Hoje de manhã, tive medo.
Durante algumas horas, pensei que um dos meus poderia estar envolvido no fatídico acidente do IC8.
Não estava: felizmente, posso respirar de alívio e dizer que está tudo bem, mas não o faço porque não está - esta manhã, seis pessoas morreram a caminho do trabalho. Talvez tenham sido muitas mais, mas não se fala de todos os acidentes, de todas as fatalidades, de todas as desgraças.
Talvez seja um absurdo julgar o acidente sem lhe conhecer os contornos mas, assim de repente, consigo imaginar que seja mais do mesmo: ultrapassagens mal calculadas, feitas quando não há visibilidade o suficiente para o fazer em segurança. O risco, enfim, que alguém decide correr e que, volta e meia, dá nisto: morrem todos, mesmo os inocentes.
Pouco importa saber quem é o culpado porque, de qualquer maneira, seis pessoas perderam a vida e isso é lamentável. O que me custa nestas mortes é que podiam sempre não ter acontecido: não foi uma doença incurável, um vírus fatal, o filho da puta do cancro. Foi um acidente, um azar, um grupo de pessoas que estava no sítio errado à hora errada. E puf: esgota-se a vida, arrumam-se os sonhos, enterram-se as memórias. Acabou.
Deus, dir-me-ão uns. Destino, dir-me-ão outros. Inconsciência, direi eu mas baixinho, para não ser apedrejada: volto a dizer que poderá não ter sido nada disto que aconteceu hoje, mas esta situação fez-me pensar em todos aqueles mini ataques cardíacos que tenho (quem não tem?) quando alguém resolve ultrapassar numa curva. E quem diz uma curva, diz uma reta com boa visibilidade mas onde não há espaço para encostar à direita sem ultrapassar oito carros seguidos. A questão é: porquê? O sítio para onde vão é mais importante do que a vossa própria vida? Do que todas as vidas que colocam em risco de cada vez que fazem uma barbaridade destas?
Tenho medo, confesso.
Tenho medo todos os dias porque, apesar de não ser uma condutora exímia nem tão pouco achar que um trauma me faz melhor do que os outros ou que ter medo de tudo é, por si só, uma boa política, há demasiados acéfalos que, de alguma forma, conseguiram tirar a carta. Assusta-me ter de me preocupar com o que eu faço e com o que os outros fazem mas, mesmo assim, estar tão sujeita quanto os outros todos a, um dia destes, ser apanhada numa curva mesmo sem culpa alguma.
Hoje de manhã, tive medo durante algumas horas, mas passou - para outros, em especial para os mais próximos daquelas seis pessoas, hoje estará a ser, muito provavelmente, um dos piores dias que já viveram. E podia não ter sido assim.
Por isso, e muito embora não ache que faça grande diferença, quero pedir a quem anda na estrada que pense duas vezes antes de arriscar. Que pense nas vidas que pode mudar (ou arruinar!) com uma atitude imponderada.
Há sempre tempo para chegar, se estivermos vivos.
Hoje de manhã, tive medo durante algumas horas, mas passou - para outros, em especial para os mais próximos daquelas seis pessoas, hoje estará a ser, muito provavelmente, um dos piores dias que já viveram. E podia não ter sido assim.
Por isso, e muito embora não ache que faça grande diferença, quero pedir a quem anda na estrada que pense duas vezes antes de arriscar. Que pense nas vidas que pode mudar (ou arruinar!) com uma atitude imponderada.
Há sempre tempo para chegar, se estivermos vivos.
6 comentários:
A causa do acidente pode muito bem ser devido a doença súbita do condutor. O meu marido teve um enfarte agudo do miocárdio fatal, sem aviso e fulminante, não estava a conduzir, mas se estivesse, com toda a certeza, poderia ter provocado mortes.
Eu também tinha um discurso como o seu, mas agora não consigo.
Dizem os jornais que foi o nevoeiro. Devia ser um nevoeiro muito, muito denso, para espatifar dois carros e matar seis pessoas.
No sábado fomos dar um daqueles passeios dos tristes (pelos arredores da capital) e no regresso, apanhei um desses anormais que mandam SMSs enquanto conduzem. Apareceu-me de uma curva cega e se eu fosse 30 metros mais à frente, tinha-nos limpo o sebo. Travei a fundo e ainda o vi levantar os olhos para a estrada, antes de me passar a 20 centímetros de distância.
É de ficar com o sangue gelado nas veias e vir até a casa a desejar que o filho da puta apanhe com um camião sem travões. xD
Helena, essa foi uma bofetada bem dada :)
Tem toda a razão, sem dúvida. E lamento pela sua perda.
De facto, eu peguei neste assunto a partir da notícia por, durante algumas horas, eu ter estado muito preocupada mas é como referi: não conheço os contornos e, infelizmente, não teremos como saber ao certo o que aconteceu. E sim, pode muito bem ter sido uma doença súbita, o típico "deu-lhe qualquer coisa", e eu acabei por - talvez erradamente! - assumir que era mais do mesmo, do que se vê na estrada diariamente :\
José Jesus, não sei. Há uns meses apanhei um nevoeiro tão cerrado (durante a noite) que tive de encostar, na autoestrada (sim, nada estúpido nem perigoso! -.-) e trocar com o meu namorado porque comecei a entrar em pânico. É impossível dizer com certeza, mas tinha poucos, pouquíssimos metros de visibilidade, mal conseguia ver as linhas na estrada (o que, claro, também piorou com o facto de eu ter muito medo ter começado a ficar aflita...). Portanto, não sei se poderá ter sido por aí, mas é esquisito. Nunca saberemos.
Esses chicos espertos é o que há mais! Tenho tanto medo de curvas! As pessoas parece que não as sabem fazer sem sair da mão deles.
Medo de nevoeiro de noite, na autoestrada? Não és só tu. Entrar de repente num banco de nevoeiro a 120 Km/h é das coisas mais assustadoras que me aconteceram na estrada. É que ficamos sem saber o que fazer. Continuas a andar normalmente e não sabes se há um carro à frente. Travas e ficas à espera que te entre um acelera pelo cu dentro. Se paras na berma, além de ser proibido, é muuuuito perigoso. Não sei se já reparaste na quantidade de acidentes provocados pela paragem na berma (mesmo da estrada nacional). Parece que um carro parado atrai aqueles idiotas que não conseguem virar a cabeça sem virar o volante ao mesmo tempo (um defeito que se perde a andar de mota lol). Eu posso andar 100 quilómetros à rasquinha para mijar, mas se não encontrar um local para parar, fora da berma, não paro nem que mije nas calças. Por causa disso já fiquei atolado na areia, a 5 quilómetros da Figueira. Ao menos fiquei com 45 minutos para mijar, enquanto não veio o reboque. eheheheh
Eu perdi a noção da minha posição na estrada porque, lá está, mal conseguia ver as linhas!
E sim, parar na berma foi perigosíssimo, sem dúvida, mas no caso foi a única opção :\
Este teu texto deixou-me muito tempo a pensar. Obrigado por isso.
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