sexta-feira, 28 de setembro de 2018

sexta feira

Foi há 8 anos. 
Apesar de não me lembrar do dia, sei que foi algures em setembro de 2010 que criei o meu primeiro blog, a poucos dias da grande reviravolta que marcou a minha adolescência. Aquela fase negra da minha vida em que me parecia impossível sobreviver e ser feliz, estão a ver?

Que ninguém me pergunte qual foi o propósito, porque também não o saberia explicar: gostava de escrever desde sempre, mas colocava os textos em itálico para fazer de conta de que não eram meus e o resto eram letras de músicas e imagens estúpidas. Tinha 15 anos e estava destroçada - acho que não se pode pedir melhor.

Com o tempo, encontrei-me. 
Descobri que escrever era a melhor forma de expor, de forma quase poética, tudo aquilo que eu não podia dizer.  Com mais ou menos jeito, tornou-se numa paixão, numa escapatória, na única coisa em que eu sentia que podia fazer a diferença. E continuei.

Há 7 anos, criei o Cinderela. 
Já quase o apaguei um milhão de vezes, já apaguei todas as publicações duas vezes, já passei os textos mais antigos para uma conta privada e já os devolvi ao antro: custa-me desfazer dos posts que contam a minha história, mesmo que nem sempre tenha sido de forma explícita, mesmo que existam muitas mensagens escondidas nos textos que só servem para eu me lembrar do porquê. E depois, comecei a abandoná-lo.

Escrevo-vos isto hoje porque ontem estive a reler posts antigos e fiquei com saudades da paixão com que escrevi, em tempos. Daquela vontade de me traduzir em palavras, de brincar com elas, de me sentir capaz - muitas coisas foram mudando ao longo do tempo, a minha vida mudou bastante, mas nunca consegui deixar de sentir saudades do meu blog. E de detestar um bocadinho o que lhe tenho feito nos últimos tempos: esta cinderela que só aqui publica textos longos e chatos, não sou eu. Pelo menos não a cinderela que eu quero ser.

Ontem tinha planos novos. 
Ia mudar bastante as coisas por aqui: contava iniciar, em breve, uma série de textos que iriam retratar uma nova fase, e que achei mesmo que poderia ser interessante. Ia voltar mais às origens - apesar de preferir mil vezes a interação e o feedback da página, o meu coraçãozito ainda está aqui, onde comecei, onde me descobri. Onde relatei dos momentos mais tristes aos mais felizes. 

E hoje?
Hoje acordei com vontade de apagar isto tudo e de fugir para uma gruta, longe da internet e da civilização. Ou "civilização". Estou farta, fartíssima, de gente que parece incapaz de encontrar a sua posição no mundo, que não aceita um não, que não percebe que impôr a sua presença nunca será o melhor caminho para que esta passe a ser desejada. Ou desejável.

Os últimos tempos têm sido um mar de stress que se tem refletido até a nível físico, e a última coisa de que eu preciso são de problemas relacionados com algo que apenas me deveria servir de escapatória. Hoje apetece-me apagar isto tudo e esquecer-me de que algum dia existiu - estou cansada de gentinha pequena e sem noção dos limites. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

aquele lado mais chato da cinderela

Hoje de manhã, tive medo.
Durante algumas horas, pensei que um dos meus poderia estar envolvido no fatídico acidente do IC8

Não estava: felizmente, posso respirar de alívio e dizer que está tudo bem, mas não o faço porque não está - esta manhã, seis pessoas morreram a caminho do trabalho. Talvez tenham sido muitas mais, mas não se fala de todos os acidentes, de todas as fatalidades, de todas as desgraças.

Talvez seja um absurdo julgar o acidente sem lhe conhecer os contornos mas, assim de repente, consigo imaginar que seja mais do mesmo: ultrapassagens mal calculadas, feitas quando não há visibilidade o suficiente para o fazer em segurança. O risco, enfim, que alguém decide correr e que, volta e meia, dá nisto: morrem todos, mesmo os inocentes. 

Pouco importa saber quem é o culpado porque, de qualquer maneira, seis pessoas perderam a vida e isso é lamentável. O que me custa nestas mortes é que podiam sempre não ter acontecido: não foi uma doença incurável, um vírus fatal, o filho da puta do cancro. Foi um acidente, um azar, um grupo de pessoas que estava no sítio errado à hora errada. E puf: esgota-se a vida, arrumam-se os sonhos, enterram-se as memórias. Acabou.

Deus, dir-me-ão uns. Destino, dir-me-ão outros. Inconsciência, direi eu mas baixinho, para não ser apedrejada: volto a dizer que poderá não ter sido nada disto que aconteceu hoje, mas esta situação fez-me pensar em todos aqueles mini ataques cardíacos que tenho (quem não tem?) quando alguém resolve ultrapassar numa curva. E quem diz uma curva, diz uma reta com boa visibilidade mas onde não há espaço para encostar à direita sem ultrapassar oito carros seguidos. A questão é: porquê? O sítio para onde vão é mais importante do que a vossa própria vida? Do que todas as vidas que colocam em risco de cada vez que fazem uma barbaridade destas?

Tenho medo, confesso.
Tenho medo todos os dias porque, apesar de não ser uma condutora exímia nem tão pouco achar que um trauma me faz melhor do que os outros ou que ter medo de tudo é, por si só, uma boa política, há demasiados acéfalos que, de alguma forma, conseguiram tirar a carta. Assusta-me ter de me preocupar com o que eu faço e com o que os outros fazem mas, mesmo assim, estar tão sujeita quanto os outros todos a, um dia destes, ser apanhada numa curva mesmo sem culpa alguma.

Hoje de manhã, tive medo durante algumas horas, mas passou - para outros, em especial para os mais próximos daquelas seis pessoas, hoje estará a ser, muito provavelmente, um dos piores dias que já viveram. E podia não ter sido assim.

Por isso, e muito embora não ache que faça grande diferença, quero pedir a quem anda na estrada que pense duas vezes antes de arriscar. Que pense nas vidas que pode mudar (ou arruinar!) com uma atitude imponderada.

Há sempre tempo para chegar, se estivermos vivos. 

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

vamos lá atear fogueiras mais uma vez

No domingo, perguntei(-me) se não há quem faça filhos com o único propósito de ter prioridade nas caixas dos supermercados. Isto, tal como quase tudo o que publico, foi escrito graças a alguma coisa que tinha acabado de me acontecer, porque a pessoa até pode ter imaginação mas aqui trabalhamos com a realidade.

O drama, o horror, a tragédia.
Se há coisa que eu adoro é a forma como as pessoas se preocupam com os direitos, mas nunca com os deveres. E muito menos em usar a cabeça e os olhitos para avaliar as situações e tentar perceber se, sei lá, se justifica ou não passar à frente.

Falo mais das grávidas/pessoas com crianças, por ser o que mais tenho visto. E o que mais me tira do sério também. Nunca estive grávida, mas não tenho a menor dúvida de que é um tanto ou quanto violento para o corpo da mulher. Porque é. E também não tenho quaisquer dúvidas de que, a dada altura, se torne realmente penoso estar em pé, à espera da vez para pagar um balde de gelado. Se for de doce de leite, ainda tem mais desculpa! Mas não... não somos todos Carolinas Patrocínios e não vamos todas estar a fazer agachamentos já em trabalho de parto mas... gravidez não é doença. Desculpem, mas não é - e se conseguiram encher um carrinho de compras sozinhas, certamente também conseguem aguentar cinco minutos até chegar a vossa vez.

Esta lei da prioridade devia ter vindo com alíneas, assim numa de explicar que, não, não faz assim tanto sentido armares-te em parva e passares à frente de toda a gente só porque acabaste de fazer um teste de gravidez e deu positivo. A prioridade é para ser usada, sim... quando precisas de facto dela. Fora isso, tudo o que consegues é contribuir para o aumento daqueles seres que fingem que não te estão a ver, mesmo que até estejas num estado em que se justifica deixarem-te passar. 

Entendo quando se trata de uma fila longa; caramba, até eu, que infelizmente desconfio que nasci com uma coluna em segunda mão e não consigo estar muito tempo parada, em pé, sem começar a ficar desesperada com dor de costas, tenho vontade de meter a mão na pança e ver se me perguntam se quero passar, mas não o faço. Agora, passarem à frente só porque sim, só porque podem, quando têm duas pessoas à frente com pouquíssimas coisas para pagar, desculpem, mas roça a estupidez.

Uma boa parte do problema começa no facto de a prioridade ser dada em todas as caixas, e as pessoas nunca se darem sequer ao trabalho de perguntar se podem passar. Às vezes, vou ao supermercado na minha hora de almoço, tenho os minutos contados para voltar a horas para o trabalho e, geralmente, isso significa que lá fui buscar algo muito específico e, portanto, tenho poucas coisas para pagar. Por que raio sou obrigada a deixar passar alguém com um carrinho de compras para o mês inteiro quando... eu tenho um ou dois artigos para passar e estou com pressa? Porquê, mesmo?

Isto já me aconteceu. Tudo isto, aliás.
Não há muito tempo, um casal lésbico tentou usar o facto de terem uma miúda, com uns três ou quatro anitos, num carrinho de bebé para me passarem à frente. Eu tinha, literalmente, duas coisas para pagar, no more, no less. A miúda estava calmíssima, uma delas já tinha pago e poderia simplesmente sair dali, mas nada impediu a outra de se dirigir a mim, quando eu era a próxima pessoa a pagar, e dizer "olhe, se não se importa...".

Se se estão a perguntar, a resposta é não, não deixei passar. Mas colocou as compras imediatamente atrás das minhas, e ainda se deu ao luxo de ir buscar mais umas quantas coisas, apesar de ter uma fila inteira a olhá-la de lado. Porque... porque podia. Não precisava, mas podia, e neste país é o vale tudo. Não é precisa noção, não é preciso respeito nem educação, e pouco importa se até havia ou não gente na fila com mais idade, que possivelmente precisava mais de passar. As leis são para ser interpretadas como convém, e raramente é quem mais precisa que usufrui delas.

Também já vi uma senhora começar a abanar um carrinho, onde a bebé dormia tranquilamente, enquanto dizia "não chores, não chores, já vais comer", para tentar passar(-me) à frente, ainda antes de isto ter virado coisa séria e lesgislada.

Como estas, tenho um sem número de histórias semelhantes, que têm em comum a estupidez alheia, e a falta de civismo e educação de que fui acusada, por ter escrito um post carregado de sarcasmo para evitar um texto mais longo, como este. Assim, levaram com os dois, e a culpa é da indignação da Luisínha.

Sinceramente, eu só gostava que as pessoas se preocupassem tanto com a prioridade na estrada quanto se preocupam nas filas dos supermercados. Haveria menos acidentes, com toda a certeza.
Brigada da prioridade: pensem nisso. Quando conseguirem um cérebro, vá.