terça-feira, 25 de outubro de 2016

ohhhh, but it's too late to apologizeeee!

Não nos conhecemos há muito tempo, mas ganhou o hábito de me ligar: como passa a vida a enviar-me fotos dos gatos e diz tantos disparates quanto eu, as conversas com ele ocupavam-me a cabeça e faziam-me rir o bastante para que eu atendesse.

Ontem, disse-lhe que estava cansada, que queria ir dormir - ele não. A meio de uma viagem de carro, queria que lhe fizesse companhia, mas não cedi: argumentando que me levanto cedo e que os dias têm sido difíceis, desliguei. Não me apetecia falar, confesso, mas estava realmente cansada. No entando, lembrei-me de que tinha deixado um amigo pendurado quando atendi a chamada, e acabei por lhe responder e ficar a falar um bocadinho.

Aí, começou o rol de mensagens: que afinal não tinha ido dormir, que estava desiludido, que eu estava a gozar com a cara dele, que o tinha deixado pendurado para ir falar com outro, que o tinha magoado. O exagero provocava-me um misto de irritação e de espanto: não temos uma relação suficientemente próxima ou sólida para que ele me faça um drama destes. Em menos de nada estava, atónita, a explicar-lhe que não somos namorados e que não lhe devo nada. Só a muito custo não o mandei para o caralho.

Esta história não teria tido qualquer relevância se, num momento de lucidez, eu não me tivesse dado conta de que eu e ele somos iguais: quantas e quantas vezes não fiz exatamente as mesmas perguntas? Quantas e quantas vezes eu não disse exatamente as mesmas coisas? Muitas. Tantas. Demasiadas.

Demorei uma (meia!) discussão a querer mandá-lo embora. A sentir repulsa, a não perceber o porquê de estar a ser posta em causa daquela forma: eu fiz isto durante meses e meses a fio. Dia após dia, deixava que as minhas inseguranças me levassem a fazer os mesmos dramas, pelos mesmos motivos absurdos. E ontem percebi o outro lado. Ontem percebi que fiz mesmo merda, que devia ter beatificado o gajo por me ter aturado tanto, em vez de achar que fui usada quando se fartou.

Ontem, percebi que eu não sou capaz de aturar por um dia o que o fiz passar durante meses - for real, não é mesmo exagero. Por isso, e já que agora estou a sentir-me particularmente culpada, imaginem-me a chorar abraçada a um frango.


Este gif não faz sentido neste post, tal como a minha atitude neste mundo. Ah pá.

2 comentários:

Agridoce disse...

Não tens de te sentir culpada. Tens apenas de aprender com isso e seguir em frente.

Muitas vezes, precisamos de estar nas situações para as conseguir compreender. Foi o caso e acho que te fez (e vai fazer) muito bem.

Marisa disse...

Às vezes são pequenas coisas que nos fazem aperceber de grandes do passado...