quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

afinal também refleti, mas passou logo

[há precisamente um ano atrás, ele foi das primeiras pessoas a desejar-me um bom ano. disse que não o passava comigo, mas que talvez este ano fosse diferente. ri-me. achei-o tonto por pensar que nos íamos mesmo aguentar um ano, que escapávamos às lanças afiadas da distância, que algum sentimento pudesse resistir tanto tempo nestas condições. e hoje, um ano passado, continuamos juntos - não hoje, por motivos diferentes e pouco felizes, mas juntos ainda assim. conseguimos, resistimos a um ano. e o sentimento, essa coisinha ténue que eu achava que desapareceria ao fim de pouco tempo, triplicou. enraizou-se. e, no final das contas, essa é talvez a única coisa boa que levo deste ano.
mas, ainda assim, acho que não poderia pedir melhor.]

por ser o último dia do ano

Hoje devia ser o dia em que eu, finalmente, tentava ser uma blogger decente e vos fazia uma review do meu ano; esclarecia-vos acerca de cada peido que dei ao longo de 2015, vocês fingiam-se de interessados e éramos todos mais felizes. Mas não tenho paciência para isso.

Este ano nem foi assim tão bom. Aliás, se há coisa que este ano me trouxe, foi saudades do ano passado, mas eu já nem me lembro se de facto as coisas foram melhores ou se é a memória que me está a ficar demasiado curta. Ainda assim, acho que este foi o pior ano de que me lembro mas também sei que as coisas não vão mudar só por entrarmos num novo ano. E posso dizer que já estamos a começar mal, e ainda nem começámos.

Também estou muito chateada porque no ano passado me ocorreu que podia ser giro encontrar as previsões para o meu signo em 2014, no final do ano - estava certo, estava estranhamente certo; dividido por meses, acertou em tudo. As previsões para este ano diziam que eu ia ter um outono muito feliz, que ia correr tudo muito bem, o que me leva a crer que descobriram que eu tinha decidido divertir-me a ler estas coisas no final do ano e quiseram trocar-me as voltas. 

Ainda podia dizer que este foi o ano em que me tornei pirosinha, mas eu tenho dito isto tantas vezes que acho que me posso poupar a mais uma humilhação desse calibre - em minha defesa, abandonei as unhas de gel ao fim de 3 meses a testar a coisa, portanto tinha de adquirir outra faceta mais girly para me relembrar que também pratico uma vag life. E sim, a minha afirmação neste mundo passou por ter deixado que me começassem a tratar por nomes foficoisos, lidem com isso,

Para 2016, não tenho grandes sonhos nem me tento iludir com uma dieta milagrosa que me vai enfiar num vestido catita e andar por aí a espalhar inveja e amor no próximo reveillon - já assumi a minha vida lontrificada e, tudo o que eu quero para 2016, é que seja um bocadinho melhor do que 2015 e que, de facto, de hoje a um ano eu tenha conseguido fazer exatamente o que tenho em mente. Se não tiver conseguido, bem, pelo menos espero poder estar a chafurdar numa taça de mousse de oreo que desse para alimentar 9823 putos subnutridos, e que demore mais uns 100 anos a ir para o inferno só por esta.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

oooops

Depois de ter lido o ugly love e o maybe someday, comprei o hopeless numa crise de preciso-mais-disto - agora estou aqui toda frustrada porque só lhe peguei ontem à noite e já o li quase todo, mas percebi a história sozinha e isso é chato. Queria que o livro me tivesse conseguido surpreender e fiquei rabujenta, que fiquei.

Ser eu é difícil.

então e tu, cinderela, o que é que vais fazer no teu reveillon?

Ah, eu sei que estavam curiosíssimos. Já fui contactada por diversas revistas que queriam saber exatamente como é que um ser tão especial e fascinante quanto eu festeja a passagem de ano. Mas eu achei que vocês, alforrecas, mereciam ver, em primeira mão, a minha vista priveligiada para comemorar o reveillon!


Sim, eu sei. Deixei-vos com inveja, não foi? Fiquem sabendo que estou a ter tudo aquilo a que tenho direito e que os meus planos, que já eram animadores, estão, neste momento, a conseguir superar todos os meus outros 19 reveillons! Com tosse, febre, ranho em barda e, para melhorar, a garganta tão inflamada que sangra, está tudo pronto para que eu entre em 2016 da melhor forma possível.

Só que não.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

até quando?

Por mim, no dia 26 esquecia-me definitivamente da passagem do furacão natal e deixava a minha vida avançar tranquilamente com os 3km de cu ganhos neste período do ano. 

Ainda assim, a maioria dos comuns mortais acha legítimo desejar um feliz natal até fevereiro.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

estou a ficar domável, socorro

Uma das expressões que sempre detestei foi o querida. Por mais que seja, aparentemente, inocente e até doce, parece-me caber demasiado bem em discussões, só para enervar, ou em amantes que deixam os respetivos marido e mulher em casa para irem pinar para um hotel cinco estrelas. 

Também me lembram aquelas criaturas que bebem café com o mindinho espetado no ar, como se estivessem a tentar captar a rádio, e falam como se estivessem permanentemente constipadas. Sempre detestei o querida, sempre me pareceu impossível conseguir não ter uma crise se alguém tivesse a infeliz ideia de me tratar assim.

Depois ele apareceu e sabe deus o que um querida me faz. E um adoro-te querida pode até ser frase de amante, de tia, de puta sarcástica, mas sabe bem, oh se sabe.

cinderela, a traidora de contos de fadas

Confesso: dormi com o olaf.

(a culpa não foi minha!)

domingo, 27 de dezembro de 2015

daquelas dúvidas que me acompanham desde o berço

Estamos quase em 2016 e eu continuo sem conseguir entender o porquê de os supermercados terem vinte ou trinta caixas para depois só abrirem duas - entretanto, algures por esses corredores fora, estão dois ou três funcionários a conversar e a coçar o cu.

Está certo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

é da praxe

A equipa do cinderela, constituída por uma única lontra obesa - mas esta coisa das equipas soa sempre bem - deseja a todas as alforrecas leitoras um feliz natal.

Eu vou só ali ganhar mais 1km de cu. 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

sobre o amor e essas merdas

Há uns anos atrás, eu jurava a pés juntos que não acreditava no amor - depois deixei de ser parva, percebi que o amor e o pai natal são coisas diferentes e, no caso do primeiro, não há isso de acreditar ou não acreditar: ou se sente ou não se sente, ponto final.

Não o sinto, ainda assim, e ainda me rio das pessoas que confundem tesão com amor dizem amar alguém que conheceram há um par de horas. Ou há um par de dias - semanas, meses, talvez anos. O problema do amor é ser uma palavra tão pequenina que cabe em relações mais pequeninas ainda que o deixam com má reputação. E o desgraçado não teve culpa nenhuma, porque nem chegou a aparecer.

O que sinto neste momento, é difícil de explicar. Tenho uma relação esquisita, improvável e muito complicada com alguém. Talvez nem lhe deva chamar paixão, mas chamo, às vezes, para justificar as noites mal dormidas quando estamos chateados, as torrentes de lágrimas e ranho sempre que as coisas vão mal, a inquietação de saber que ele não está bem, o sorriso de orelha a orelha quando ele é querido. Gosto dele. Gosto dele mesmo quando não gosto e digo que me quero ir embora - não vou, nunca vou, porque não consigo. Gosto mesmo dele. Mas não é amor.

Acredito que o amor é o que vem depois, mas a maioria das pessoas nunca chega a ter paciência para esperar por ele - o amor é o que vem a seguir ao beijo apaixonado com que o filme acaba, mas ninguém tem paciência para ficar no cinema a olhar para a ficha técnica. As pessoas querem amores perfeitos desde o primeiro instante, e desistem quando entendem que isso é impossível.

Não há nada de errado em discutirem às vezes. Não há nada de errado em serem incapazes de concordar um com o outro à primeira, não têm de ter personalidades idênticas e lidar com as coisas de igual forma. Às vezes vão magoar-se um ao outro. Outras vezes vai magoar-se mais um do que o outro; não há volta a dar, não pode correr tudo bem à primeira - e perdoar não é o mesmo que transformarem-se no tipo de mulher que passa anos a ser agredida mas nunca conta a ninguém porque ama o marido. Perdoar é tentar de novo. Dar uma hipótese às coisas de funcionarem, com tudo o que aprenderam sobre o outro.

Entendi isto hoje, quando senti que era assim que alguém me via neste momento - como a que perdoa, como a que morre às mãos de um amor antigo e, mesmo assim, perdoa. Mas eu não sou essa pessoa - sou um bocado antiquada, mas acho sempre bonito ver casais de idosos de mão dada. Ou simplesmente sentados um ao lado do outro - sempre me perguntei como é que será envelhecer ao lado de alguém, numa altura em que a paixão já se foi e só sobrou o amor, o amor infinito, àquela com quem se partilhou uma vida inteira. Mas entristece-me ver que os casamentos duram cada vez menos. As pessoas deixam de tentar quando fica difícil, e isso está tão errado.

Há quem troque de camisa quando a que tem se descose - há quem a remende, e fica bonita na mesma; aposto que não foi sempre fácil com estes casais que se aguentam 50 ou 60 anos casados. Também devem ter demorado a acertar o passo, a chegar a um consenso sobre a quantidade de sal que cada um gosta na comida, ou a descobrir quantos cobertores têm de pôr na cama para que fiquem os dois confortáveis.  E talvez tenham tido discussões idênticas - ela, chata e impulsiva, ele sempre calado para evitar conflitos; não acertaram à primeira, aposto. Mas não pararam de tentar, porque sabem que nunca se gosta em linha reta; há dias em que se gosta mais e dias em que se gosta menos, e o truque é tentar equilibrá-los.

Talvez um dia me vá embora como todos os outros vão quando desistem, talvez nunca passemos disto - talvez sejamos mais fortes do que as circunstâncias e a erosão do tempo. Talvez também consiga resistir a adversidades, a conflitos, a paranoias - e talvez um dia sejamos os dois velhos sentados, de mão dada, num banco de jardim.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

ser gaja é isto

Ao fim de uns tempos de lontra obesa no ginásio, a principal conclusão a que eu cheguei foi que a minha dignidade é ainda mais gorda e preguiçosa do que eu; não há maneira de eu a convencer a ir comigo.

Agora a minha pt lembrou-se de me fazer um plano que inclui três séries de 45 segundos de jumping jacks - faz-se na boa, que faz, mas a única coisa que me passa pela cabeça enquanto estou ali a saltar e a esbracejar como se não houvesse amanhã é the boobs on the bus go up and down, up and down, enquanto agradeço a um deus qualquer por ter as mamas pequenas, ou acabaria com o queixo negro. 

Contudo, não deixa de ser humilhante ver as pequenas ali a lutar pela vida com tanta gente à volta. Eu sofro, que sofro.

a lição de vida dos últimos tempos

Por muito mau que tudo esteja, acredita, há sempre uma forma de piorar. Sempre.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

o drama do natal

Por perceber que sou uma vergonha para a comunidade do blogger, prometi a mim mesma que era hoje que ia ser uma menina de bem, ia despir a minha indumentária informal (aka pijama) e vestir uma roupa suficientemente decente para ir ver a luz do dia, tentar domar o cabelo (aka enrolá-lo num carrapito no alto da mona e fazer de conta que é só um messy bun convencional e não um bun mesmo mesmo mesmo messy), e enfiar-me no carro para ir comprar as ditas prendas.

Entretanto, dormi e acordei e agora estou aqui a pensar no filme de terror que é pegar no carro, dar oito voltas ao parque de estacionamento do centro comercial à procura de um lugar onde eu possa enfiar a viatura sem amolgar as restantes, e depois entrar no centro comercial propriamente dito, onde as pessoas andam loucas e se acotovelam umas às outras, todas cheias de pressa, como se derrepente o shopping se tivesse transformado num jogo de rugby esquisito cujo único objetivo é levar o peru maior para casa. Nah. Não sou suficientemente gaja para gostar disto. Acho que este ano dou um par de meias - dos meus! - a cada um.

domingo, 20 de dezembro de 2015

pequenas vitórias

Ao fim de não sei quanto tempo a dormir entre 2 a 4h por noite, a minha cabeça permanentemente desassossegada deu-me tréguas e consegui dormir 10h só com duas interrupções, nunca suficientemente longas para que a choradeira recomeçasse.




(dizem que temos de ficar felizes com as coisas boas, por mais insignificantes que sejam, não é?)

adeus,

Não acredito em almas gémeas ou em predestinações, mas acredito que, às vezes, temos a sorte de encontrar alguém que nos faz sentir tão confortáveis que se tornam na nossa casa, na casa para onde fugimos quando temos medo, na casa onde gostamos de ficar quando estamos tristes, na casa para onde queremos correr para comemorar quando estamos felizes, na casa que queremos fazer mais nossa a cada dia que passa. De uma forma estranha, tu és a minha. Ou eras.

Se me quisesses ouvir, não te pediria desculpa - também estou cansada disso, de discussões, de desculpas, de acordos tácitos, de problemas varridos para debaixo do tapete. Se me quisesses ouvir, recomeçariamos. Eu prometeria ser mais calma se prometesses ser menos calmo. Eu prometeria ser menos insegura se prometesses ter paciência até eu voltar a ter pé. Eu prometeria ser diferente, se tu também prometesses. O erro está nos dois.

O meu problema é que nunca soube ter calma - sempre fui dessas pessoas que morrem antes de levar com a bala, que sentem necessidade de falar sobre o assunto nos dois nanossegundos seguintes a ter surgido um problema, uma dúvida, um mal entendido - disparo antes de saber para onde, para quem, porquê. Disparo antes de ter tempo de pensar. 

Tu és o oposto, e isso irrita-me, magoa-me, dá-me a volta à cabeça - consegues passar dias sem falar se essa for a melhor ou a única forma de evitar uma discussão, apesar de saberes que isso faz com que o problema cresça, com que se torne cada vez mais difícil para mim geri-lo, que eu esteja a sofrer com o teu silêncio. Tanto egoísmo, tanta covardia, dão-me tanta vontade de fugir quanto aquela que sentes pela minha impulsividade.

Se fosse forte o suficiente para te perder pelas minhas próprias mãos, garantia que nunca mais me havias de encontrar em lado nenhum, mas não consigo - há sempre aquele meu lado que, mesmo ferido, resiste e se obriga a ser o último a morrer no meio da guerra que é isto que sentimos, e esse meu lado ainda está aqui, à tua espera, à espera de que voltes, à espera de que isto faça sentido. Apesar de acreditar cada vez menos que isso aconteça.

Li num livro que não há palavra mais triste, em qualquer língua, do que adeus. Talvez tenham razão, mas esqueceram-se de mencionar que dói mais quando esse adeus não chega a existir, quando as horas passam e a despedida não chega, quando tudo o que resta é dor e incerteza, quando não há uma única noite em que eu não acorde com este nó no peito. E quando misturada com toda a tristeza há ainda uma raiva crescente pela tua incapacidade de pensares em mim, por saber que definitivamente não estás a sentir o mesmo, por estar certa de que não te importas.

O que resta, é desistir. 
Assumir que deixaste de ser a minha casa, que já não há lugar para mim aqui. Fechar-te a porta para tudo aquilo que sou, trancá-la a sete chaves para deixar o meu coração a salvo - mas, já sabes: a chave suplente está no sítio do costume.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

over and over

O meu problema é essencialmente este: a minha dignidade adormece antes de mim.
Se por um lado passei o dia consideravelmente calma e consegui praticamente nem falar com ele, à noite é sempre outra história; começa a faltar-me o miminho, começa a faltar-me a voz, começa a faltar-me ele, e isto nunca corre bem. Ora mando o orgulho ir dormir para outro quarto, ora consigo adormecer mas acordo a meio da noite e envio-lhe a biblía em oito mensagens diferentes, todas elas carregadas de raiva, de nervos, de sono, de rabugíce, de drama, de insegurança e de amor, tudo em doses desmesuradas. 

Intervaladas, até o cansaço me vencer, umas horas depois; adormeço angustiada e acordo com vontade de entalar as orelhas no forno porque, de facto, tudo aquilo era evitável, o erro do moço não foi assim tão grave e tão imperdoável que justifique a tortura a que me submeti.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

quando se veem as férias ao fundo do túnel

Eu achei que esta semana ia começar a sentir aquele alívio típico de quem sabe que em breve, muito em breve, pode voltar a dormir. Ao invés, parece que me passou um camião por cima, tenho olheiras até aos joelhos e apetece-me sair por aí a apertar pescoços como quem não quer a coisa.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

deus não me curte mesmo

Por mais que tente dar este ar de machão, há uma verdade incontornável sobre mim: eu tenho voz de pita. 

Tenho uma daquelas vozinhas irritantes que parecem ter parado de desenvolver aí, sei lá, aos cinco anos; se isto no hospital é uma alegria e os doentes passam a vida a gabar-me a voz «doce e meiguinha», por outro lado também é o tipo de voz que faz com que, sempre que eu atendo o telefone, me mandem ir chamar um adulto.

Sempre vi isto pelo lado positivo - nunca me hão de tentar vender um colchão ortopédico e uma vaporetto titano pelo telefone porque, como ainda há dois meses uma mulher me disse, não me julgam com mais de 10, 11 anos. 

Por outro lado, hoje recebi uma proposta de emprego que parece ter sido uma artimanha do diabo: é para um call center.


personagens

Quando eu pensava que não existia uma espécie ainda pior do que aqueles machos latinos que deixam crescer a unha do dedo mindinho, sabe deus porquê, aparecem criaturas com unhas de gel que decidem deixar apenas a unha do mesmo malfadado dedo bicuda.

Uma forma mais económica de remover o cerume do ouvido.

domingo, 13 de dezembro de 2015

estão a ver aquela gente que conta ao mundo sempre que dá um peido?

Sonho com um mundo onde as criaturas do meu fb entendem que não são vedetas e estão-se todos a cagar para o que eles fazem a um domingo à tarde, portanto podem parar de publicar um álbum com 60 fotos só porque saíram da gruta.

sábado, 12 de dezembro de 2015

the end is coming

Não sou de intrigas nem vos quero assustar mas o número médio de camisolas que eu costumo usar simultâneamente entre, sei lá, novembro e março, é entre 3 a 5, mais casacos e luvas e gorros e tudo e tudo.

Tenho saído de casa com uma camisola e um casaco.
Ou minha espessa camada de gordura começou a fazer o seu trabalho em condições ou é mesmo motivo para alarme.

being myself

Para aumentar a minha experiência a adormecer em locais públicos, e porque adormecer numa discoteca não é suficiente para testar a resistência do meu sono, fiz uma pequena sesta num bar - abri os olhos quando uma amiga me disse que eu estava a ser observada e deparei-me com um tipo com um ar sinistro a olhar e a falar para mim.

Não sei o que ele disse - sei que desatei a rir e não conseguia parar; quanto mais o gajo se aproximava e falava, mais eu me ria histericamente. A criatura desistiu ao final de um tempo, e foi-se embora a dizer que eu era a mais louca de todas as loucas. 

Alcooltece.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

já disse que não gosto do natal?

Como se já não fosse suficientemente mau todo o tipo de associações parecerem acordar no mês de dezembro e decidirem que, hey, há gente a passar fome e frio e crianças que precisam que paguem para poderem ter educação e tudo e tudo, como se durante o resto do ano estivesse tudo perfeitinho, agora há a praga anti-moedinhas.

Há banquinhas montadas de três em três metros; quer uma pessoa ande na rua ou vá para um centro comercial, corre sempre o risco de tropeçar, no mínimo, em oito merdas dessas a vender cubos mágicos e bonecas de trapos a 5€. Se continua a ser assim, um dia destes temos de abrir as portas das nossas casas para virem cá montar uma banquinha também.

Mas o mais absurdo é que as ditas associações, que se dizem tão necessitadas de ajuda, não estão disponíveis a receber moedinhas. Nada disso: quem quer ajudar, tem de comprar uma «prendinha que até podem oferecer no natal», como se a generalidade das coisas não fossem hediondas. Poderiam servir de prendinha sim, àquela tia de quem não gostamos ou àquela amiga da família que tem barba - se lhes oferecêssemos alguma coisa.

Só costumo ajudar quem, notoriamente, precisa. Este tipo de instituições têm muito pouco de humildes e métodos duvidosos - se estivessem assim tão necessitados, aceitariam qualquer coisa. Cinquenta cêntimos, se fosse a única moeda que a pessoa tivesse para dar. Ou menos ainda; quem aceita não escolhe, e ninguém pode dar o que não tem. Obrigar as pessoas a comprar alguma coisa para ajudar, é só a maior parvoíce que lhes podia ter passado pela cabeça.

Enfiem os cubos mágicos no cu.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

evax!

Uma das - muitas - coisas que me deixam fodidíssima desta vida é o facto de toda a gente gostar de aproveitar um feriado mas ninguém saber ao certo em nome de quê. Mas como os leitores do cinderela são, certamente, pessoas de bom gosto e com um desenvolvimento intelectual acima da média, sabem perfeitamente o que se comemora no dia 8 de dezembro, certo?



Exatamente: são os anos da eva!
E isto é especialmente importante porque eu a conheço desde o tempo em que ela me explicou o que era um penico e as comemorações incluem álcool, comida e fêta all night long. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

damn you, autocorrect

Estava eu aqui fodida desta vida mas depois a correção automática decidiu trocar o meu inocente «não sei como é que vou conseguir não me constipar! sou super frágil nesse aspeto.» por um «não sei como é que vou conseguir não me consolar! sou super frágil nesse aspeto.», e o meu dia não melhorou mas pelo menos tive direito a mostrar a deusa do desastre que há em mim, so i got that goin' for me.

domingo, 6 de dezembro de 2015

e uma gaja fica chateada, que fica!

Andava aqui uma pessoa entusiasmadíssima desta vida com a ideia de ir ver a real bodies, e entretanto é alertada para isto:




Não poderia estar mais desapontada; eu levo o meu carrinho de mão a todo o lado, porque raio não o posso levar à exposição também?

então e agora, o que é que te deu para apagares tudo, ó cinderela?

Não sei.
Ou vá, sei: não gostava daquilo em que tinha transformado o meu blog. Não gostava de o ter transformado num muro das lamentações, e gostava ainda menos do facto de parecer que me esqueci do verdadeiro motivo para estar aqui: eu gosto de escrever, porra!

Isto nunca foi um diário, nunca quis que isto fosse um oh-meu-deus-hoje-comprei-três-camisolas-dois-vernizes-e-umas-cuecas; sempre pensei nos posts como apontamentos, como formas de guardar o que estava a sentir naquele momento. Sempre foi isso que me apaixonou, tudo o resto é trivial.

Nos últimos tempos, eu olhava para o que escrevia e aquela não era eu. Pelo menos, não aquele eu que criou um blog por puro amor à escrita ou pela sensação de que podia sempre revisitar o passado de cada vez que voltava a ler o que escreveu um dia. E era esso o lado bom de tudo isto, depois deixou de o ser.

As coisas mudaram muito, já o disse. Ultimamente, ler sobre o passado era só uma forma de me relembrar de tudo o que já não é, de tudo o que já não sou. Era torturar-me com histórias antigas que eu sei que tenho de enterrar bem fundo, antes que sejam elas a enterrar-me a mim. Era deixar, à vista de todos, todos os meus encontros e desencontros, todos os dias de raiva, de frustração, de tristeza, premiados com meia dúzia de minutos de felicidade. Acreditem quando vos digo que as coisas não estão fáceis para mim, porque não estão mesmo, mas o cinderela sempre foi o sítio onde eu falava a sério a brincar, e é isso que eu quero que volte a ser.

Ou talvez não, nunca se sabe - mas, por agora, ficamos assim: começámos de novo, tentamos de novo, e amanhã logo se vê.
Bem vindos de volta, meus psicopatas!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

mas, hey, dezembro também tem coisas boas!

Há o natal dos hospitais e o coro de santo amaro de oeiras tem oportunidade de ir mostrar que ensaiou o ano todo para cantar o a todos um bom natal, e ainda podemos ver, pela trigésima sétima vez, o sozinho em casa. 

Dezembro é mesmo o melhor mês do ano para hibernar e só acordar em janeiro.

tudo a dizer olá a dezembro e eu a querer só acordar em janeiro.

Desde que me lembro de mim que faço a árvore de natal no dia um de dezembro - planeava fazê-la quando chegasse a casa, ver se aquela coisa toda de fitas, bolas e luzinhas pisca-pisca me faziam finalmente sentir alguma coisa de bom e entrar no espírito natalício ou coisa que o valha.

Não resultou - a árvore de natal gigante, velha que só ela, está com tanta vontade disto tudo quanto eu; tentei, durante mais tempo do que me orgulho, que ela ficasse direitinha mas a puta estava ainda mais difícil de equilibrar do que eu quando bebo demais e ando por terreno acidentado, e acabou por se deitar.

Agora estamos as duas aqui; eu no sofá e ela no chão. 
Se a minha sanidade mental já não fosse suficientemente duvidosa, até poderiamos trocar ideias sobre a melhor forma de parecer feliz e viçosa numa altura do ano que, se em anos normais já me deprime para caralho, este ano se avizinha, provavelmente, a pior de sempre, com as festas mais deprimentes de que há memória.

e o cancro continua a ser um bicho papão.

O cancro é um bicho feio - depois de já termos perdido alguém para esse filho da puta, quaisquer mostras de que ele anda a rondar novamente são meio caminho andado para o início de uma nova tempestade. E o cabrão está a declarar-nos guerra outra vez.

O cancro é um bicho feio - volta e meia vem chatear um dos meus e nunca se cansa de se meter connosco; rio-me: «vamos acabar todos a morrer de cancro, de qualquer forma!», e falo-lhes de como tudo hoje em dia parece ser carcinogénico, sobre como o mundo já é um cancro por si só e não temos muito por onde escapar. Digo-lhes que vai passar, que tem de passar. Talvez passe - talvez não o deixemos ganhar desta vez, talvez sejamos capazes de lhe fazer frente. Talvez ela seja mais forte do que parece. Talvez.

O cancro é um bicho feio - hoje veio estremecer o meu mundo outra vez, veio ligar todos os alarmes, veio lembrar-nos do sabor da eminência - não tive saudades deste nó no peito e deste travo amargo a saudade premeditada. Não tive saudades do contra-relógio e da vontade vã e absurda de congelar o tempo agora, só para não perder mais ninguém. Não tive saudades do medo, das lágrimas sufocadas, do meu falso otimismo. 

«Hoje em dia há cada vez mais casos de sucesso», relativizo. Pareço irritantemente calma, estranhamente fria – não gosto de me mostrar em pânico, não gosto de me mostrar preocupada, não gosto de me mostrar vulnerável mas, por baixo da mesa, cruzo os dedos enquanto repito para mim «não me leves mais esta, não me leves mais esta, não me leves mais esta».

É inevitável que aqueles que amamos vão ficando pelo caminho enquanto se espera que continuemos a caminhar, mas nunca estaremos realmente preparados para lhes dizer adeus – não posso dar-lhe a mão para ela não ter medo como ela fazia quando eu era pequenina. Também não basta mandar o cancro embora. Não basta querer que ele vá. Mas amanhã eu dou-lhe a mão e tentamos mandá-lo embora na mesma. Hoje não – estou demasiado derrotada, demasiado assustada, para isso. 

Amanhã, sim – ele não pode ficar com ela porque o cancro é um bicho feio.

(aos curiosos, expliquei quem é aqui.)

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

o dia em que a minha sanidade mental deu o peido mestre

Segunda feira. Teste de matemática. Frio terrível. Trabalho chato pra caralho. 

E tu, cinderela?
Eu tenho o spotify e tive a feliz - ou a infeliz - ideia de escolher a discover weekly; quando dei por mim, estava a ouvir a música mais estúpida de sempre com um sorriso de orelha a orelha: estamos quase no natal e essa é talvez a altura do ano que eu mais detesto mas, hey, lá vem a craudete, prepara o confete!

domingo, 29 de novembro de 2015

cinderela, a benanosa!, take6

Publica uma foto com o cu no norte e as mamas no sul, toda espichada e com aquele arzinho de sou-uma-pega-feia-como-a-merda-mas-tenho-cu-e-mamas-olhem-para-mim-yay-yay.
Hastag #sundaymorning.

Pelo ar, de certeza que ia para a missa.

portuguesíssimo

Torna-se demasiado evidente que os portugueses têm uma certa dificuldade no inglês quando a black friday é a uma sexta e a um sábado. Ou o fim de semana todo.

(um minuto de silêncio em honra do black weekend da sportzone: vocês foram às aulas de inglês)

uma vez ernesto, para sempre ernesto

Consegui, finalmente, conciliar o tempo livre com aqueles cinco minutos de paciência que de vez em quando surgem e me motivam a pintar as unhas: eu queria, que queria, pintá-las, mas isto não é para mim.

Peguei num verniz amarelo, giro que só ele, que já comprei há uns meses e ainda nem tinha experimentado. Pintei-as, secaram rápido - podia ter-me apaixonado só por isto, mas não. Odeio a cor e só não as pinto já com outra qualquer porque para isso precisava de ter paciência.

Eu não nasci para ser gaja.

sábado, 28 de novembro de 2015

e acabei a jogar criminal case, se interessar

Estou de coração dividido - por um lado, há a cinderela responsável que gostava mesmo de fazer os resumos para o teste, preparar a apresentação do trabalho e, pelo menos, adiantar o outro que tem para fazer; há a cinderela fada do lar, que sabe que tem mais o que fazer do que estar aqui alapada a procrastinar; depois há a cinderela fútil, que quer ir pintar as unhas porque já vai para três semanas que não sabe o que isso é e, por fim, a mais forte é a cinderela couch-potato que está mortinha por aterrar no sofá a ler.

Ser eu não é fácil.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

e o mais estranho é que ela não era, de todo, velha

Já fodidíssima da minha vida por ter uma manhã livre estragada com um exame e ainda mais fodida por estar à espera há séculos, em jejum, senta-se uma mulher ao meu lado e começa a contar-me a vida toda.

Sem quê nem para quê, saca um albúm de fotos da carteira e começa a mostrar-me o filho. Perguntou-me que idade eu daria ao miúdo em determinada foto; era um puto enorme. «Não sei, uns oito ou nove, talvez.» Tinha dois anos. Diz que, aos 15 meses, o cachopo pesava 15 quilos, que se chamava miguel como o pai e então era tratado por miguelito. 

Passado um bocado, tira o telemóvel do bolso, um nokia 5300, e fica a babar para a foto de fundo até me estender o tijolo «vês, era tão lindo! depois cresceu...».

Nunca me senti tão aliviada por ter ouvido chamarem por mim.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

cinderela, a benanosa!, take5

Faço parte daquele grupo de pessoas que aguardam ansiosamente por um upgrade que bloqueie automaticamente toda e qualquer criatura que tente publicar, seja o que for, no facebook se tiver erros ortográficos de fazer uma pessoa chorar.

Acabei de ver um estado onde escreveram «taça» em vez de «está-se a».
Estou a morrer por dentro.

ontem

Por mais triste que isto possa ser, o ponto alto do meu dia o momento em que comecei a pensar na forma mais meiguinha possível de responder a uma amiga minha porque a mocinha escreveu «fodi o meu psicológico todo» e eu li «fodi o meu psicólogo todo».

E é isto.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

esta é a história de um blog que está tão deprimido que vai acabar por se suicidar

Há um ano atrás, a minha vida estava uma confusão porque, sempre que eu achava que estava tudo calmo e claro na minha cabeça, a puta engendrava um twist só para me desorientar outra vez. Às vezes estava tudo bem, outras vezes estava tudo errado.

Agora não: não há grandes twists. Vai de mal a pior e desorienta-me na mesma mas é porque já nem sei o que me dói mais; estagnei, não sei o que fazer, não sei como fazer e, na maior parte do tempo, sinto-me tão mal, tão esgotada dos dias que só não são iguais porque se vão superando a si próprios na arte de me deixar na merda, que me apetece desistir. 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

nem sempre uma pessoa é para o que pensa que é

O impensável acontece exatamente quando achamos que as coisas vão correr bem.
Por exemplo, tudo indicava que pessoas do meu curso, na mesma fase de aprendizagem, seriam, pelo menos, capazes de medir a tensão arterial - meteram-me a braçadeira no antebraço e tão laça que rodava à volta do mesmo.

Tentei dizer-lhe que estava mal; olhou-me como se fosse louca.

cinderela, a benanosa!, take4

A generalidade das pessoas é demasiado limitada para compreender a lei do retorno - fazem merda e está tudo bem mas, no momento em que os lesados lhes fazem exatamente a mesma coisa, monta-se a terceira guerra mundial e ai-meu-deus-que-más-pessoas-que-vocês-são.

E dá vontade de mandar para o caralho, que dá.

domingo, 22 de novembro de 2015

crónicas da gata borralheira

O que me está a deixar mesmo danada hoje nem é o facto de amanhã ser segunda feira e eu, recentemente, me ter transformado numa dessas pessoas que ao domingo à noite se sentem mais preparadas para arrancar os quatro dentes do siso a sangue frio do que para encarar mais uma semana - hoje, o que me está chatear mesmo é ter descoberto que estou mesmo a ficar pró na modalidade de choro tipo sou-um-pato-mudo-com-asma, e não fazer ideia em que momento é que passou a parecer-me fixe deixar de conseguir respirar sempre que fico nervosa, enquanto os meus olhos transpiram. Abundantemente.

É nisto que se está a transformar a minha vida.

the main problem is

Quando alguém a quem confiariamos a nossa vida nos desilude, começa a servir-nos de bitola; não é fácil voltar a confiar em alguém, e torna-se igualmente difícil confiar mesmo nos que já nos eram próximos antes, e o seu nome começa a constar na frase «se até x me desiludiu, como é que é suposto eu acreditar em ti?».

«o que mudou no último ano?»

Antes de mais - não, este não é um desses posts de fim de ano que servem, essencialmente, para as pessoas fazerem um review e decidirem o que vão recolocar, pela vigésima vez, na lista de coisas que querem fazer no ano seguinte. Ainda é cedo para isso e, de qualquer forma, ainda não cheguei a esse ponto da minha vida.

A pergunta surgiu há umas semanas e foi feita a cada uma das pessoas do meu curso - dei uma resposta vaga, mas a verdade é que me fez pensar porque, à primeira vista, não consegui encontrar mudanças concretas neste último ano. Mas elas existiram.

Não foi o melhor ano da minha vida, mas também não foi o pior - foi instável na maior parte do tempo, deixou e continua a deixar-me à nora volta e meia e não sei muito bem como gerir tudo o que me tem acontecido, tudo o que sinto. Tenho sido posta à prova de cinco em cinco minutos, por todos os lados.

E mudei, sim - como poderia não ter mudado? A passagem dos meninos da escolinha para o mundo dos adultos foi um balde de água fria que não poderia ter tido outro efeito senão mudar-me quando vi que isto é mais um salve-se quem puder do que um somos todos amigos e vamos ajudar-nos uns aos outros. E, entenda-se, há muitos anos que deixei de esperar muito das pessoas, mas nem isso me impediu de me desapontar. Passei toda a minha vida escolar a queixar-me delas mas, agora que saí da redoma onde estive 13 anos, percebi que, salvo raras exceções, aqui fora as melhores pessoas são as piores que encontrávamos na escola e não dá para confiar em ninguém.

Num ano consegui passar de explosiva a retraída e voltar a explosiva outra vez - demorei a ambientar-me à nova realidade, demorei a perceber que, se vou fazer parte desta selva, os outros têm de me ouvir tanto quanto eu os ouço a eles. 

Num ano fiz coisas que julguei que nunca faria, e não me orgulho de algumas delas. Tornei-me mais solitária também - habituei-me a tardes inteiras sozinha à beira mar, e percebi que isso me fazia incrivelmente bem. Também olhei para o lado e percebi que me estava a afastar, cada vez mais, daquilo que fui um dia e, consequentemente, das pessoas com quem me identificava.

Ganhei pessoas e perdi pessoas como se, no fundo, eu não passasse de uma estação de comboios onde as pessoas só estão de passagem. Podia sentir-me como um monumento, mas não - isso só me fez sentir como uma estação velha e podre, com um ar tão duvidoso que as pessoas a evitam o mais que podem. Mas também perdi pessoas que não estavam só de passagem e essas são as que me pesam mais, mais pela desilusão do que pela perda. Mais pela sensação de que nunca mais seria capaz de perdoar do que pela falta que me fazem todos os dias. 

Num ano, deixei de ter medo de dizer o que sinto; depois de uma vida inteira a escondê-lo e a fazer os possíveis para que ninguém se apercebesse, aprendi a dizer gosto muito de ti e adoro-te tantas vezes quantas me apeteça - porque eu mereço poder dizê-lo, apesar de ter achado que não durante todo este tempo, e ele merece ouvi-lo. Ainda assim, um ano não me chegou para perder as inseguranças com vinte anos de raízes, nem estou perto disso - sou chata, desconfiada, dramática. Faço das coisas mais simples um bicho de sete cabeças e continuo realmente dificil de lidar.

Talvez precise de mais um ano para melhorar isto.
Ou de mais oitenta, talvez.

deve ser mesmo toc

Fico louca se encontro interruptores duplos que não estejam certinhos e alinhados (ou os dois para cima, ou os dois para baixo: nunca, por nunca ser, um para cima e um para baixo).

ainda sobre o if i stay

Eu também já fui uma dessas velhas do restelo que juram a pés juntos que nunca nesta vida hão de trocar os livros físicos por livros digitais - hey, eu sou assumidamente apaixonada por livros velhos e tenho mais do que me orgulho de assumir, mas confesso que sofro de binge reading e sou demasiado pobre para alimentar esta minha compulsão num país onde os livros estão ao preço do ouro.

Por isso sim, apedrejem-me: neste momento, já tenho o if i stay e o where she went em ebook e apetece-me devorar o resto do maybe someday ainda hoje, só para poder ler estes dois.

esses dias em que se bate no fundo

Quando vocês acham que este blog não pode piorar, eis que eu decido contar-vos a forma mais deprimente de se passar uma noite de sábado: fazer colagens no picasa.
É triste, eu sei - mas, enquanto engolia os soluços e limpava as lágrimas o mais depressa que conseguia, visto estar numa sala com mais quatro pessoas e não gostar de me assumir tão lame - acabei por ouvir (ou ler, vá) uma frase no if i stay que me bateu assim com muita força no osso do fígado porque me lembrou de algo.

E dei-me ao trabalho de voltar a essa parte, já depois da choradeira e o filme terem ambos cessado, e fazer cinco print screens, só porque não tenho vida e isto é basicamente o que eu quero dizer. Entretanto apercebi-me de que escolher diferentes imagens para cada colagem acabava por mudar as coisas.

Fiz três. 
Ainda não decidi qual é que lhe quero mandar.





sábado, 21 de novembro de 2015

esta pessoa

Chorou, que chorou, a ver o if i stay, mas, só para evidenciar a crescente descrença nas pessoas, ficou até ao último minuto à espera de que a melhor amiga da gaja se enrolasse com o namorado dela (ex?, don't even know).

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

à procura da normalidade esquecida no útero

Todos os dias leio o shiuuuu e todos, rigorosamente todos, os dias eu faço scroll down na página até ao último segredo lido, do dia anterior, o mais depressa possível para garantir que assim vou lê-los pela ordem correta, de baixo para cima.

Só há pouco tempo é que me apercebi disto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

a minha avó é melhor do que as vossas

Ao telefone com uma prima, velha, aos berros:
- ó mulher, tu não assines mais nada, olha que estas a ser grelada! isso são pessoas a grelar.
Sobre burlas, entenda-se.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

sobre os dias sem sabor

Hoje vesti o meu casaco grande, aquele que deve ser uns quatro tamanhos acima, e passeei por aí, de mãos enterradas nos bolsos e com o som das folhas a estalarem por baixo das minhas botas a cada passo - sorri. Pela primeira vez em muito tempo, senti-me em casa na cidade que sempre foi a minha.

Estou cansada dos dias mornos; sempre precisei do caos para me sentir viva, sempre precisei de sentir alguma coisa. Ultimamente, não estou feliz nem triste - sinto-me vazia e essa é a pior sensação de sempre. Queria que tudo fosse diferente. Queria que fôssemos diferentes.

Se há dias em que a distância me dói, hoje é um deles - estou cansada da incerteza, da dúvida, da sensação de que estou em contra-relógio e o meu tempo se pode esgotar a qualquer instante. Baralhas-me, confundes-me, entorpeces-me os sentidos; queria ouvir-te dizer que tens um plano para nós, que entendeste as indiretas, que descobriste que não somos inconcretizáveis como teimas em rotular-nos. Esperava que tivesse sido óbvio neste tempo que estou aqui de corpo e alma por ti, apesar de nem sempre estar certa de que o mereces. Queria que entendesses que as coisas difíceis sempre foram as que me sabem melhor e que tu não és exceção; queria que te decidisses, que me decidisses, que me escolhesses, pelo menos uma vez na vida. Que me mandasses embora ou que me prendesses para sempre.

Hoje vesti o meu casaco grande e perdi-me dentro dele - queria que me encontrasses, meu amor, que me devolvesses à realidade, a uma realidade onde os dias sem sabor não me estivessem a consumir por dentro e onde eu pudesse voltar a sorrir com vontade. Mas, mais uma vez, só restei eu. 

E as folhas secas, desfeitas em mil bocados.

domingo, 15 de novembro de 2015

for real

Quando eu digo que merecemos o que está a acontecer é a isto que me refiro. Entristece-me viver num mundo assim.

sábado, 14 de novembro de 2015

(i don't) pray for paris

Ridículo.
É ridículo o que aconteceu em paris, é ridículo o que tem acontecido no mundo, mas é ainda mais ridículo que as pessoas continuem convencidas de que faz toda a diferença mudarem as fotos de perfil para pintarem o facebook com as cores da bandeira francesa, publicarem imagens da torre eiffel em barda, imagens com «i see humans but no humanity» a trambolhão, utilizarem hastags como se isso salvasse vidas e instaurasse a paz.

Tenho novidades: à semelhança daquela altura em que toda a gente decidiu mudar a foto para aquela de fundo preto com a inscrição «je suis charlie», não vai acontecer nada: os que morreram não vão ressuscitar, os que estão feridos não vão ficar miraculosamente fora de perigo, as famílias não vão sentir menos a perda e os terroristas também não vão parar por medo porque, afinal, milhares - milhões? - de corajosos mudaram a foto de perfil. As coisas não mudam só porque nós, revolucionários de sofá, achamos que fizémos a nossa parte por mostrarmos aos outros que estamos sensíveis a esta tragédia e que vamos mudar o mundo com um clique.

Estamos todos muito ralados mas é só até mudarmos de canal, pousarmos o jornal, fecharmos o site - depois, paris continua longe, nós continuamos vivos e os nossos, os nossos de lá, também estão bem. O que nos move é o medo de que um dia seja aqui e a necessidade de mostrar ao mundo que somos boas pessoas. Mas não somos.

Já não é de hoje que não entendo nem concordo com as religiões que apregoam o amor e semeiam o ódio; não consigo conceber que se mate e que se morra em nome de um deus qualquer, que se pense que há um motivo válido para exterminar todas as religiões que não a nossa. Mas nós não somos melhores do que estes extremistas islâmicos que saem por aí a matar volta e meia, nem as religiões são o nosso único problema.

A história da humanidade está cheia de raças, de religiões, de pessoas, que se acham superiores, as únicas dignas de viver neste mundo, e que tudo o resto não presta – anos e anos, séculos, a matarmo-nos uns aos outros a troco de nada e ainda não aprendemos. Nascemos, crescemos, morremos – não há outra forma de viver, não há escapatória. Tenho para mim que, se entendêssemos que não há cor de pele, língua, religião ou qualquer outro rótulo que usemos para nos diferenciar, que nos faça melhores, que nos faça diferentes e que seríamos todos mais felizes se vivêssemos, se soubéssemos, viver em comunidade sem guerrinhas inúteis, seríamos mais felizes e a vida seria mais proveitosa. Mas não, claro que não! Porque todos achamos que somos melhor do que o resto.

E hoje a culpa disto é toda dos sírios, claro - os sírios são os nossos novos ciganos, os novos pretos, os novos chineses. Os sírios são a nossa nova escumalha predileta, os principais culpados por todo o mal do mundo, aqueles com quem queremos correr à força toda e que merecem a maldade gratuita por estarem a ocupar a terra que não é deles. E vamos continuar a culpá-los, a julga-los, a torturá-los. Somos mesmo melhores do que os outros terroristas?

A culpa é de todos nós.
A culpa é de uma humanidade inteira que insiste em apostar em rótulos, que insiste em criar divisórias, que insiste em inventar hierarquias onde elas não deviam existir. A culpa é de uma humanidade incrivelmente estúpida que continua sem entender que, enquanto formos todos tripulantes do mesmo barco a remar para todas as direções possíveis, não chegamos a lado nenhum.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

badum tssss

Gostava de ter coisas giras e interessantes para contar mas a verdade é que só me resta dizer que estou doente outra vez.

Para não variar.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

quando os dias começam mal

7h30, o despertador toca. Desligo-o; já vou em três noites seguidas quase sem dormir, parece que me passou um camião por cima. Fecho os olhos porque mereço mais cinco minutos de ronha.

Quando abro os olhos, são 8h05; foda-se, estou atrasada. Salto da cama, visto-me, vou a correr para a cozinha, como qualquer coisa e encho a garrafa térmica com a cafeína suficiente para mais uma manhã de sono. Mas a conspiração contra mim ainda não tinha acabado - a tampa saltou e metade do café ficou derramado.

Em todo o lado - lava louça, chão. Casaco.
Reponho o café em falta, limpo tudo, lavo os dentes, pego na mala do pc, na malinha paneleira, no saco da comida, na garrafa térmica, na mala do ginásio e saio, armada em marroquina errante, rumo ao carro.

São 8h25, estou despenteada, desmaquilhada e com um humorzinho de cão.
Esta vida não anda fácil.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

de tempestade em tempestade

Tenho uma tia avó que é a minha terceira avó - diz a toda a gente que eu sou a neta mais velha e mima-me como tal; volta e meia faz-me miniaturas do meu bolo preferido, em jeito de miminho, e fica chateada quando me vê partilhá-lo com alguém. É complicada como, de resto, é a característica dominante do mulherio do clã, mas nem por isso me é menos difícil imaginar um mundo onde ela não esteja.

Hoje fui buscar um exame dela; abri-o, com cuidado, mal entrei no carro, e li o relatório.
Fechei-o e voltei para casa - quando lho entreguei, perguntou-me, esperançada, se afinal as notícias eram boas e tudo não tinha passado de um susto. Respondi-lhe que não sabia, que ninguém me tinha dito nada na clínica e saí, com um nó na garganta e as lágrimas nos olhos.

Vem lá tempestade.
Outra vez.

cinderela, a benanosa!, take3

Tal como os pais acham que as suas crias são sempre as mais lindas deste mundo e dos outros todos, nós também temos uma certa tendência para achar bonitas as pessoas de quem gostamos, mesmo que o mundo inteiro diga o contrário. E não só no exterior, entenda-se! Estão a ver quando gostamos tanto de alguém que, mesmo nos dias em que nos fazem revirar os olhos e perguntar o que é que as criaturas têm na cabeça, olhamos para elas como se cagassem raios de sol?

Um dia, chateamo-nos mesmo a sério e permitimo-nos a ver a pessoa de longe.
Oh hell.

cinderela, a benanosa! take2

Comemoram um ano de namoro - o que equivale a um ano e quatro dias desde que se conheceram - poucos dias antes da filha fazer 2 meses.
Se eu tivesse uma pontaria destas, jogava no euromilhões.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

comemorações tardias do dia da preguiça

Dormi mal p'ra caralho, passei a noite às voltas e a acordar sobressaltada e convencida de que estava na hora de me levantar - levantei-me à hora do costume, já atrasada como sempre, depois daqueles minutinhos de ronha e de juro-que-hoje-me-deito-cedo. Enchi uma daquelas garrafas térmicas com café e saí, pronta a atestar o bucho com cafeína que chegasse para não adormecer.

E resultou, que resultou. Consegui não adormecer mas falhei redondamente a arranjar força; quando dei por mim, estava a morrer no ginásio, doíam-me as pernas, doíam-me os braços, e ainda dei um mau jeito qualquer às costas. Agora estou aqui, quieta, com ar de peido mole, cheia de vontade de me estender na cama mas, ao mesmo tempo, profundamente chateada com tudo e nem sei porquê. Em suma, não me apetece mexer. Apetece-me ficar sossegadinha e esperar que isto passe.

Não fosse dar-se o caso de ter de me mexer para ir daqui até à cama, já estaria deitada - mas, só de pensar nisso, fico ainda mais cansada.
E então achei que vocês deviam saber.

domingo, 8 de novembro de 2015

cinderela, a benanosa!, take1

Acha-se adulta e independente mas não dá dois passos seguidos sem ligar à mãe para perguntar se pode dar o terceiro.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

uma mistura de #acinderelaémámastambémseapaixona e de #bringmycolhõesback

Não é bem como se eu me orgulhasse desta minha nova faceta extra-derretida, mas a verdade é que hoje, quando o irmão do mocinho se lembrou de me mandar fotos do mesmo, fiquei a babar-me mais tempo do que me orgulho e só conseguia questionar-me como é que o meu rapazinho consegue estar há internado há tantos dias, cheio de sedativos no bucho e ainda com uma anestesia geral para sobremesa e, mesmo assim, estar tão irresistivelmente fofo, apesar do ar de quem está a ver unicórnios a saltar de nuvem em nuvem - e entretanto comecei a dar-me conta de que esta pode ser uma patologia grave.

Quero o meu lado de macho latino de volta.

a continuação da saga #acinderelaémámastambémseapaixona

Eu queria ser forte e desapegada, que queria, mas a verdade é que já vou no sexto dia consecutivo sem o meu rapaz, o que equivale a cinco - cinco! - noites seguidas em que acordo a meio, sem sono, e fico às voltas na cama, agarro o telemóvel três mil e oitocentas vezes para confirmar que não tenho mensagens (como poderia se ele nem tem o telemóvel com ele?), até voltar a adormecer no auge da deprimência.

Entenda-se, é certo e sabido que ser viciada no beijinho e na mensagem de boa noite mesmo que isso implique ele acordar, ligar-me às seis da manhã e irmos dormir outra vez (don't even ask) não é, de todo, um hábito saudável. Mas, de todos os maus hábitos, é certamente o que me sabe melhor.
E o que me faz mais falta também.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

o dia em que a cinderela parece ter andado mesmo nas drogas

Torna-se percetível que a minha vida não está a atravessar a melhor fase quando o ponto alto do meu dia foi encontrar um gato na rua, fazer-lhe uma festinha e a criatura nunca mais me largar.

Quando dei por mim, estava sentada num banco há não sei quanto tempo, numa praça, com um gato ao lado a pedir festinhas enquanto eu falava com ele com uma voz ainda mais apitalhada do que a que já me é característica.

E sim, passaram pessoas entretanto.
Várias.
(a avaliar pelo sorriso de «coitadinha, é retardada», podia ter tirado uma bota e ficado à espera que a começassem a encher de moedas)

também pode ser #acinderelaémámastambémseapaixona

[há dias em que gostava de poder voltar atrás, de regredir, se quiserem, mas de voltar a esse tempo em que era mais feliz. há dias em que me apetece voltar a ser pequena, esquecer os saltos altos e o eyeliner preto e sentar-me outra vez na cadeira do médico a balançar as pernas, ainda demasiado curtas para chegar ao chão. há dias em que me apetece voltar a ser essa menina, encostar a cabeça ao ombro da minha mãe e esperar, sempre atenta, sempre curiosa, sempre a questionar o mundo ao meu redor - queria crescer nessa altura. queria ser grande e ir aos sítios sozinha, saber ser sozinha, poder ser sozinha. hoje posso pegar no carro e ir a qualquer lado mas, na maior parte do tempo, não me apetece ir a lado nenhum - apetece-me um abraço quente e um beijo na testa. talvez dois - talvez não na testa. apetece-me o amor puro, esse em que eu jurava a pés juntos não acreditar ainda há uns três ou quatro anos atrás, e hoje ainda não sei se acredito mas percebi que não há definição nem fé que o faça desabar sobre a minha cabeça. é esperar - ou não esperar, deixar estar, as coisas inesperadas também sabem bem. há dias em que me apetece esquecer-me de que cresci mas que mantive intacta a intensidade com que sinto tudo, sempre sem meios termos, sempre sem filtros. há dias em que gostava de voltar aos dias em que a gravidade me era sempre alheia e eu não ia para a cama a temer o dia seguinte por não saber muito bem o que esperar  - e acabar por me aperceber de que estou a sofrer pelos dois.]

domingo, 1 de novembro de 2015

sobre isso de gostar em tempos de dor

[passei o dia todo a vigiar o telemóvel, à espera que me ligasses - achava que só ia conseguir sossegar quando ouvisse a tua voz mas, quando ouvi, apeteceu-me chorar por perceber que é pior do que me dizias, que vai demorar, que não posso fazer nada. e que estou longe, sempre longe, sem poder sentar-me ao teu lado e esperar contigo que um dia destes a vida te sorria como mereces, meu amor. e desliguei quase sem falar, sem dizer que te adoro, sem dizer o quanto sinto a tua falta, sem te prometer que vai correr tudo bem e que eu vou estar aqui, à espera, porque é isso que se faz quando se gosta. não te soube dizer nada disto - resumi-me num fogo... quando o que eu queria dizer era foda-se!, foda-se para esta vida, foda-se para a nossa sorte, foda-se para o mundo que parece estar sempre a conspirar. e foda-se para o quanto eu gosto de ti porque há dias assim, em que isso é realmente fodido.]

sábado, 31 de outubro de 2015

sobre os dias de angústia

Há dias assim, em que o coração fica pequenino, pequenino, e as horas teimam em não passar. Há dias em que a ausência de notícias me sufoca, me impede de respirar. Há dias em que angústia é a palavra do dia e eu me sinto perdida por não poder fazer nada. Há dias em que eu odeio ainda mais a distância e a impotência de estar do lado de cá. Há dias em que lamento que tenhamos força suficiente para construir pontes sobre o abismo que nos separa, mas que sejam sempre pontes de ar, suficientemente fortes para que quase consigamos sentir os dedos enlaçados mas nunca  fortes o suficiente para que os consigamos enlaçar.

Há dias em que me pergunto como que raio me fui meter nesta situação, como é que me permiti a ligar tanto a alguém que o facto de saber que há alguma coisa errada me parece chumbo cravado no peito - mas depois lembro-me de tudo, de todas as conversas tardias, de todas as vezes que ele me fez rir - de todas as que me fez chorar também. E lembro-me que, ainda ontem, na última vez que o ouvi, ele me ligou a meio do dia só para dizer que gosta muito de mim. Como poderia não me ligar?

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

mas vocês pensam que isto não pode piorar?

Uma pessoa vem aqui em estado de choque porque - graças ao spotify, sempre por culpa dele! - esteve a ouvir uma playlist que ia de adele a redfoo, mas hoje dei por mim a ouvir um álbum da celine dion, em francês.

(não sei se atenua a minha pena, mas a verdade é que são músicas que eu costumava ouvir em pequena com a minha tia e, volta e meia, volto a ouvi-las quando tenho saudades dela. hoje descobri que o spotify o tem e estou mais feliz.)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

vim só dizer isto

Por mais que me tente armar em macho latino, sou uma gaja como todas as outras - encontrar as chaves ou o telemóvel dentro da mala é sempre uma árdua tarefa que, volta e meia, me fazem despejar todo o conteúdo da dita em público.

Para me tentar organizar, comprei uma bolsinha paneleira - um necessaire, se quiserem - para meter a parafernália inerente às fêmeas (um perfume de bolso, desodorizante, toalhitas, tampões, baton do cieiro, creme de mãos, e tudo e tudo e tudo), naquela de tentar transformar a minha mala num sítio mais organizado e que me deixasse menos susceptível a embaraços.

O que é que consegui?
Uma mala com dois monos dentro (sim, também tenho uma carteira xxl), continuo a não encontrar nada lá dentro e, de vez em quando, lá calha precisar do baton ou do creme e quase montar uma banca de exposição de pensos e tampões e cenas que tais. 
Desisto.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

cinderela, uma dona de casa desesperada

Não, não cheguei a ter tempo de tocar no trabalho se quero ir mais cedo para o ginásio - e aspirar o carro também vai ter de ficar para amanhã. Shame on me.

cinderela, a nova dona de casa

Uma pessoa percebe que cresceu quando tem uma tarde livre e, em vez de a dispensar a ver vídeos de gatinhos fofos no youtube - e acabar numa parte estranha onde mostram partos e borbulhas gigantes a ser espremidas -, a pintar as unhas, a ler (ai o murakami ali a chamar por mim) ou simplesmente a vegetar, chega a casa e dá por si a planear a tarde com uma to do list pouco animadora:

passar a ferro;
aspirar o carro;
arrumar o quarto;
adiantar o trabalho que já devia estar feito;
arranjar-me a tempo de ir a horas decentes ao ginásio, para ver se deixo de chegar a casa tão tarde.

Isto tudo em, mais coisa menos coisa, 2 horas. Uhm uhm.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

vou só deixar isto aqui



Parece-me importante anotar que:

1) as minhas skills para fazer montagens são exatamente o que se vê: sei fazer desenhos no paint, só;
2) limitei-me a cortar nomes e comentários e tudo e tudo - as hashtags foram mesmo colocadas ali pela criatura;
3) estou a perder a fé no mundo;
4) vou só ali tirar uma foto no bidé, até amanhã.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

a saga continua

Isto também podia ser sobre como o spotify me trama de vez em quando - está aqui uma moça a amanhar um trabalho chato como tudo, de fones nos ouvidos e a tentar manter um semblante sério, como se estivesse a ouvir chopin ou o diabo a quatro, e isto vai de adele, que teve um efeito estranho em mim, a redfoo.

Fica um bocado difícil parecer normal quando se está sentada em frente a um computador, ao som da juicy wiggle.

o peixe morre pela boca, ou a adele não serve para pessoas felizes

Shame on me - depois de tanto ter criticado todos os casalinhos fofos que, emotiva e apaixonadamente, dedicavam a someone like you ao morxituh da vida deles, dei por mim a ouvir a hello, também da adele, com um sorriso de orelha a orelha, como se fosse a música mais feliz deste mundo.

E nem uma palavra acerca do facto de eu estar a ouvir adele, boa? Boa.

domingo, 25 de outubro de 2015

e só mais isto

As nossas vidas são uma partitura complexa, pensou Tsukuru. Cheia de semicolcheias e fusas, entre outros sinais crípticos e anotações de significado obscuro. Interpretá-la corretamente revela-se uma tarefa árdua e, mesmo que se consiga fazê-lo e produzir os sons corretos, não significa forçosamente que as pessoas captem e compreendam o sentido implícito. Não há garantia de que isso traga felicidade. Por que razão a vida tem de ser tão complicada?

Haruki Murakami,
a peregrinação do rapaz sem cor

e isto

No mais profundo do seu ser, compreendeu por fim. O que une o coração das pessoas não é apenas a harmonia. Os corações humanos unem-se através dos desgostos sofridos. Ferida com ferida. Dor com dor. Fragilidade com fragilidade. Não existe silêncio sem um grito de dor, não existe perdão sem derramamento de sangue, não existe aceitação sem a inevitável passagem pelo sentimento de perda. É aqui que se encontram as raízes da verdadeira harmonia.
Haruki Murakami,
a peregrinação do rapaz sem cor

mais ou menos isto

Aquilo não lhe saía da cabeça. Talvez o meu destino seja ficar sozinho, chegou a pensar. As pessoas aproximavam-se dele, mas depois, no fim, acabavam sempre por partir. Vinham ter com ele à procura de alguma coisa e, ou porque se mostravam incapazes de encontrar o que pretendiam, ou por ficarem desencantadas com o que encontravam, davam-se por vencidas e desapareciam. Um dia, subitamente, volatilizavam-se. Sem uma palavra de despedida, sem grandes explicações. Como se um machado afiado cortasse de um só golpe os vínculos que os uniam, pelos quais ainda continuava a correr sangue quente que fazia palpitar as veias.
Havia nele qualquer coia que afastava os outros, qualquer coisa de primordial.

Haruki Murakami,
a peregrinação do rapaz sem cor

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take8

Pensando bem, eu tornei-me estupidamente mais calma desde que fui para o hospital - paciente para ouvir, paciente para aceitar o ritmo de cada um, paciente para caprichos, que os há, dos doentes que viam em nós a única fonte de mimo. E, sobretudo, paciente o suficiente para me contentar com um revirar de olhos discreto sempre que alguma coisa me aborrecia.

Depois apercebi-me de que não gosto de mim assim, embora só tenha pensado nisto mesmo a sério quando, depois de ter pintado o cabelo de vermelho (finalmente, o vermelho que eu ando a tentar encontrar desde os 16 anos!), uma enfermeira me disse que não conseguia enquadrar a minha personalidade naquela cor, e eu dei por mim a perguntar o que raio ando eu a fazer à minha vida e em que momento é que me deixei transformar em alguém que passa por uma pachacha mole assim.

No entanto, não tive muito tempo para refletir muito sobre o assunto porque aconteceu tudo à velocidade da luz - num momento eu estava na santa paz de nosso senhor, e no momento a seguir estava a mandar vir com uma auxiliar pela forma como tinha tratado o doente. Revoltou-se, fez queixa, assobiei para o lado. Fez queixa a toda a gente, conseguiu meter outra também a tentar irritar-me - teve azar; domino a arte de ser cabra a sorrir e a criatura acabou por desistir.

Agora perguntam-me: mas não tiveste medo das consequências?
Tive, que tive. Sei que não sou de lá, que sou uma mera estagiária que não tem voto na matéria, e tive mesmo medo que dois surtos de irreverência seguidos me podessem prejudicar muito. Mas depois falei com o meu tutor e percebi que está tudo bem - todos sabem o que as criaturas são e o que fazem. Todos sabem que eu tive razões para dizer o que disse.

O que eu continuo sem perceber é porque é que, tendo em conta que toda a gente sabe o tipo de comportamento que elas têm em relação aos doentes, nunca ninguém as confrontou.

Depois apareci eu e o meu feitio mansinho.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take7

Nem tudo tem sido um mar de rosas - há relativamente pouco anos, perdi um familiar naquele hospital, naquele mesmo serviço. Uma das pessoas que mais me doeu. E que ainda me dói.

Não há um único dia em que não me lembre disso: foi ali que ele morreu.
Surdo, fraco, completamente dependente deles para tudo - foi ali que definou aquele que me viu crescer, aquele que, mesmo não sendo sangue do meu sangue, sempre me assumiu como neta, como a neta mais velha. Mas nunca tinha pensado em como teria sido realmente.

Hoje eu sei: era só mais um a dar trabalho. Mais um para dar banho no leito porque, nos últimos tempos, já mal abria os olhos, quanto mais andar. Mais uma fralda para mudar, mais uma cama para fazer - borrada, talvez. Mais alguém para obrigar a comer - oh, ups, se não comer, não comeu, azar. Mais um que todos desejaram que morresse no turno a seguir, para não lhes dar trabalho. E dói-me ainda mais, como se me reabrissem agora uma ferida que estava quase sarada, e lhe mexessem uma e outra vez até sangrar de novo. Dói mesmo.

Nem tudo tem sido fácil - torna-se inevitável recriar o cenário da morte dele a cada comentário que ouço, a cada atitude que vejo. E hoje estou particularmente atónita, zonza, a rezar para ter visto mal ou para que tenha sido um caso isolado; não sou ninguém, sou só uma aprendiz, mas não é preciso saber muito disto para entender a paciência e a sensibilidade - o carinho, por assim dizer - devia estar incluído na folha de terapêutica.

Ou, pelo menos, as pessoas deviam entender isso. 
E quer eu passe a vida como auxiliar ou como enfermeira, espero conseguir ser o tipo de pessoa que as famílias gostariam que estivessem do lado dos que lhe são mais queridos até ao fim - quero nunca fazer com que ninguém sinta o que eu estou a sentir hoje.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

oh snap

Fui buscar o resultado das análises ao laboratório, esperançosa. Quando as abri, fiquei fodida da vida pelo motivo mais improvável de todos - está tudo bem; nem um valor acima, nem um valor abaixo, dos referenciais.

E ainda não foi desta que descobri o que se anda a passar comigo.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

só para que saibam

Uma parte de mim está com desejos homicidas em relação ao cinderela - apetece-me um recomeço, apetece-me apagar capítulos da minha vida, apetece-me um blog que me acompanhe mais de perto sem a sombra de saber que este blog é mais movimentado do que uma casa de putas e que é demasiado conhecido por pessoas que me conhecem na realidade. Uma parte de mim até já arranjou um nome giro para o blog que ainda não criou.

A outra parte de mim não tem paciência para começar do zero outra vez, não está com vontade de esperar que o blog cresça e sabe que não tem, presentemente, metade da disponibilidade que tinha no início do cinderela e sem a qual o antro nunca poderia ter crescido. E essa mesma parte sabe que, bem lá no fundo, eu continuo a não me importar muito com o facto de saberem quem eu sou nem tão pouco faço questão de me privar de escrever seja o que for, ainda assim. Bem como sei que o cinderela continua a ser a minha casa por estas bandas.

Não garanto nada e sou instável o suficiente para mudar de ideias já a seguir - se tentarem entrar e não conseguirem, esperem. Eu nunca vou estar longe.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take6

No seguimento do post anterior, ainda tive uma senhora que me disse que estava muito feliz por estar no hospital, que estava a gostar muito e ainda não queria ir para casa. Nada de novo, portanto.

Começou foi a assustar-me ligeiramente quando a criatura disse que até gostou de ser operada porque a acordaram com festinhas na cara e ela achou muito divertido. Foi e veio ao bloco sempre a rir.

Seriously, mas agora as pessoas são anestesiadas com cocaína?

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take5

É sempre curioso ver como, enquanto alguns doentes estão mortinhos por ter alta, outros quase imploram aos médicos para que os deixem ficar mais uns dias porque ainda não estão preparados para enfrentar o dia a dia fora do conforto do hospital, onde tudo está à distância de uma campainha.

Mesmo assim, volta e meia ainda há alguém que consegue animar o circo e mostrar que há sempre mais alguma coisa quando se pensava que não podia piorar.
Desta feita, temos um jovem de 86 anos a chorar e a perguntar que mal fez ele aos médicos para eles o quererem mandar para casa.

Não se compreende, de facto - uma pessoa a tratá-los com tanto amor e carinho e os filhos da puta ainda dão altas. Irra!

sábado, 17 de outubro de 2015

sobre as verrugas deste mundo

Se há coisa que me dá vontade de rir são os mártires - os pobres coitados que, se preciso for, se vitimizam porque o vizinho que vive ao fundo da rua, e a quem cumprimentam com um aceno não mais do que duas vezes por mês, tem uma cárie. Gente que acha que está cheia de problemas quando, bem lá no fundo, o único problema é quererem pintar as unhas e não poderem porque as roem até ao sabugo e fica feio. Gente que, quando não tem nada de que se queixar, vai buscar uma história de 1829 ao baú. História essa que nem lhe dizia respeito.

Dá-me vontade de rir pelo ridículo, que dá. Mas também me dá vontade de correr meia dúzia à chapada, para ver se acordam e percebem que há um mundo além da mente limitada com que nasceram e que, de facto, há gente que não nasceu com a vidinha facilitada.

metaforicamente

As pessoas também deixam de nos servir, tal como aquela camisola favorita que parece fazer parte do nosso guarda roupa há demasiados anos para que tenhamos sequer coragem de a despromover.

Mas o mal não vem quando tentamos vestir a dita cuja e ela não serve - o mal está quando ela nos serve e continua bonita pela frente, e saímos de casa sem reparar que a puta tem um buraco enorme e irreparável nas costas. 

E ninguém precisa de camisolas rotas a ocupar espaço no armário, só por dizer que estão lá, que estiveram sempre lá. De vez em quando, é preciso enchermo-nos de coragem e assumir que já não faz sentido mantê-la.

coisas tristes deste mundo



A criatura ainda não entendeu a ideia.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

ups.

Sempre odiei - ou achava que odiava - nomes foficoisos, pirosos, ranhosos, melosos e blá blá blá.
Depois eles passaram a fazer parte de uma mensagem de boa noite, deu-se-me assim uma crise qualquer, e vai que estou menos macho ao ponto de me derreter toda, todinha, com os nomes fofos que a criatura arranja para me chamar.

Sério - vocês ainda hão de ver o cinderela pintado de cor de rosa, com uma kitty como fundo e posts sobre sapatos de verniz e malas da michael kors na minha wish list. Ai o medo.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

about my guy

Há dias difíceis, que há. 
Há dias em que eu me pergunto o que raio tinha eu na cabeça quando não fugi disto a sete pés antes de me ter deixado envolver desta maneira, que há. 
Há dias em que eu duvido de tudo e o quero meter a andar, que há.

Mas depois também há dias, muitos dias, em que ele me se mostra tão presente que eu quase não sinto a distância, dias em que me surpreende de tal maneira que eu me pergunto como que raio é que é suposto habituar-me a viver sem ele a colorir a minha vida a preto e branco. E hoje foi um desses dias em que me surpreendeu, em que me derreteu, e em que eu não quero, de forma alguma, deixá-lo ir embora, que foi.

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take4

- a menina teve sempre essa voz? ou treinou-a para ser assim, doce? tem uma voz tão infantil... tem mesmo a doçura de uma criança. até pensei que tivesse treinado.
Como é que eu espero que as pessoas me levem a sério? Como é que eu ainda acho que um dia destes os monstrinhos de berço me vão dar ouvidos? Como?

Depois uma pessoa tenta ser má, que tenta, mas ninguém teme uma pita armada em general machão. Vidas tristes.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

quando satanás me troca as voltas mas quem acaba por ficar com mais uns trocos sou eu

Nunca achei piada a sapatilhas com caixa de ar - depois encontrei um site com umas air max lindas lindas, a um preço acessível, e fiquei louca.

Ora, tenho um coração grande o suficiente para até poder incluir dois tamanhos no meu pedido - 40 por ser, efetivamente, o meu, e 41 porque, assim como assim, no inverno tenho a mania de andar com dois pares de meias e no verão ando sempre com os pezunhos ao léu.

Escolhi dois modelos diferentes - num, só havia até ao 39. No outro, só havia a partir do 42.

Sou capaz de estar um bocado chateada.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

por onde andas, cinderela?

Eu tenho tentado, que tenho, voltar aqui - mas entre as 8h nonstop do hospital, as idas ao ginásio entre 3 a 4 vezes por semana, a minha tentativa frustrada de meter as leituras em dia e tudo o resto que há para fazer em casa, desde limpezas a arrumações frenéticas só porque me estou a transformar em alguém muito chato que já não sabe estar quieto, e todos os recados e o vai-aqui-e-ali diário, chego a casa e apetece-me aterrar durante duas semanas seguidas.

Mas eu tento, que tento. Preciso é de baterias novas.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

a minha saúde foi de férias com a minha beleza

Se há coisa que eu cá não sou é dessas que fazem exames e mais exames para depois verificarem que está tudo bem - nada disso, meus amigos. De cada vez que faço exames, faço questão de descobrir uma avaria nova para juntar à minha lista.

O meu problema é que estou a experimentar demasiados problemas em jovem e temo esgotá-los ao longo da minha longa vida (só para dizer que não aceito quinar antes dos 100, porque até já tenho o funeral combinado e vai haver música ao  vivo) e não restar mais nada para me atazanar o juízo em velha. Assim não dá, pá. Slow it down que eu ainda só vou nos 20.

vou ser uma velha ainda mais deprimente

A puta das ironias é ter as velhas a choramingar à minha frente porque têm isto, isto e aquilo (inserir lista interminável de problemas de saúde), enquanto eu fico cheia de raivinha dos dentes e a desejar poder só ter metade desses problemas quando chegasse à idade deles.

Mas não, minhas caras alforrecas, 20 anos estão bem longe de serem sinónimo de uma saúde de ferro. Pelo menos para mim.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

ah e tal, o ecg não dói nada a fazer!

Eu juro que achei que ia sair de lá sem uma mama, mas tudo bem.

mais ou menos isto

Love isn't always pretty, Tate. Sometimes you spend all your time hoping it'll eventually be something different. Something better. Then, before you know it, you're back to square one, and you lost your heart somewhere along the way.
Colleen Hoover,
ugly love

domingo, 4 de outubro de 2015

peculiaridades

Don't even ask, mas faz-me uma confusão desgraçada ouvir dizer palavras como toiro, loiça, oiro, and so on - apesar de não estarem erradas, sou pelo u, sou pelo u em todo o lado, e só me soa bem se for touro, louça, ouro. Sabe deus porquê.

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take3

E qual poderia ser, possivelmente, o meu pior pesadelo?
Sou alérgica ao promanum.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

cinderela desfila o fat ass nos corredores do hospital - take2

Regra geral, as pessoas reagem bem ao facto de terem uma miúda a cuidar delas e acabam por achar piada à ideia - em contrapartida, há pessoas chatas que se convencem de que temos de fazer absolutamente tudo e encaram o hospital como um spa - e destas eu não consigo fazer nada.

Já não é a primeira vez que tenho de pedir ajuda porque não consigo fazer com que alguém - que podia perfeitamente levantar-se - se levante para que eu não tenha de fazer a força toda sozinha. E isto porquê? Eu tinha a vaga ideia de que deveria estar relacionado com o facto de ser nova e ter a «voz meiguinha» que eles tanto gostam de me gabar. Mas não fazia ideia de quem me achavam tão nova.

Hoje, uma senhora virou-se para mim e perguntou
 - tu tens quê, 14 anos?

Fiquei em choque, a hiperventilar e a chorar um bocadinho por dentro. A mulher deve ter reparado na minha confusão interior, e apressou-se a acrescentar  
 - se calhar nem tanto. tens mesmo cara de novinha!

Respirei funto e expliquei-lhe que não, que já ia nos 20.
Ainda em estado de choque, contei o sucedido a uma auxiliar, na presença de um rapazinho, também ele auxiliar, que já me conhece desde o primeiro estágio. Ao ouvir isto, a criatura apressa-se a dizer
 - eu também só percebi que tinhas mais de 18 anos porque te vi a conduzir!

...
...
...
...
...

Desisto.

cinderela desfila o fat ass nos corredores do hospital - take1

Não vos posso dizer que ser auxiliar de saúde seja uma profissão de sonho - não é. Não desempenhamos as funções mais importantes e interessantes do mundo, mas somos parte de um todo; mesmo que hierarquicamente sejamos o elo (ou um dos elos) mais fracos, o hospital não funcionaria sem este gang dos azuis, como decidi chamar-lhe aqui.

Já se sabe que tenho desejos de fuga, que estou ávida de fazer outra coisa da vida e que ando aqui cheia de sonhos e planos e tudo e tudo - mas, por agora, isto vai-me acalentado o espírito e controlando a ânsia. Se lido com merda diariamente? Lido. Se há gente chata, chatíssima? Há. Mas volta e meia aparece um par de olhos doces que precisa quase tanto de atenção e carinho quanto cuidados médicos - ou, por outras palavras, talvez estes se complementem, mas acabem por estar ao nosso encargo, os que andam no terreno mais tempo, os que estão lá para satisfazer as necessidades deles. E eu gosto disso - quem diria? Quis ser fria durante tanto tempo, tentei ser tão indomável, fiz de tudo para não sentir, mas hoje sou toda coração e tento ao máximo que isso se note.

Há dias difíceis - há! Há dias em que estou tão cansada que chego a casa e acho que vou adormecer sem sequer jantar. Mas já vi sorrisos de pessoas que nunca sorriem a mais ninguém. Já vi alguém só aceitar comida dada pela minha mão. Já ouvi dizerem-me que era a preferida e elogiarem-me por ostentar um sorriso de orelha a orelha como se fizesse parte da farda.

E, para mim, faz.

domingo, 27 de setembro de 2015

excertos desse nada

Nunca nos encontrávamos a horas certas, mas ela esperava sempre por mim - sentava-se no chão, de pernas penduradas na borda do rio, virada para o cais que jurava a pés juntos ser o seu sítio preferido mas que eu sempre soube que não era mais do que uma metáfora; queria que eu atracasse de vez. Queria ser o meu porto seguro. E era-o, mas não o sabia.

Lembro-me sempre de a encontrar quase sempre a escrever e com o ar descontraído de quem não se esforçava minimamente para ser tão maravilhosa quanto era; sê-lo-ia na mesma se não se esforçasse, mas nunca o descobriu. E, quando eu chegava, tinha de ficar uns momentos a observá-la de longe, o cabelo caído nas costas em forma de V, uma perna a balouçar levemente enquanto a minha menina apoiava o caderno no outro joelho e escrevia vigorosamente o que lhe ia na alma; nunca me deixava ver, mas o rosto dela enquanto escrevia era já por si só um poema que eu não me importava de ler eternamente. Mas, mais uma vez, nunca lho disse.

Um dia ofereci-lhe um caderno e uma caneta com o nome dela escrito. Queria que ela o visse como um gesto romântico, como uma daquelas quase-provas-de-amor silenciosas que oferecemos só para mostrar ao outro o quanto nos apaixona, mas só consegui comprar uma guerra. «Em vez de vires a horas, compras-me isto para me manteres entretida à espera. Sempre, sempre, à tua espera.». Armei-me em parvo, como sempre «Mas nunca chegámos a marcar uma hora!», e juro que achei que ela me ia bater, tal era a fusão da raiva e do desapontamento impressos no seu rosto. Virou-me as costas, mas no dia seguinte voltou para o cais, como sempre. E eu, como sempre, deixei-a à espera durante horas, embora soubesse que ela se sentava lá, religiosamente, assim que saía do trabalho. Estava mal habituado, é o que é.

Não me interpretem mal, não é que eu não gostasse dela! Se eu acreditasse num deus, certamente só ele saberia o quão louco e apaixonado eu estava por aquela miúda. Mas era um sacana descomprometido e tinha-a tão segura em mim que nem me preocupava em tentar prendê-la. Sabia-a minha, tal como achava que ela sabia que eu era dela - não há necessidade de verbalizar o que os corpos sabem de cor, pois não?

Ela não era fácil de aturar, mas eu ainda gostava mais dela por isso - estava sempre a resmungar e ficava melindrada pelas coisas mais sem sentido, ficava desconfiada e jurava a pés juntos que um dia desses se iria embora e eu nunca mais a veria, mas era sempre nesses momentos de vulnerabilidade, em que eu a apertava contra o meu peito e a sentia descontrair como se os meus braços fossem a sua casa, que eu a sentia mais minha. Que eu nos sentia mais nós.

Envergava quase sempre roupa escura que contrastava com a luminosidade do seu sorriso. Não digo que era louco por ela? Anos depois, ainda me causa arrepios lembrar-me da forma como me derretia sempre que a via sorrir. E o quanto me arrependo por tudo o que lhe fiz.

Amava-a tanto e nunca a soube amar em condições. Deixava andar, porque para a frente é que era o caminho e eu sabia que ela me acompanharia, mesmo que dois passos atrás, mesmo que às vezes tivesse de correr um bocadinho para não me perder de vista. A certeza de que ela lá estaria sempre dava-me o à vontade suficiente para pensar em nós como um casal de idosos que tinham passado a vida toda lado a lado; não importava a quantidade de coisas que eu metesse à frente dela, mesmo que demorasse uns dias, eu voltava. E ela estaria lá.

Demorei um bom tempo a perceber que ela me metia em primeiro lugar, e demorei mais tempo ainda a perceber que a iria perder se continuasse a deixá-la esperar que um dia as coisas mudassem.

Então, tomei uma atitude: um dia saí do trabalho a correr, fui a casa tomar banho e enchi-me do perfume que ela mais gostava. Depois, sentei-me no cais, no mesmo de sempre, ainda antes da hora de ela sair do trabalho; tinha decidido que era hora de lhe dizer que a amava e de lhe pedir desculpa por todas as vezes que a fiz duvidar de mim, por todas as vezes em que a fiz duvidar dela própria.

Mas as horas foram passando, e ela não apareceu. 
Nem nesse, nem nos dias seguintes. Semanas. Meses.
Todos os dias eu repetia o ritual, esperançoso, mas ela nunca vinha. Não atendia o telemóvel e a casa dela estava já ocupada por outra família.

Nunca mais a encontrei e agora, passados tantos anos, ainda me pesa o peito ao sentar-me aqui, no mesmo cais onde a perdi para sempre, no mesmo cais onde um dia ela se cansou de esperar por mim. Mas, embora doa, continuo a vir aqui: o último sítio onde vi o amor da minha vida.