coisas em comum com ela. 
A monocelha e o bigode.

lembrei-me

A minha antiga explicadora decidiu relatar-me todos os pormenores dos dois partos. To-dos.
E só não me revelou os da conceção porque deus não quis.

podia lá eu gostar de alguém normal.

É errado dizer-se que não escolhemos a pessoa de quem gostamos. Acredito que, ainda que de forma inata, escolhemos. Talvez estejam essas teorias loucas meias certas; se calhar, a história das almas gémeas é verdadeira, se calhar também há almas alheias que nos assentam tão bem como se fossem as nossas próprias almas, e acabamos por entender que não as podemos deixar ir mais. Chamamos-lhe amor para simplificar a justificação. Ou se calhar nem é nada disto, mas não importa.

Acredito que o escolhi. Porquê, é difícil de explicar. Há algo nele que me fascina desde o primeiro momento, ainda que isto me pareça demasiado infantil para confessar em voz alta. Mas é isto mesmo; ele fascina-me e a única maneira de explicar porque é que gosto dele, é descrevê-lo com todos os pormenores - porque sim, os pormenores fazem diferença. Simplifiquemos. Gosto dele por ser ele. Gosto dele por ser estranho e não sei isolar uma caraterística, não consigo diminuí-lo a um só pormenor. E é isto - é isto que o torna (ainda mais) inalcançável por alguém como eu. Desse o mundo três cambalhotas que eu continuaria a não ser o suficiente.  

Não há nada a fazer. Daqui a pouco tempo, os nossos caminhos separam-se de vez, e ele nem se vai voltar a lembrar de mim. É melhor começar a habituar-me a isso.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

não é meu mas podia ser


o que importa é que ninguém descobriu

Apesar de estar a congelar, a necessidade de mexer o fat ass assim naquela de não me tornar ainda mais lontra do que já sou falou mais alto e ontem sempre me decidi a sair de casa e ir à aula de aeróbica. Como vou com a minha prima e a nossa excentricidade não é suficiente para nos darmos ao trabalho de ir de carro a um sítio onde chegamos em dois ou três minutos a pé, patrícia pôs as patas ao caminho.

Ora, como há gente que se atrasa ainda mais do que eu, quando lá cheguei, assolapei o cu no chão e entrei em transe. De repente, comecei a sentir um cheiro diferente no ar. Não havia dúvidas; alguém estava a espalhar uma incrível fragrância a merda pura. O meu primeiro pensamento foi porra, a pita deve estar toda cagada. Até que percebi que era eu.

Não estava cagada, entenda-se, mas pisei merda quando ia para lá, e ainda não tinha reparado. Entretanto, a aula começa. Com isto, comigo a circular, começa a ficar um cheiro horrível no salão. Começaram todos a comentar que deviam andar a espalhar estrume nas terras ao pé do rio, e o vento devia ter trazido o cheiro. Então o que é que fizeram? Fecharam as janelas. Escusado será dizer que piorou, certo?

Certo. Mas o pior mesmo foi quando começámos a fazer o aquecimento. Como não estava com grande vontade de explicar àquela gente toda que, afinal, a fedorenta era eu, decidi fazer-me de entrevada e recusar-me a encostar os pés ao cu. Meh, lindo. Especialmente porque é quase toda a gente mais velha do que eu.

Entretanto, tive de pensar numa solução rápida. Fingi-me mal disposta e fui para a rua. Buuuum. Vieram duas criaturinhas atrás de mim. Por sorte, tinham trancado as casas de banho à chave, e sempre tinha uma desculpa para ir à rua.

Tcharaaaam. Vieram atrás de mim. Queriam que fosse mijar ao cantinho do jardim. Uhmuhm. Lá lhes disse que não, que só queria apanhar ar, enquanto limpava o pé assim como quem não quer a coisa.

Já com tudo nos conformes, volto para dentro. De janelas fechadas, o salão cheirava horrivelmente mal. Para não parecer suspeita, comecei, também eu, a queixar-me do cheiro, e a dizer que talvez alguém tivesse pisado merda, enquanto levantava os pézinhos inocentemente para mostrar que tinha as sapatilhas impecavelmente limpas. Porque estavam, senhores, estavam. E, graças a isso, ninguém faz ideia de que afinal o estrume não estava na terra. Estava lá dentro.

rezemos para que eu a volte a encontrar, ámen

Encontrei hoje, por mero acaso, uma amiga que já não via há mais de 2 anos. Isto podia ter sido um acontecimento feliz, não fosse eu ter ficado tão surpreendida por a ver ali que nem a cumprimentei. Nem ela a mim. Não me saia da cabeça o facto de eu lhe ter dito que lhe ligava depois de jantar, e já se terem passado 3 meses.

E não, nem foi por falta de vontade que não lhe liguei. Foi mesmo por medo de a incomodar (!), por nem saber o que dizer quando voltasse a ouvir a voz dela, tanto tempo depois. Mudaram tantas coisas desde a última vez que estivémos juntas, mudei tanto, que foi impossível não a estranhar. Agora, lá que eu podia ter reagido melhor e mostrar que estava realmente contente por a ver, isso podia. Mas fazer o quê? Ser social e demonstrar afetos não é propriamente algo que costume fazer.

é isto

Às vezes pergunto a mim mesma que raio de ideia é essa de esconder os sentimentos quando se trata de gostar, quando digo que não gosto com o maior desprendimento possível. Não faz sentido. Não é gostar de alguém  algo bom? É.


Mas é inevitável pensar que, se ele soubesse, iria desejar que não fosse eu. Ia querer que fosse uma dessas meninas bonitas e normais. E inteligentes. E, vá, interessantes. E não eu, nunca eu. 
É por isso que ele não pode saber.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

metade dos meus dramas descritos numa só imagem


shame on me

O meu guilty pleasure foi descobrir que a gaja linda que eu sei lá, e toda perfeitinha e cenas, gosta de one direction. Thank god, todos temos defeitos.

(tenho que me agarrar a qualquer coisa, não é?)

mas que bem

i'm going to hell anyway so at this point it's like 'go hard or go home'
(que isto me inspire, ámen) 

ainda não sei gostar de mim

Se calhar, a maior vantagem de tomar todas as decisões por mim e ignorar o que me dizem, é também a maior desvantagem. Quando isto tudo acabar, quando tudo estiver feito e eu voltar a mergulhar nesse abismo, não vai restar ninguém. Serei só eu, e não terei ninguém a quem culpar. Parece bom? Parece. E, no fundo, sei que é. Mas só vai incendiar ainda mais a revolta que sinto contra mim mesma. 

terça-feira, 28 de maio de 2013

e depois ando eu aqui sem ninguém que me pegue

Ainda há uns meses - poucos - a miúda publicou uma foto dela com o namorado ajoelhado à frente dela, com a típica declaração de amor na descrição, porque ai jesus, tão romântico, temos 14 anos e ele pediu-me em namoro de joelhos à frente dos meus pais, é o homem da minha vida. Reparei hoje que ela já tem outro namorado há algum tempo.

Em que momento é que, quando ela tentar escrever és o homem da minha vida no fb, lhe vai aparecer a mensagem edições em conflito?

dramas absolutamente fúteis

Estava farta de me queixar que já nem podia ver o brinco com que furei a orelha, porque não combinava com nada e o caraças. Ora, no sábado constatei que o furo cicatrizou e posso, finalmente, meter o brinco que quiser.

Isto podia ser bom, não fosse eu ter-me dado conta de que os meus brincos são todos demasiado grandes para ficarem bem dois numa orelha. Ou seja, para que a porra do furo não feche, logo agora que já deixou de doer, vou mesmo ter de continuar a usar a porcaria do brinco. 

O interesse disto é enorme, bem sei, mas amuei e apeteceu-me partilhar.

não me chateiem

Se eu ontem me engasguei toda a apresentar um trabalho de 10 minutos, já começo a tremer só de imaginar o que vai acontecer amanhã, no trabalho final de psicologia. Ora, se há 3 noites que eu praticamente não durmo, também ainda não vai ser hoje que vou pôr o sono em dia para ver se me deixo de olheiras. Avizinha-se mais uma excelente noite e um ótimo dia. Fingers crossed.

awesomeness

Costumo estar tão atenta nas aulas de biologia, que só ontem me dignei a abrir o livro e a perceber por alto o que ia sair no teste de hoje. Inicialmente, entrei em pânico, mas depois acabei por me preocupar com outras coisas e não estudei. Mea culpa. Entretanto hoje fui ouvindo partes da matéria, dita assim por alto aqui e ali, pouco antes do teste.

Sorte, pura sorte, isso saiu. E creio poder dizer que, de todos os testes de biologia deste ano, foi mesmo o que me correu melhor. Enfim.

monotonia é

Todos os dias eu me cruzo com a mesma velha enquanto espero pelo autocarro. E todos os dias, seja ou não verdade, ela me diz a mesma coisa; o tempo está fresco, menina!

Um dia destes, arrisco e digo-lhe bom dia. Só naquela.

metáforas

Bebeu demais e perdeu a noção de tempo e de espaço. Caminhava agora, lentamente, em direção a casa, mas não o sabia ainda. Faltava-lhe aproximar-se do jardim para que zazu, o cão, lhe saltasse para cima e ela descobrisse que era ali o final da viagem.

Sentou-se no alpendre. As quase duas horas de caminhada, ainda que ela não faça ideia do tempo que andou, deram-lhe a oportunidade de se recompor o suficiente para voltar a si. E quem lhe dera não o ter feito! Zazu lambia-lhe as mãos, claramente feliz por a ver. Enquanto lhe afagava o focinho, deu por si a chorar. Aquelas lágrimas que só surgem em momentos inesperados, como este, em que tudo parecia ter corrido bem, até ela se ter lembrado do que estava mal. O choro dela era agora descontrolado, complementado com soluços sonoros.

Ninguém deu por ela ali, deitada no chão do alpendre, com o cão a lamber-lhe as lágrimas. Sentia-se só, e nem sabia explicar porquê. Diriam vocês que eram efeitos do álcool, e não nego, ainda que com a nota de que a única contribuição deste, foi para a sua libertação. Finalmente, chorava sem medo. Chorava por tudo, e perguntava a si mesma, ainda que baixinho, que mal teria ela feito a esse deus, se é que ele existe, para que ele lhe tivesse dado tanto azar na vida. De repente, o múrmurio deixou de o ser. Deu um grito que rompeu a noite e fez a persiana da casa em frente se abrir. Estava desesperada.

Lembrou-se subitamente da chave suplente debaixo do tapete da entrada, e resolveu entrar. Só aí se apercebeu dos pés ensanguentados, fruto da longa caminhada que ela não se lembra de ter feito descalça. No hall, o espelho mostra-lhe a sua figura; despenteada, de maquilhagem esborratada, vestido rasgado. Sentia-se nada. Pior que nada. Ela era nada. Queria partir o espelho, mas sabia que não valia a pena, porque ela continuaria ali, e continuaria a existir uma sombra para lhe mostrar o que ela não queria ver.

Odiava-se. Quando pensava em si em todos aqueles anos de existência, não se lembrava de uma única vez se ter achado bonita ou interessante, e cada vez mais lhe davam mostras disso. Odiava-se. Odiava aquele corpo e daria a sua vida atual de boa vontade, se soubesse que existiria a hipótese de se ver nascer diferente. Mas, desta vez, com uma diferença boa.

Atirou-se para cima da cama. Tinha o cabelo emprestado em cheiro de tabaco. Tinha começado a fumar há pouco tempo; não por prazer, mas por saber que lhe fazia mal. Agradava-lhe essa ideia de um suicídio lento,  inicialmente indolor, quase, quase prazenteiro. Queria matar-se, mas não tinha coragem para morrer.

Tomou uma decisão. Estava à beira do abismo e sabia que preferia atirar-se a deixar-se cair lentamente. Era então hora de tomar balanço. Pegou então num papel e numa caneta e começou a escrever cartas de despedida para todos; até para o rapaz a quem ela teimava tratar por homem, ainda que fossem da mesma idade e ela não se considerasse nem perto de ser mulher. Depois de muito escrever, apagou tudo e começou de novo. 

Esteve assim até que amanhecesse, e só faltasse a carta de despedida para ele. Por mais que tentasse, não conseguia que as palavras lhe parecessem coerentes, suficientes, justas. Há sempre mais um bocadinho a dizer quando gostamos muito de alguém, não é?

Quis tentar inverter o jogo a seu favor. Já que ia morrer, queria deixar-lhe a dor, queria usar as palavras como lâminas. Pegou então numa foto dele, e limitou-se a escrever na parte de trás tenho estado a tentar dizer-te que te amo, mas nunca me quiseste ouvir. talvez me queiras ouvir agora, que me encaminho lentamente para a morte que me fizeste desejar. adeus. 

Sabia que estava a ser injusta e, em última análise, infantil. Sabia que ele pouco tinha a ver com as razões que a levavam a querer suicidar-se, mas não conseguia, deixar de querer que alguém sentisse de facto a dor da sua perda. Nem que para isso tivesse de recorrer a algo assim.

Depois de abandonar as cartas em cima da cama, saiu de casa. Uns ainda dormiam, outros já tinham saído. Ninguém deu por ela.
Pensou no óbvio e encaminhou-se para a estação. Nada seria mais rápido e, quem sabe, menos indolor. Foi nesse curto percurso que lhe separa a casa da estação de comboios em que, caro leitor, aconteceu o óbvio e o inevitável; filipa teve aquele flashback a que tão bem nos habituaram os filmes, e compreendeu que não queria de facto morrer, queria parar de viver, e esta antítese não significa que uso morrer e deixar de viver necessariamente como antónimos. Ela só queria parar. Queria que tudo parasse. Queria organizar as ideias devagarinho, até que pudesse voltar a querer viver.

Ainda assim, não se desviou. Continuou na mesma direção. E chegou mesmo antes do comboio, o que a obrigava a decidir rápido. É aquela parte em que, se eu conseguisse que isto fosse uma história bem construída e minimamente interessante, vos deixaria a questionar-se se a filipa teria ou não morrido, e vos deixaria com pressa de ler o fim. Bom, voltemos à filipa; quando o comboio se começou a aproximar da estação, ela precipitou-se em direção à borda da gare, pronta a atirar-se no último momento. E, confesso-vos, eu ia mesmo matar a filipa, mas a esta hora quero um final feliz, só para dormir mais descansada. Ainda que isso implique encher-vos de clichês.

No último momento, no derradeiro momento - zás - era ele. Rui puxou-a por um braço e aninhou o corpo dela contra o seu. Abraçou-a como nunca ninguém antes a tinha abraçado. Nesses momentos, ocorreu a filipa a maldade que tinha feito naquela manhã, que rui nunca poderia ler aquela mensagem por detrás da sua foto, quando afinal foi ele quem a salvou. 

Quando o comboio se foi embora e rui se sentiu à vontade para a largar, estava a chorar. Ela estava demasiado fraca para perguntar porquê, e só agora se deu conta de que também ela chorava. Quase, começou ele, quase que te perdia sem te ter deixado saber. O quê?, perguntou-lhe ela. Eu amo-te. Desde sempre.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

(in)definições

A solidariedade feminina funciona como um pacto secreto, aquela força que faz com que critiquemos forte e feio todas as gajas de quem as nossas amigas têm ciúmes. Ora, é porque ela é feia. Se não for feia, só pode ser acéfala. Agora, se por acaso a gaja for inegavelmente boa e inteligente, é uma putazona do pior que há, completamente reles, e o rapazinho é decente, não vai querer uma coisa daquelas. Se nada disto resultar, se ele ficar mesmo com ela, a resposta é óbvia; é um cabrão que não te merece, és superior a isto.

That's how we roll.

mais fragmentos da noite de sábado

Sabes que tens a melhor amiga do mundo quando ela te encontra na casa de banho, mais para lá  do que para cá, dividida entre a vontade de vomitar e desmaiar, e ela te puxa de repente porque está a passar uma música que ela adora e temos mesmo de a dançar.

fragmentos de sábado à noite

Eu disse a um empregado de mesa que o amava. Mesmo à dá-me vinho que a vida é nada.

domingo, 26 de maio de 2013

acabei de encontrar

Sabem aquela gente que ainda não percebeu que pode deixar campos em branco no fb, e acaba por meter na zona do trabalho pérolas como só se for para o bronze, lol, ou tumblr, ou swagger, ou qualquer merda do género?
Esses não são, de todo, os piores.



E mais não digo.


a cinderela foi ao baile

Para dançar descalça, claro está, porque isso de andar de sapatos com saltos altos a noite toda é coisa de meninas. E a cinderela não se meteu na erva, mas fez o que prometeu e bebeu até deixar de sentir. Claro que o efeito já passou, e não só sente o que ontem não queria sentir, como ainda sente uma puta de uma dor de cabeça. Safoda.

sábado, 25 de maio de 2013

tonight


Bem vou precisar.

agendado

nem vou explicar,

Hoje acordei com a resposta para um problema que há muito tempo me andava a chatear. Como sempre, tomei uma decisão importante sem pensar muito nela, porque de repente soube que é o que tenho de fazer.

Se acho que vai correr bem? Não. Se vai ser fácil? Não mesmo. Mas decidi, está decidido e vou fazê-lo, nem que chore, nem que bloqueie, nem que o mundo acabe. 
Fingers crossed.

e pronto

Hoje é o tão temido dia do baile de finalistas.
Ainda não estou propriamente entusiasmada com essa ideia, mas hoje até me apetece ir. Et voilá, eu hoje já não volto cá.
Hoje é dia de pensar em sapatos, vernizes e penteados. Oh senhores.

parabéns a mim

Sou perita em destruir-me. Basta pensar.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

oh, como eu gosto de ti

Havia mesmo uma coisa que eu te queria dizer. 
Mas não podia.

a sério

Quando eu quero muito saber de alguma coisa, acabo por descobrir quando menos espero. Assim foi hoje. Foi feita a justiça, e o mundo volta ao eixo certo.

lembrei-me no outro dia

Nem sei como me fui esquecer disto, mas eu também tive um baile de finalistas no 9º ano. Bem, não foi do baile que me esqueci, entenda-se. O que só me lembrei - ou lembraram-me - esta semana, foi do episódio mais triste dos meus inocentes 14 anos.

Não me lembro bem, acho que éramos 8 à mesa, mas pelos vistos, só 5 de nós bebiam. Não sei. Lembro-me que se foram 5 garrafas de vinho branco, maioritariamente bebido a penalti. Sim, eu sei. Quanta rebeldia! Depois disso, batatas com girassóis, só me lembro de ter entrado na casa de banho, mas depois me ter esquecido de como se abria a porta, e de ter tido um momento de pânico até a alforreca que estava comigo a ter aberto. Afinal, era só empurrar.

Sou uma triste.

completamente alienada

Não faço ideia porque é que está toda a gente a falar de palhaços. Juro. Mas gostava de saber. Também me queria poder rir com os triliões de piadas que li em relação a isso.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

geek me

Eu disse-o a gozar, mas a verdade é que estou tão, mas tão entusiasmada com o baile que começo mesmo a ponderar levar o l'étranger do camus, só naquela de não me aborrecer muito. Está em francês, mas que se foda. É o único que me cabe na malinha-pequenina-de-levar-a-bailes, feia que só ela. 

Mas não, não pode ser. Por uma noite, vou ser um bichinho social. 

descobri

Eu intimido as pessoas. Ou a pessoa.

what now?

De facto, se eu olhasse para nós do lado de fora, como simples espectadora e não como atriz principal, creio que talvez conseguisse mesmo interpretar a história de maneira diferente. Se calhar. O problema é que não o posso fazer, não posso fugir de mim e deixar outra no meu lugar até perceber se eu quero mesmo ser eu. E eu conheço tanto da trama quanto todos os outros, mas sabes como é, sou mais dada a dramas a pender para a tragédia.

E agora? O que é que eu faço contigo? O que é que eu ainda posso tentar fazer connosco?
Nada.

na primeira página do livro de química do 10º ano

What if i fell to the floor, couldn't take this anymore?
What would you do?

Na minha fase oh-deus-que-o-jared-é-tão-bom-e-eu-gosto-tanto-dos-30stm. E pronto, afinal ainda há frases que continuam a fazer sentido.

crises de identidade

Os meus livros do 10º e do 11º estão cheios de frases, e de folhas soltas com textos escritos durante as aulas. Tinha acabado de descobrir que gostava de escrever acima de tudo, e fiz disso um vício. Então, escrevia. Escrevia muito, em todos os momentos. Rasgava umas folhas, guardava outras. 

Agora já não sei escrever assim, mas também não me reconheço naquilo que escrevi. Aquela patrícia era outra, não era eu. 

E sim, no fundo sei o que a matou. Ainda bem que assim foi.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

our time is running out

Estou a sufocar.
Ninguém sabe que a cada dia que passa, eu me sinto mais e mais despedaçada, como se me tivessem acabado de roubar mais um bocadinho. A cada novo dia, eu sei que é menos um dia, menos uma hora, menos uns minutos. Menos, menos, menos. Já não há tempo para inverter o final da história. Não podia ser a meu favor, desta vez? Tenho mesmo de ser sempre eu a sair mal? Já não temos tempo para morrer de amor e renascermos outros. Um outro eu de quem tu pudesses gostar – um eu normal. Foda-se. Quando mais gosto de ti, mais me detesto. Quem me dera ser normal, quem me dera ser o tipo de pessoa de quem se gosta. 

Eu penso demais, sabes? É-me impossível não estar consciente de que não importo para ti. É-me impossível não saber que, se eu morresse neste preciso instante, isso não importaria para ti. Não imaginas o quanto isso dói. Não imaginas o quanto me magoa a tua indiferença, e o quanto me mata lentamente saber que a culpa é minha. Foda-se, eu gosto mesmo de ti!

E se soubesses? O que aconteceria se soubesses?
Acho que nunca vou descobrir. 

queria eu explicar

Há uns tempos apaixonei-me por uma música chamada i got drunk and played the piano, que ouvi num blog. Depois, descobri que ela fica perfeita com o rainy mood. Perfeita para chorar o resto da noite, entenda-se.

Talvez tenha enlouquecido de vez, mas já a ouvi umas dez vezes seguidas hoje. 

é assustador

Está quase a fazer um ano. 
Quando o fiz, soube-me a maior erro da minha vida. Depois percebi que se gastasse o maior erro da minha vida aos 16 anos, seria muito infeliz, porque errar também sabe bem de vez em quando. E começou a passar. Começou a deixar de me parecer tão errado, e em momentos de loucura até já ouso afirmar que foi o certo.

E, se na altura disse que não o faria mais na vida, agora já não digo o mesmo e já ponho em causa o que poderia acontecer se. Mas. Talvez. Fica para depois, logo se vê.

vão-se foder

Começo a ficar ligeiramente cansada com estes moralistas de fb. Com os que metem o estado a dizer que os outros fumam para se armar em bons, quando eles próprios parecem chaminés. Com os cabrões que publicam o estado a dizer que não se deve trair, que as meninas são princesas, e que temos de ser todos queridinhos e fofinhos e cenas. E depois ainda temos a nova era, a era dos gifs em tudo o que é lado, agora piorados pela ideia de meterem estados que levam a pensar coisas muito pouco próprias para a minha idade, até que o gif - ou link da imagem - mostram que a nossa alma já não tem salvação.

Foda-se, calem-se.

(a)normal

Eu sei que já não tenho salvação possível quando sonho que ele, o bichinho, me vê a ler o fazes-me falta, da inês pedrosa - acho que sonhei com isto por remorsos por o ter ali em standby desde segunda feira - e me pergunta porque é que eu estou a ler margarida rebelo de pinto. E, entre todas as reações normais do mundo, eu opto por ficar toda ofendida por ele achar que eu leio disso. Parabéns a mim.

juro que é verdade

Eu até posso não dever muito à inteligência, mas ultimamente, de cada vez que abro a boca, deixo as pessoas a questionar-se como que raio terei eu chegado ao décimo segundo ano no ensino regular. É que nem eu sei o que digo, nem porque o digo.

Pareço portadora de um atraso mental grave, agravado sempre que algum stôr se lembra de me falar.

(in)definições

Nunca tive nada para te perdoar, vejo-o agora, com uma nitidez impossível. Gostavas dessa forma de intimidade rápida que é a discórdia. Eu também. Éramos imperdoáveis, seremos imperdoáveis  um do outro, cascos naufragados no negro incêndio do mar.

Inês Pedrosa,
fazes-me falta 

hoje

Não tinham medo, estavam apenas assustados com a sua própria coragem. (...)
Nunca perguntamos se haverá juízo na loucura, mas vamos dizendo que de louco todos temos um pouco. São maneiras de nos segurarmos do lado de cá, imagine-se, darem os doidos como pretexto no mundo dos sensatos, só loucos um pouco, o mínimo juízo que conservem, por exemplo, salvaguardarem a própria vida.

José Saramago,
memorial do convento

Isto chamou-me a atenção durante a aula, pois claro, porque ler o memorial não me apeteceu. Mas está na lista de livros para depois.

marabilhoso queração

Até pode parecer bom ter esse lado eu quero que tu te fodas combinado com não amigo, eu não aturo gente de quem não gosto, até ao momento em que te apercebes de que perdeste o controlo da situação e que o mau feitio vence a simpatia em quase todos os momentos. E é então que dás por ti a disparar em todas as direções como se não importasse, porque sabes que não precisas de ninguém. Ou pensas que não precisas de ninguém. Mas precisas. E não é pouco.

terça-feira, 21 de maio de 2013

sempre foi assim

Daqui a um mês ele já nem se lembra de mim. E eu ainda vou demorar muito tempo a esquecer-me dele.

já disse?

Estou de mau humor. Estou mesmo com muito mau humor. 
Nem me falem.

alforrecaria

Sofro de duas doenças crónicas. 
Ciúmes e saudades. Tenho ciúmes - muitos, muitos ciúmes - do que não devia. E saudades do que ainda nem perdi. 

boa disposição

Estou tão entusiasmada com a ideia de ir ao baile de finalistas que estou a pensar atrasar os relógios todos para ver se só chego três dias depois.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

perks of being ugly

A principal vantagem de ser feia é que não tenho medo de mudar de visual... porque vá, vou ficar feia de qualquer maneira. Então, depois de passarmos pelas californianas laranja e depois vermelhas, e pelo louro, e pelo roxo, e pelo castanho, e pelo vermelho, e preto meio roxo, e mais preto e... pronto, cá temos a patrícia quase, quase ruiva.

como parecer retardada - manual de iniciação para totós, escrito por uma veterana

Não sou propriamente detentora da cura para a sida, mas começo a dar os meus primeiros passos no mundo das descobertas. Consegui descobrir, por mero acaso - só para evidenciar a minha genialidade -, a maneira mais simples de parecer retardada em público.

Eu fiz a experiência numa aula de psicologia, mas vocês podem escolher um local a gosto. Saliento porém que, quanto mais pessoas estiverem presentes, maior será o impacto.

Para começar, lembrem-se de uma situação em que seja notável a paragem cerebral. Imaginem que, por exemplo, vos ligam para casa e vocês, tão sãos, tão normais, ao invés de dizerem bom dia, boa tarde, ouocaralhoquefodaistotudo, iniciam uma conversa com um santinho!, saído assim do nada.

Assim que se lembrarem, ainda entre gargalhadas, contem a alguém. Mais uma vez, podem contar logo à criaturinha ao vosso lado, mas estou certa de que se o tentarem contar a alguém que esteja do outro lado da sala, aos berros, os efeitos serão muito mais rápidos.

Esqueçam isto por uns momentos com uma conversa acerca de unicórnios e papoilas douradas, ou debatam os impactos do aquecimento global, sei lá, tentem descobrir o número total de moscas que morrem diariamente em todo o mundo. Esqueçam a cena do telefone.

Por fim, relembrem tudo outra vez. Preferencialmente, quando toda a gente estiver calada. Desmanchem-se a rir sem razão nenhuma aparente. Riam-se muito. E, quando virem todas as cabeças voltadas na vossa direção, riam-se ainda mais, incontrolavelmente.

Com sorte, toda a gente fica a pensar que vocês são uns psicopatas potencialmente perigosos, o que, bem vistas as coisas, pode ser bastante útil quando se querem livrar de alguém. 

uma viagem perdida

Ninguém entende que eu sou realmente uma gralha, que falo que me desunho, mas que não é quando os outros querem, é só quando e com quem me apetece. Quero com isto dizer que não, eu não me sinto nada mal por vir sozinha no banco no autocarro, muito antes pelo contrário, aqueles minutos são meus e da minha música no máximo. Por isso, mal me apercebi de que ela se ia sentar ao meu lado, fiz questão de lhe dizer não te preocupes, eu meto os fones e desligo já. Queria com isto dizer que não queria conversas. Pois. Eu. Não. Queria. Conversas.

Tive de esperar até que ela saísse até que pudesse ouvir música em paz. E não, eu não gosto assim tanto de conversar com ela.

até que podia explicar mas se calhar é só uma overdose de psicologia

Acho que vou estar eternamente na idade dos porquês. Ninguém me tira da ideia de que tem de haver uma justificação racional para tudo, que ainda posso questionar tudo. E sim, vou continuar a tentar esmiuçar, pormenor por pormenor, até entender. 

domingo, 19 de maio de 2013

já me matam antes mesmo de me atravessarem como uma bala.

Demasiado tarde. São estas as palavras mais tristes de qualquer língua.
Inês Pedrosa,
fazes-me falta

reparei


E sim, é mesmo um adriano, como o macaco. 

três tristes tigres

eu: filho da puta. ando eu aqui à procura de defeitos e depois só descubro estas coisas! será possível que ele seja assim tão querido? ninguém merece. como é que eu deixo de gostar de um gajo destes? ele tem de ter algum defeito grave.

ela: de certeza que tem, todos temos... mas tem cá umas qualidades!

eu: oh, de certeza que tem algum defeito enorme. tipo ter sete dedos no pé, ou é mentiroso compulsivo, ou é cleptomaníaco ou...

eu e ela, ao mesmo tempo: ou ninfomaníaco!

*pausa para anúncios publicitários*

eu e ela, outra vez ao mesmo tempo: mas isso não é um defeito.

Entretanto ainda não consegui descobrir nenhum defeito mau no rapaz, e continuo a chamar-lhe todos os nomes ofensivos - mentalmente, entenda-se - de que me lembro, para ver se cola, para ver se acredito. Também não está a resultar. Mas podia.

ele não sabe

Ele não deve saber que eu ouvi o que ele disse, não sei se reparou sequer que eu lá estava, mas eu ouvi. Por fora, continuava séria, com a cara de poucos amigos com que fico quando estou pouco à vontade por ser a melhor forma de atacar depressa. Por dentro, derreti mais um bocadinho. Ou talvez o resto do que ainda faltava derreter. Então é por isto que eu gosto tanto dele.  Não creio que ele sonhe sequer com o quão irresistível é. E não, não é fisicamente.

sábado, 18 de maio de 2013

disso

Consolamo-nos na beleza imediata das coincidências, escapa-nos a beleza catastrófica dos acasos.

Inês Pedrosa,
fazes-me falta 

é uma boa pergunta

Tanto que eu queria dar-te agora o meu amor total e infantil que tinha para te dar. Racionei-o a vida inteira como a porra de um chocolate de leite - por que vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa?

Inês Pedrosa,
fazes-me falta 

breathe in, breathe out

Nem eu sei porque é que estou tão chateada, quando sei que a culpa também é minha. Mas estou furiosa, e não devia.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

killing me softly

A cada novo erro teu, eu arranjo uma forma de me culpar a mim. E isto não é bom.

não gostei

Eu atraso-me, eu raramente chego a horas, mas chego. Com ou sem vontade, se digo que vou, vou mesmo e não arranjo desculpas. 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

quase que define

Há tantas coisas que nunca te disse - e dizias tu que falava demais. Flutuo por este noante em busca dessas palavras a menos, atravessadas entre nós como um longo corredor de prisão.

Inês Pedrosa,
fazes-me falta 

não me chateiem

Estou farta de hospitais. Estou farta que estejam sempre a tentar compensar-me por mais uma consulta, por mais um exame, por mais uma operação. Estou cansada que me dêem a mão e que me digam que não tenha medo, que passo por isto desde que nasci e que não é tempo de baixar os braços; o que não entendem, é que é exatamente  por ser desde que nasci. Estou cansada. Estou farta de tudo. E odeio que me tentem mimar, que tentem compensar-me pelo sofrimento que, ainda assim, me recuso a demonstrar. Eu só queria ser normal. Só um bocadinho normal. Posso?

quarta-feira, 15 de maio de 2013

estou amuada

Eu até posso perceber tanto de futebol quanto de astronomia, - e verdade seja dita que o caneco não me ia fazer mais feliz, mas benfiquista que é benfiquista, viu o jogo - mas foda-se,até assim eu tenho a plena consciência de que o benfica foi bem melhor do que o chelsea. Ainda assim, perdemos outra vez na merda dos descontos. Depois revolto-me, claro que me revolto.

É uma conjuntivite em cada olho e uma caganeira descomunal para cada jogador do chelsea. Obrigada.

palmas

Engravida aos 13 anos.
É vista como uma heroína.

Eu com aquela idade gostava da katy perry e tinha umas sapatilhas da floribella. Culpem-me lá por ser old school e ter a mente fechada, mas eu não acho que abrir pernas aos 13 anos seja uma atitude heróica, até porque a criatura nem sabe bem no que se está a meter.

Eu tenho quase 18 anos. Se tivesse um monstrinho de berço agora -  o regresso do menino jesus - a arrotar a leite azedo e a chamar-me mamã (cruzes!), dava-me um ataque. Eu nem do pou, aquela espécie de tamagotchi, consigo tomar conta, quanto mais de uma criaturinha a sério.

às vezes eu também gosto de pessoas

Eu percebi que nós nos podíamos dar muito bem assim que o conheci; ofereceu-se para, imaginem só, roubar uma, e passo a citar, tábua para passar a ferro, na loja dos chineses, se eu assim o entendesse. Ora, eu nem o levei a sério na altura, mas tenho vindo a reparar que ele é mesmo um profissional do assalto e que consegue fazê-lo sem que ninguém repare. Perfeito, portanto.

E, nos dias que correm, aprender estas coisas dá sempre jeito, não vá eu sentir-me necessitada de roubar canetas, lápis, uma sanita, um bidé, um microscópio, um tamagotchi, uma banheira com suporte para os lápis de colorir, um robôt que cante a grândola, vila moreeeeeeeeena, sei lá, toda uma panóplia de coisas úteis. Podia muito bem ter aprendido a arte do roubo com o amigo raúl, nome de guerra em constante alteração, chamemos-lhe alfredo ou inácio para simplificar. Mas nada disto importa, caras alforrecas, porque o que quero dizer é bem mais simples; eu podia ser já mestre na arte de roubar nos chineses, se tivesse decidido aprender as técnicas certas. Em vez disso, aprendi uma espécie de tortura chinesa que não leva a lado nenhum e que nem sequer traz um par de cuecas ou uma pulseira daquelas com os santinhos todos que me cabem no pulso como oferta, mas que me pareceu ser o melhor a fazer. Oh, mas é uma tortura. Torturemos o raúl inácio também.

soou-me bem

Passei a vida inteira a querer interpretar-te - oh! delicioso desperdício! - e nem sequer era por amor. Quero dizer, não era por causa daquela coisa que põe as pessoas numa exaltação de posse e de sexo. Através de ti eu existia antes de ter nascido, no vocabulário áspero e secreto de  uma guerra que já não me pertenceu.

Inês Pedrosa,
fazes-me falta 

de malas feitas

O principal problema é que eu fico cansada só de pensar em tudo o que tenho para fazer, mas não durmo e também não faço nada de jeito. Vou emigrar para o paquistão.

terça-feira, 14 de maio de 2013

sweet 14

Aquele momento em que a patrícia abre o meu fb e descobre que eu tenho um grupo de amigos chamado pêga da minha vida <3 e outro chamado lool. Creio que só conseguirei recuperar do trauma com acompanhamento psiquiátrico durante os próximos 30 anos. Não, a sério... que raio tinha eu na cabeça?

tem sido assim toda a minha vida

Pela primeira vez, tiro uma foto em que o meu cabelo decidiu colaborar positivamente. Olho uma vez e penso que está gira. Olho melhor. Porra de cara pá!

não apanhes juízo

O que é que acontece quando não dormes mas queres explicar a alguém que não és a única a andar sempre com umas olheiras até aos joelhos?

O estado normal dele também é com orelhas.

É. O dele e o de toda a gente.

resoluções

Estava já eu a contar com uma carreira a solo como limpa sanitas profissional, quando me dei conta de que esse não é o emprego certo para mim. Se há sítio ideal para pessoas chatas, são as lojas. 

Nada me irrita mais do que entrar numa loja e levar logo com a empregada a perguntar-me se quero ajuda. À partida, isto até pode parecer um gesto simpático e que a cabra indelicada sou eu, por dar por mim a desejar que a mulher tenha uma emergência qualquer, sei lá, se lhe parta um salto, comece a sangrar do nariz em repuxo como a gaja do drag me to hell, lhe dê uma caganeira descomunal, não importa. O que eu gostava mesmo é que parassem de me fazer sentir como se eu fosse uma criminosa, prestes a roubar qualquer coisa. Não preciso que me persigam, se eu precisar de ajuda, eu peço, ok?

E o pior é que isto já nem está restrito às lojas de roupa. O meu útimo ataque de nervos foi na claire's. Mal  tinha entrado, já tinha a mocinha toda desfeita em simpatias a perguntar-me se queria ajuda. Não. Eu só queria ver uns brincos em paz, obrigada na mesma. Passado um bocado, volta para me dizer que eles estavam em promoção, que se levasse 3 só pagava 2. Ora, eu tinha na mão três pares de brincos, daqueles que vêm todos juntos. Essa porcaria custa quase 7€, e sim, eu sou uma unhas de fome e odeio gastar dinheiro, não o teria feito se não os tivesse achado mesmo giros. O que acontece é que eu não ia pagar 14€ por brincos. Ok, eram 6 pares, e depois ainda tinha os outros 3 que vinham à borla, mas porra, eu tenho mais que fazer com o meu dinheiro e eu nem preciso assim tanto daquilo.

Portanto, recusei a oferta, que só queria aqueles. Pois a mulher voltou a insistir, enquanto lhe pagava, que se eu quisesse comprar três caixinhas daquelas só pagava duas. Repeti que só queria mesmo aqueles. E ela insiste.

Ora foda-se, é mesmo isto. Se só é preciso ter cara de cabra e ser chata p'ra caralho, vou trabalhar numa loja.

agendado

segunda-feira, 13 de maio de 2013

a saga dos olhos

Ora, eu passei o fim de semana a reclamar que tinha uma conjuntivite e que isso me deixava um olho verde e um castanho, não é? E então, e por hoje ser 13 de maio, as entidades divinas, ou a minha mania de coçar os olhos - isto faz mesmo comichão, sim? - fizeram-me a vontade; agora tenho não um mas os dois olhos todos ranhosos. Pareço uma daquelas gajas da droga, lider do gueto. Só me falta o cap e já posso andar aí a sacar rins a sangue frio nas ruas, uma alegria. E depois aquele gel que me mandaram meter, ainda me deixa a ver unicórnios durante um bom bocado. Tudo perfeito.

E uma gaja tem mais é que fazer pela vida. Descobri que a cor dos meus olhos aliada às olheiras até aos joelhos, e ainda colmatadas com a frase é uma conjuntivite funciona como repelente, uma vez que, normalmente, se segue da frase chega para lá, se me pegas essa merda mato-te. E uma pessoa até amua ao início que, quer dizer, ter olhos de drogada nem é assim tão mau, podia ter sífilis ou uma merda assim (não sei porque raio fui logo pensar numa dst, mas tenham compaixão, estou a ver unicórnios dourados everywhere), e pronto, coise. Mas se pensar isto para afastar as gentes de quem eu não gosto... ainda pode correr bem.

sou triste, sei

Sempre quis entrar numa ourivesaria e perguntar se têm magnum gold.

agendado

para acabar

On risque de pleurer un peu si l'on s'est laissé apprivoiser.

Antoine Saint-Exupéry,
le petit prince 

agendado

é isso, é isso

Les hommes, dit le petit prince, ils s'enfocent dans les rapides, mais ils ne savent plus ce qu'ils cherchent. Alors ils s'agitent et tournent en rond.

Antoine Saint-Exupéry,
le petit prince

agendada

old but gold

On ne voit bien qu'avec le coeur. L'essenciel est invisible pour les yeux.
Antoine de Saint-Exupéry,
le petit prince

mandam as regras e os bons costumes

Eu até posso quase nunca falar em português, e a mulher até pode ter quase 30 alforrecas para avaliar na leitura, o que significa que demorará várias aulas; não há como fugir. Vai ser exatamente no dia em que eu estiver rouca, com uma voz super sexy, que ela me vai mandar ler. E assim foi.

não há paciência para um título.

Não sei o que me aconteceu para ter ficado assim, não me lembro do momento em que me tornei numa dessas pessoas que passa o dia feliz mas chora todas as noites. Pior do que isso, não sei em que momento eu comecei a conseguir chorar em público ao ponto de o fazer ao lado de pessoas que a última coisa que lhes interessa são os meus motivos. Não sei. Não sei o que me aconteceu de tão mau.

Ou sei. Se calhar, já não é de agora. Se calhar isto é o pagamento por todos os anos em que me fiz de forte, em que fingi que não queria saber de nada, em que engoli o choro uma e outra vez. Não sei. Sinto-me a mais em todo o lado, como se estivesse sempre a incomodar pelo simples facto de existir, por mais que isso possa parecer exagerado. E não preciso que me digam que tenho baixa autoestima e que preciso de gostar mais de mim; isso é muito bonito de se dizer porque não compreendem. Ninguém compreende os meus fantasmas, ninguém sabe o quão mal me sinto comigo mesma. Não há nada que eu goste em mim. Absolutamente nada. Mas piorou. Piorou desde que o conheci, porque cada vez tenho mais consciência de que não valho nada. De que ele não olharia para mim duas vezes. Não há nada pior do que não haver qualquer esperança.


domingo, 12 de maio de 2013

apedrejem-me

Ao nível do meu ódio pelos homens da luta, só mesmo o que sinto pelo césar mourão. Ele não tem piada nenhuma, mas acha que sim, e isso irrita-me. 
Pronto, era só para mudar de assunto.

encontrei-a

Há momentos em que uma pessoa sente antes de sentir. (...)
Um pressentimento é isso: uma informação que nos chega ao centro nervoso e, antes de a sua validade ser testada, nos dispara os mecanismos de defesa, nos coloca o corpo todo em alerta máximo.

Rui Zink,
a instalação do medo 

Lembrei-me que tinha marcado no livro algo sobre o último post. Et voilá. É mesmo isto.

nunca disse

Sou intuitiva. Sou demasiado intuitiva, talvez.
A verdade é que nunca me lembro de ter tido um pressentimento que não me levasse, de facto, a qualquer situação que o justificasse. Estou com um há mais de uma semana, como se algo estivesse prestes a acontecer.  É. Soa a loucura, até para mim, quando penso nisso. Mas é verdade. 

forrest gump

Andava há uma eternidade para o ver. Foi hoje. Ou é por estar ainda mais sensível do que o normal, ou então é só mesmo por ser parva, mas tenho aquela sensação fantástica de que vou chorar o resto da noite. Já disse que o que mais gosto em alguém é a simplicidade? 

sábado, 11 de maio de 2013

até me queixava

Mas parece mal dizer que mal consigo manter o olho aberto, não é?
Então pronto, não me queixo. Não me queixo mas deixo a nota de que camões me rogou uma praga por todo o mal que disse dele aquando do estudo d'os lusíadas. Filhodumapouta!

não é meu, mas podia ser


sexta-feira, 10 de maio de 2013

a minha mãe também diz que eu sou terrível, mas obrigada na mesma

Não me venham justificar o desleixe com a pobreza. Uma mulher com bigode é feio, ponto.

hoje apetece-me fazer disto um bloco de apontamentos

Andava há imenso tempo a prometer a mim mesma que só leria a instalação do medo no verão, bem como todos os harry potter, o livro do desassossego e outros que fui comprando nas feiras do livro. O problema é que eu não resisto e puff. Ontem peguei na instalação do medo e só descansei quando o acabei. Ainda assim, apesar do final, desiludiu um bocado. Paciência. Agora tenho o invisible monsters e o le petit prince, a umas 10 páginas do fim se tanto, em banho maria até que eu lhes pegue. E depois temos o survivor e o silver linnings playbook, que eu comecei a ler e abandonei. Ficam para o verão.

Depois ainda há o the catcher in the rye que eu andava mortinha por ler desde que li o perks of being a wallflower porque falam muito dele. Comecei a lê-lo esta semana. Ao fim de duas páginas, percebi que já tinha lido aquilo antes. Ora foda-se. Afinal o the catcher in the rye é o uma agulha no palheiro que eu li no ano passado. E não gostei. Tanto não gostei, que fiz o que nunca me lembro de ter feito antes; deixei-o a 30 páginas do fim. Talvez lhe dê outra oportunidade.

Para esta noite - e já que não durmo, ao menos leio - temos o não te amo, paulus, que foi um livro estranho que comprei por 3€, mas vale a pena ler de novo. Acho que ainda posso aprender qualquer coisa.

a continuação da febre

Quando eu cheguei, eles já lá estavam. Ela, sentada na cadeira. Ele, de pé ao lado dela. Um casal jovem, só não arrisco uma idade porque não sou boa nisso, mas não diria que tinham mais de 30 anos.

Ela estava doente, com a cabeça encostada à perna dele e os braços a rodeá-lo. Parecia uma miúda pequena, apesar de ser exageradamente alta. Confesso que invejei um bocadinho. Mesmo dizendo que não, mesmo mostrando indiferença e descrença nos sentimentos, há dias em que eu também queria ser a menina de alguém. Paciência, não se pode ter tudo. Mas, voltando àqueles dois, eu não conseguia parar de os observar. O olhar de preocupação dele, o carinho com que a tratava, a insistência em ficar de pé porque, para se sentar, haveria alguém entre eles e ele não poderia segurar-lhe a mão, chamaram-me à atenção.

Não sei se o amor existe, não sei se eles se amam ou não, ou só se têm um ao outro para as horas vagas. Desculpem-me a desconfiança, mas nunca se sabe. Nunca se sabe se o toque insistente do telemóvel dele, não seria outra. Nunca se sabe se a forma como ele a olhava não seria o sentimento de culpa a falar mais alto. Eu sei lá. Dei por mim a imaginar toda uma vida paralela ao carinho óbvio que tinham um pelo outro, e isso chateou-me. Não queria pensar assim, juro que não.

Depois, ele baixou-se. As cabeças deles ficaram quase ao mesmo nível e eles olhavam-se nos olhos. Consegui distinguir-lhe nos lábios a formação da palavra amo-te. Amo-te muito, respondeu-lhe ele. Hoje, só hoje, vou acreditar que sim. Acreditemos que se amam, acreditemos que o amor existe e que é algo bom.

agendado

lamento isso

Vi um rapazinho triste. Percebi que o problema dele era bem parecido com o meu; falta de autoestima, vontade de mandar tudo com o caralho porque parece que a vida não tem sentido nenhum. Ontem vi-o triste outra vez. Queria ajudá-lo. Queria ser querida. O nome mais fofo que me lembrei de lhe chamar foi... bichesa.

E não, este não é o tal rapazito, mas eu sou boa a demonstrar afetos em todos os campos. Palmas para mim. 

agendado

foda-se, vou dormir

Outra prova de que eu, definitivamente, não nasci para ser gaja, é que sou piegas quando estou doente. Uma constipação e é o drama. Então passei a noite naquela indecisão se teria frio ou calor, levanto-me e quase desmaio porque, enfim, é o fim do mundo estar com febre, adormeci às 5 da manhã, dormi 3 horas, seguiram-se 5 de hospital. 3 para uma consulta de rotina mais 2 nas urgências para me dizerem aquilo que eu sabia e mandarem-me para casa curar a gripe com ben-u-ron e um gel para a conjuntivite. Oh, que giro. Agora que eu começava a achar fofo ter um olho verde e o outro castanho, bem que podiam ter-me deixado mais umas horas à espera de uma consulta de menos de cinco minutos. Oh, sim, a minha garganta e os meus ouvidos estão maravilhosos, não se preocupe em ver, não é preciso.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

ah e tal, guardo este para ler no verão

Não somos amigos, se é a isso que se refere. Até porque há diferenças de escalão e uma das coisas importantes na instalação do medo é o respeito pelas hierarquias. Cada um saber qual o seu lugar, entende? Não haver misturas. Para não criar confusões.

Rui Zink,
a instalação do medo 

Mas depois ele estava ali, e eu organizei os meus livros na estante de acordo com a altura, e ele ali, tão pequenino e tão grande ao mesmo tempo, e eu que até gostei tanto do pouco que conheço do rui zink, e ele ali e eu aqui. Et voilá, hoje peguei-lhe. Não creio que  chegue a amanhã sem o ter lido todo.

mais il sait pas

Si tu viens, par exemple, à quatre heures de l'après-midi, dès trois heures je commencerai d'être heureux. Plus l'heure avancera, plus je me sentirai hereux. À quatre heures, déjà, je m'agiterai et m'inquiéterai; je découvira le prix du bonheur!

Antoine de Saint-Exupéry,
le petit prince 

é giro ter olhos que mudam de cor

À custa da conjuntivite, tenho um olho super vermelho e o outro não. Isto resulta num olho verde e no outro castanho. Coisa bonita. Um dia destes aprendo a ser normal.

nem sempre

- Si tu veux un ami, apprivoise-moi!

- Que faut-il-faire? dit le petit prince.
- Il faut être très pacient, répondit le renard. Tu t'assoiras d'abord un peu loin de moi, comme ça, dans l'herbe. Je te regarderai du coin de l'oeil et tu ne diras rien. Le langage est source de malentendus. Mais, chaque jour, tu pourras t'assoir a peu plus près...

Antoine de Saint-Exupéry,
 le petit prince

e foi assim que fiquei tão observadora

There's nothing about me to look at, so most people don't. (...)
When nobody will look at you, you can stare a hole in them. Picking up all the little details you'd never stare long enough to get if she'd just ever return your gaze, this, this is your revenge.

Chuck Palahniuk,
invisible monsters

those good days

A questão fulcral é: o que é que eu tinha na cabeça quando decidi ir à escola hoje?

Acordei doente. Já andava meio constipada há dias, mas hoje piorei. Dói-me a cabeça, os ouvidos, a garganta. Dói-me o corpo todo, vá, porque de cada vez que me mexo sinto uma dor nova em qualquer parte do corpo. E depois ainda tempos a boa da conjuntivite. E os maravilhosos dentes do siso, que depois de meses a ameaçar, decidiram começar a nascer, e de vez em quando metem-se a doer, como se não me bastasse o resto. Então, estou sem grande paciência e ainda achei que ia desmaiar a meio da aula de educação física. Uma maravilha, portanto.

Eu sabia que não me devia ter levantado da cama.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

não, não sou um bicho social

Além da desgraça em que me transformo ao pé das pessoas quando tento falar francês ou inglês, e eu juro que até domino ambas as línguas, parecendo ser vítima de um qualquer atraso mental, percebi hoje que também não nasci para comunicar em português. Não. Eu não me dou bem com essa ideia de falar em público, mesmo que o público seja o mesmo de todos os dias, e mesmo que esteja farta de saber o que tenho de dizer. Ele é a patrícia a tremer, ele é a patrícia a suar, ele é a patrícia com o coração a querer saltar-lhe do peito. E no fim, era só falar. Mas falar sem que os nervos se me apoderassem também da voz, e eu acabasse a falar como se me tivessem metido uma máscara de hélio, em modo ovelha. Foda-se.

ainda me parece perfeito

Namora uma rapariga que lê. Namora uma rapariga que gaste o dinheiro dela em livros, em vez de roupas. Ela tem problemas de arrumação porque tem demasiados livros. Namora uma rapariga que tenha uma lista de livros que quer ler, que tenha um cartão da biblioteca desde os doze anos.

Encontra uma rapariga que lê. Vais saber que é ela, porque anda sempre com um livro por ler dentro da mala. É aquela que percorre amorosamente as estantes da livraria, aquela que dá um grito imperceptível ao encontrar o livro que queria. Vês aquela miúda com ar estranho, cheirando as páginas de um livro velho, numa loja de livros em segunda mão? É a leitora. Nunca resistem a cheirar as páginas, especialmente quando ficam amarelas.
Ela é a rapariga que lê enquanto espera no café ao fundo da rua. Se espreitares a chávena, vês que a espuma do leite ainda paira por cima, porque ela já está absorta. Perdida num mundo feito pelo autor. Senta-te. Ela pode ver-te de relance, porque a maior parte das raparigas que lêem não gostam de ser interrompidas. Pergunta-lhe se está a gostar do livro. (...)
Se encontrares uma rapariga que leia, mantém-na perto de ti. Quando a vires acordada às duas da manhã, a chorar e a apertar um livro contra o peito, faz-lhe uma chávena de chá e abraça-a. Podes perdê-la por um par de horas, mas ela volta para ti. Falará como se as personagens do livro fossem reais, porque são mesmo, durante algum tempo.
Vais declarar-te num balão de ar quente. Ou durante um concerto de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Pelo Skype.
Vais sorrir tanto que te perguntarás por que é que o teu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Juntos, vão escrever a história das vossas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos ainda mais estranhos. Ela vai apresentar os vossos filhos ao Gato do Chapéu e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos da vossa velhice e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto tu sacodes a neve das tuas botas.
Namora uma rapariga que lê, porque tu mereces. Mereces uma rapariga que te pode dar a vida mais colorida que consegues imaginar. Se só lhe podes oferecer monotonia, horas requentadas e propostas mal cozinhadas, estás melhor sozinho. Mas se queres o mundo e os mundos que estão para além do mundo, então, namora uma rapariga que lê.
Ou, melhor ainda, namora uma rapariga que escreve.
agendado 

terça-feira, 7 de maio de 2013

e depois descobriu que ela o amou aquele tempo todo

Lembro-me bem dela. Melhor dizendo, nunca a esqueci. 

Costumava vê-la passar, sempre com aquele ar de quem não queria saber de nada, de quem não se importava com o mundo mas, ainda assim, amava viver. Estivesse a minha visão tão nítida como a minha memória, e ainda havia eu de ser um grande homem nesta idade... mas lembro-me tão bem dela, céus, chega a doer-me. Tinha aquele ar desalinhado de quem sabe o que quer mas parece andar sempre à deriva e parecia não se cuidar, não se preocupar minimamente com o que aparentava mas, ainda assim, estava sempre perfeita. Ou era eu quem a via assim. Sentia por ela uma espécie de adoração anónima que não saberia explicar a mim mesmo, se ousasse confessar que não podia viver sem aquela rapariga.

Certa vez, tive de o admitir. Vi-a a chorar e, de repente, o olhar dela que sempre pareceu querer roubar-me a alma quando pousado em mim, fez sentido. Não estava ela senão a pedir ajuda, a pedir que alguém a libertasse dela mesma, dos demónios interiores que a consumiam mais e mais a cada dia. E eu quis tanto levantar-me e abraçá-la. Não  falar - acredito na linguagem dos corpos, acredito que diria mais calado. De nada me adiantaria continuar a mentir a mim mesmo quando o meu corpo pedia por ela, e só não culpo o coração porque sei que o pobre é uma vítima das artimanhas do inconsciente. Contudo, não consegui levantar-me. O rasto negro que a minha menina deixava atrás de si, dizia tudo dela, e eu não tive coragem de a seguir e de lhe pedir que sorrisse. Lembro-me tão bem do sorriso dela, meu deus.

Um dia, já estava cansado de me esconder por detrás da indiferença que não sentia, e escrevi-lhe uma carta. Disse-lhe o quanto ela me parecia especial, o quanto era fácil apaixonarmo-nos por ela, o quanto eu queria que ela soubesse que dava tudo para ter alguém como ela. O quanto a queria, por assim dizer. Ainda assim, já de carta escrita e sentimentos no auge, não consegui enviá-la. Tive um daqueles momentos decisivos porque toda a gente passa na vida, aquele faço não faço, digo não digo, e, soube-o mais tarde, cometi o maior erro da minha vida. Deixei a carta perdida num livro que pensei oferecer-lhe. 

Não sei precisar o tempo que passou, mas sei que não foram mais de três meses, quando voltei a pegar naquela carta. Ia vê-la nessa noite, na inauguração de um restaurante de um amigo nosso. Olhei-me no espelho e convenci-me de que seria a derradeira oportunidade. Meti a carta no bolso e fui.

Quando lá cheguei, ela estava de costas a conversar com uns amigos. Não consegui aproximar-me deles. Sentei-me numa cadeira ao fundo da sala e fiquei a vê-la de perfil, sempre tão leve como se o mundo não lhe pesasse nas costas, sempre tão ela. De repente, ela virou-se. Lembro-me tão bem desse momento! Ela virou-se e, nessa altura que eu não acreditava no amor, soube-o; soube que, se fosse possível amar alguém mais do que a qualquer coisa num segundo, se fosse isso o apregoado sentimento, então o meu momento era aquele. Eu amava aquela rapariga que não era mais para mim do que um mistério. Levantei-me com a mão no bolso, pronto a entregar-lhe a carta que mudaria os nossos destinos.

Porém, as histórias de amor verdadeiro nunca acabam bem. Quando estava a uns escassos metros de a alcançar, ele agarrou-a pela cintura. Estavam juntos. Ela e aquele rapaz que eu não conhecia, tão mais bonito do que eu, estavam juntos. Quem estava em pedaços era eu. Ele nunca a saberia amar como eu, que tão recentemente tinha descoberto o amor e já estava na certeza de que nunca amaria ninguém assim.

E tinha toda a razão. Agora, ao fim de mais de 50 anos, ninguém me tira da ideia de que, se não fosse a minha cobardia na hora de enviar a carta, a minha menina podia estar aqui comigo, sentada ao meu lado, neste banco de jardim onde se fixam os velhos, quem sabe se não todos a pensar no amor que perderam, tal como eu. A vista já anda fraca, mas hoje ela passou por aqui e eu tive a certeza de que era ela. A minha menina é agora uma mulher, de rosto marcado pelo tempo, mas com o mesmo olhar, com o mesmo sorriso. Com a mesma paixão desinteressada pela vida. E o perfume - céus, aquele perfume inebriante! Ninguém me poderia dizer que não era ela, eu sei que era. Vinha de preto, a minha menina. Ouvi uma mulher comentar que tinha enviuvado há pouco tempo, o que não duvido. Quando passou, deixou o mesmo rasto negro de outrora e a mesma angústia de sempre. Tivesse eu entregue a carta, e ela não estaria viúva agora. Não. Se a minha menina tivesse sido a minha mulher, estaria aqui agora, sentada ao meu lado. Os dois velhos, os dois no fim da linha, mas vivos - porque com ela eu seria imortal, tal como o meu amor.