terça-feira, 24 de maio de 2016

a mais profunda de todas as confissões

Eu podia ter nascido com um dom natural para ser gaja, como me parece ser comum à maioria das gajas dignas de se autodesignarem como tal. Ao invés, isto não é para mim.

Um dos meus maiores terrores é a depilação; não é por mal, mas eu tenho um qualquer problema muito grave que me impede de tirar todos os pelos quando me depilo. Sobra sempre uma fileira chata, teimosa, e em sítios improváveis. Sítios onde eu confirmei, mil e uma vezes. Sítios onde os pelos só se lembram de se mostrar à luz do sol.

E foi assim que aconteceu. Foi assim que ontem, de calções, tive de pedir socorro a uma colega que só entrava umas estações à frente. 
Ontem foi o dia em que eu me depilei no comboio.

1 day to go

[Breathe in, breathe out.
Vai correr tudo bem.]

segunda-feira, 23 de maio de 2016

descansem, alforrecas!

Apesar do meu medo, sobrevivi ao ataque das esteticistas e safei-me relativamente bem. Graças a deus, não voltei para casa com umas unhas capazes de tirar um olho a alguém nem com coroas pirosas. Nem com unhas de gel sequer - e, confesso, respirei de alívio ao constatar esse facto.

Também pensei que iam estar bonitas e arranjadinhas, prontas a servir de orgulho a uma gaja tão pouco gaja que vai de férias dentro de dois dias. Qual quê? Mal saí da marquesa, a gaja fodeu-me uma unha do pé quando me calçou. 

As outras três, das mãos, destruí-as eu, numa ida à casa de banho. Mas eu tenho emenda? Pois.

domingo, 22 de maio de 2016

instala-se o pânico

Pareceu-me mesmo boa ideia ir fazer as unhas à borla, porque a pessoa é pobre e pouco talentosa no que diz respeito a essas coisas de gajas e dá mesmo jeito ter as unhacas arranjadinhas.

Agora, a umas horas do evento, começo a panicar ligeiramente. E se me fazem uma merda tão pirosa que eu acabo por as arrancar ainda no caminho para casa? E se me enchem de coroas e lacinhos e merdas horríveis? E se me fazem umas unhas bicudas, apropriadas para tirar o cerume do ouvido? 

Começo a temer desenvolver uma nova fobia.

1 mês e 10 dias para os 21

Dei por mim sentada no sofá a ver a novela. Velhice, és tu?

sábado, 21 de maio de 2016

puta de vida

Tenho mil e um motivos para estar zangada com ele - e estou. E tenho razão. Pelo menos, numas partes, nas outras talvez seja a minha mente dramática a trair-me, talvez não. Não sei. Mas tenho um problema: gosto dele, apesar de tudo, porque não sei ser dessa gente que liga e desliga os sentimentos conforme a conveniência.

Deixei-me levar pela raiva: esta pessoa não sou eu e não me orgulho do que fiz. Apetece-me desfazer o mal feito, apetece-me pedir desculpas, apetece-me voltar atrás, porque ele me está a magoar mas magoá-lo de volta nunca foi uma opção viável para mim. E, neste momento, tenho um nó na garganta e apetece-me vomitar.

Desculpa, meu amor, desculpa. Mereces isto e muito mais, mas nem assim deixa de me doer só de pensar que te estou a fazer mal.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

romeiro, romeiro, quem és tu?

Às vezes, releio mensagens que lhe enviei e nem eu sei porque é que disse aquilo, porque é que insisto em levar tudo ao extremo, de me magoar, só para que ele o negue, para que diga que eu estou errada, para que me tranquilize.

Com o tempo, deixou de o fazer.
E é ao reler o que eu própria escrevi que eu entendo porquê.

still 6 days to go

O que chateia mais neste tempo miserável é o facto de a vida ser tão injusta com a gente pobre.
A pessoa vende o cu e metade da família para poder ir meia dúzia de dias de férias em maio, e os céus decidem não cooperar e permitir à pessoa ganhar um bocadinho de cor que se veja, só naquela de compensar o facto de não poder sair de casa o resto do verão porque ficou ainda mais pobre.

Não me digam que a vida não é uma puta reles e invejosa, porque é.

shame on me

Já passou mais de um ano desde que, a meio de uma crise existêncial, me ocorreu que talvez fosse gostar de unhas de gel; ao fim de três meses a mudar as unhacas de mês a mês, eu já sentia vontade de as arrancar todas, uma a uma, sem dó nem piedade, porque me enervava ver as unhas sempre iguais. E tirei-as mesmo.

Esta semana ouvi falar de um concurso em que eram precisas modelos para manicure e pedicure; lembrando-me de que para a semana vou de férias e de, além de pobre, parece sempre que pinto as unhas com uma trincha, inscrevi-me.

Provavelmente, vão ser unhas de gel.
Lá está... de graça, até injeções na testa!

ups

Entrei no comboio muito tempo antes; ao fundo, um mocito ocupava o único banco de dois lugares da carruagem, no cantinho, bem escondido. Olhava à volta, com um ar meio desorientado; não faço ideia de que idade teria, mas tinha todo o ar de ser mais novo.

Passado um bocado, vejo uma coisa farfalhuda a emergir; era a cabeça de uma gaja, que a levantou para prender o cabelo. Duas paragens à frente, a mãe da miúda entra: não ouvi o que dizia, mas não me pareceu contente.

Deixo as conclusões para vocês.

vida injusta

Ter vinte num teste mas ter de copiar a correção na mesma.


6 days to go

Ainda não decidi se levo o biquíni e vestidos ou se levo camisolas de lã e botas. Que tal um tempinho estável e ameno, uhm?

quarta-feira, 18 de maio de 2016

não é de frio

Há anos que não tremia antes de carregar no enter: porque eu odeio lavar roupa suja em público, mas a pessoa não me deu outra hipótese. 
Eu não sei lidar com tanta covardia: preciso de respostas, de certezas, de uma forma de deitar a cabeça na almofada e conseguir dormir descansada. Só isso.

a assinalar

Hoje conheci um suricata: depois de meia dúzia de festinhas e de o deixar subir-me para o ombro, tinha um amigo para a vida.

Portanto, além de um pinguim, agora também quero um suricata, e os meus pais continuam a achar que ter um gato era mau. Uhm uhm.

mais um beijinho especial

Ao engomadinho que hoje quase viu os olhos saltarem-lhe das órbitas e saltitar pelo comboio fora, de tanto os esforçar para tentar ler as letrinhas minúsculas do meu passe, a uns 2 metros de distância.

terça-feira, 17 de maio de 2016

os portugueses podem sair de portugal, mas portugal nunca sai dos portugueses

Tal como já o disse várias vezes, a minha terceira avó - atualmente, em frança - está gravemente doente, numa fase iô-iô em que alterna entre dias bons e dias maus. Hoje foi um dia bom e recebeu uma visita: a comadre.

Passar uma grande parte das suas vidas em frança não as tornou menos portuguesíssimas: em vez de flores, uma revista, um livro, uma dedicatória ou qualquer outra merda absolutamente inútil, a comadre decidiu levar-lhe pão, queijo e presunto serrano, e cervejão.

E é isto.

dúvidas que me assolam

Será que devia ligar ao médico a perguntar se as moscas são prejudiciais na minha dieta de gaja desvesiculada?

ontem à noite

Estava a beber café, num daqueles baldes a que eu chamo caneca, e senti algo estranho na boca. Algo que, claramente, não fazia parte do café.

Era uma mosca.
Quão nojento é isto? Pois.

afinal

A pessoa a deprimir, a achar que ia ser encaminhada para o ensino especial, mas afinal chegou para um 16,3. 

Não é, definitivamente, a nota que mais me enche de orgulho mas, numa época em que anda tudo fodido, há que me agarrar às coisas boas como se fosse a gaja do titanic em cima da tábua em alto mar; para o que eu sabia sobre a economia mundial, 16 com sabor a 20.

estas noites

Apesar de eu ter a capacidade doentia de gozar com quase tudo o que me acontece na vida, sempre que estou acompanhada, a verdade é que nunca me senti tão desesperada pela famosa bonança que deveria chegar depois das tempestades. 

Ao invés, ando de tempestade em tempestade, cada uma mais agreste do que a anterior; de cada vez que eu acho que as coisas estão a melhorar, a puta da vida troca-me as voltas. Preciso de paz. E de permissão para me enrolar aqui a chorar por tudo o que me faz doer a alma. Chorar, porque não tenho forças para fazer muito mais do que isso.

Preciso de colo mas, mais uma vez, como sempre, as pessoas por quem eu fiz tudo, voltaram-me as costas. Preciso de apoio. Preciso que me digam que vai ficar tudo bem, ainda que saiba que é mentira - preciso dele. Aquele ele que devia estar comigo, agora que já não sei de mim.

Mas estou sozinha, como sempre.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

a sério

Se querem um conselho honesto e se tencionam, sinceramente, evitar provocar o ódio nos outros, nunca tentem dar lições de moral a alguém que está a perder uma pessoa que lhe é (muito) querida, com o típico ah, isso faz parte da vida, é mesmo assim, tens de ser forte!

Sim, faz parte da vida. E sim, eventualmente, a pessoa vai ter de ganhar forças para seguir em frente. Mas isso não faz com que doa menos, quando é dos nossos que estamos a falar; vão-se foder. Nunca queremos perder um dos nossos pilares, nem que eles estejam prestes a completar 290 anos; são os nossos, ponto.

9 days to go

E a esperança a esvair-se.
O medo, o vazio, o nó na garganta. O momento de me mentalizar de que isto é real, de que está a acontecer e de que eu vou ter de me habituar à ideia. 

Vou perder uma das minhas pessoas.

sobre o teste

É oficial: vou ser transferida para uma escola de meninos especiais.

beijinho gigante para ti

Porque eu até posso estar enganada, mas parece-me que a pessoa que faz questão de me ignorar mensagens e chamadas, foi exatamente a mesma que fez o favor de me deixar com 125 visitas a esta hora.

(entenda-se que, em tempos áureos, isto já foi normal mas, atualmente, as minhas visitas diárias são pouco mais do que isto, e a contagem começa à uma da manhã.)

domingo, 15 de maio de 2016

preguiça é

Tenho um teste sobre economia mundial. 
A matéria é, possivelmente, a coisa mais chata que eu algum dia tive de estudar, mas foi-nos dada a oportunidade de levar uma página manuscrita com um resumo da matéria. Uma página. Uma-página.

É imensa matéria e não me apetece escrever uma página com letra microscópica, e então vou mesmo estudar. É isto.

agora

Um foda-se bem grande para aqueles momentos em que a pessoa pensa, e sabe, que tem de resolver um assunto, e pega no telemóvel para ligar à criatura mas fica com o coraçãozito tão acelerado só de imaginar que vai ouvir a voz do gajo, que liga e desliga a chamada, na maior das aflições, oito vezes antes de chegar sequer a chamar.

Depois, lá se decide.
Pega no telemóvel, muito cheia de si, faz a chamada. Chama, chama, chama.
O número que tentou contactar não tem voicemail ativo.

A junção da frustração com o alívio.

10 days to go

Cada novo dia é uma vitória.
Cada novo dia é um passo mais perto e um coração mais feliz.

Está quase.

dois meses depois

Depois do acidente, pedi para ligarem para casa e expliquei à minha avó que tinha tido um acidente. Não me lembro disso e, passado um bocado, já na ambulância, não era capaz de me lembrar sequer que tinha tido um acidente.

Basicamente, quando apaguei as recordações do acidente, apaguei também as recordações dos poucos minutos em que eu ainda era capaz de me lembrar do que me tinha acontecido. How weird is that?

amanhã

Um trabalho para apresentar e um teste, com a matéria mais chata de que há memória, para o qual preciso mesmo de estudar. 

E o que é que te apetece, cinderela?


Isto.

sábado, 14 de maio de 2016

weirdos on a train

Não lhe basta usar a unha do dedo mindinho com o tamanho ideal para tirar macacos do nariz ou o cerume do ouvido, a pessoa ainda enfia o indicador na boca e, a avaliar pelo movimento, conta os dentes.

Parece-me importante.
Eu costumo fazer a chamada, mas talvez seja mesmo mais fácil começar a contar o dentiçal, um a um.

god is giving me a sign

Quando tive o acidente, deus nosso senhor achou que já me tinha feito estrago que chegue para um dia e, como prémio de consolação, meteu-me um interno fofinho nas urgências, ao meu dispor. Claro que o nosso primeiro encontro foi algo erótico: eu, deitada numa maca, de cuecas e soutien. Coberta de lama. Rastas no cabelo, feitas pela lama. Maquilhagem borrada. Confusa, amnésica, mas com a mesma mania de ser parva.

O moço era adorável, que era. Muito além de ser giro como tudo, era fofo que só ele, assim coisa para uma pessoa se deliciar, mesmo no meio da desgraça.

Depois veio a cirurgia, o internamento. E o moço, o interno de cirurgia, volta a aparecer. E tu, cinderela?

Um pijama com um panda. O cabelo desgrenhado, lavado com o shampõ manhoso do hospital. A barriga inchada de quem tinha acabado de parir gémeos. Sensualíssima, portanto.

Há uns dias, entrei num comboio cheio de estudantes. E cheio não é exagero nenhum: literalmente cheio de estudantes, trajados, sujos, bêbedos, ensonados. E depois? 
Depois, esta pessoa é uma gaja cheia de pontaria e gosta mesmo do improvável. Em seis carruagens a abarrotar, conseguiu entrar exatamente naquela onde estava o interno fofo. A dormir.

Repito: na única vez que eu me cruzei com o moço convenientemente vestida, penteada, maquilhada e cheirosa, o gajo estava a dormir. O caminho todo.
Eu mereço?

hello darkness, my old friend, i've come to talk with you again

Sintam-se à vontade para me odiar, para me desejarem três meses de caganeira ou mesmo para expressarem o vosso descontentamento agora que voltei a ter música no blog: tanto faz. Tirem o som. Metam em pausa. Como queiram.

Esta é, provavelmente, a playlist mais triste que eu já fiz. Aguentem-se.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

o cair do pano

No dia em que nasci, tornei-me na neta mais velha da minha tia avó; com o passar dos anos, acabei por entender que o amor que se tem a alguém nada tem a ver com os laços de sangue, mais ou menos estreitos. Amor é amor - e eu, que não gosto de usar essa palavra em vão, atrevo-me a dizer que sempre a amei como uma neta ama a avó. Sempre. E é por isso que hoje me é tão difícil meter em palavras o que sinto.

A história dela não é a história do cabrão do cancro que está a fincar o pé e recusa dar-se por vencido; a história dela, a minha história com ela, é a história de uma das melhores pessoas que alguém pode querer ter por perto. Uma das minhas pessoas - uma das que eu amo mesmo.

Cresci entre a casa dela e a casa de outra das minhas avós: saltitava de uma para a outra porque, no fundo, eram as duas minhas também. Ela ensinou-me a fazer roupa para as minhas bonecas e deixava-me brincar com a caixinha cheia de botões; não me servia para nada, mas eu adorava o barulho que fazia.

Passou-me o amor pelo café e mostrou-me que um prato, tão banal quanto arroz com atum, se pode transformar na melhor coisa do mundo, quando é feita pelas mãos de alguém de quem gostamos tanto. Sempre que sabia que eu ia a casa dela, fazia-me uma miniatura do melhor bolo de bolacha de sempre, num prato de sobremesa, e ficava zangada quando eu o partilhava. Não sei se me deliciava mais com o meu bolo preferido ou com o gesto de alguém que fazia de tudo para me ver feliz.

Sempre torceu por mim como uma avó torce por uma neta. Comemorou cada uma das minhas vitórias, animou-me em cada derrota. Vi-a orgulhosa a passear ao meu lado quando tirei a carta, e de todas as outras vezes que a levei a passear. Vi-a feliz por mim, e vi-a chorar só de me ver chorar sabendo que não podia aliviar a minha dor. Ouvi-a chorar, de aflição, quando soube que eu tinha tido um acidente.

Fevereiro. 
Foi em fevereiro que me despedi dela, quando a levaram para longe de mim, para onde a iriam cuidar. Foi em fevereiro que, com um nó no peito, lhe disse adeus.
Faltam 13 dias para a poder ver novamente. 13 dias para a poder voltar a abraçar. 13 dias para eu lhe poder dizer mais uma vez, pela última vez, que a adoro. 13, mas o relógio não pára.
Faltam 13 dias mas o cancro, o cabrão do cancro, não dá tréguas. 

Deixa-me abraçá-la, por favor. Deixa-me vê-la mais uma vez. Só isso.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

13 days to go

E uma dor lancinante. A dor do medo. A dor da eminência da perda. A dor das saudades. A dor de quem precisa de colo, mais do que nunca. A dor que me deixa atordoada, perdida, alheia ao que me rodeia. A dor que me rouba a vontade de respirar.

A dor causada pelas más notícias, que vão sendo substituídas por notícias piores.
A dor, por si só.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

crónicas de uma cinderela desastrada, take 2

Quase morrer atropelada graças a um chapéu de chuva que eu resgatei do meu ex-carro, torto e cheio de lama, após o acidente, não me pareceu embaraço suficiente. Não. Temos de elevar a fasquia.

Não sei o que é que acontece com as outras pessoas mas, a avaliar pela quantidade de vezes que já dei por mim a rogar pragas às criaturas que continuam a arrumar as compras pacificamente, embora já tenham sido atendidas mais três pessoas entretanto, creio que não somos todos iguais: eu fico realmente nervosa quando pago alguma coisa em dinheiro, nos supermercados, e fico ali a tentar arrumar as compras e a manter a carteira aberta à espera do troco, porque não quero fazer a pessoa seguinte esperar. 

Paguei. 
Saí da caixa com o troco numa mão e a carteira na outra, mochila ainda aberta, saco de compras pendurado no braço; fugi para uma mesa, só para me organizar. Um velhote - adorável - fez o mesmo. E tu, cinderela? 
Eu decidi expôr ao mundo todos os cartões que tinha na carteira. Numa banquinha improvisada, feita no chão, qual marroquina na feira. Juntei-os todos, sorri desajeitadamente ao homem e saí.

Podia ter acabado por aqui, mas lontra que é lontra está eternamente esfomeada: lembrei-me das minhas bolachas de arroz, cuidadosamente arrumadas no meu saco pirosinho, que guardei na mochila para andar com menos tralha na mão. 

Abri a mochila.
Remexi no saco.
Caíu-me tudo o que tinha na mochila, no meio da rua. Tu-do.

O velhote volta a passar por mim e, ao ver-me naquela atrapalhação, lembra-se de dizer:

- está a deixar cair tudo. é porque alguém lhe quer falar, menina!

Dada a minha situação atual, não pude deixar de rir. E de esperar que aquele conas me ligue de uma vez, porque isto de passar a vida de cu para o ar a apanhar as minhas tralhas em praça pública não está a dar com nada.

crónicas de uma cinderela desastrada

O principal que vocês têm de reter sobre mim é isto: tenho um atraso mental. Um atraso mental grave e demasiado explícito para que eu possa ter uma vida social minimamente normal.

Se viram uma louca a deixar cair um chapéu de chuva na passadeira e, ao ver um carro a aproximar-se com todo o ar de quem não tencionava parar, no auge da aflição, pontapeou o chapéu para ele chegar à ao passeio sem que a pessoa morresse a meio de um agachamento, era eu. E se, não contente com a barraca, a dita louca agarrou o chapéu e deixou-o cair logo de seguida, sem motivo aparente, também calhou ser desta pessoa fantástica, maravilhosa e absolutamente retardada.

14 days to go

Apetece-me fazer a mala e fugir já.

ouch

Desde que deixei de falar com ele, passei a escrever mais aqui. Nota-se que o meu problema é mesmo a necessidade de ter longos monólogos quando estou zangada?

terça-feira, 10 de maio de 2016

podia ter sido amor

Entrar no comboio uns 20 minutos antes da hora da partida não me pareceu um bom presságio: com a real peida assolapada num banco e os fones nos ouvidos, estavam reunidas todas as condições para que eu tivesse uma daquelas brainstorms que evitamos a todo o custo quando estamos em sítios públicos mas que teimam moer a cabeça a uma pessoa. E que me desmanchasse ali a chorar, claro está, porque a pessoa não faz a coisa por menos.

Depois entrou um mocinho jeitoso no comboio - entenda-se que este é um fenómeno tão mas tão raro que, quando acontece, é necessário assinalá-lo formalmente. Prosseguindo: o moço era giro, vá. Não era a última bolacha do pacote, mas serve para entreter as vistinhas deprimidas de uma gaja. E serviu.

Trocámos olhares: senti que ele me olhava com a admiração de quem via, pela primeira vez, uma lontra a andar de comboio e nem acreditava no que via, e eu olhava-o com o espanto de quem encontra um gajo giro no comboio mais ou menos com a mesma frequência que o castelo branco parece um macho. Estão a ver o drama? Isso.

A viagem prosseguiu conforme o previsto, enquanto eu fazia uma lista mental dos possíveis nomes dos nossos filhos e analisava um calendário para prever a melhor altura para acasalar. Aposto que ele estava à procura de casas ou de um destino para a lua de mel, mas não tenho a certeza. Parece o início de um grande amor, e podia tê-lo sido - depois chegou um homem esquisito com metro e meio de altura e três de largura, e sentou-se no banco à minha frente.

Ainda não contente por estar à minha frente, decidiu abraçar o banco do lado que, por mero acaso, estava ocupado com metade do cu do dito cujo: o meu campo de visão ficou limitado a um braço, que parecia uma perna, e a mão de um senhor respeitável que acha útil e sensual deixar crescer a unha do dedo mindinho.

O meu amor com o estranho acabou ali, com aquela barreira humana a garantir que eu não procriaria com o moço jeitoso. 

por outro lado

Há gente com quem não tenho qualquer afinidade, que não faz parte do meu dia a dia mas com quem, por algum motivo, me cruzei no passado - e sigo-lhes a vida ao longe, como espetadora, comemorando em silêncio vitórias que não são minhas. Porque há gente que merece mesmo toda a felicidade do mundo.

gente que me enerva

Aquele tipo de criaturas que chegam a tua casa a meio da tarde, inesperadamente, e, quando dás por ti, estás a olhar para as horas e a temer ter de lhes servir o pequeno almoço.

finito.

[às vezes pergunto-me sobre se também sentirás a minha falta. se também te perdes em mil e uma memórias, se também olhas para as fotos e és inundado por recordações. pergunto-me se releste mensagens para matar saudades ou se nem as quiseste voltar a abrir para não voltares a pensar em mim. isso: pergunto-me se pensas em mim. se olhas para o telemóvel, todas as noites, e te questionas sobre a minha reação, se me ligasses. se lamentas o rumo que as coisas tomaram ou se te sentes aliviado por te teres visto livre de mim. e se sentes a minha falta: pergunto-me isso todos os dias. se tanto faz ou se tens saudades, como eu. se te arrependes: do que fizeste, do que não disseste. se te dói ter-me longe ou se de facto estás melhor assim. se gostavas de me ter de volta ou se estás grato por saber que nos perdemos. se algum dia lerás isto ou se nem te darás ao trabalho de tentar saber de mim. pergunto-me se queres saber, se algum dia quiseste. se me mentiste ou se fui eu, mais uma vez, que me fintei a mim mesma. pergunto-me se algum dia gostaste de mim, se ainda gostas. mas sei a resposta, e é isso que me mata; às vezes pergunto-me se sentes a minha falta, mas sei que não.]

segunda-feira, 9 de maio de 2016

sans toi

Sabes quando não tens para onde ir mas, mesmo assim, sentes que tens de ir a algum lugar? Como se, de repente, o mundo se tivesse esquecido de que fazes parte dele - ou como se tu te tivesses esquecido de que fazes parte do mundo. Como quando a dor te consome e os teus sítios de sempre já não parecem nada teus. Como quando tentas ouvir aquelas que eram as tuas músicas preferidas de todos os tempos, mas elas deixaram de fazer sentido. Como quando te deixas levar na conversa dos outros, mas nada te interessa.

Sabes quando te perdes, assim? É como me sinto: não perdi o norte, perdi a vontade de o procurar. Não me apetecem as conversas banais, as frases feitas, as músicas tristes. Nem as animadas. Não me apetecem as noites frias onde me falta o calor da tua voz. Não me apetecem as mãos, desamparadas, sem terem onde agarrar. Não me apetecem as dúvidas, crescentes, dolorosas, assassinas: assassinas de mim, do meu eu. Assassinas da pessoa em que me tornaste antes de me teres abandonado. Assassinas desse eu mais feliz. Assassinas.

Foram as palavras, ou a falta delas. Foram as horas intermináveis a perdoar o imperdoável e a esperar que corresse bem. A fechar os olhos, não por pena mas por tanto gostar de ti. A deixar-me levar, por uma vez na vida, porque tudo parecia bem. Foram as palavras que geraram as dúvidas, nunca o contrário. Foi a ausência de palavras que nos trouxe aqui.

Hoje não me apetece escrever: escrevo por teimosia, como terapia para o espírito. Hoje apetece-me confessar-te que abandono o telemóvel onde calha, para depois me precipitar sobre ele, volta e meia, à espera de notícias tuas. Hoje apetece-me contar-te que sonhei contigo, que sonhei com a felicidade de te ver desfazer exatamente o que nos desfez. Sonhei que acabavas com a dor que me causaste há uma semana atrás - sonhei, imagina só, que ainda podíamos voltar a ser nós. Hoje apetece-me dizer-te que essa ideia me provoca um nó na garganta e os olhos marejados de lágrimas: hoje, a tua instabilidade parece-me perfeita, os dias assim-assim parecem-me os melhores, a tua existência na minha vida parece apenas um sonho pintado numa tela imperfeita. Hoje apetecia-me esquecer tudo e correr para ti. Hoje apeteces-me.

Tu na minha vida. Nós. 
Apetece-me.

não me orgulho de ter isto em repeat mode

I wished you the best of
All this world could give
And i told you when you left me
There's nothing to forgive
But i always thought you'd come back
Tell me all you found was
Heartbreak and misery
It's hard for me to say, i'm jealous of the way
You're happy without me

desvesiculada e desfeliz

Gorda profissional que só eu, sempre fugi das dietas como o diabo foge da cruz - let's face it: eu adoro comer. Gorda, mas uma gorda feliz e de bandulho cheio. 

Agora sinto que o meu estômago se transformou num desses activistas de bolso que é incapaz de passar um dia sem iniciar uma revolução. É difícil, deixem-me que vos diga, ignorar os manifestos de dor deste amiguinho que vive comigo vai quase pra 21 anos. 

Lamentem-lhe a sorte, alforrecas. Ele está mais vazio do que a minha alma.

domingo, 8 de maio de 2016

feeling like

18 days to go

Conto os dias, as horas, os minutos. Faço planos que não cabem em 5 ou 6 dias, mas enchem-me as medidas e acalentam-me a alma: preciso disto. Preciso dessa fuga à rotina, preciso dessa oportunidade de me esquecer do que cá deixo, preciso de respirar fundo e conquistar mais dias zero: numa altura em que está tudo errado, recomeçamos. É disso que preciso, é disso que não me posso esquecer.

Até lá, conta-se cada segundo, microssegundo, nanossegundo. Fecha-se os olhos de cada vez que chegam mais más notícias, e segue-se em frente: vai correr bem, tem de correr bem. Ela vai aguentar até lá. Eu vou voltar a vê-la. Tem de ser.

confessions.

[abro a caixa das mensagens só para ler o teu nome - no meio da dor, lê-lo parece-me estranhamente confortável, como se continuasses comigo só por ter esta prova de que um dia estiveste. tenho saudades tuas. acordo durante a noite e continuo à espera que consigas fintar o bloqueio e que me ligues. fico à espera de ouvir a tua voz outra vez, fico à espera que me faças fingir que nunca voltaria atrás com a minha palavra, enquanto corro de novo para ti. lembrar-me de ti deixa-me de lágrimas nos olhos; ainda não consegui obrigar-me a aceitar que te perdi e que já nada há a fazer por nós. quis que me entendesses, quis que me tentasses ententer. quis que não desistisses de mim tal como eu não desisti. tentei sentir-me especial para alguém desta vez. tentei que me viesses buscar ao sítio para onde me atiraste; ontem li um livro e aqueles dois éramos nós. ela passou anos a ser maltratada pelo marido, ele pedia desculpa, ela desculpava. não o queria magoar. sentia-se culpada até por aquilo que não fez - aqueles éramos nós. não nós antes, nós agora. este nós estranho que surgiu e que nos desfez os nós atados com amor há muito tempo atrás - gosto de ti e mandei-te embora. minto: pedi-te que te decidisses ou que partisses de vez. achei que entenderias. achei que saberias interpretar-me, que ias entender que me estavas a magoar. e que te ias lembrar de tudo: não mereço o mal que me fazes. ou fazias. aqueles dois éramos nós, mas depois deixaste de pedir desculpa. mas eu não deixei de gostar de ti, nem de te perdoar em silêncio só por não saber odiar, só por não saber gostar menos. só por já não saber de mim, por já não me lembrar de como era o mundo antes de eu ser a tua ticas. nós éramos eles mas eu não queria saber porque me fazias feliz nos intervalos. davas-me motivos para sorrir, davas-me força para continuar. davas-me a certeza de que estarias sempre aí para mim, tal como eu estaria para ti. dizias que gostavas de mim, e eu acreditava. mentiste.]

sábado, 7 de maio de 2016

arruinaram-me os sonhos

No momento em que a enfermeira tirou o último ponto, respirei de alívio e disse-lhe que estava mortinha por um banho a sério, um banho completo, um banho sem ai-que-não-posso-molhar-os-pensos.

Mas ainda levas pensos. Só os podes tirar daqui a dois dias.

hoje

Há um conflito moral entre todas as coisas que eu tenho para fazer e a vontade de ficar aqui, a olhar pela janela e a perguntar-me se não estará a chover única e exclusivamente porque deus sabe que eu preciso de tomar um banho a sério.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

uma verdade inconveniente

Na verdade não há nada a que possamos recorrer para nos orientar na vida, a não ser o nosso passado. Não se pode começar de novo. Só podemos apanhar os cacos que alguém deixou ficar.

Jodi Picoult,
ilusão perfeita

sobre o amor.

Dorothea levara anos a compreender, mas agora acreditava convictamente: o amor é assim. Não se pode pintar a preto e branco. Acabava sempre por ser uma mistura estranha de tons de cinzento.

Jodi Picoult,
ilusão perfeita

20 days to go

E de momento tenho pouco mais com que me animar do que isto.

é sempre isto

Bloqueei-lhe as chamadas e as mensagens, arquivei as fotografias numa pasta oculta; passaram meia dúzia de horas e já estou a ponderar desbloquear as mensagens outra vez; as chamadas ficam registadas mas as mensagens não. E se ele tentar? E se a mensagem nunca chegar? E se...?

E se nada, cachopa burra.
Esta coisa de se gostar de alguém é só mais uma das muitas formas de se enlouquecer.

ladies ladies

Qual é o patamar de exclusão da sociedade que eu passo a ocupar ao assumir que acho o gajo giro como tudo, mas os músculos não me convencem nem um bocadinho?

a sério

Vamos lutar por um mundo onde as pessoas me encontram, ainda antes das oito da manhã, de fones nos ouvidos e livro no colo, à espera do comboio, e entendem que não vale a pena chamarem-me a atenção para conversas metafísicas baseadas no estado do tempo.

Sim, está mais frio.
Sim, é chato estar a chover outra vez.
E sim, as alfaces vão morrer afogadas.

Agora podem deixar-me em paz? Obrigada.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

a melhor dieta do mundo

Nutro um carinho muito especial por aquela gente que partilha artigos cujos títulos são algo do género «saiba como secar a barriga em 10 dias», e depois mandam beber uma mistura improvável que me dá vómitos só de imaginar. A minha afeição a essa gente vem do meu lado mais carinhoso e solidário: essa gente tem de ter problemas muito graves para achar que pode comer que nem um alarve se depois fizer um esforço hérculeo para beber aqueles sumos manhosos, e que vai emagrecer milagrosamente assim.

Correndo o risco de me tornar repetitiva, digo-vos que tenho a melhor dieta para vocês: colecistectomia. Posso dizer-vos, por experiência própria, que, além de não poderem comer quase nada, ainda vão cagar como se não houvesse amanhã.

nó na garganta

Quando pedimos a alguém que se decida ou que se vá embora de vez, e já sabemos a resposta. Quando esse alguém é o nosso alguém. A nossa pessoa preferida. O nosso ele.
Quando sabemos que é desta. 

pensando bem

Olha, lembras-te do meu pijama às bolinhas e do dia em que me mediste a tensão? Acho que teríamos filhos lindos.

a magia dos comboios

Quando estive internada, a propósito de ter ido parir a vesícula, havia um estagiário de enfermagem que não era mau de todo - mas, entenda-se, nem era tipo ai-chega-para-lá-ca-nojo, nem tipo anda-cá-que-eu-preciso-de-ajuda-no-banho. Achei-o engraçadito, mas nada por que me perdesse.

Hoje cruzámo-nos, por acaso, no comboio; mudei de ideias. 
Afinal, acho que escolhi um novo pai para os meus filhos.

um sonho de criança

Mas eu alguma vez me vou conseguir apaixonar por um gajo que os tenha no sítio? Não há pachorra para gajos conas.

morde o lábio e não digas o que pensas

[idiota. otário. besta. egoísta. cobarde.]

vou-te contar um segredo

Perdi a conta às vezes que te disse adeus, que ensaiei longos discursos que precederiam a minha partida definitiva, a minha retirada da tua vida. Perdi a conta às vezes em que me tentei convencer de que a raiva momentanea poderia, de alguma forma, sobrepôr-se a tudo o resto que sinto por ti. Que me permitiria partir sem olhar para trás.

Há alturas em que penso em ti como o destino de férias paradisíaco de onde sabemos que temos de sair, embora não queiramos levar com um banho de realidade. Há alturas em que acho que uma fotografia e um souvenir qualquer serão suficientes, mais tarde, para me fazer sorrir quando me lembrar de ti. Mas há outras alturas em que entendo que há muito tempo que deixaste de ser um paraíso temporário - és a minha casa. És o sítio para onde quero fugir nos dias maus, és o sítio onde quero comemorar os dias bons. És o sítio onde quero estar, todos os dias.

Gostar de ti sempre foi uma manobra arriscada, mas nunca deixou de valer a pena. Foi no meio dos nossos problemas que eu descobri que há formas inexplicáveis de se gostar de alguém, foi no meio dos nossos obstáculos que eu percebi que há maneira de se abraçar uma alma e de que há sentimentos tão profundos que fazem chorar de gratidão. Foi no meio do nosso caos que eu encontrei a minha paz.

A vida é puta e trocou-nos as voltas - a tua, ao mudar drasticamente, mudou a minha também: desculpa-me, mas eu não sei gostar de outra forma que não esta, por inteiro. Quis que entendesses que continuaria aqui, apesar de tudo. Tentei que nunca te esquecesses de que continuavas igual à pessoa por quem me apaixonei, que não poderias fugir das adversidades mas eu ficaria contigo. Fiz de tudo, enfim, para não te perder. Para não te perderes.

Perdi a conta às vezes que te disse adeus, e hoje digo-o outra vez; há alturas em que se perdoa o mal que nos faz um amor com raízes, mas até para isso é preciso um limite. É preciso saber ir embora dos sítios onde sabemos que já só existe dor, mesmo que isso implique fazer as malas e sair do sítio que um dia chamámos casa. É preciso sair, mesmo com as lágrimas nos olhos e um vazio no peito: é tempo de te dizer adeus, meu amor. 
É tempo de ir embora.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

carta aberta ao deus das intolerâncias alimentares

Agora que andas a fazer pim-pu-ne-ta para decidir o que é que eu vou poder ou não comer daqui para a frente, fica sabendo que a minha alma de lontra obesa está disposta a abraçar, até com alguma gratidão, a ideia de não poder voltar a comer fritos e chocolates, mas nem penses em tirar-me os citrinos e as verduras. 

Deal?
É só.

ser gaja é isto

Prometi a mim mesma que não lhe atenderia se ele me ligasse.
Fiquei fodidíssima da vida por ele não o ter feito.

I mean... como é que ele vai saber que eu o estou a ignorar se não tentar falar comigo?

ou é do mau feitio ou da sinceridade bruta

A regra número um do código de conduta para uma convivência razoavelmente tolerável entre dois seres humanos devia ser, a meu ver, a proibição de fazer perguntas desnecessárias para as quais não se quer resposta. E, entenda-se, não estou a falar das habituais perguntas retóricas que todos fazemos em algum momento, tipo «quando é que eu fico rica?», ou «quando é que este gajo deixa de ser um conas?», porque todos sabemos a resposta: nunca.

Refiro-me àquela necessidade portuguesíssima de fingir que queremos mesmo saber como é que vai a vida de uma tia que só cumprimentámos para não sermos excomungados: o típico «olá, tudo bem?», proferido enquanto se caminha sem parar e se força um sorriso que só se assemelha ao que usamos quando estamos em público, rodeada de mocinhos apetecíveis, e de repente aparece uma crise de gases que nos deixa a comprimir os glúteos um contra o outro como se estivéssemos a tentar segurar a paz, a saúde e o amor de toda a humanidade. 

Esse tipo de perguntas. Vocês cruzam-se com a pessoa na rua, perguntam se está tudo bem e continuam a andar; vão convencidos de que fizeram a coisa certa e ficam muito contentinhos, mas a verdade é que a pessoa fica ali, sozinha, portuguesíssima que só ela e com todo um rol de desastres para contar: são as contas para pagar, a subida do preço dos combustíveis, o furúnculo no sovaco, a candidíase da avó e a dificuldade em dormir porque a vizinha de cima tem um bar de alterne montado na sala de estar. Mas enquanto a criatura vos conta isso tudo, vocês continuam a caminhar, indiferentes e sem a mínima pachorra para ouvir fosse o que fosse; já estão vocês a chegar à rússia, a pé, quando a pessoa entende que não valia a pena ter dito mais do que «olá» e retribuído o sorrisinho falso.

A sério... para quê perguntar?

terça-feira, 3 de maio de 2016

deixem-me que vos diga

Quatro pequenos cortes podem parecer relativamente inofensivos e até podem levar uma pessoa a pensar que não impedem nada - mas desenganem-se.

Quando o centro de saúde da vossa zona parece desconhecer a existência de pensos impermeáveis, tomar banho toma toda uma nova dimensão, quase olímpica, e deixa-vos ali, de joelhos ao pé da banheira, numa posição pouco digna de se ver.

Foi assim que decidi optar pelo mesmo método que o lápis roído usa com o cão: quando cheirar mal, tomo banho.
Até lá, aguentem-se!

e chorei a rir com isto


Acho sinceramente que lhe falta um carro de mão e um aspirador, e trocava o carapau por um naco de toucinho, mas concordo com as restantes escolhas. 

chateei-me comigo mesma

Não saber parar está longe de ser o pior dos meus defeitos, mas está igualmente longe de ser uma qualidade; entendi agora que tenho uma dificuldade descomunal de perceber e assumir que não sou a super mulher e que sou a única lesada com a minha incapacidade de entender isso.

Depois do acidente, ofereci-me um dia para descansar e, mesmo assim, acho que foi mais para dormir sobre o trauma do que outra coisa. Depois da cirurgia só me permiti a faltar às aulas durante os dias em que estive internada, e foi porque deus sabe que eu tenho medo de andar de elevador e não me quis a subir escadas com o suporte do soro atrás.

Consequências? As paragens à força e as dores que seriam evitáveis e desnecessárias se a pessoa conseguisse deixar de ser teimosa e orgulhosa. 

ca nerbos!

Os velhos tiram todos um curso para aprender a fazer aqueles estalidos irritantes com a língua, ou isso é uma competência que se adquire naturalmente com o passar do tempo?

segunda-feira, 2 de maio de 2016

coisas que ninguém vos diz quando vão tirar a vesícula

Há um fenómeno quase tão mau quanto as dores, especialmente se voltarem logo à vossa rotina e tiverem tanta paranóia com as casas de banho públicas quanto eu: diarreia.

Depois de tirarem a vesícula, preparem-se para cagar até sentirem que acabariam por defecar a dita de qualquer forma.

sempre odiei listas

Pela primeira vez na minha vida, fiz uma to do list para orientar o caos causado por três dias de internamento e duas semanas de paciência esgotada.  Neste momento, sinto-me mais ou menos assim:



Deus me ajude.

monday morning

Livrei-me da indumentária que me fazia caminhar pelas ruas como se fosse um traficante de droga com ar duvidoso e toda a gente soubesse disso - sabe deus o quanto eu odeio andar de collants, mas mesmo uma gaja com pouca alma de gaja faz uns sacrifícios para se enfiar dentro de um vestido.

Os meus dias não melhoraram milagrosamente, não estou mais feliz do que nunca nem recuperei por completo dos últimos meses - mas passou-se quase uma semana desde que arrumei um assunto que me atormentava há mais tempo do que deveria e sinto que estou a recomeçar, pouco a pouco, a recuperar tudo o que fui perdendo. 

Acordei com a sensação de que ontem me apaixonei um bocadinho mais, pela mesma pessoa, e que isso tem de ser necessariamente um bom sinal, um sinal de recomeço, um sinal de que começo a escalar as paredes do poço onde mergulhei há demasiado tempo. E é por isso, só por isso, que hoje é o dia zero outra vez.

cinderela, a patrocinadora oficial

Se há coisa que me faz doer a alma é ver 938379 comentários em posts que dizem, mais coisa menos coisa, «ontem comi bolachas», quando depois descubro blogs que me fazem rir todos os dias mas estão mais parados do que a vida sexual da irmã lúcia.

A vocês, e especialmente porque ele me ofereceu um bacalhau, um leitão e um conjunto de tachos e panelas para fingir que gosto dele, apresento-vos o contra chatos não há medicamentos.

Vá, vão lá que é bom moço e tem as vacinas em dia.

domingo, 1 de maio de 2016

sobre o got talent portugal

Torço pelos contraponto desde as audições - se fosse gaja de votar nestas coisas, ligava de cinco em cinco segundos. 

Mas como sou pobre, não vai acontecer.

personalidade esponja

Devem existir poucas formas mais tristes de se existir do que sentir a necessidade constante de fingir ser-se o que não se é para ser aceite; já todos tivémos de se adaptar a algo ou a alguém, mas não acredito que isso implique necessariamente uma mudança naquilo que somos.

Se querem que vos diga, tornam-se ridículos quando o fazem: quando alguém que vos conhece bem assiste de bastidores à vossa transformação, é difícil perceber se dá vontade de rir ou de chorar. Não há nada de errado mudarem de ideias: nunca gostaram de ervilhas a vossa vida toda, mas um dia provam outra vez, sabe bem, e até passam a comer com frequência - talvez até passem a adorar, mais do que qualquer outra coisa que já tenham provado antes.

Mas, se nunca gostaram de ervilhas e um dia foram parar a um grupo de pessoas que sempre adoraram ervilhas, não adianta forçarem-se a comê-las e passarem a vibrar com as ervilhas como se essa fosse a vossa comida preferida desde o útero, e reagir como se vivessem para isso, como se as ervilhas vos fizessem chegar ao climax só de pensar nelas.

Isso pode resultar com quem não vos conhece - mas torna-vos em alguém realmente ridículo e desesperado aos olhos de quem vos sabe de cor.