sábado, 31 de dezembro de 2016

(e perder mais 10kg)

As pessoas falam como se o término deste ano infernal fosse a cura para todos os males por ele criados - não é. Dentro de (menos de) 24 horas, estaremos noutro ano, com as mesmas memórias, com os mesmos fantasmas, com as mesmas dores.

A chegada de 2017 não vai apagar tudo o que ainda me faz chorar. Não me vai fazer esquecer de todas as perdas deste ano, de todos os sustos, de todo aquele tempo em que me senti a desistir de mim mesma; tudo o que aconteceu, continua aqui, gravado. Para sempre - ou até à chegada do alzheimer, pelo menos.

Ainda assim, houve espaço para coisas boas que eu tendo a esquecer-me de mencionar: a minha vida mudou em alguns aspetos, é certo. Cumpri um dos meus objetivos e vi-me - finalmente! - um passo mais perto de poder vir a relizar o meu sonho. Ganhei pessoas, perdi pessoas - levo algumas comigo, para o ano que vem. E acho que vou muito bem servida.

2017 vai começar exatamente no mesmo ponto em que acaba 2016: nada muda à meia noite, nada muda sem esforço. Nada muda sem que se faça por isso - e o que eu quero que mude realmente em 2017 é a minha história. Sou eu.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

tpm para totós

Ok, agora vai, eu vou emagrecer!




Olha... há comida ali!


Eu não devia ter comido isto.


Sou uma gorda miserável, só penso em comer.


Vou acabar sozinha com 27 gatos.


E gorda.

verdades incontornáveis

Quando eu pinto as unhas, nunca me limito a pintar as unhas - pinto também os dedos, as palmas das mãos, as calças, o chão e, com um bocadinho de sorte, ainda acabo com verniz nos lábios também.

Quando uma gaja não nasce para ser gaja, não adianta forçar.

do ser-se gay

Lembro-me bem de ouvir os amigos chamarem-lhe gay - acredito que nunca com o intuito de ofender mas, ainda assim, atribuíndo uma conotação negativa a gay, como se fosse algo de que as pessoas se devessem envergonhar, como se fosse uma doença contagiosa, como se estivesse errado. E não está. 

Não há absolutamente nada de errado em ser-se gay - se eu não escolhi a pessoa de quem gosto, como é que ouso convencer-me de que alguém poderia ter escolhido gostar de alguém do mesmo sexo? Não se escolhe; acontece. Um dia, somos arrebatados de surpresa. Um dia, damos por nós a pensar em alguém a meio do dia, só porque passou na rádio aquela música de que ele tanto gosta. Ou que ele detesta. Outro dia, apercebemo-nos do sorriso tolo que se nos aflora os lábios sempre que a recordação dele surge. E, mais tarde, descobrimos aquela sensação esquisita no peito, tão, mas tão boa, só de pensar no abraço que lhe vamos dar. Gostar de alguém é assustador mas também consegue ser a melhor coisa do mundo - que importa de quem se gosta? Que importa o sexo? Que importa o que vão dizer, se nos faz tão felizes?

Não há nada de errado em ser-se gay, mas acredito que o tenham feito sentir que sim - enquanto o diziam, em tom de gozo, ele deveria estar ali, a desejar conseguir interessar-se por uma miúda, a desejar não ser diferente. A desejar que eles não tivessem razão - calado, a fingir que estava feliz, que nada daquilo o afetava, mas a sentir-se a sufocar pelo segredo que, à luz dos comentários, parecia quase impassível de ser revelado. E lamento isso por ele. Lamento porque ninguém merece esse sofrimento, ninguém merece achar que é errado gostar-se do que se gosta. Do que o faz mais feliz.

Um dia o mundo vai entender que a única coisa anti natura é alguém ter de fingir que gosta do sexo oposto para não ser diferente. A única coisa anti natura é ser-se infeliz porque ninguém consegue lidar com uma felicidade diferente.

aconteceu!

Estão a ver aquele moço, giro que só ele e absolutamente adorável, que foi da vossa turma no secundário e vocês já imaginavam um casamento na praia, um apartamento envidraçado e oito monstrinhos de berço a chamarem-lhe pai? Aquele gajo que é tão querido que uma pessoa arranja uma maneira de ficar com ele nos trabalhos de grupo, pede-lhe explicações de matemática, de biologia, de mandarim, se for preciso, só para o ouvir? Ah. Eu tive uma tara dessas - no meu 12º ano, era meio louca pelo meu coleguinha de carteira.

Para variar, as coisas nunca deram em nada - o mais perto que estivemos de ter uma relação íntima foi aquela vez em que ele se riu tanto que caíu ranho na nossa mesa, e eu senti que podia ser o início de uma bonita história de amor. Mas não deu, claro.

Hoje, percebi porquê.
Hoje, anos depois, descobri o que me faltava.


Podíamos ter sido felizes... mas ele é gay.

sábado, 24 de dezembro de 2016

presentes envenenados

É dia 24, véspera de natal: os olhos inchados denunciam uma noite passada a chorar. Denunciam uma manhã que me trouxe uma recordação amarga da noite anterior e me deixou em lágrimas outra vez. Por tudo o que não entendo, por tudo o que não sei, por tudo o que corre mal.

É dia 24 e tenho uma cabeça desarrumada, tenho o caos instalado no peito e continuo a não perceber o que há de tão errado comigo, com a minha vida, para que tudo o que me faz bem decida fazer-me mal a seguir. Não entendo. Não consigo entender que raio de pessoa serei para merecer tudo o que me acontece.

Este foi um dos piores anos da minha vida - o pior mesmo, talvez. Foi o ano em que os momentos de dor imperaram e, os escassos momentos de felicidade, serviram apenas para me fazer sofrer ainda mais logo a seguir. Foi um dos anos em que me senti mais perdida, mais desamparada, mais sedenta de coisas boas. E continuo.

Esta fase é particularmente má para mim: acreditem quando vos digo que é a altura do ano que mais me dói. Que mais me faz sofrer. Mas, até ontem, de alguma forma, eu achei que este ano ia ser diferente, achei que pelo menos desta vez eu ia ter algo de bom para recordar. Que poderia ser diferente, que, na minha crença estúpida, poderia ser um bom presságio. Que ia correr tudo bem desta vez. Que eu ia ser um bocadinho feliz.

E estava entusiasmada. Ansiosa. Feliz, pela primeira vez, com o que seguia. Estava mesmo, caramba! Ia ser diferente, ia ser bom. Significava, pela primeira vez, que eu era suficientemente importante para alguém, que alguém me queria perto, que gostava de mim. Mas, como tudo o que é bom na minha vida, foi-me retirado.

Voltamos à estaca zero, mas com uma dor nova: a dor da dúvida, do medo. A sensação de que sou mesmo demasiado descartável. E tão ridícula, tão humilhada, tão triste... 

Foi um excelente presente de natal.
Exatamente o que eu precisava.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

dilemas

Pela primeira vez na história da minha existência, estou a fazer um semi frio. O problema?

Quando constatei a quantidade cavalar de manteiga necessária para a base, tive visões de uma cinderela, lá para dia 26, com mais 38kg, e agora estou aqui carregada de culpas e a ponderar entregar isto para a caridade.

(ah, mas quem é que faz semi frios no natal?
quem abomina todo e qualquer doce da época e comeu mousse de oreo há duas semanas)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

a praga das boas festas

Gostava muito de vestir o espírito natalício e andar por aí, feliz da vida, a berrar a all i want for christmas que nem uma mariah carey da loja dos chineses e com uma bandolete com guizos e cornos de rena a dar a dar. Somehow, deve ser giro e deve saber bem.

Ao invés, esta altura do ano é, possivelmente, a mais infeliz de todas para mim - e olhem que tive um ano do caralho e chorei mais do que me orgulho. De cada vez que me desejam boas festas, sorrio um bocadinho e espanco a pessoa mentalmente: se eu pudesse, nem me lembraria de que estamos nessa fase da minha tortura anual, e não há bacalhau nem mousse de oreo que me acalentem o espírito.

Estou triste, já o disse. É como se, de repente, todo o lixo varrido para baixo do tapete durante o ano, decidisse aparecer e lembrar-me de tudo o que está errado. De tudo o que não deveria ser, das coisas insuportáveis - e crescem-me mágoas por pessoas que nunca julguei que me poderiam magoar. Crescem-me mágoas antigas que eu ignoro durante todo o ano, quando faço de conta de que não me importo. Aparece uma dor em qualquer sítio que eu não sei definir, mascarada de solidão, mascarada de saudade, de frustração. Um sofrimento atroz que parece só sair do armário quando toda a gente supõe que estamos felizes, e entendemos que não. E dói tanto, caramba.  Tanto.

Podemos saltar já para janeiro?

nos últimos tempos

Já estive feliz e orgulhosa de mim por ter conseguido perder tanto peso. Já me achei mais bonita, já achei que talvez até tivesse algum valor, que tinha coisas boas, que merecia coisas boas. Mas já voltei a ver a mesma gorda de sempre ao espelho, já voltei a focar-me naquilo que me parece essencial em mim mesma e a vê-lo como uma condenação. Uma vergonha. Eu nunca vou ser normal, por mais que queira. Nunca vou ser bonita, nunca vou poder deixar de me preocupar com o ângulo em que as pessoas me observam, com a forma que me veem, com aquilo que eu mostro. Nunca vou conseguir deixar de tentar esconder - e de falhar nesse processo, e de me sentir horrível por isso. Porque o sou. A anormal, sempre a anormal. Feia e gorda. Anormal - para quê tentar?

Vou ser sempre a anormal do nariz torto e nunca vou conseguir deixar de me ver assim - tudo o resto é ilusório.

as piores prisões estão dentro de nós

[São duas margens de um mesmo rio - eu estou numa delas e, tudo o que me poderia fazer feliz, está na outra. Não vejo pontes, não vejo barcos, não vejo ninguém do meu lado. Agonizo de dor: dou por mim a imaginar o que seria a minha vida do outro lado, dou por mim a sonhar que sou salva, que alguém me tira daqui. Fecho os olhos e tento convencer-me de que sou feliz no meio desta existência vazia, desprovida de sabor, que talvez este seja o meu verdadeiro lugar. Fecho os olhos para não chorar outra vez.

Volta e meia, arrisco: talvez o rio seja baixo, talvez a maré ajude, talvez eu consiga nadar. Mas, mal me sinto a perder o pé, volto para trás com uma angústia acrescida pela sensação de que estive mais perto do que nunca mas não fui forte o suficiente. E volto para o meu lado do rio, o meu lado do mundo, o meu lado da vida: só, e com mais uma cicatriz. Sempre só porque tenho demasiado medo de me magoar - e magoo-me mais, inevitavelmente.]

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

it was meant to be

Não sei se será uma espécie de espírito natalício a apoderar-se de mim ou uma tpm alargada mas descobri há pouco que um moço que eu considero particularmente querido anda com uma mocita com quem me cruzei no hospital e que, apesar do pouco contacto que tive com ela, me pareceu de uma doçura similar à dele. E, de repente, o mundo faz sentido outra vez e eu derreto um bocadinho por dentro.

Uma boa miúda que não encontrou um cabrão qualquer. Um bom rapaz que não anda com uma putita. Tão raro, tão bom.


sábado, 17 de dezembro de 2016

disseram-me ontem

pareces uma gatita de rua. és arisca, foges das pessoas.
Ri-me: achei piada à comparação, talvez demasiado certeira para que eu devesse achar-lhe piada mas, ainda assim, ontem senti que talvez já não fosse bem verdade. Talvez tivesse perdido o medo, ganho confiança. Talvez estivesse, finalmente, segura de alguma coisa.

Hoje não: insegura outra vez, com a vontade de fugir habitual. Não houve espaço para dúvidas mas houve tempo para o medo se instalar outra vez. Gatita de rua, arisca - não me deixes fugir desta vez.

-

O mais doloroso é sempre o que não sabemos. O que intuímos, o que imaginamos, o que deixamos que nos sufoque - é esse o meu caso. O que mais me custa é não saber, não entender, não ter a oportunidade de arquivar o assunto numa gaveta e trancá-la a sete chaves; esquecer-me dela. Fingir que nunca a abri. Ou não fingir, e, ainda assim, não ser importante. Saber que estiveste na minha vida mas guardar-te com carinho, em vez da mágoa, da dúvida, da angústia.

Isso era o que eu esperava de ti - a última coisa que queria de ti, de nós. A última, a derradeira, a única: só queria que me deixasses esquecer-me de ti.

deus, todo poderoso

A meu ver, deus deveria ser misericordioso nesta altura do ano - afinal, passamos semanas, um mês, um ano inteiro, a comemorar o nascimento do filho dele. Ele são os almoços de natal, os jantares de natal, os lanches de natal, os aperitivos de natal, os não-tenho-fome-mas-apetece-me-comer de natal, os sou-uma-lontra-miserável-e-preciso-de-chocolate de natal. Deveria ser proibido engordar quando, no fundo, estamos só a festejar o nascimento de um gajo que não conhecemos de lado nenhum e que nos convencem a tentar amar desde o berço.

Pelo menos, eu espero que deus tenha fechado os olhos à quantidade de porcarias que eu comi na última semana. Espero bem.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

sobre o nervosismo

A pessoa pensa em oito mil outfits diferentes e conclui que nenhum a convence - dois segundos depois de entrar em stress, vai para a cama e deixa na mão de deus.

Amanhã.
Amanhã eu vou acordar e saber exatamente o que vestir, sem trocar doze vezes de roupa antes de sair de casa. Sem me arrepender antes de chegar ao fim da rua.
Amanhã.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

coisas que passam pela cabeça duma 'çoa

Está tudo muito bonito mas... então e os mortos que vivem por baixo da casa? Ninguém pensou neles?

depois de 3 meses de urgência

Lembro-me de ser mais nova e de dizer a toda a gente que não acreditava no amor - demorei alguns anos a descobrir que o amor não era como o pai natal, e não havia como acreditar ou desacreditar: um dia não sabes o que é e, no dia seguinte, puff, aparece de surpresa.

Vi-o nas urgências: o amor andava por todo o lado. Senti-o - e amei-o.
O amor estava impresso no olhar preocupado de quem aguardava notícias. Estava espalhado no rosto aflito de quem entregava, às mãos dos profissionais, alguém doente. Estava nas mãos dadas, enlaçadas com força, de quem torcia para que fosse só um susto. Estava nos olhos marejados de lágrimas de quem sentia que estava a perder alguém. Estava nas palavras afetuosas de familiares que buscavam mais conforto do que os próprios doentes. Estava na espera, nas horas de uma espera infinita. Estava no sorriso de quem só queria que lho retribuíssem. E eu retribuía, porque era amor.

Se falasse comigo mesma há uns anos atrás, esbofeteava-me: o amor existe e está por aí.
É só abrir os olhos e procurar a beleza nos tempos mais negros.

domingo, 11 de dezembro de 2016

nasci para ser homem

Gente que consegue pintar as unhas sem que pareça que tal tarefa foi desempenhada por um cego com uma trincha: you rock.

Um dia eu também vou ser assim. Até lá, vou continuar a sentir-me à beira da depressão de cada vez que olhar para as unhacas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

devia ter previsto isto

- então e o curso, como está?
- quase a acabar! estive agora três meses no hospital.
- ai, a sério?! o que é que tinhas?

......
...
...
...
...

Uma farda azul.
Era isso que eu tinha: uma farda azul.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

o meu ódio de infância, para sempre.

Uma das muitas coisas que ninguém nos conta quando somos pequenos é que, independentemente da idade, a mãe vai continuar a fazer aquele xarope de cenoura horrível sempre que, por descuido, ousarmos tossir à frente dela.

E o filho da puta do xarope vai continuar a resultar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

é de família

Aproveitei a hora de almoço para ir a um supermercado trocar um artigo - à saída, tinha uma velha, com dois sacos de compras, parada ao pé do meu carro. Achei que ela estava à espera de alguém - e estava mesmo. À minha.

Começou por me pedir boleia para um sítio que eu nem conhecia - pela explicação, implicaria desviar-me do meu trajeto, coisa que não me seria muito favorável dado o facto de ser a minha hora de almoço e eu gostar muito pouco de me atrasar.  Em seguida, começou a fazer-me um interrogatório sobre a minha vida, porque não estava a acreditar que eu tinha mesmo de voltar rápido.

Com um sorrisinho filho da puta, mesmo de quem está a rogar pragas, disse-me que fosse com deus. Respondi-lhe «a senhora também», e consegui conter-me antes de a aconselhar a pedir boleia ao tipo.

Quando contei a história à minha mãe, respondeu-me que fiz muito bem, que nunca se sabe a quem se dá boleia hoje em dia, e sabe-se lá se não era um tarado mascarado de velhinha.

Vou para o inferno mas, pelo menos, vou continuar a ter a comidinha da mãe. Está visto.

sábado, 26 de novembro de 2016

something about christmas time

Eu hei de ter netos - talvez bisnetos. Hei de ter sido enfermeira, hei de ter tido 29 gatos, hei de ter uma casa com vista para o mar e outra no interior, só para ver neve todos os invernos. Hei de ter escrito um livro, talvez dois, talvez vinte. Hei de ter ficado gira e magra, hei de ter ganho o euromilhões - hei de ter ganho a paciência necessária para aturar pessoas de quem não gosto sem respostas tortas. Hei de, enfim, mudar, ser outra qualquer, realizar todos os meus sonhos e morrer de velhice, lá para os cento e tal - e, mesmo assim, o sozinho em casa não vai faltar um único ano, por alturas do natal precoce.

Arranjem uma companhia para o cachopo e acabem com isto, for da lóbe ó god!

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

eu nasci para o embaraço

Há uns meses, quando experimentei o tinder, li sobre o happn - creio que o conceito seja semelhante mas neste último só se recebe um aviso quando nos cruzamos com alguém que esteja a usar a mesma aplicação. Na altura, instalei e desinstalei logo a seguir porque não havia ninguém perto de mim. Nunca mais pensei nisso.

Até hoje - esta cinderela, iluminada que só ela, pensou "será que há alguém nestas vidas no hospital?", e resolveu reinstalar, por pura curiosidade. O que este génio não pensou foi na possibilidade de haver realmente alguém a usar a puta da aplicação, e em como seria cruzarem-se.

Tal como aconteceu.
Assim que instalei, localizei um pokemon: um médico de 26 anos, assim bastante asseadinho que, por acaso, nunca me despertou grande interesse, e que - igualmente só por acaso - estava no mesmo espaço que eu. E passámos o dia a cruzar-nos.
...
...
...
...
...
...
(sim, a avaliar pelo ar do moço, ele também já tinha reparado)

(in)coerência

Desde que emagreci que sou um tanto ou quanto obcecada por tudo o que me faça crer que vou recuperar os 19kg em duas dentadas e que me faz sentir à beira de ir parar ao inferno das lontras obesas se pecar dessa forma - mas depois compro gelado e como sem culpas, sem pensar nas calorias, sem me imaginar com cascatas de banha neste metro e sessenta e oito de gente que deus nosso senhor me deu.

(não, não como gelado todos os dias, nem perto disso, acalmem-se lá)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

shame on me

Uma vez que estou, oficialmente, a treinar para old cat lady, comecei a ver a novela também - tenho a dizer que estou medianamente encantada com a amor maior: além de terem captado imagens giríssimas e bem diferentes das paisagens que todas as outras mostram, ainda tiveram a audácia de construir uma personagem que não fosse inteiramente má (nem inteiramente boa) como qualquer ser humano normal. 

Darem um lado bom e fofinho a um vilão, que ainda por cima é giro como tudo, só dá mais vontade ainda de arranjar os 28 gatos e enrolar-me na mantinha.

domingo, 20 de novembro de 2016

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

tenho uma queda por cabrões

Gosto de gajos que me desafiam. Que me dão gozo falar porque sinto que têm quase tanto de terreno minado quanto eu - tipos que me façam sentir que estou constantemente na red line, e ir escapando. Gosto dos que me trocam as voltas, dos que me surpreendem, dos que dão aso para duvidar do que se segue. Também gosto dos fofinhos mas nunca me sinto atraída por eles, nunca me fazem sentir nada - eu preciso de estabilidade e segurança mas não sou capaz de lidar com ela.

E é por isso que hoje estou de volta às lágrimas: a minha cabeça é um mar de pontas soltas, de dúvidas, de saudades. Tenho saudades da última vez em que me senti feliz, saudades de um abraço terno que não me cause repulsa. Sinto falta de uma voz que me acalme. Sinto e nem sei bem o quê - ou sei. Sei que cometi um erro gigante. Que abri uma ferida a tentar sarar outra, e agora não consigo lidar com nenhuma delas.

serviço público - parte 2

No seguimento do post anterior, tenho mais um conjunto de questões que devem ser esclarecidas antes de se juntar os trapinhos com um qualquer ser do sexo masculino, baseadas nas minhas experiências pouco felizes.

Garantam que o tipo é dos que faz piscas nas rotundas.
Esta é fácil de perceber. Vocês não vão querer estar com uma das (muitas) pessoas a quem desejam uma caganeira descomunal todos os dias, muito menos vão querer viver com ela.

Mostrem-lhe um pêssego e um alperce, e perguntem se sabe o que é.
Se ele disser que os alperces são pêssegos pequeninos e insistir que é ridículo darem-lhes designações diferentes porque, por exemplo, uma laranja é sempre uma laranja, independentemente do tamanho, tentem enfiá-lo no útero da mãezinha dele o mais depressa possível. E, pelo sim e pelo não, falem-lhes das tangerinas e das clementinas, não vá o diabo tecê-las.

Dêem-lhe coca cola e pepsi, sem ele saber.
Se não notar diferença no sabor e disser que quem distingue a coca cola da pepsi está a mentir, este também poderá ser um sinal de alerta. No entanto, se forem mesmo más cozinheiras, esta deficiência das papilas gustativas poderá jogar a vosso favor.

Como quem não quer a coisa, dêem a ideia de criarem um facebook de casal e trocarem alianças.
Se ele disser que sim, corram como se a vossa vida dependesse disso. Não queiram que o pai dos vossos filhos seja o gajo que guarda quatro alianças correspondentes a cada ex namorada. Todas elas compradas nos chinesses - as alianças e, eventualmente, as gajas. Não queiram.

Assegurem-se de que ele é capaz de matar centopeias e aranhas, e não se chateia convosco por o acordarem às três da manhã para chacinar bichos incómodos, só porque sim.
Alguém tem de o fazer, não é? E ninguém dorme descansado com uma centopeia na parede a observar.

Investiguem o passado. 
Não há nada como estar na posse de todas as informações úteis acerca da pessoa que se deita ao vosso lado, ou em cima de vocês. É importante garantir que não é um presumivel traficante de orgãos, capaz de aproveitar o vosso sono de beleza para vos extrair uma peça ou duas.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

serviço público

A cinderela tem má fama mas até sabe ser amiga - como prova disso e em honra da minha vasta experiência em fracassos sentimentais, decidi elaborar um manual de instruções para a procura do tipo ideal, baseado em situações mais ou menos caricatas que me aconteceram ao longo dos tempos.

Perguntem-lhe se gosta de gatos.
Têm de garantir que o tipo gosta de bichinhos ainda antes do primeiro encontro, especialmente se estiverem há tanto tempo quanto eu à espera para poder ter um. A relação não pode avançar se não tiverem a certeza de que o gajo vos vai deixar ter um gato.
Além disso, quando ele vos deixar e vocês virarem cat ladies, é melhor que ele goste de gatos. Vai parecer-lhe menos mau que vocês vivam com 27.

Assegurem-se de que o rapaz sabe que não tem ovários.
Ou, se forem azaradas como eu e tiverem uma queda por gajos conas, assegurem-se de que ele não os tem mesmo. Há alturas em que começamos a duvidar disso também.

Expliquem-lhe que só os homens é que têm próstata, e que as mulheres também têm pâncreas.
Pessoalmente, também acho que deus não pensou bem a coisa. Isto de fazer homens e mulheres com orgãos diferentes estava-se mesmo a ver que ia dar confusão. Especialmente quando se é demasiado limitado para entender quem é que tem o quê.

Questionem-no sobre o nome daquele buraquinho que ele tem na barriga.
Se disser que é o embigo, fujam daí e vão a fátima para se purificarem de tal maldição.

Entendam que eles são tão ou mais estúpidos do que nós.
Às vezes um segue-em-frente-porque-eu-já-não-gosto-de-ti-e-só-quero-ser-teu-amigo é mesmo sinónimo de atreve-te-a-andar-engalfenhada-noutro-e-vais-ver-se-não-amuo-e-deixo-de-te-falar-do-nada. 

Aceitem que eles vão continuar a fugir de conversas sérias que nem o diabo foge da cruz.
Se começarem a ver na senhora do voicemail um ombro amigo e acharem que ela está prestes a tratar-vos por tu e a perguntar como estão, é porque o tipo continua com demasiado medo de vocês e ainda não está pronto para conversar. Não importa. 
Mostrem-lhe que são raça-gaja e insistam, já nem tanto pela resposta mas só para ele ver o que é ter colhões e odiar covardes.

Mostrem-lhe os cantos da suite presidencial na friendzone.
Infelizmente, nem sempre um não-sinto-nada-por-ti surte o efeito desejado. Às vezes é mesmo preciso mostrar-lhes que estão instalados num excelente sítio, do qual não vão sair. E, ainda assim, nem sempre é suficiente também e continuam a lutar para ver se escapam. Epá... não.

Espero ter sido suficientemente elucidativa e que os meus ensinamentos vos ajudem no futuro. Se não ajudarem... aguentem-se. Eu passei pelo mesmo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

paradoxalmente

Quero um tipo querido e fofinho que me trate bem - quero, que quero. O problema? Nunca me interesso por nenhum.

Tenho uma queda por cabrões.

está tudo a ver a lua

Gente que tentou fotografar a lua com a câmera rasca do telemóvel e só conseguiu captar uma bolinha amarela num fundo preto:

estamos juntos nessa vida merdosa de pobre sem dinheiro para uma câmera em condições. Beijinhos solidários, sim?

domingo, 13 de novembro de 2016

demasiada areia para o meu camião

Contrariamente ao que seria expectável, eu não fico feliz quando apanho alguém a olhar muito para mim, como acontece lá com o interno giro - convenhamos que um moço bonito, adorável e inteligente, nunca olharia para a miúda feia e medianamente gorda que não passa de uma mera auxiliar esquisita, demasiado burra para passar a matemática e ir para enfermagem.

Foi por isso que quando ele veio falar comigo - sobre um doente, cumé óbiu - eu senti que tinha 16 anos outra vez, fiquei atrapalhada e a tagarelar, com uma vontade enorme de me esbofetear no fim. Eu podia, pelo menos, parecer normal quando abro a boca, não podia?

e a sorte, cinderela?

Tenho para mim que, aquando do meu nascimento, o diabo fez um contrato com o azar para garantir que me enfernizariam a torto e a direito - e tem cumprido.

Vocês não sabem, mas eu até tenho sido uma boa gaja: tenho conseguido maquilhar-me e andar com o cabelo arranjadinho na maior parte dos dias. Quase todos os dias, praticamente.

No entanto, houve um dia da semana passada em que eu acordei tarde, desgrenhada e com um humor de merda. Levantei-me, vesti-me e saí, com ar de múmia, desmaquilhada e sem me pentear. (Convém explicar que tenho um cabelo difícil porque é meio ondulado, logo só tenho duas opções quando ele está seco: pentear-me ou esticá-lo. Uma vez que eu já estava atrasada e ele passa o dia apanhado, não me pareceu grave ir mesmo assim.)

E quem é que voltou às urgências exatamente nesse dia?
O interno giro e fofo - o único interno a quem eu acho piada naquele hospital e em quem eu não metia a vista em cima há semanas. SEMANAS.

Não, eu não acho que o moço ia descobrir que eu sou o grande amor da vida dele só por eu ir arranjadinha - mas eu iria sentir-me menos mal de cada vez que o apanhasse a olhar para mim.

sábado, 12 de novembro de 2016

crazy people

- menina, que dia é hoje?
- é dia 11, porquê?
- estava aqui a pensar que era dia 28. faço anos a 28.
- de novembro?
- não, de maio.
Não esperem grandes melhoras na minha sanidade mental depois de 3 meses de urgência.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

portugueses portuguesíssimos

Um dia eu vou entender o que é que passa pela cabeça daquele bando de gente desocupada que, nos casos mais mediáticos, se mete à porta dos tribunais só para ver passar os arguidos e ter aqueles 30 segundos de ferocidade a gritar:

- gatuuuuno!
- ladrãaaaao!
- filho da puta!

Aliás, vai-se a ver e alguns até estão só a gritar coisas tipo:

- arroz com feijãaaao!
- cotonetes!
- diiiiiiiildo!

O que importa é fazer barulho.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

sobre o segredo que não é o meu

Tenho seis anos outra vez e, na escola, riem-se de mim. Dizem-me que tenho o nariz torto, mas eu não percebo porque sempre achei que era uma menina normal, uma menina como outra qualquer e nunca descobri nada de estranho em mim. Conto à minha mãe: eles são parvos, responde-me. E eu continuo a mesma menina que gosta de brincar e de aprender as coisas que ainda não são para a sua idade. 

Tenho dez anos outra vez e mudei de escola: nos corredores, apontam-me o dedo. Gozam comigo, constroem cantilenas: narizinho torto. Gorda. Dizem-me que sou a mais popular da escola, e sou mesmo - todos conhecem a anormal. Todos sabem quem eu sou, todos se riem de mim - começo a trancar-me na casa de banho nos intervalos. E à hora de almoço. Começo a fugir o mais possível, a baixar a cabeça para que não reparem. Choro todos os dias, mas vou para casa feliz: não quero afligir a minha mãe.

Tenho quinze anos outra vez e não entendo o que aconteceu. Os poucos amigos que fiz nos últimos cinco anos viraram-se contra mim de repente: voltaram a gozar comigo e eu estou sozinha. Chamam-me gorda, dizem-me muitas vezes que nunca ninguém vai gostar de mim porque sou anormal, porque tenho o nariz torto. Eles não sabem que eu não tenho culpa - nasci com uma malformação, não posso mudar. Estou sozinha.

Tenho dezasseis anos outra vez e almoço sozinha, às escondidas, num canto da biblioteca. Se não me virem não podem gozar comigo: gosto de um rapazito mas trato-o mal. Se ele achar que eu odeio, não vai perceber que gosto dele e não vai pensar que eu me acho merecedora de gostar de alguém normal. Ele nunca olharia para mim, eu sei. Nem ele nem ninguém.

Tenho dezoito anos outra vez e alguém olhou para mim. Ganhei coragem para começar a sair à rua com maquilhagem sem temer que me achem ridícula - digo muitas vezes que sou feia, gorda e anormal porque eu quero que as pessoas saibam que eu estou consciente disso e que não estou a tentar parecer bonita, porque isso é impossível. 

Tenho vinte e um anos: houve pessoas a cruzar a minha vida. Afinal, houve mesmo alguém a olhar para a miúda feia, gorda e anormal. Houve quem me achasse bonita, quem me fizesse sentir como tal. Houve pessoas na minha vida que me magoaram mas, ainda assim, mostraram-me que eu não sou a aberração que me ensinaram que eu era desde tão cedo. Tenho vinte e um anos e decidi começar a fazer alguma coisa por mim: em seis meses, perdi quase 20kg e há dias em que a imagem que o espelho me devolve não parece assim tão feia. Há dias em que me acho quae bonita - outros acho que estou só a ignorar partes de mim que nunca me permitirão sê-lo. Quem sabe?

Tenho vinte e um anos e não sei manter ninguém na minha vida: insegura, torno-me em alguém de que não me orgulho. Torturo as pessoas, questiono cada ação, cada palavra, cada olhar. Tenho vinte e um anos e sou insuportável porque não sei confiar em ninguém. Tenho vinte e um anos e há dias em que me sinto pequenina, pequenina, invisível, descartável, insignificante - fujo às pessoas porque não valho a pena, porque não sou ninguém, porque nunca vou ser melhor do que isto.

Tenho vinte e um anos e continuo a sentir-me a mesma miúda feia, gorda e anormal, sempre que cometo a loucura de me interessar por alguém.

ah, cinderela, conta lá a história da tua vida

do shiuuu

Não escrevi este segredo, mas tenho muito para escrever sobre ele.

não entendo

Uma das coisas que eu nunca vou entender são os médicos com ar de mal fodidos e entediadíssimos desta vida porque estão a trabalhar. Notem: passaram o secundário a marrar para entrar em medicina, depois passaram, pelo menos, mais seis anos a marrar para saírem de medicina... não era caso para estarem loucos de alegria, agora que são médicos?

I mean... alguém se mata a estudar durante, no mínimo, nove anos seguidos, sem ser para terem a profissão que sempre sonharam? Sem ser para os fazer estupidamente felizes?

a apontar

Cheiras tão bem, só o teu perfume é logo meio namoro!,
(penso que a outra metade em falta seja a parte da beleza, mas é só uma desconfiança)
 
 
 
 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

ceci n'est pas um blog lamechas, caralho!

[no fundo, eu sei a resposta - sei-o desde o primeiro dia, mesmo quando fico confusa, mesmo quando fico triste e a perguntar-me é que é possível que, de um dia para o outro, eu tenha perdido toda a importância que tinha para ti. magoa-me que, ao fim de dois anos, tenha sido tão descartável ao ponto de um dia teres decidido nunca mais me atender chamadas ou responder a mensagens onde só implorava por notícias tuas: obrigaste-me a seguir em frente, obrigaste-me a obrigar-me a esquecer-me do quanto gosto de ti. egoísta. eu não sou tão covarde quanto tu: teria lutado até ao fim, nunca duvides disso. e, quando me fizeste desistir de ti, não penses que fui sem dor: fiz os possíveis para salvar a amizade. acreditei piamente que, seguindo em frente, conseguiria manter-nos como amigos, que voltaríamos a estar os dois ao mesmo nível - mas nunca deixei de gostar de ti, nunca deixaste de ser importante, nunca deixei de te querer na minha vida, mesmo enquanto existiu outra pessoa. e fiz questão de o dizer, fiz questão que soubesses que eras demasiado especial para que eu aguentasse não ter notícias tuas.

e, no dia em que me cansei de esperar por uma resposta, também chorei: eu nunca me fui embora realmente porque um bocadinho de mim já é meio teu, desde sempre. porque foste demasiado para não seres nada - ainda que hoje eu ache que não te perdoo, ainda que não consiga seguir em frente com esta dúvida, ainda que me doa imaginar que não vou ter mais notícias tuas - no fundo, eu sei a resposta, mas quero que o digas.

depois de tudo, eu mereço ouvir-te dizer que não aguentaste perder-me.]

ponto da situação

Há muito tempo que não me sentia tão desapaixonada, e essa existência morna não combina com a minha personalidade em ebulição - é ridículo e meio absurdo, mas sinto a falta daquele sabor a início, do sorriso tolo, da ansiedade boa, do coração aos saltos com uma simples mensagem. Sinto falta de coisas boas, de sensações boas, de pessoas boas - ao invés, ando aqui a choramingar pelos cantos porque ainda não consegui recuperar o fôlego depois de tudo o que perdi nos últimos meses.

Em contrapartida, tenho sido feliz nas urgências - escolhi-as por amor ao caos e por crer que teria muito mais a aprender num sítio onde teria de me orientar pelo meu próprio pé, sem rotinas e sem regras, só correrias e muito improviso. Tenho sido mais feliz durante essas oito horas em que sei que sou boa no que faço e que consigo ser alguém de quem as pessoas gostam, sem tempo para pensar em qualquer outra coisa que não aquilo que vou fazer a seguir. E sabe bem, que sabe.

será que se nota que adoro o natal? - take2

Eu não gosto do natal - aliás, não gosto do período das festas, de todo.

Disse-o há uns dias, a duas senhoras da limpeza do hospital, e elas entreolharam-se com ar de coitadinha, e ficaram a achar que me teria acontecido alguma tragédia por essa altura: não aconteceu nada.

Não gosto do natal porque me cansa: somos obrigados a lidar com as decorações natalícias em tudo quanto é centro comercial quando ainda mal tivémos tempo de arquivar a toalha de praia e o protetor solar, e ainda ficamos com músicas de natal em looping na cabeça só porque cometemos a loucura de sair de casa para ir comprar pão. Uma pessoa já chega ao natal farta do natal; às vezes até dá vontade de pedir para antecipar as festividades e, do mal o menos, ficamos despachados até ao ano que vem.

Outro problema é ser a festa da família feliz e confortável, tudo lindo e fofinho - para mim é só mais um dia como tantos outros, com a família do costume, no sítio do costume, e uma carrada de espaços vazios deixada pela ausência daqueles de quem mais gosto e estão longe. Não há espírito natalício: há uma sessão no skype para disfarçar a dor, e a dor aumentada por ser suposto ser um dia mais feliz, porque é isso que se diz por aí em todo o lado.

Depois da febre do natal, chega a febre do reveillon que serve para lembrar os forever alone de que continuam sozinhos, e para lhes dar vontade de espetar qualquer merda pontiaguda na carótida, porque os anos passam e nada muda.

É por isto que não gosto desta altura do ano.
E agora, já podemos saltar para janeiro?

será que se nota que adoro o natal?

Como se a música do agir já não fosse ridícula quanto baste, ainda decidiram adaptar a make-up à popota.

Não podemos saltar já para janeiro?

domingo, 6 de novembro de 2016

sobre o que se perde

[perder alguém é como perder um pedaço de nós. como se nos dissessem que, daí em diante, há algo que sempre foi nosso mas com o qual nunca mais poderemos contar. é como se as nossas memórias deixassem de fazer sentido por não as conseguirmos enquadrar num tempo presente, por causarem dor todos os dias.
a morte é um lugar vazio na mesa e uma casa sem donos: é rasgar cinco folhas no calendário com a fúria de quem quer rasgar o tempo à procura de dias mais felizes, e continuar tudo igual, para sempre. é ver janelas fechadas, portas fechadas, escuro, silêncio, vazio. são as saudades de um par de olhos que nunca mais fitarão os nossos - é uma fuga até ao cemitério e uma conversa com uma lápide fria onde, algures, uns palmos mais abaixo, jazem os restos de uma das minhas pessoas preferidas: se me viu, lá de cima, riu-se com certeza. conhecendo-me desde sempre, nunca me poderia ter imaginado a fazer tal coisa: eu, a descrente, a desligada, a indiferente. fi-lo: sinto a falta de me sentar com ela à mesa, durante horas, em conversas intermináveis sobre nada de especial, sobre tudo, regadas com café e com amor.

fi-lo porque às vezes ainda me esqueço de que ela não vai voltar, e outras vezes não acredito.
fi-lo porque as saudades são tantas que já não cabem em mim - às vezes, transbordam.]

porque é que continuas solteira, cinderela?

Há dois tipos de gajos no mundo: os decentes e os que se metem comigo.

Uma noite destas, recebi uma mensagem no facebook de um rapaz que eu conheci há uns 3 ou 4 anos, porque tínhamos explicação juntos, a perguntar-me se o exame tinha corrido bem. Não existindo a desculpa de os carteiros se terem enganado e a mensagem ter chegado com uns anos de atraso, concluí que o moço deveria estar sob o efeito de substâncias psicotrópicas ou a meio de um qualquer surto de uma doença mental ainda não diagnosticada. Nunca se sabe.

Não tive tempo para lhe responder: quando viu que a mensagem tinha sido visualizada, apressou-se a dizer que tinha sido facejacking. Bem me parecia, pronto. E então, disse que não, que estava a brincar, que aquela tinha sido só uma forma de se meter comigo.

Estava a ficar meio trocada das ideias - não sei o que lhe deu para se ter metido comigo ao fim destes anos todos, nem estava a entender a oscilação entre o foi-a-sério e o foi-um-amigo-meu, que continuou durante um bom bocado, até que eu perguntei se ele, pelo menos, sabia quem eu era.

E sabia: a resposta estava certa. Mas, ao perceber que não estava com grande sorte, voltou a acarinhar a versão de que, afinal, não tinha sido ele - a sorte é que o amigo desconhecido até sabia de onde nos conhecíamos e tudo. For sure.

É disto que me calha e é por isto que vou acabar sozinha com 24 gatos.

sábado, 5 de novembro de 2016

as pontas soltas

É o estar sempre à margem da minha própria existência. É o esforço hérculeo para mostrar que estou aqui, o meter-me em bicos de pés, esticar os braços e, mesmo assim, nunca ser apanhada pela ótica da câmera. É o tentar ser sempre a melhor versão de mim e isso nunca ser suficientemente bom. É tentar ser o tipo de pessoa que as pessoas querem por perto, mas ser sempre o contrário. É o ser diferente, esquisita, solitária. É o sentir-me sempre demasiado descartável: um porto seguro, a transição entre o mau e o bom. A estabilizadora, a tranquilizadora, a amiga que nunca serve para o dia a seguir.

É o ser sempre usada e tão facilmente esquecível- É o nunca ser realmente importante, a incapacidade de carimbar a minha presença na vida de alguém. É um conjunto infinito de histórias que têm sempre o mesmo final: hoje, é o cansaço. É o sentir-me farta de nunca ser ninguém.

estou preparada para combater hipoglicémias por este mundo fora

Há meses que deixei de meter açúcar no café e que passei a ser mais uma dessas gajas gajíssimas que atiram os pacotes para o fundo da mala. 

Por acidente, a minha mão passeou por esse recôndito misterioso e descobriu que, a avaliar pela quantidade de pacotinhos que a minha mala alberga, devo estar quase a conseguir fazer um bolo com o açúcar que vou trazendo dos cafés.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

wondering

Se vão para o hospital para serem salvos por deus, porque é que não vão diretamente à igreja? Ou melhor: porque é que não ficam em casa?

O médico omnipresente não dá consultas ao domicílio?

inspirem-se

Quando acharem que a vossa vida é uma merda, pensem no seguinte:

Ontem, um jovem de 95 anos pediu-me um urinol - estava aflito, disse-me. Reparando nas calças molhadas na zona suspeita e no ar do senhor, adivinhei que ia precisar de ajuda.

Meti-o num cantinho, corri as cortinas, mas deixei-o à vontade: virou-se de lado. Achei que podia correr bem, até que ele exclama:

- ao que uma pessoa chega! isto são só peles, nem a encontro!

Observei a genitália com idade suficiente para pertencer a um trisavô meu, e concluí que, de facto, encontrar uma pila naquela salganhada de peles era quase mais difícil do que encontrar o Pedro Dias. Ainda assim, confiei no senhor quando ele introduziu uma pontinha no urinol.

O problema?
Era a pontinha errada. O senhor correu o risco de ficar monocolhão e conseguiu a proeza de mijar em todo o lado, menos no urinol - estranhou sentir a roupa a ficar ensopada, enquanto a minha alma vertia três ou quatro lágrimas interiores e eu me preparava para o despir e mudar os lençóis, all by myself, porque preferi não explicar a ninguém que aquilo aconteceu porque não fomos capazes de encontrar a pila.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

cinderela, a desinteressante

Dei-me conta de que sempre que me dizem ahh, tu é que conheces isto, escolhe aí um sítio fixe para irmos, nunca me ocorre um bar mesmo giro ou o café da moda, porque eu raramente entro em bares ou em cafés ou seja onde for: chata e lontra que só eu, vou levar-vos, invariavelmente, para a praia e esperar que vocês sejam capazes de alimentar uma conversa metafísica sobre pensos rápidos ou azeitonas durante horas.

É isto que eu sou, desculpem lá.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

o gajo ideal

Acreditem quando vos digo que ser gaja a tempo inteiro é muito mais desgastante do que qualquer emprego: há uma certa bipolaridade inerente à condição, e isto é muito mais complexo do que se possa imaginar.

Por força de todas as catástrofes sentimentais que deus nosso senhor me mete em mãos, só para gozar com a minha cara, acabei por me aperceber de algo sobre mim mesma, que acredito que seja comum ao restante gajedo que habita este mundo: inconscientemente, tenho uma lista mental daquilo que seria o gajo perfeito.

Baseada nas experiências anteriores, uma pessoa começa a pensar ah, eu não gostava que este só me mandasse mensagem de três em três dias, então quero um que faça questão de saber diariamente se eu ainda respiro. Ou uhmmm, de cada vez que este gajo sai à noite, eu imagino-o num festival de mamas saltitantes a fazer endoscopias com a própria língua a todas as criaturas portadoras de uma vagina, ou não, então eu prefiro um pacato que prefira o calor de uma lareira para passar o serão a fazer crochê. Ou ainda este aqui é cheio de manias esquisitas e pensa que os alperces são pêssegos pequeninos, quero é um simples que perceba estas coisas.

Um dia, minhas caras alforrecas, a magia acontece: livres que nem um passarinho, encontram o gajo ideal. O gajo que parece ter sido feito à medida das vossas exigências, o enviado especial de deus para satisfazer todos os vossos desejos e para fazer de vocês a mulher mais feliz do mundo.

E o que é que vocês sentem?
*badum tsssss*
Asco!

No more, no less: o gajo ideal existe, mas é mais fácil vocês imaginarem-se a ter uma noite louca com o Marco Paulo do que com a criatura em questão, porque ele é uma seca. O gajo ideal não dá trabalho nenhum, não vos desafia, não vos dá motivos para resmungar, e isso torna-o num molengão insuportável aos vossos olhos.

Estúpidas como só as gajas conseguem ser, preferimos sempre os patetas que nos dão problemas e que inspiram dramas intermináveis. A pessoa imagina sempre um romance foficoiso mas, no final das contas, prefere o caos - e um amor de faca e alguidar.

sábado, 29 de outubro de 2016

vinte e nove de outubro de dois mil e dezasseis

Mais depressa desce jesus, em pessoa, dos céus para dar uns açoites nuns quantos do que os gajos percebem que aquela conversa de ah, eu até costumo ter problemas com as miúdas porque tenho a pila demasiado grande não cola.

A sério, atentem: NÃO COLA. NÃO PEGA. NÃO ATRAI.
Se estão a falar com alguém, tentem ser mais do que aquela pendureza minúscula que guardam nos boxers. Tentem ser interessantes, sinceros, engraçados. Tentem usar a cabeça de cima e, acreditem, o tamanho deixa mesmo de importar.

Se começam logo a insinuar que são portadores de um adamastor... 


socorro

Faltam quase dois meses, mas já vi lojas decoradas com enfeites natalícios e acabei de ver uma publicidade do minipreço a falar de uma mãe que está a preparar a consoada.

cinderela, a vingativa

Nunca fui de vinganças, mas também nunca fui pessoa de muita paciência - se há coisa que me chateia são as pessoas lerdas que, infelizmente, conseguiram tirar a carta de condução. Devia ser proibido.

Vinha para casa, com o humor instável dos últimos tempos - sério, esta pessoa canta, dança e bate palmas, mas no momento a seguir lembra-se de que o gajo também cantava, dançava e batia palmas, e começa a chorar baba e ranho que só visto! - quando vi um carro parado numa curva apertada e manhosa.

Isto irrita-me particularmente: gente que mete em risco a sua segurança e a dos outros e pára onde lhe apetece, sabe deus porquê, chateia-me mesmo a sério - se já não sabem o que andam a fazer na estrada, fiquem à lareira, pronto.

O velhote arrancou mal eu passei, cheio de pressa; coladinho a mim, preparava-se para ultrapassar, quando me ocorreu que ele não merecia. Aproveitando o facto de não vir ninguém no sentido contrário, meti-me a meio da estrada a andar a 40km/h...


... e abrandava um bocadinho mais de cada vez que, pelo retrovisor, o via bufar.
Provavelmente ele achou que eu sou só mesmo uma slow driver e não entendeu o porquê, mas eu diverti-me pra caralho. Ten points to gryffindor.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

sobre as saudades

[naquele dia, não queria vir-me embora: demorei-me no teu abraço, demorei-me em cada beijo. queria ter ficado ali, com a cabeça apoiada no teu ombro, para sempre. o sentimento de segurança, o carinho, a calma, estavam todos lá. naquele dia, queria ter ficado contigo.

quando me fui embora, olhei para trás: ainda me seguias com o olhar mas desviaste-o de repente. estava longe de imaginar que aquela era a nossa derradeira despedida, que aquele era o último beijo, a última vez que me sentia tão confortável com o corpo encaixado no teu. e tenho saudades: saber que não as posso matar, dói. saber que não sentes a minha falta, dói mais ainda - soubesse eu e ainda hoje não te teria largado.

ainda hoje estaria ali, alheia ao mundo, perdida no único sítio onde me senti realmente bem em tanto tempo: no teu abraço. ainda hoje não me teria despedido de ti.]

ainda do mesmo realizador de "vou fazer um taco e um ró x"

- menina, ajude-me a ir à casa de banho. meteram-me um cristel* porque eu já não obro há muitos dias!

*sim, um clister.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

é o seguinte

Tudo bem: eu compreendo que a grande maioria das pessoas que vão parar às urgências são suficientemente jovens para terem convivido com os dinossauros em saídas à noite, e eu não me queixo que, para muitos, a única forma de comunicação existente seja à base de fios de baba e jorros de ranho. A sério. Eu lido bem com isso.

Agora, plamordeus, quando me aparecem jovens simpáticos, capazes de ter uma conversa e que entendem que o turno está a ser particularmente caótico e que, por isso mesmo não é possível fazer as coisas com a rapidez que seria ideal, que compreendem, enfim, façam-me o favor de NÃO LHES DAR ALTA EM MENOS DE NADA!


A minha sanidade mental agradece.

tenho um bloco de notas no bolso só para poder dar autógrafos

Às vezes tenho a sensação de que as pessoas que me veem no hospital me reconhecem, que sabem que eu sou a cinderela. Porque outro motivo eu haveria de ver tantas mãozinhas esticadas, a tentar tocar-me, sempre que desfilo no corredor atulhado de macas?


Tímidos e discretos, os meus fãs pedem-me arrastadeiras, água, cobertores, ajuda para sentar, que chame o médico ou ainda, em tom mais ou menos ameaçador, perguntam-me quando é que vão ser atendidos - fazem tudo para que ninguém note que me conhecem. 

Eu sorrio e aceno com um ar discreto, também: a fama assenta-me bem.
e faço o que me pedem, que me fodo!

terça-feira, 25 de outubro de 2016

ohhhh, but it's too late to apologizeeee!

Não nos conhecemos há muito tempo, mas ganhou o hábito de me ligar: como passa a vida a enviar-me fotos dos gatos e diz tantos disparates quanto eu, as conversas com ele ocupavam-me a cabeça e faziam-me rir o bastante para que eu atendesse.

Ontem, disse-lhe que estava cansada, que queria ir dormir - ele não. A meio de uma viagem de carro, queria que lhe fizesse companhia, mas não cedi: argumentando que me levanto cedo e que os dias têm sido difíceis, desliguei. Não me apetecia falar, confesso, mas estava realmente cansada. No entando, lembrei-me de que tinha deixado um amigo pendurado quando atendi a chamada, e acabei por lhe responder e ficar a falar um bocadinho.

Aí, começou o rol de mensagens: que afinal não tinha ido dormir, que estava desiludido, que eu estava a gozar com a cara dele, que o tinha deixado pendurado para ir falar com outro, que o tinha magoado. O exagero provocava-me um misto de irritação e de espanto: não temos uma relação suficientemente próxima ou sólida para que ele me faça um drama destes. Em menos de nada estava, atónita, a explicar-lhe que não somos namorados e que não lhe devo nada. Só a muito custo não o mandei para o caralho.

Esta história não teria tido qualquer relevância se, num momento de lucidez, eu não me tivesse dado conta de que eu e ele somos iguais: quantas e quantas vezes não fiz exatamente as mesmas perguntas? Quantas e quantas vezes eu não disse exatamente as mesmas coisas? Muitas. Tantas. Demasiadas.

Demorei uma (meia!) discussão a querer mandá-lo embora. A sentir repulsa, a não perceber o porquê de estar a ser posta em causa daquela forma: eu fiz isto durante meses e meses a fio. Dia após dia, deixava que as minhas inseguranças me levassem a fazer os mesmos dramas, pelos mesmos motivos absurdos. E ontem percebi o outro lado. Ontem percebi que fiz mesmo merda, que devia ter beatificado o gajo por me ter aturado tanto, em vez de achar que fui usada quando se fartou.

Ontem, percebi que eu não sou capaz de aturar por um dia o que o fiz passar durante meses - for real, não é mesmo exagero. Por isso, e já que agora estou a sentir-me particularmente culpada, imaginem-me a chorar abraçada a um frango.


Este gif não faz sentido neste post, tal como a minha atitude neste mundo. Ah pá.

dos criadores de «vou fazer um taco»

- então e agora vou fazer um ró x, não é? e depois não tenho de o levar para baixo? como é que o sô doutor vê a minha chapa?


É isto que as pessoas fazem no hospital: tacos e ró x.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

it's a little bit funny

Sempre que digo a alguém que tive um turno difícil, que tinha sido dia de casa cheia nas urgências, a primeira pergunta que me fazem é:

- então, muitos acidentes?

... porque toda a gente imagina que o que mais se vê nas urgências são ambulâncias a chegar com pessoas semi-desfeitas e orgãos ao pendurão quando, na verdade, na grande maioria das vezes, estão só cheias com obstipações, dores de barriga, de costas, de cabeça, falta de sono, e cenas do género.

a paz no meio do caos

As pessoas desiludem-nos porque nós deixamos: convencemo-nos de que elas podem ser mais e melhor, de que podem ser os nossos super-heróis e salvar-nos das tormentas que parecem não cessar. Mas não podem: ninguém nos pode salvar nos dias maus, ninguém nos pode tirar do inferno, muitas vezes criado por nós, em que vivemos, ninguém nos pode apagar o passado nem acabar com a maré de azar em que parecemos ter mergulhado.

É um erro achar que uma pessoa pode ser mais do que uma pessoa: se esperarmos que alguém desempenhe um papel heróico na nossa vida, vamos mesmo desapontar-nos. Os super heróis são os outros: o amigo que fez mais de 100km e passou duas horas a ver-me chorar, a amiga que me deixa acampar no sofá dela, a todos os que mal me conhecem no hospital e me encheram de abraços e beijos inesperadamente. Esses são os verdadeiros heróis: aqueles de quem eu não esperava absolutamente nada e, só por isso, não poderiam ter-me surpreendido mais, não poderiam ter-me feito melhor. E devolveram-me o ânimo: caramba, não estou sozinha! Há sempre mais e melhor no mundo do que aquilo que somos capazes de ver quando estamos em desespero.

E por isso tudo, obrigada. Obrigada a todos.

they know better

Minha querida, vais aprender, ao longo da vida, a ser mais filtro e menos esponja.

Detesto as pessoas exatamente na mesma medida em que sou apaixonada por cada uma delas.

every single day

- olhe, avisaram-me agora de que tem mais um exame para fazer. vai sentar-se naquelas cadeirinhas ali à frente, já a chamam para fazer a TAC, está bem?
- vou fazer um taco para quê?*

* esta confusão tac-taco é o pão nosso de cada dia, mas tem mais piada quando se trata de pessoas jovens, como era o caso.

domingo, 23 de outubro de 2016

os meus preferidos são estes

Um jovem de 95 anos, com uma vivacidade de fazer inveja, uns minutos depois de ouvir uma conversa entre mim e uma enfermeira, a propósito dos banhos, chama-me:

- ó menina, eu queria falar com a menina dos banhos.
- diga...
- é com a menina dos banhos! é você?
- posso ser, diga lá.
- é que eu estive a pensar... o banho fica para amanhã, está bem? 


gajas

A pessoa que choraminga e se lastima porque vai passar o fim de semana trancada em casa e isso é, claramente, demasiado tempo para pensar, é exatamente a mesma pessoa que recusa convites para sair porque isso implica despir o pijama e lavar o cabelo antes da hora a que tencionava fazê-lo.

(a preguiça deveria ser um direito em dias de chuva)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

só para informar

Estou viva, ainda que não necessariamente de boa saúde - não abandonei o blog nem me esqueci das minhas obrigações de cinderela, mas preciso de tempo. Volta e meia, viro a vida do avesso. Volta e meia, choro outra vez.

Estou nessa meia volta: na volta das lágrimas.

Mas passa, não passa? Claro que sim.

(até já.)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

nunca pensei ser capaz de me apaixonar por um rapaz 4 anos mais novo


Mas olhem, aconteceu. Já tenho o casamento e o nome dos quatro primeiros filhos planeados, só falta ele saber que eu existo.
E cantar para mim todos os dias.

domingo, 9 de outubro de 2016

era uma vez uma música estúpida que contava a minha história


E era esta.

se ainda valesse a pena falar, era isto que lhe diria.

Quando penso em ti, penso sempre no nosso início. Na amizade leve, sem grandes pretensões, que tínhamos - as conversas de horas e horas, as gargalhadas, as partilhas, a curiosidade crescente. Lembro-me da forma lenta, leve e doce como os sentimentos se foram instalando. Na forma como, quando dei por isso, estava completamente apaixonada por ti, ainda que isso nem sequer me parecesse uma hipótese viável, coerente. Não fazia sentido nenhum, mas fazia-me feliz e isso bastava.

Quando penso em ti, penso sempre nessa parte boa e feliz da nossa história absurda - depois, vieram os primeiros dramas. Veio a minha insegurança meter tudo em causa, veio a minha impulsividade minar os teus sentimentos, a forma como me vias. E tinhas razão: entendo-o agora, com a clareza que só a distância permite. Eu não sou boa a gostar nem sou boa de gostar: os meus medos, a minha insegurança, tornam-me numa pessoa doentia de que eu própria fugiria a sete pés. Desculpa. Mil desculpas nunca chegarão para expressar o quanto lamento o que nos fiz. Mas está feito.

Quando penso em ti, tento nunca pensar no facto de me teres deixado a tentar sozinha. Tento não me lembrar de que não te esforçaste o suficiente, tento não pensar que poderia ter sido diferente: abandonaste-me ainda antes de teres motivos para isso. Nunca foste capaz de lutar, um bocadinho que fosse, porque deste a batalha por perdida ainda antes de começar. Tento não pensar nisso porque quero guardar só o que tenho de bom de ti.

Passaram-se praticamente dois anos e parece uma loucura que tenhamos acabado assim: a vida trocou-te as voltas de repente. Puta. Se há pessoa que não merece nada do que lhe aconteceu, és tu. Não mereces tanta dor, tanto azar, tanto desespero. Não mereces mesmo, acredita. Mas queria que tivesses notado que, durante todo este tempo, estive a tentar que percebesses que eu continuaria aqui, tal como naquele início em que eu penso sempre. Estaria aqui sempre, porque acredito que vales a pena. Acredito que és mesmo uma excelente pessoa, mas falhaste demasiadas vezes comigo.

Perdi a conta às vezes em que acabei a chorar por tua causa - ainda agora, neste momento, o faço. No dia em que me disseste, pela primeira vez, que já não sentias nada por mim, achei que te poderia reconquistar: foram as saudades daquele início que me prenderam, durante meses, que me mantiveram firme na minha decisão, ainda que me fizesses chorar dia sim, dia não. Um dia cansei-me e fui à minha vida: acreditei que a nossa relação teria muito a ganhar se eu conseguisse distanciar os meus sentimentos de ti. Fiz um esforço para conseguir seguir em frente e, quando consegui, finalmente, cometi o erro crasso de achar que agora tínhamos tudo para recuperar a mesma amizade despretensiosa de antes: ao invés, perdi-te. 

O que sinto por ti neste momento é um misto de preocupação, irritação e saudade. Estou furiosa contigo! Mas, mesmo assim, não há um único dia em que não me pergunte se estás bem. Não há um único dia em que não olhe ansiosamente para o telemóvel à espera de notícias tuas: fazes-me falta, caramba. Fazem-me falta as tuas chamadas, as tuas palavras, as tuas mensagens tolas e doces ao mesmo tempo. Faz-me falta saber que existes na minha vida.

Depois de dois anos, perder-te dá-me uma sensação de vazio que não consigo explicar - mas não me deste alternativa. Passei semanas a tentar falar contigo, a tentar entender-te, a tentar ser paciente - mas, caramba, foram semanas e semanas sem resposta. Chamadas que nunca são atendidas, mensagens a apelar a que, pelo menos, me digas que estás bem, mas que nunca são retribuídas - não é justo, não faz sentido. Disse-te tantas, mas tantas vezes, ao longo destes dois anos, que nada me magoava mais do que o desprezo - não estava a brincar, Ricardo. 

E foi assim que acabei a despedir-me de ti - disseram-me uma vez que, se quisesse realmente ir embora, não diria nada. Ia e pronto. É verdade: tudo o que te disse foi, numa última tentativa, no auge do desespero, para te tentar fazer perceber que acabarias por me perder se não te deixasses de birras absurdas. Curiosamente, preferiste perder-me.

Apaguei tudo o que tinha de ti, tudo. Registos de chamadas, mensagens, fotografias, o número. Tudo o que me resta de ti são memórias que só o tempo tem o poder de apagar: quis garantir que nunca mais tentaria contactar-te. Que seria capaz de fazer contigo o que fizeste comigo: mas dói, dói para caraças. 

Dizer-te adeus era a última coisa que eu queria - se há pessoas boas, pessoas que eu acredito que vale a pena manter na minha vida, tu és uma delas. Ou és A Pessoa; sei que nunca te vou esquecer, a ti e a todas as coisas que me fizeste perceber sobre mim mesma: terias sido a pessoa certa, sim, mas nunca te esforçaste para o ser. E eu lamento isso, do fundo do coração - especialmente hoje que, no meio de um vale de lágrimas, me lembro do nosso início, tão bom, tão leve, tão simples - e sinto ainda mais a tua falta.  

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O meu problema é que eu continuo a não me achar merecedora das coisas boas - ainda estou aqui a achar que é muito bem feito que tenha acabado assim, que mereço cada lágrima que me cai compulsivamente dos olhos - eu e a minha mania de gostar das coisas, eu e o meu vício de acreditar na felicidade.

Eu nunca tive sorte: não nasci para viver contos de fadas e para ser feliz por aí. Já devia ter aprendido que tudo o que é bom tem um prazo de validade muito curto na minha vida.
E já devia saber que era exatamente assim que ia acabar.

e já arruinei tudo

Deveria existir um prémio nobel atribuído a pessoas que tivessem o dom de estragar tudo quanto lhes fizesse bem. 

Era a única forma que eu tinha de ganhar alguma coisa na vida.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

dia sim dia não

Sentei-me à beira mar, a tremer de frio - de todos os lugares do mundo, este continua a ser o meu preferido nos dias em que não sei de mim. Como hoje.

Apetece-me perdir-te desculpa, uma e outra vez, todos os dias, por ser um poço de problemas, por não saber como ser tão leve e tão simples como tu, por não conseguir encarar os sentimentos de frente e deixar-me ir: a vida é um ir e vir, como as ondas deste mar que vêm e vão ao encontro dos meus pés, mas nunca chegam a tocar-me a alma, e eu temo isso em ti. Temo não suportar ver-te ir embora no dia em que perceberes que eu não valho o esforço.

O frio enregela-me os ossos: perco-me num casaco demasiado grande para mim. As mangas, compridas demais para os meus braços, deixam a descoberto as pontinhas dos meus dedos que procuram, ansiosamente, as tuas mãos para aquecer as minhas. Mas não estás: frio como outubro, gelado como a água do mar, permaneces demasiado longe para que eu te possa tocar. Tenho medo de ti na mesma medida em que te admiro: tudo em nós é contraditório e, quando ninguém está a ver, admito a mim mesma que temos tudo para acabar mal. Mas tento, ainda assim, que acabe bem.

Culpo-te um bocadinho mas apetece-me pedir-te desculpa logo a seguir. Sou má a confiar, em ti e em mim; olho-me ao espelho e tenho mais medo outra vez - medo de que os meus modos simples te envergonhem, medo de que te sintas embaraçado ao meu lado, medo de nunca ser suficientemente boa, inteligente, bonita. Medo de que percebas que eu não sou mais no mundo do que qualquer um destes grãos de areia que o vento arremessa contra mim. Medo de que percebas de que sou nada e que nada valho, embora me sinta tudo ao teu lado. Tenho medo de gostar de ti - medo de que o teu espírito livre e leve te arraste para longe de mim se algum dia eu gostar demais. E ainda não gosto?

Sentei-me aqui hoje porque não sabia de mim, e aqui continuo porque não sou capaz de me achar: tenho um milhão de perguntas na cabeça, um milhão de dúvidas que mal me deixam respirar. A vontade de te fugir só é equiparável à vontade que tenho de esquecer o mundo e de me perder nos teus braços: trouxeste-me a luz de volta, depois de meses e meses de trevas, e é exatamente isso que me faz temer-te tanto. Sinto que não me entendes, apesar de tudo. Sinto que ainda não percebeste a raíz das minhas inseguranças e o quanto eu preciso de alguém que me segure na mão e não largue até eu ganhar pé.

Desculpa, mas gosto de ti - e isso é quase como estar perdida, em alto mar, e nunca saber muito bem se me vais salvar ou se me vais afogar.
É por isso que não posso ficar.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

my merda de feitio and i, take 2

O problema é que eu não me limitei a cancelar os planos para o fim de semana - eu também já acabei com tudo o que há entre nós. Na minha cabeça, já encontrei 928920 frases perfeitas e essenciais para que ele entenda exatamente o porquê de eu estar zangada e de querer mandá-lo de volta para o útero da mãezinha dele, e isto vai durar exatamente até ao momento em que eu ouvir a voz dele.

Embora me apeteça mais cair num rio cheio de crocodilos do que acabar com isto

my merda de feitio and i

Nunca senti a minha instabilidade e a minha insegurança tão à flor da pele como desde que ele apareceu na minha vida: estou sempre a querer ir e a querer ficar ao mesmo tempo. Estou sempre zangada  e derretida em simultâneo; nunca sei o que pensar e, às vezes, acho que estou melhor assim. Outras não.

Os fins de semana servem-me de reforço positivo nos dias maus - e hoje devia ser um dia bom mas estou estupidamente desapontada outra vez e já decidi mandá-lo às couves. Ele ainda não sabe que cancelei os planos na minha cabeça, porque o plano é o mesmo de sempre: fugir antes de me magoar. E, inevitavelmente, magoar-me exatamente por isso.

lógica

Quando acharem que as gajas são complicadas, lembrem-se disto:

Há um espécime, do sexo masculino, de quem eu gostei mesmo a sério durante quase dois anos. O moço teve - e tem - problemas sérios e eu fiquei ali, firme e segura de que nunca o abandonaria, desse por onde desse. Aturei birras dele, semanas sem me falar, por compreender que a situação era complicada e eu estava disposta a continuar ali. Porque gostava dele e porque nada mudava entre nós.

Foram semanas, meses, a chorar baba e ranho por causa de um tipo que se comportava de forma muito pouco simpática em relação a mim. Foram meses em que corri atrás dele para o tentar confortar quando eu própria precisava de colo, numa altura em que a minha vida estava um caos.

Mandou-me embora: continuaríamos amigos mas ele já não gostava de mim como antes. Queria que seguisse em frente; resisti, ainda assim, durante meses. Ele é parvo mas vale a pena, juro que vale; apesar de tudo, eu compreendia-o. Mas um dia cansei-me: não dava para continuar a bater com a cabeça nas paredes por alguém assim.

Segui em frente e ele foi o primeiro a saber; não soube lidar com o facto de eu lhe ter dito que os meus sentimentos em relação a ele tinham mudado, mas disfarçou. Ficou enciumado quando soube que tinha começado a sair com outra pessoa, mas também se aguentou. Depois percebeu que as coisas tinham avançado, que estavam mais sérias e que eu tinha, finalmente, conseguido arrumá-lo na posição em que ele me pediu que o colocasse.

Mal me fala desde então.

senti-me um arrumador de carros

Acreditem quando vos digo que é mais fácil lidar com um surdo-mudo do que com um alemão cujo vocabulário português não vai além do obrigado e do porco.

E não, não ousei perguntar como é que alguém descobriu, num serviço de urgências, que o homem sabia dizer porco. Achei melhor não descobrir.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

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[no dia em que te despediste com um adoro-te, pela primeira vez, tive medo.

nunca te disse, mas sou muito esquisita com as palavras; mais do que qualquer outra coisa, gosto que estejam arrumadas, ordenadas, cada qual no seu lugar, cada qual no seu tempo. e tive medo - arrepiei-me - porque senti que era cedo demais. porque temi que, com a pressa de sentir, sentíssemos tudo de uma vez e nos esgotássemos as hipóteses. tive medo de não ser sincero - mas depois percebi o que querias dizer.

sempre odiei casais pirosos - desses que andam por aí de mãos dadas, que se beijam em público, que se abraçam só porque sim. achava desnecessárias e exibionistas as demonstrações de carinho à frente de toda a gente: depois apareceste tu e deste-me a mão. apareceste tu e abraçaste-me enquanto eu estava a ouvir a tua banda preferida. apareceste tu e beijaste-me, no meio de tanta, de toda, a gente, só porque sim. apareceste tu e começámos a ser um casal piroso. e eu gostei disso.

apareceste tu e não me vou esquecer de ti: não me vou esquecer dos abraços prolongados, carregados de saudade, de carinho, de desejo. apareceste tu e não me vou esquecer dos teus beijos na testa, na bochecha, no cabelo. apareceste tu e prometo guardar para sempre os sussurros, trocados quando nem seria preciso sussurrar, só porque tudo parece melhor quando o mundo somos só nós. apareceste tu e eu tenho medo todos os dias, medo de me ligar demasiado, medo de me magoar outra vez, medo da incerteza de um vamos ver no que dá. medo de que percebas que mereces melhor contrabalançado com o orgulho de, ainda assim, me teres escolhido. 

foi quando apareceste que aprendi que há coisas que têm de ser ditas na hora em que se sentem, sem guardar para depois: amanhã talvez eu já não goste de ti, mas hoje sei que foste a bonança por que eu tanto ansiei depois de meses e meses de tempestade. sei que foste o melhor possível em muitas - tantas - situações. e obrigada por não teres desistido de mim, mesmo depois de perceberes que sou terreno minado. obrigada.

mais tarde, também me despedi com um adoro-te. e acredita quando te digo que adoro mesmo.]