sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

sorte

O bom dos touchscreen - ou, pelo menos, deste telemóvel porque nenhum dos outros me fazia isto - é que num momento a pessoa está em chamada com alguém e, no momento seguinte, sem saber como, está a comprar um pónei num site manhoso. E depois a patrícia chateia-se, claro que chateia.

falo com animais porque já não posso com as pessoas

Estive mais tempo do que me orgulharia de admitir de cócoras, no meio de um passeio, a fazer festinhas a uma gatinha adorável e irrequieta. Enquanto falava com ela. Em frente a uma loja, ao ponto de a mulher ter vindo à porta.

Provavelmente, achou que eu tinha um atraso mental. Mal ela sabe que, nos dias que correm, vale mesmo mais conversar com gatos. Bah.

só isto

I'm strong on the surface, not all the way through. 
I've never been perfect, but neither have you.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

mensagens que não vou enviar

Desculpa - é a palavra que falta. Aquela que, apesar de tudo, merecias ouvir - achei que me doeria menos se te doesse um bocadinho a ti também. E depois achei que, se já não me doía a mim, me era permitido espetar as unhas na ferida; não pensei que ligasses. Não pensei que quisesses saber. Desculpa-me outra vez; eu sou estúpida, irremediavelmente estúpida. Estúpida na mesma conta e medida com que sempre gostei de ti. 

notas mentais

Da próxima vez que uma amiga minha estiver a beber um daqueles chás para cagar laxativos e me assegurar de que aquilo sabe a ice tea, não vou voltar a pedir para provar porque agora eu sei que a) aquilo é doce pra caralho e b) faz efeito.

bebam mais um copo

Há uma razão para eu ter escrito o último post - e a razão é que eu não quero realmente apagar o blog. Tal como aquelas pessoas que passam a vida a dizer que se vão suicidar mas nunca o fazem, porque têm medo de morrer; eu não quero ficar sem isto. Tem de ser, mas não quero.

Ontem à noite, quase criei outro, quase comecei do zero, quase senti essa liberdade para escrever tudo o que me vai na cabeça num sítio onde ninguém sabe quem eu sou. Mas, bem vistas as coisas, sempre o fiz mesmo sem a liberdade que confere o anonimato - quero que se foda. Convenci-me de que não o fazia porque não estava com cabeça para pensar noutro nome, noutro link, noutro nick. É mentira. Não o criei porque o meu blog é o quem é que deu erva à cinderela? e o meu nick é patrícia. Só isso. É aqui que eu pertenço, é esta a minha casa. E sim, a miss desapego, a miss quero-mais-é-que-vocês-se-fodam, apegou-se a isto. Desta vez gosta de onde está, com quem está, e não quer ir embora.

Claro que isto pode ser sol de pouca dura. Ou não. Não vos sei dizer por quanto tempo mais vou manter o antro, talvez um ano, talvez uma hora. Mais tarde ou mais cedo, vou ter mesmo de o apagar, mas não é já. Por agora, fico. Preciso dele. Se querem que vos diga, até de vocês preciso. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

crónica de uma morte anunciada

Ando por aqui desde 2010 e já perdi a conta aos blogs que tive. Este foi o que teve uma existência mais longa e, de certa forma, o que mais me marcou até hoje por tudo o que foi acontecendo nos bastidores - aqueles pormenores que vos escapam, pequenas histórias, grandes histórias. Foi palco de momentos importantíssimos dos quais ninguém se deu conta. Este blog já conta mais histórias do que eu.

Não posso dizer que o apago sem remorsos, seria mentira. Acredito que só um verdadeiro blogger entenda o que é realmente escrever um blog, a forma como cristalizamos momentos, dias, sentimentos e se torna fácil voltar a eles de cada vez que relemos aquilo que já nos tínhamos esquecido de um dia ter escrito. E, tenho de confessar, que fico com pena de tudo o que consegui construir aqui - lembro-me de ter ficado eufórica por ter conseguido chegar às 10 000 visitas num ano no meu primeiro blog. O quem é que deu erva à cinderela ultrapassou as 100 000 num ano e meio. Mesmo não se fazendo um blog de visitas, fico com pena, como é óbvio. 

O problema é que isto não era para ser assim. Perdi-lhe o anonimato com o passar do tempo - deixou de ser uma ou duas amigas a ler, para passar a ser do conhecimento geral que era eu a dona disto. Foi por um triz que nenhum dos meus familiares me encontrou, e eu sempre quis manter este espaço meu, à parte de todos. E hoje descobri que até já num dos computadores da associação de estudantes o estiveram a ler, o que é especialmente interessante tendo em conta que eu detesto 930329 em cada 5 pessoas que entra naquela sala. Portanto, meus amores, este é, provavelmente, o suicídio da cinderela.

Foi bom escrever-vos. Foi bom ter-vos desse lado. Ou então não - desculpem, mas já disse que sempre escrevi mais para mim. E lamento se nunca fui a boa da blogger que vos manda beijinhos e oferece uma cesta com shampôs da avon. Ou então também não lamento. Façam de conta que eu fui boa e guardem-me assim no espaço da memória que reservam para os bloggers. Se algum dia eu voltar e quiser que me encontrem, eu procuro-vos. Até já.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

short horror story

Chega sempre aquela altura em que eu acho que toda e qualquer pessoa que estacione a menos de três metros de mim vai passar o tempo todo a perguntar-se porque é que, com um bigode destes, eu não mudo o nome para ernesto, tiro a carta de pesados e ingresso numa carreira de camionista machona.

Paranóica que só eu, fui tratar disso antes que o dito bigode começasse a ganhar piolhos, rezando para que ninguém tivesse notado as estranhas semelhanças entre mim e um macho latino nos últimos tempos. 

Agora, imaginem o quanto me apeteceu fazer um corte suficientemente profundo na garganta para gerar uma fonte de sangue quando, pouco depois de ter chegado à escola, um amigo meu se sentou ao meu lado e disse foste fazer o buço!



Okay, ele reparou logo, por isso ele devia estar farto de se perguntar porque raio teria sido uma jovem fêmea dotada de uma barba rija que só a minha, e se eu nunca teria ouvido falar da existência do poder milagroso de uma gilete. Oh deus, eu nunca vou ser uma lady porque nasci para ser macho e não sabia, agora como é que volto a olhar para o moço, uhmmm?

Entretanto lá me explicaram que não foi nada disso, mas ele tinha andado à minha procura e disseram-lhe onde eu estava. Mas eu sou sensível, não podem fazer estas coisas comigo.

mensagens que não vou enviar

Se eu me fosse embora amanhã, não te arrependerias de teres sido tão estupidamente fraco?

refletindo

Desde que me lembro de mim que sempre quis viver noutro país - ou porque me apresentaram a frança muito cedo, ou porque percebi que não queria acabar a ouvir toy enquanto conduzia um camião. Eu sei, eu sei - não precisam de me bater. Não é por ser uma portuguesa portuguesíssima que vou acabar com bigode e uma monocelha farta, mas nunca fiando.

Sempre quis mudar de país, e nem é por embirração, nem pela crise, nem por nenhum desses motivos que agora move cada vez mais emigrantes - quero mudar-me por gosto, conhecer outros sítios, aprender outras línguas, escolher onde quero ganhar raízes em vez de me confinar ao país onde nasci.

Tenciono fugir mal possa, acabar com tudo, recomeçar. Depois de tudo o que tem sido a minha vida, preciso disso, preciso de uma mudança que faça tudo valer a pena. Ou, pelo menos, é isso que eu penso na maior parte do tempo. Às vezes, tenho medo. Tenho medo de me imaginar sozinha, num sítio qualquer do mundo, num mundo que não se parece com o meu, longe da redoma de vidro onde a minha mãe sempre me quis manter com medo que eu fosse raptada, violada e me extorquíssem os rins a sangue frio mal metesse um pé na rua; quero fugir, mas tenho medo. Quero começar do zero, mas tenho medo do que vou perder. Sei lá.

E, é certo, não me vou mudar amanhã e talvez nem faça sentido estar a preocupar-me com isto agora, mas há alturas em que temo não estar a fazer o que é certo. Não quanto à hipotética mudança, entenda-se, mas quanto a deixar os pontos nos is em tudo o que um dia terá de ficar para trás. As histórias pendentes, o que fica por dizer, por fazer. Por mais que isto, por enquanto, me pareça um futuro longínquo, eu sei que talvez já não seja tão longe assim e que é uma estupidez fazer as malas primeiro para depois andar a correr, de casa em casa, para atar as pontas soltas antes de partir. Queria atá-las já, mas para isso precisava que me deixassem fazê-lo. E, sobretudo, ainda que não o confesse, precisava que me dessem uma razão para não querer fugir. Pelo menos, sozinha.

querendo ou não

Acho que nunca vou conseguir compreender o que passa na cabeça daqueles casais que, logo a partir do momento em que têm a infeliz ideia de se tornarem um, se passam a amar para todo sempre, ámen, e a viver como se fossem gémeos siameses. Sério.

Não me peçam que entenda como é que alguém se deixa dominar ao ponto de deixar de estar com os amigos de sempre só porque o xuxuzinho lindo tem ciúmes e não gosta que o novo cachorrinho saia à rua sozinho. Neste caso, nem sei se o pior é o que proíbe ou o que se deixa proibir, mas talvez seja como a minha avó diz - tão ladrão é o que vai à horta quanto o que fica à porta - e este acesso de conísse aguda faça com que se mereçam.

O que eu ainda pagava para ver era alguém a tentar proibir-me de falar fosse com quem fosse. Entrava em órbita em menos de nada.
Mas eu até acredito que seja por isso que não tenho namorado. Por isso e por ser demasiado perfeita.

essencialmente isto

Se há dia em que eu dava tudo para o abraçar, é hoje. Sei lá - talvez seja um medo infundado, aliás, muito provavelmente até é e vale mais assim, mas não consigo não estar assustada. Não tenho medo de médicos, tenho medo das respostas que eles me podem dar. E hoje estou especialmente assustada.

É só.

um bocado disto


and I would go home and put on a sweatshirt with my eyes closed,
deny myself the right to be shown myself,
because I didn't dare want to insinuate beauty
in regards to something so insulting as my body.
But I mean we all end up with our heads between our knees
because the only place we'll ever truly feel safe
is curled up inside skin we've been taught to hate
by a society that shuns our awful confidence and feeds us our own flaws
and sometimes when I need to meet the me that loves me, I can't find her

Mas por acaso eu até era capaz de dizer estas coisas bonitas sobre o amor próprio se tivesse aquela cara de boneca e o meu único problema fosse um par de mamas impossíveis de ver a olho nu.

ouve-se aqui às vezes

Can you tell from the look in our eyes?
We're going nowhere

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

evil

Não faço ideia do quão mal isto vai soar, mas eu sou a pessoa mais esquisitinha que pode haver no que toca a necessidades fisiológicas. Se ouvirem-me mijar já é o drama, no dia em que alguém me ouvir cagar, apanho um esgotamento nervoso.

Adiante. Hoje entrei na casa de banho da escola e percebi, pelo som, que alguém estava a fazer força. Ao início achei que estivesse a chorar, mas a avaliar pelo cheiro de cão morto há quinze dias - okay, isto sou eu a exagerar -, e o som do ploc final, percebi o que se passava. E a mocinha continuava; ele era a força, ele era o ploc ploc ploc e com sorte até de cu lavado saiu.

Quando saí da casa de banho, descobri que a gaja era uma atoleimada que me enganou muito bem. Juro. Passei mais de três anos convencida de que ela tinha um atraso mental - e a sério que isto não sou eu a ser má, achava mesmo -, até que me disseram que a miúda é normalíssima, sofre é de mimo a mais. E ela é estranha que dói, fala sozinha, mete-se a comer maçã no meio das aulas, mesmo à descarada, e o cabelo parece um piaçaba. Não obstante, desde que emagreceu, anda convencida que dói.

Quando ela passou por mim no bar, menos de cinco minutos depois da real cagada, sorriu-me. Podia ter-me limitado a retribuir o sorriso, mas claro que a patrícia é um bocado cabra e tinha de estragar a festa à moça. Sorri-lhe e perguntei então, já está?

Desapareceu-me da frente que nem um peido ao vento.

para não dizerem que a má sou eu

Ah e tal, é a patrícia que tem mau feitio e implica com o pobre stôr, que de certeza que é um excelente homem, coitado, e aquela cabra é que o pinta um diabo. Então hoje, durante uma aula, temos esta conversa:

- vens ao apoio, patrícia?
- não stôr, hoje não posso mesmo.
- ah, pois... compreendo. trabalho é trabalho, tens de ir ganhar a vida.

E sim, tinha segundas intenções. E sim, estas boquitas são o prato do dia.

à laia de indireta

Não acredito nessa teoria de que há coisas que não têm explicação - creio que quem disse isso foi um conas qualquer que se cansou de procurar respostas. Eu nunca me canso de as procurar - ou canso, mas não desisto porque não consigo. Sou incapaz de arquivar alguma coisa sem a ter bem resolvida, bem espremida, sem compreender o que aconteceu.

Não me lixem; há uma explicação para tudo. O que, na maior parte das vezes, não há, é alguém suficientemente corajoso para a dar a si mesmo, quanto mais aos outros.

os outros

Vão andando por aí, sem saber para onde e, talvez por isso, não sabem que começam a ficar atrasados. Desconhecem, ou fingem que desconhecem, que o tempo deles não é eterno e que um dia terão de traçar a rota em que nunca quiseram pensar; não têm pressa, coitados, porque ainda vivem na ilusão de que nunca precisarão de escolher - ou lhes passará o que sentem, ou o destino se encarregará de fazer o que for melhor. Estúpidos. Burros. Anormais. Passam a vida a caminhar em sentidos opostos só para terem o prazer de se cruzarem - estúpidos, burros, anormais, outra vez. Fazem de conta que não sabem que seriam mais felizes se caminhassem lado a lado. Pode ser que um dia descubram e já seja tarde de mais. 

magoou

 - outro livro? qualquer dia estás a ler o cosmos como o pt.

Eu quero ler o cosmos.
Nem eu sei o que raio ando a fazer com a minha vida.

planos para depois

Da próxima vez que estiver alguém a partilhar comigo a bo tem mel, vou meter-me a cantar foi a emeeeeeeeeeeeeele. Eu canto mal como o caralho, creio que seja suficiente para os fazer parar com a música de uma vez por todas.

sobre isso

I don't want to live a lie that i believe,
Time to do or die

confissões

Não tenho ciúmes por ele olhar para outras ou por meter gosto em tudo quanto sejam gajas bonitas. Não são, de todo, ciúmes - mas não me podem pedir que não fique nem um bocadinho triste por saber que sou menos do que nada ao lado delas. Por saber que nem com mil plásticas e 3 mil anos de dieta, eu chegaria sequer a ser a sombra delas. 

domingo, 26 de janeiro de 2014

portuguesíssima

Eu sou tão unhas de fome que nem sequer me posso queixar de falta de dinheiro mas, mesmo assim, quando chegou a hora de comprar um telemóvel, fiquei ali perdida no meio entre o que eu realmente queria e o que achava que devia comprar, porque me parecia um desperdício de dinheiro gastar mais de 100€ num. Sou forreta, já disse.

Ia ser eu a pagá-lo, mas entretanto os meus pais quiseram oferecer-mo - e, mesmo não tendo sido eu a pagar, fiquei capaz de trepar paredes por o bicho ter custado quase 200€. Sou forreta, já disse.
Acabei de descobrir que na the phone house custa 300. Okay. Ao menos isso.

dois lados da moeda

Na cabeça da minha família, a coisa funciona mais ou menos assim:

primeiro, eu tenho de crescer e deixar de ver o mundo pintado de cor de rosa (uhm, uhm, tudo a ver comigo), e tornar-me mais responsável, e fazer tudo em casa (patrícia, a fada do lar, de certeza que faz mais do que muito boa gente), e parar de levar a vida a rir como se tudo fosse perfeito (esta é, a meu ver, a melhor) porque vou fazer 19 anos.

depois, sempre que eu estiver sozinha em casa, a minha avó vai ligar-me de meia em meia hora para ter a certeza de que eu ainda estou respirar, não peguei fogo a nada nem fui violada e raptada por cinco traficantes de orgãos, porque eu não dei importância à mãe quando, antes de sair, me disse que não abrisse a porta a estranhos, e ainda me pergunta se não tenho medo de estar sozinha e não quero ir para casa dela, porque afinal ainda só tenho 18 anos.

O que vale é que ao menos isto sempre me dá para rir.

lord is testing me

Antes de sair, o meu pai deixou o quarto dele, o meu, a casa de banho, as escadas e a sala empestadas com o perfume dele. Tudo bem, eu gosto do cheiro, por acaso até fui eu quem lho deu.

Pouco depois, descubro que wild bicho usa o mesmo perfume. Okay. Tudo bem na mesma. Eu sou forte, eu aguento a ideia de o gajo cheirar ao meu pai, ou de o meu pai cheirar ao gajo, idek. O meu pai e metade da casa. 

indeed

Uma das funções do skype é encurtar distâncias, a outra é aumentar as saudades.

pasmem-se

Os meus resumos de fq já têm 7 páginas. O que me falta resumir é, praticamente, tanto quanto resumi até agora.
Nada de ler. Nada de escrever. Nada de respirar. 
Quero acabá-los hoje.

sábado, 25 de janeiro de 2014

reflexões de uma mente perturbada

Sempre tive o vício, um pouco destrutivo, de associar pessoas a músicas, a sítios, a objetos, a cheiros. E às vezes, imagine-se, até à roupa que tinha vestida no dia em que aconteceu isto ou aquilo. É uma estupidez, bem o sei, mas não consigo evitá-lo.

Sofro de uma memória demasiado boa, já disse. Tem dias em que eu dava tudo para não me conseguir lembrar de todos os pormenores, de não conseguir fazer essa viagem ao passado de cada vez que fecho os olhos, só para me voltar a sentir estúpida e impotente por saber que tudo podia ter sido diferente se eu mesma tivesse sabido mudar isso. Dir-me-ão que é passado, que não devia vivê-lo como se o pudesse alterar - mas sabemos que essas não são mais do que palavras vazias que só servem para preencher o silêncio com meia dúzia de frases feitas disfarçadas de conselho sábio.

Não controlamos as memórias, são elas que nos controlam a nós. Deixam-se estar onde estão, intactas, inofensivas, até que nos atacam no pior momento. Saltam do fundo do baú, juntamente com o casaco que usámos naquele dia ou a carta que escrevemos e nunca chegámos a enviar. Saltam bem lá do fundo do baú, tal qual como no dia em que as lá arquivámos, porque as putas das traças só roem o que não devem. E lá vamos nós outra vez. E lá queríamos nós ir outra vez, voltar a esse passado onde nos perdemos. Não vivemos lá... mas se não te levar comigo para o futuro, tenho medo de um dia querer voltar aqui.

oh lord

Depois daquele século e meio que andei a ler o ensaio sobre a cegueira, li o apocalipse nau em três dias. E estava tudo muito bem, até ter decidido voltar ao saramago e meter-me a ler o todos os nomes. Não páro de pensar no ensaio sobre a cegueira, geez.

desastre eminente

Acredito que alguns de vocês achem que exagero quando digo que sou isto e aquilo - mas a sério, a patrícia fora do blog é a mesma coisa disparatada, desbocada e com propensão para o desastre que aqui se apresenta. Demasiado desbocada, demasiado desastrada.

Ainda esta semana, estava com a patrícia e um rapaz da minha turma, quando passa por nós um casalinho daqueles que parecem estar a sugar a alma um ao outro de cada vez que se beijam. E então eu, anormal como sempre, e porque me viciei nesta expressão desde que li o amor é fodido, comentei:

- olha, acabou a endoscopia.

E foi então que, inesperadamente, o dito rapaz que eu ia jurar estar meio adormecido, atira com um:

- o meu avô morreu a fazer uma endoscopia. o mês passado.

...
...
...
...
...

cinderela, a desequilibrada fada do lar

Às vezes, a ideia de acordar um dia com uma personalidade renovada, que se assemelhe à de uma pessoa normal, parece-me extremamente apetecível. Isto porque, entediada que só eu, tenho estado a fazer resumos de fq porque esta parte é teórica que eu sei lá e só percebo as coisas se escrever. Estava tudo a correr bem, até ao momento em que a minha caneta azul clarinho, aquela com que escrevi tudo quanto era títulos e conceitos, foi com os porcos. Claro que podia, facilmente, substituí-la, mas sou demasiado maníaca para não ficar chateada porque não me parece bem essa mistura de cores.

Amuei. 
Vou fazer um bolo.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

entende-o como quiseres

Não fiques triste, o teu nome não é pedro. Desculpa lá se te assustei, mas eu tinha de te chamar qualquer coisa, não é? Mas pedro não és tu. 
Ou talvez sejas um bocadinho. Talvez.

apedrejem-me

Ainda gostava de entender como é que é possível que existam pessoas da minha idade que já pensam em ter filhos, e os nomes que lhes hão de dar e tudo mais. Havia de ser bonito eu ter um monstrinho de berço agora - além de ter de o apelidar de jesus, nem quero pensar nas desgraças por que a criança havia de passar.

Eu, que consegui a proeza de deixar um cato morrer à sede. E um periquito também.
Acho que me fico por um tamagochi. 

e são lindos pra caralho

Andei, durante anos, a tentar convencer os meus pais a deixarem-me ter um gato. A principal razão, diziam eles, era a mãe ser alérgica, mas aquilo sempre me cheirou a pacto com o diabo, porque nenhum dos meus progenitores algum dia partilhou do meu amor pelos bichos.

Então, wild bicha passou anos a mandar indiretas à mãe, a falar de gatinhos, a levá-la para sítios com gatinhos, a pedir para ter um. Um dia, resultou. Dom kiko mora cá em casa há um ano e meio, às vezes desaparece e um dia apareceu com metade do rabo cortado, misteriosamente. Já não me bastava ser gato e, por isso mesmo, não ter gatinhos, como ainda é gay - e, a não ser que a porra da lei da co-adoção seja aceite, o meu objetivo primeiro, aquele de ter 20 gatos, está quase destruído. 

Ou não. Porque a vingança tardou, mas chegou e, à falta de melhor, a casa da minha avó transformou-se num restaurante para gatos. Ah e tal, tens um gato e não te queixes? Brincadeirinha. Já vai em oito.

reflexões de uma mente perturbada

Tornei-me, com o tempo, na pessoa fria que jura a pés juntos que o amor só é bonito nos filmes, e que acha uma crueldade tremenda não se mostrar o que acontece depois do fim, depois do "foram felizes para sempre", porque o para sempre não existe, muito menos associado ao felizes. 

Ou se calhar sim. Se calhar o felizes para sempre inclui as discussões sobre quem se vai levantar para apagar a luz da varanda, sobre quem faz o jantar e quem lava a louça. Se calhar, inclui momentos de raiva, momentos de incompreensão. Se calhar, vale a pena, e um dia damos por nós de botas de borracha, ao fundo do quintal, a plantar couves e a falar mal do tempo. Do que que tínhamos sido um dia, já pouco restarava - caíram-nos dentes, ficámos grisalhos. Depois de velhos, enrugados, carcomidos pelo tempo, pouco mais nos havia de restar, do tempo em que éramos nós, do que o olhar, que os olhos não envelhecem. E então, havíamos de olhar um para o outro e não entender como conseguimos suportar tanta coisa, durante tantos anos e, ainda assim, não poder estar mais feliz com essa decisão. 

curta e grossa

O mal do mundo não é existirem gordas.
O mal é existirem gordas que não fazem ideia que são gordas.

eu tenho sentimentos


Um amigo meu encontrou esta imagem no fb e decidiu que era uma boa ideia identificar-me. Mas estou quase certa de que não foi uma indireta nem nada. Só se lembrou de mim por eu ser querida e adorável, nada de mais.
Nada.
De.
Mais.


3 anos antes, em frança

La folie me guette,
je suis ce que je fuis.

A verdade e as saudades. É só.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

cartas que não vou enviar

Já desisti de tentar explicar aos outros porque é que gosto de ti. Em parte, porque não lhes interessa. Em parte, porque eu também não sei. Não entendo como é que isto foi acontecer - juro que estou tão perdida quanto tu.

Não me lembro de como aconteceu. Lembro-me do dia, mas não do mais importante - como. Essa razão que me escapou da memória. Acho que foi distração; não sei se te apanhei distraído, ou se fui eu quem se distraiu - bastou um momento, um descuido, puro azar, e eu já nem me lembrava de quem era nem o que queria. E eu acho que nos perdemos sempre um bocadinho no dia em que nos começamos a apaixonar, mas, nesta altura, já nem sei bem onde estou. É um tanto ou quanto parecido com estar a dormir em pé, transformarmo-nos em zombies, ou então em simples acéfalos que não entendem nada do que se passa, mas estão felizes. E está a tragédia montada. A verdadeira cegueira dos que veem.

Tenho feito o que posso para me manter à tona, mas acredita que tem sido difícil. Mesmo no meio de toda a peculiaridade da situação, eu ainda arranjo espaço que chegue para viver uma paixão vulgar. E então, sim - o teu sorriso também me parece o mais bonito de todos, mesmo que viva convencida de que, cabrão trombudo, faltaste à aula em que te iam ensinar a sorrir. E o teu nome dá-me cabo dos nervos por ser tão vulgar - entre todos os pedros do mundo, é sempre em ti que eu penso em primeiro lugar. Anormal. És como um veneno sem antídoto. Como uma doença letal. Como um vício para o qual já não há reabilitação. E eu detesto isso. Detesto que me controles, qual marioneta, sem ter noção disso. Odeio sentir-me presa, domada, e com a certeza de que, por mais que diga que sim, não saberia resistir-te durante mais do que um nanossegundo.

Não é que te veja como o gajo perfeito - calma lá, doce, cega sim, mas não tanto! Conheço as mentiras que não sei se perdoaria, desconfio de verdades com que talvez nem conseguisse lidar, se algum dia as confirmasses. E detesto que sejas tão domável, tão dormente, que te deixes levar pelos outros. Acorda, meu maria-vai-com-as-outras! Já vai sendo tempo de despertares desse soninho de princesa e ver se descobres que és, em princípio, dotado de um par de colhões. Às vezes és tão conas que chego a crer que gostar de ti faz de mim lésbica. Estúpido. Anormal. Mexe-te, pelo amor da santa!

Nota que és, talvez, o gajo mais estúpido com quem já me cruzei. Ou talvez não - não me leves a mal, às vezes sinto-me obrigada a meter-te defeitos, a denegrir um bocadinho a imagem de gajo adorável, a ver se pega. Não pega nunca, meu grandessíssimo animal. Se eu algum dia descubro como fizeste isto, juro que te mato. Acredito cada vez menos que algum dia chegue a entender - mas não quero saber. Por mais vezes que me perca, por mais vezes que te perca, sei que acabo sempre por te encontrar. Seja onde for. Seja como for. É uma questão de tempo.

perspetivas à patrícia

As pessoas pensam que o amor dura para sempre. Enganam-se. Nada dura para sempre. Não há amor eterno. Não nego que julieta e romeu morreram de amor, prometendo amar-se para todo o sempre, mas se tivessem continuado vivos tinham-se divorciado ao fim de cinco anos, sobretudo se tivessem gerado uma ou duas crianças.
Rui Zink, 
apocalipse nau

mea culpa

Quando digo que a maior parte da minha família mais chegada vive em frança, refiro-me ao facto de, apesar de ter primos e tios a dar com um pau em portugal, serem, na sua maioria, o tipo de pessoas que evitamos. Se nos cruzamos no supermercado, ficamos, subitamente, bastante interessados num triturador que não nos serve para nada, porque já temos quatro, mas vale tudo. A sorte é que parece que sofremos todos da mesma síndrome, e então já ninguém liga. Para todos os efeitos, não vi ninguém e ninguém me viu.

Claro que eu sou a demente mental da família, cujo talento para disfarçar é equivalente ao de um elefante que se tenta esconder atrás de um anão, mas tudo bem. Então, hoje, e vá-se lá saber porquê, um dos meus primos direitos, dos tais que não parlam francês, apareceu-me à frente, vindo sei lá eu de onde. Discreta, tentei que ele não me visse; meti-me de frente para ele e baixei a cabeça, enquanto dizia não me vejas, não me vejas, não me vejas, com o ar sofrido de quem está prestes a sofrer a tortura do familiar que se vê uma vez por ano e pergunta pela família toda, como se estivesse realmente interessado. Diz quem viu que ele já estava a olhar para mim na altura. E que continuou a olhar. Talvez tenha reconhecido a prima e se tenha perguntado porque raio ela não está numa escola especial, para meninos especiais, daqueles cujo atraso mental é visível a este ponto.

Se perguntarem se eu sou da família, digam que me encontraram no lixo. 

dizem que o diabo as tece

Há dois dias, lembro-me de ter pensado que há imenso tempo que não chorava. Nessa noite, chorei. Ontem, danei-me a chorar. Bem feita. Não me metesse a acordar moscas que estão a dormir. Uma pessoa anda tão feliz quando não pensa.

demasiado a sério

Passo a vida a dizer que odeio pessoas, mas não há ninguém que eu odeie mais do que a mim mesma. Sei lá. Há dias em que vivo muito bem com o facto de toda a gente me parecer mais bonita e mais interessante do que eu e de eu me sentir a aberração sem ponta por onde se lhe pegue. Mas depois há dias, como o de hoje, em que só quero sair daqui. Desaparecer. Talvez por uns tempos, talvez para sempre. Já nada me faz sentido. Estou farta de ser quem sou, o que sou, como sou.

É só isto.

texto corrido, desabafo agendado, grito de revolta, frustração, wtv. chamem-lhe o que quiserem

[hoje estou cansada. talvez não só hoje, talvez não de hoje, talvez sejam cansaços somados a outros cansaços e agora eu esteja no limite, mais esgotada do que nunca. estou cansada da monotonia dos dias, farta de me sentar aqui e ser sempre tudo igual; as paredes cinzentas, as mesas pretas. tudo tão simplista. quem decorou isto quase de certeza que era daltónico e teve medo de arriscar outras cores. às vezes eu gosto assim, desse mar preto e branco, perdão, preto e cinzento, que não me acrescenta nada de novo aos dias e me traz aquela estranha sensação de que qualquer ser que se perca aqui no meio se vai sentir tão sozinho quanto eu. às vezes é assim. o meio envolvente também influencia o nosso humor, dizem, mas talvez seja mentira. hoje nem me apetece usar maiúsculas, não quero letras que se destaquem, não quero palavras semi-gritadas. hoje são todas pequeninas, como eu me sinto. pequenina, minúscula, reduzida a nada - não fisicamente, leia-se, mas no geral. ok, chega. vou comer. esta é outra das coisas que, normalmente, me conforta. não o comer, digo, mas a forma como já sabem exatamente o que eu quero e como o quero. a nata mais torrada e o galão clarinho. sim, sim, um pacote de açúcar chega, gosto dele amargo. obrigada. mas se um dia eu pedir uma torrada, ninguém vai saber que eu não gosto de manteiga, e depois quero ver como é que eu me sinto em casa. e se for um café? nem quero pensar. quase me matam sem saber. talvez não me matem, quase de certeza que não me mataria, mas hoje estou chateada e isso vale o drama. volto lá para fora. felizmente isto está vazio, não há cá música foleira nos telemóveis sem fones nem gritos de pitas histéricas. muito obrigada, meu deus, por este momento de paz. mas como eu odeio esta minha tendência para me dirigir a um deus em quem nem sempre sei se acredito. que se foda. cá nos havemos de entender. agora é a televisão. foda-se, não entendo nada. não entendo a história do meco, não entendo como é que um puto com um ano e meio desaparece de casa, não entendo como é que os sportinguistas não se suicidam todos. não me levem a peito, já vos disse que hoje estou chateada. mas, se quiserem suicidar-se, não se prendam por mim, vão em paz que lá há de haver alguém que sobre para ler isto. onde é que eu ia? ah, sim. sozinha, aqui fora. vou enterrar-me no livro, para variar, até que passe alguém que me acuse de devorar livros ou o meu stôr de física e química para me mandar estudar. já lhe tentei explicar porque é que não estudo na escola, mas não me parece que ele entenda o facto de eu usar um desses calhamaços de apoio ao exame por terem a matéria explicada sem quilómetros de texto sem interesse, e que é óbvio que não vou andar com isso todos os santos dias atrás. estudo em casa, lide com isso. oh, daqui a pouco toca para sair. mais uma coisa para me irritar, céus, como eu odeio o som da campainha. mas depois ele vem lá, espero eu. pode ser que repare em mim. credo, que estou eu a pensar? mais facilmente ele se interessava pela belle dominique do que olhava duas vezes para mim. é melhor voltar a enterrar os cornos no livro e a deixar-me de fantasias porque eu já nem sei o que estou a fazer com a minha vida. mas claro que agora não me consigo concentrar na história; há pessoas que se esquecem de tudo e outras que, como eu, sofrem de uma memória demasiado boa. é horrível. quem me dera conseguir esquecer-me das insignificâncias que me assaltam o pensamento nos momentos mais inapropriados, como agora, vá-se lá saber porquê mas lembro-me do exato dia em que me apaixonei por ele, ou que me reapaixonei, ou que percebi que estava apaixonada, isso são pormenores insignificantes ao lado do que esse dia, o tal a que eu me refiro como o fatídico dia, acabou por representar. do mal o menos, perdi a fome durante uns dias, nem conseguia pensar em comida. a merda é que depois acabei por compensar, mas o mundo é mesmo assim, injusto. já me perdi outra vez. ah, sim. o gajo. foda-se, ele está tão giro. é um filho da puta bonito, este. uma encarnação do diabo que leva qualquer pessoa a querer pecar. ou, pelo menos, a mim. entretanto vejo o meu reflexo. o livro, o livro. é melhor concentrar-me noutra história que não a minha. é melhor desistir do mundo real antes que acabe doida. o jorge. o jorge que ama a sofia. a helena que ama o vítor. o jorge que é corno. o pedro que não tem sorte. a patrícia que... a patrícia que está cansada. a patrícia que não gosta de sentir. e hoje está chateada. prometo que um dia me encontro. prometo que um dia encontro uma saída para o abismo onde caí no fatídico dia. gostar dele só não foi má ideia porque não foi, de todo, uma ideia. foi um acidente de que me está a custar a recuperar. foi um problema técnico que só se resolve à pancada mesmo. foda-se. que estou eu a fazer? pode ser que ele me ouça se eu lhe gritar dentro da minha cabeça. estás a ouvir-me, cabeça dura? só quero perceber-te. nem precisas de me entender, nem precisas de saber o que se está a passar agora. mas explica-me, pelo amor da santa, porque tu és um pobre diabo que nem jeito para ser mau tens. hoje também estou cansada de ti e da tua passividade. acorda desse estado de dormência, pela tua rica saúde. seu merdas. vai-te foder. não gosto de gostar de ti. mas gosto, e não é pouco. ouviste? ouvisses. para mim, chega.]

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

cinderela simplifica

Se são viciados em roer as unhas, não façam 29829730 estados sobre isso. Tomem uma atitude. Podem, por exemplo, cortá-las. Se não resultar, arranquem os dentes todos. Vão ver que é uma maravilha, mas stfu.

só de passagem

Ainda gostava que me explicassem como é que uma criança de um ano e meio desaparece de uma casa cheia de gente. E sim, o puto tem perninhas e pode muito bem pôr-se a andar, mas com aquela idade não me parece que conseguisse ir muito longe até que, numa família minimamente atenta, dessem por isso. A não ser, claro, que sejam todos dotados de uma perna mais curta do que a outra ou de qualquer outro tipo de deficiências físicas que os impeça de meter um pé à frente do outro mais depressa do que um monstrinho que ainda mal sabe andar. Mas tudo bem.

não interessa

Uma pessoa passa a vida a comer leite com chocapic ao pequeno almoço, às vezes ao lanche e eventualmente ao jantar, porque nunca gostou de quaisquer outros cereais. Até que chega o dia em que uma pessoa enjoa o chocapic de tal maneira que nem vê-lo. Okay, não exageremos, mas percebi que tinha de deixar-me disso antes que começasse a vomitá-los tipo a menina do exorcista.

Armada em esperta, pensei meh, eu adoro iogurte e chá de frutos vermelhos, os cereais não podem ser assim tão maus,  vou levar estes. Worst. Decision. Ever.

dá vontade de lhe enviar

Se não estás de acordo, diz, homem. Grita. Bate com o punho na mesa. Mostra que não é por acaso que tens uma protuberância murcha no baixo ventre, dotada de dois guarda costas em forma de ovo de codorniz enfiados num saco de pele. Sê um homem, foda-se.

Rui Zink,
apocalipse nau

marcos importantes

Hoje foi o dia em que percebi que a minha vida é uma mentira e, afinal, não há nenhum teletubbie chamado gipsy. Ainda estou a tentar aprender a lidar com isso.

ainda a norte

Nem sei quanto tempo demorei a ler o ensaio sobre a cegueira, livro que eu despacharia em 2 dias em tempo de férias, mas, e ao contrário do que seria de esperar, parece-me que tenho cada vez menos tempo para o fazer. 

Quanto ao livro, acabei-o hoje e já lhe sinto a falta. Não sei falar-vos sobre ele. Sei que gostei. Sei que nos arrasta até às emoções mais difíceis de exprimir. Sei que quase chorei quando cheguei à última linha, não pelo final do livro em si, mas por tudo o resto. Sei que somos todos cegos e que o nosso mal é vivermos na ilusão de que vemos alguma coisa. Sei que somos tristes com olhos que não sabem ver, mas incapazes de viver sem a ilusão de que veem. Sei que somos todos capazes de tudo, basta que as circunstâncias o exijam. E sei que, hoje, tive de acrescentar um nome à lista dos meus livros preferidos. 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

a conclusão

Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.

José Saramago, 
ensaio sobre a cegueira

filosofias de vida

Se eu estiver a ser sincera hoje, que importa que tenha de arrepender-me amanhã.

José Saramago,
ensaio sobre a cegueira

sublinhado

Quer dizer que temos palavras a mais, Quero dizer que temos sentimentos a menos, Ou temo-los, mas deixámos de usar as palavras que os expressam, E portanto perdemo-los.

José Saramago,
ensaio sobre a cegueira

na margem

Enquanto o moço está todo contente a achar que eu devo ser grande otária, nem repara que eu consegui exatamente o que queria. Tenho-o na mão e a criatura ainda acha que está a ganhar.

confesso

Se eu visse a história de fora, muito provavelmente, arriscar-me-ia a dizer que o gajo é absolutamente adorável, que estava doido por ela, que isto podia ser das histórias mais foficoisas de sempre se eles quisessem. E porque é que não o digo? Porque eu faço parte da história. Porque sou a protagonista. E porque, foda-se, ninguém consegue tirar-me da cabeça a ideia de que o gajo consegue ser psicopata ao ponto de estar a gozar com a minha cara, mesmo ao fim de todo este tempo, porque há sempre aquele trilião de gajas mais bonitas, mais magras, mais inteligentes e mais interessantes do que eu, o trambolho da zona. Por isso, não, por mais que essa ideia me fizesse feliz, está absolutamente fora de questão.

Plus, o moço nem sequer é propriamente o quasimodo. Muito pelo contrário. Demasiado pelo contrário.

do contra

A miúda que na sexta à noite estava convencida de que era uma bola de espelhos - ela e o puto que lhe estava a fazer uma endoscopia -, argumenta que estava bêbeda e não se lembra de nada. Ao que parece, está toda a gente a passar as mãos na cabecinha da menina, ai coitadinha, acontece a qualquer um, mas eu estive a fazer as contas e acho que é puta mesmo. O que é que a menina bebeu? Uns 3 goles de vodka. Uhm uhm. Bêbeda, right.

desnecessário


Olá, o meu nome é ernesto. Tenho 18 anos e ontem apaixonei-me por uma música da disney.
Lidem com isso.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

sem nada a acrescentar

Hoje, voltou a instalar-se a discussão, desta vez numa aula, sobre a lei da co-adoção. E o drama é o do costume - ah, que ninguém ia gostar de ter dois pais ou duas mães e as criancinhas ficam revoltadas and so on. As mesmas desculpas ridículas, portanto. 

Isto porque, pensei eu há uns meses, que esta teoria de que as crianças acabariam por sofrer de bullying se fossem forçadas a dizer que o pai se chama antónio e a mãe ernesto, até tinha um certo fundamento. Depois pensei melhor; foda-se, eu preferiria crescer num orfanato, a ser tratada como mais uma ranhosa sem amparo, ou no seio de uma família homossexual? Não precisei de pensar duas vezes para descobrir a resposta. 

Quer parecer-me que nem é bem nas crianças que esta gente pensa quando teima em proibir a adoção de crianças por parte de casais constituídos por pessoas do mesmo sexo; creio que a ideia é só tentar travá-los, mostrar-lhes que nunca terão o direito a uma vida normal e que, se querem mesmo ter filhos como os outros, o melhor é entrarem nos eixos e gostarem do sexo oposto como toda a gente. E, cada vez mais, esta ideia revolta-me - não por fazer parte da comunidade gay, mas por ser incapaz de compreender em que medida me deveria afetar o facto de haver mulheres que gostam de mulheres e homens que gostam de homens. Ou, mais do que isso, revolta-me que tentem contrariar sentimentos, obrigar a escondê-los, porque é indigno gostar-se de algo que fuja à regra. Mas não é mais ou menos a mesma coisa do que gostar-se da gaja gorda com quem todos gozam? Ou do gajo feio e estrábico para quem ninguém olha? Não entendo o drama. 

E se as crianças forem gozadas, que sejam. Não sei em que mundo vivem, mas pelo menos naquele que eu conheço, as crianças são gozadas por tudo e mais alguma coisa; por serem altas, por serem baixas, por serem magras, por serem gordas, por serem burras, por serem inteligentes. Por existirem, vá. Limitar a vida dos homossexuais não vai acabar com isso. Vai contribuir para que o preconceito continue, vai dar aso aos retrógrados para que continuem a sê-lo. Afinal, o mundo quer-se é como deus nosso senhor o criou. Só não entendo é como é que não andamos todos nus a comer o que as árvorezinhas dão, mas quem sabe se não cortaram da bíblia o capítulo em que deus era dono de uma loja de roupa e criou a internet, para ficar mais pequenina. Se assim for, estão à vontade para julgar os gays. Caso contrário, deixem-se de merdas, leiam a teoria da hospitalidade do spitz e entendam que viver num orfanato não é, de todo, preferível ao amor de um casal. Seja ele quem for. Mas, sobretudo, deixem-se de julgamentos e párem de  fazer com que ainda existam pessoas que, com medo de estarem erradas, de parecerem erradas, varrem os sentimentos para debaixo do tapete.

quase no fim

As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando umas com as outras, parece que não sabem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjectivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos, às vezes são os nervos que não podem aguentar mais, suportaram muito, suportaram tudo, era como se levassem uma armadura (...)

José Saramago,
ensaio sobre a cegueira 

uma boa definição

Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.

José Saramago,
ensaio sobre a cegueira

portuguesíssimo

É raro eu dizer o nome dos meus monstrinhos franceses sem que, especialmente as velhas, tentem traduzi-los para português e, diga-se de passagem, que isso me irrita um bocado porque eu também não chamaria marie amélie às criaturas só por estarem em frança. É maria amélia, é maria amélia, e ponto final.

Agora, o membro mais novo do clã tem pouco mais de duas semanas, chama-se ethan e ainda não conhece portugal. Não consigo deixar de imaginar o furor que ele vai fazer quando as velhas decidirem tratá-lo por caetano. 

feminino singular

Gaja que é gaja sabe que vai ter o cabelo estupidamente bonito meia hora antes de ir para a cama, mas quando quiser sair, quer seja de dia quer seja de noite, a dita cabeleira vai assemelhar-se mais a um piaçaba do que outra coisa. Vida de gaja é triste.

no sábado

Estavam quatro ou cinco mulheres numa esplanada a falar sobre os filhos quando se saem com isto:

primeira mulher: ai, mas eles agora dão coisas tão difíceis na escola!
segunda mulher: já não consigo ajudar o meu filho! não percebo nada daquelas contas que ele faz.
terceira mulher: a minha no outro dia trouxe um exercício de caule e folhas.
primeira mulher: então, mas isso é de ciências!

Quase isso, quase isso.

só para avisar

Um dos piores problemas das multidões é que parece haver sempre alguém que desconhece a existência da escova de dentes ou as maravilhas que fazem os desodorizantes. 

poço de veneno

As músicas são bonitas até ao ponto em que uma pessoa começa a ouvi-las 987229092 vezes por dia na rádio, e ainda leva com a música dos azeiteiros todos da escola que desconhecem a existência dos fones. Nem sei se começo a chacina pelo lado dos que cantam a impossible ou se atiro uma bomba para o meio dos que estiverem a cantar/ouvir/pensar na all of me. 

domingo, 19 de janeiro de 2014

boas razões para não fumar

Além do mal que faz, o cheiro é horrível. Sério. Ou sou eu que sou paranóica ou, 3 banhos depois, o cheiro ainda não me saiu do corpo.

patrícia, porque é que ninguém gosta de ti?

Ao que parece, eu consegui a proeza de estar a olhar para o rapazinho e não o ver, nem mesmo quando passei por ele, provavelmente bem perto mesmo. E isto é absolutamente extraordinário, especialmente porque, pelas minhas contas, deve ter sido mais ou menos na altura em que eu disse qualquer coisa do género parecia que a parede se estava a mexer, juro!

O pior de tudo é que eu estava sóbria. Oh senhores, mas não me bastava ser feia, tinha mesmo de sair desequilibrada?

à parte

Só agora é que cheguei à conclusão de que se não tivesse feito uma das coisas que mais me arrependi de ter feito, provavelmente não estaria onde estou agora. E, se às vezes me parece mau, outras tenho quase a certeza de que foi das melhores coisas que já me aconteceram.

gente peculiar

Uma das imagens de sexta à noite que me está a custar mais apagar da mente é a de uma rapariga lá da escola, aí com 16, 17 anos, que eu sempre achei que, apesar de totó, não devia ser puta. Na realidade, tinha descoberto que a miúda tinha tendências para a putaria umas horas antes, mas o que vi foi além do ridículo.

A certa altura, o gajo que me pediu que lhe tirasse uma foto, estava colado a ela. Mas, já que dizer que se estavam a beijar é um eufemismo e dizer que se estavam a comer parece mal, acho justo afirmar que o moço lhe estava a fazer uma endoscopia, enquanto eles, como se fossem um só, giravam sobre si próprios, sem se largarem. 

Não percebi a intenção, mas fiquei desconfiada de que a miúda pensava que era uma bola de espelhos.

cartas que não vou enviar

Fui ganhando com o tempo essa mania imperdoável de esperar que as coisas dêem certo - de esperar que o jogo se jogue por si próprio e me seja permitido ficar apenas sentada na plateia, qual adepta ferrenha, da minha própria vida. Habituei-me, imagina só, a esperar. Eu, que nunca me lembro de ter tido paciência.

Está errado esperar-te na mesma esquina todos os dias, ainda que muitos deles já nem o faça de propósito, só porque sei que, mais minuto menos minuto, acabarás por passar lá. Eu sei de onde vens. Porque não te procuro nesse sítio? Na verdade, nem eu tenho resposta para isso. Ou tenho, mas não gosto dela e passo os dias a tentar rabiscar mais desculpas plausíveis para a minha falta de coragem. Faço de conta que não me importa que o tempo passe e que eu sinta todas as respostas às minhas perguntas a afastarem-se cada vez mais de mim. Mas eu importo-me e preciso delas. É errado esperar que o vento, o destino ou qualquer outra identidade insubstancial, uma dessas que nos regem os dias, se é que elas existem, nos arraste de novo e nos meta frente a frente. É errado esperar que o que quer que seja nos será servido a troco de nada, que outras forças contrariem os nossos atos a favor da nossa vontade. Isso só acontece nos filmes.

Ou é por hoje estar especialmente cansada e com a sensação de que poderia adormecer a meio de uma frase, ou porque todos os dias percebo coisas novas que, ao invés de me levarem ao tão esperado entendimento, só me baralham ainda mais, mas neste momento, mais do que em qualquer outro talvez, eu sei exatamente o que tenho de fazer. Só não sei como começar. Ou se me permitirás, sequer, que comece.

lógica também é isto

Passa metade do tempo à minha procura e a outra metade a esconder-se de mim. Está certo.

reflexões de uma mente perturbada

Espera por ele todos os dias na mesma esquina. Se lhe perguntarem, dirá apenas que gosta particularmente daquele sítio e da vista priveligiada para o jardim, não porque sinta a necessidade de mentir, mas porque nem a ela própria tem contado a verdade.

Enquanto espera, enterra as mãos nos bolsos e faz figas. Não que acredite que isso lhe traga alguma sorte em especial, mas também nunca lhe disseram que não traria e, nos tempos que correm, todas as ajudas são preciosas, vale tudo. Queria só entendê-lo, vai dizendo a si mesma, enquanto espera sem esperar por aquele a quem ela não gosta de se referir com palavras meigas na presença de outros. Diz a todos que o acha insuportável e que está farta dele, muito embora lhe sinta a falta quando ele não vem e dê por si ainda mais impaciente do que é costume quando os minutos teimam em passar dolorosamente e ela não sabe onde está ele.

Amanhã digo-lhe olá, pensa ela todos os dias. Claro que nunca o fez e, estou capaz de jurar, nunca o fará. Sabe bem que, no fundo, e por mais que tanto ele quanto ela o neguem, é impensável dizê-lo como se o fizesse por uma mera casualidade e não como alguém que tem um trilião de perguntas para fazer, muitas delas que sabia não terem resposta. Uma conversa assim já não começa com um olá, como se diz a um amigo que encontramos na rua ou à prima que não vemos há meses. Estes dois vêem-se todos os dias e, todos os dias, ela pensa a mesma coisa. Quanto a ele, não se sabe o que pensará, mas é quase certo que tem a mesma tendência dela para criticar fortemente aquela por quem, muito mal disfarçadamente, vai procurando. 

Talvez um dia se entendam, quem o sabe, talvez ela nunca lhe chegue a perdoar ou talvez essa mágoa seja agora infundada e ela se sinta incapaz de o assumir a si mesma, a permitir-se admitir que há um motivo para nunca ter deixado de se importar e uma razão mais forte do que todas as outras para ela insistir em procurá-lo fingindo que nem o vê, quais dois putos a jogar às escondidas com a esperança de que nunca serão encontrados e lhes será, para sempre, permitido manter o inimigo debaixo de olho. Não se lembram, creio, que o jogo também acaba e que talvez valesse a pena ter lido as regras mais cedo, a ver se percebiam alguma coisa. Talvez já tivessem entendido que estão bem longe de serem inimigos. Talvez. 

sábado, 18 de janeiro de 2014

mas cansei-me de esperar

(...) as respostas não vêm sempre que são precisas, e mesmo sucede muitas vezes que ter de ficar simplesmente à espera delas é a única resposta possível.

José Saramago,
ensaio sobre a cegueira

na margem

A maior parte das minhas decisões são tomadas completamente à toa, mesmo depois de ter esmiuçado todas as hipóteses e possíveis consequências. Na maior parte do tempo, estou em pânico com o que se segue - mas, na maior parte das vezes, decido preocupar-me com isso só na altura certa, e amanhã logo se vê.

Estão a ver aquela hora do dia em que vocês pensam que querem mesmo escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho? É mais ou menos por essa altura que eu decido. E depois, como é óbvio, dá merda - ou porque vai haver noites em que o pânico se vai apoderar de mim, ou porque vai haver noites em que a coragem e a ansiedade vão falar mais alto e eu vou querer acabar com isto tudo.

Mas decidi. Decidi ontem. Ou então decidi há imenso tempo mas só descobri ontem - chega disto. Chega mesmo. Está na hora de acabar com isto tudo de uma vez por todas.

eu, normal.

Isto é um bocado triste de se admitir, mas lá para o meio da noite eu senti alguém a tocar-me no ombro e quando olhei tinha um gajo a estender-me um telemóvel com a câmera ligada. Não me perguntem porquê, mas durante um segundo louco eu pensei que era para me tirarem uma foto - não é bem como se fosse a primeira vez que alguém o fazia, só naquela de hey, look, uma aberração. Okay, juro que pensei. E virei-lhes as costas até me ter ocorrido que o que eles queriam era que eu lhes tirasse uma foto. 

Mas ainda havia de ser bonito eu tirar uma selfie à frente deles, com a tal expressão de quem diz phteven.

nunca mais bebo na vida

Não bebi muito e estava bem, mas hoje bateu aquele medinho que nunca tinha tido antes, quando dona mommy me mandou conduzir. E isto porque eu nem sei qual é o meu limite - i mean, até onde posso beber sem correr o risco de me tirarem a carta - mas tenho noção de que o que bebi chegava e sobrava para ficar sem a dita. E depois eu não fazia ideia de quanto tempo demoraria a passar.

Tentei tranquilizar-me junto da mãe. Ela começa por dizer que depende do quão forte era o que bebi. Uhmm, vodka. Começamos bem. Depois refere-se ao que comi. Não comi quase nada, nem ao jantar de ontem nem ao almoço de hoje, que foi tudo o que comi até agora. Perfeito. Acrescenta que também depende do que dormi. Que anedota, senhores. Devo ter adormecido às seis e meia e às nove e meia estava acordada. Depois disso, se dormi mais meia hora foi muito. 

Breathe in, breathe out. Correu tudo bem desta vez.

um bocado esquisita, vá

Por mais estranho que pareça, e apesar de adorar animais, odeio que me lambam. Sério. Fico paranóica com a ideia de que estou cheia de baba - especialmente - de cão e não descanso enquanto não lavo as mãos, braços, wherever tenha o raio do cão lambido. E não é por mal, juro. Eu chego a ficar realmente chateada comigo mesma por ser assim tão esquisita.

Foi mais ou menos por isto que até saltei quando acordei, no chão, com a cadela da patrícia a lamber-me a cara.

bom dia

De um lado temos o gajo gostosinho que ficou a achar que eu estava podre de bêbeda, e do outro temos o ranhoso mais ou menos giro que eu quase beijei três vezes e no fim achou que era boa ideia perguntar-me o nome. Claro que isto já a agarrar-me pela cintura e alto lá que eu não te conheço de lado nenhum, amigo, nada de simpatias.

À parte destes todos fica o único que me interessa realmente. Mas, sobre isso, prefiro nem me pronunciar. Um dia eu entendo-o. Ou faço-me entender.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

sou a melhor amiga do mundo


Se querem conhecer a patrícia, a real, a boa, a gostosa do girls like boys with a brain, é só olharem para o cão. Parecem gémeos separados à nascença.

antes de ir

Uma boa razão para me afastar o mais possível do álcool durante esta noite é o facto de o moço lá estar. Não pela presença dele em si, mas se eu já sou aquela coisa despudorada quando estou sóbria e só me encolho toda quando há sentimentos daqueles sentimentos que nem uma gaja sentimental gosta de sentir, uns copos depois eu sou capaz de tudo e mais alguma coisa. E, diga-se de passagem, se o rapazinho me aparece lá de camisa - com A camisa -, uma pessoa tem de se acorrentar a qualquer lado e rezar para que ele não pise a linha invisível que separa a minha sanidade mental da minha vontade num raio de 20 metros. Sério. Com sorte, o assunto ficava arrumado. E a minha vidinha também, porque a criatura não me deixava sair de lá com vida.

ainda não é tarde

No geral, sou a amiga racional, a que não se deixa tomar pelas emoções e vê sempre as coisas como são - exceptuando, claro, quando se trata de mim. Quando a situação me envolve, qualquer acontecimento de menor importância se torna passível de ser um cataclismo sem precedentes, porque ai jesus, o drama o horror e a tragédia, só comigo é que acontece disto.
E com isto, demorei meses a perceber o óbvio, a olhá-lo com olhos de ver. Sou um bocado triste.

é só

Há uma grande diferença entre ser-se simpático e ser-se chato pra caralho. Pelo amor de deus, não transponham esse nível porque a patrícia não é gente fofa.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

mensagens que não vou enviar

Demorei dias a reconhecer que o que fizeste foi absolutamente adorável. Mother of god. O que é que eu estou a fazer com a minha vida?

percebi

Penso demasiado, planeio demasiado, e depois não faço nada do que achei que podia e devia fazer - faço o que me apetece na altura, espontaneamente e sem grandes dramas. Às vezes, corre mal. 

Agora percebi o quanto já ganhei com isso. Não sei se é legítimo pensar não pensar e planear não planear  - talvez roube um bocado de espontaneidade à coisa - mas... pronto, é isso. Sem dramas. 

adoro

Adoro aquele tipo de pessoa que se acha muito frontal e muito corajosa mas só é capaz de reagir quando acha que ninguém vai descobrir. Mais lamentável se torna quando, ainda por cima, se dão ao luxo de levantar o dedito para apontar para os outros ohhh, que falsa. Si, si, si.

medo é

O meu fb é o reflexo da minha vida social, pelo que eu não me lembro sequer da última vez que publiquei alguma coisa - que não fotos escandalosas para humilhar amigas. Ontem à noite, depois de comentar o estado de uma amiga, ela mandou-me uma mensagem, e lá tinha eu 12 anos, e lá estavam as mensagens que, não sendo do género envia a 30 pessoas antes da meia noite ou a tua família vai ser assassinada por um esquilo de cuecas, era algo do género. Tinha de publicar uma de 12 frases e enviar a toda a gente que metesse gosto ou comentasse.

Subtil que só eu, escolhi a Ofereceram-me um trabalho como prostituta mas estou hesitante.
Um gajo, que eu não conheço de lado nenhum, meteu gosto. Estou preocupada.

patrícia, porque é que os stôres não gostam de ti?

Depois de duas pessoas da minha turma terem respondido mal à pergunta do stôr de fq, ele decidiu entrar em dissertações filosóficas e teve uma crise existencial. Virou-se para mim.

stôr: patrícia, responde-me... o que faço eu aqui?
eu: então, stôr... faz-nos companhia!

Acho que é mais ou menos por isto que nunca fui a favorita. Safoda.

a diferença entre wild bichas e as outras

Em vez de pensarmos na roupa, pensámos na after party porque uma gaja chega a casa a meio da noite esganada com fome e tem de se pensar com antecedência no que vamos comer, quase à laia de pequeno almoço, antes de enterrar os cornos na almofada.

verifica-se

(...) há é que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios antes de chegar a qualquer parte (...)

José Saramago, 
ensaio sobre a cegueira 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

sonho tanto

Meti-me a comparar a minha foto do cc com a tal foto da carta. Claro que eu não sei em qual das duas pareço mais estar a ser presa por tráfico de orgãos mas, ainda assim, e apesar de estar francamente horrível nas duas, cheguei à conclusão que há cinco anos conseguia ser ainda mais feia do que atualmente. 

Fiz as contas e, aproximadamente por volta dos 83 anos, eu vou ser gira. 

sem escolha

Acho que gastei num minuto o meu plafond de colhões por uns tempos. O que é uma pena, diga-se, porque estou a precisar deles outra vez.

demasiado boa

Eu sou linda e perfeita desde que nasci, mas tenho tendência para ficar ainda mais maravilhosa nas fotos. Sério. Creio que, se daqui a uns milhares de anos alguém encontrar as minhas fotos, vão usá-las como prova de que, não só existe vida noutros planetas, como a terra recebeu uma visita por parte de um desses seres estranhos. Eu, portanto.

Ora, o que se passa é que eu sou um bocado burra. Dois bocados, vá. Inocente que só eu, quando me inscrevi na escola de condução, entreguei uma foto qualquer. Foto essa que havia sido tirada umas semanas antes, numa altura em que eu quase não dormia há uma semana e estava doente. Ou seja, além de ter olheiras até aos joelhos, estava pálida que eu sei lá, com ar de zombie. Tudo ótimo. Claro que atrasada da patrícia nunca se lembrou de que essa ia ser a foto que ia ficar na carta de condução.

Hoje, a dita carta chegou. Graças a deus que a foto é a preto e branco e, do mal o menos, não se nota a minha palidez. Já a cara de quem comeu e não gostou, ninguém me tira. Ainda bem que só tenho de esperar até 2025 para a renovar - muda-se a foto nessa altura, certo? 

gajos

f: e quem é que está em biologia?
eu: *enumeração que não vos interessa para nada*, e a  miquelina.
f: quem é essa?
j: é aquela super magrinha.
eu: oh, cala-te. ela não tem culpa.
j: ela que comesse!
eu: e come. por incrível que pareça, come mais do que eu!
j: também não é difícil, se fores daquelas que tem a mania das dietas e só comem um pão por dia.



Ah, sim. A primeira coisa que qualquer pessoa que olhe para mim pensa é que eu tenho a mania das dietas. Nota-se ao longe. Assim... mesmo ao longe.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

resumindo(-me)

O medo voltou, sub-reptício, mal ela avançou alguns metros, talvez estivesse enganada, talvez ali mesmo à sua frente, invisível, um dragão a esperasse de boca aberta. Ou um fantasma de mão estendida, para a levar ao mundo terrível dos mortos que nunca acabam de morrer porque sempre vem alguém ressuscitá-los. Depois, prosaicamente, com uma infinita, resignada tristeza, pensou que o sítio onde estava não era um depósito de comidas, mas uma garagem, pareceu-lhe mesmo sentir o cheiro a gasolina, a este ponto pode iludir-se o espírito quando se rende aos monstros que ele próprio criou.

José Saramago, 
ensaio sobre a cegueira

É. Na maior parte das vezes, o nosso maior medo é sobre algo que nem existe.

a calhar

(...) não é raro que uma coisa má traga consigo uma coisa boa, fala-se menos das coisas más trazidas pelas coisas boas (...)

José Saramago,
ensaio sobre a cegueira 

que doce

Serve-me de guilty pleasure saber que ele se acha muito mau, muito senhor de si e capaz de bater em tudo quanto seja gajo, mas se eu lhe falar o rapazinho quase se mija tipo cachorrinho nervoso. Também pode ser sinal de que eu devia fazer a barba.

confesso-me

Nunca tive medo de médicos nem de agulhas, até porque estava bem fodida se tivesse, mas não gosto de dentistas. Quer dizer, depois de me terem arrancado dois dentes no mesmo dia, eu descobri que odeio fazê-lo, e que antes espetarem-me 20 agulhas no resto do corpo do que uma única nas gengivas.

Claro que depois nasceram os dentes do ciso. Os de cima foi na boa. Os de baixo nunca mais saem, mas doem e estão a entortar-me os dentes, o que significa, mais coisa menos coisa, que é tempo de arrancar dentes. 

Ainda não ganhei coragem para marcar a consulta.

mãe querida, mãe queridaaaaaaa

Uma das coisas que mais me enerva no spotify é aquela mania de me parar entre duas músicas para passar uma publicidade sem jeito nenhum, como aquela em que me informa que posso, afinal, escolher uma private session para ouvir a música que me apetece sem que nenhum dos meus seguidores venha a descobrir. Sim, sim. O meu guilty pleasure é ouvir ágata enquanto estudo.

pode ser que amanhã corra melhor

I need a new direction cause i've lost my way, ou como os 30stm me têm estado a fazer companhia até eu quase ter batido com a cabeça no teclado e ter reparado na letra da música. Não cheguei onde queria na física, mas sinceramente também não aguento mais por hoje. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

generalizando,

Os homens acham-se os maiores quando lutam contra outros homens, quando, de uma maneira absurda e infantil, acham que essa sim, é uma luta de igual para igual e capaz de demonstrar a força que têm. As mulheres não. Contra outras mulheres, contentam-se em partir unhas e arrancar cabelos; contra homens, sabem que não adianta fazer nada. A batalha é travada em silêncio e eternamente ganha por elas - porque não há homem que as enfrente.

o choque

Eu sou inegavelmente feia e desconcertantemente gorda, mas depois vejo fotos dos meus doces 16 anos e percebo que tenho um passado terrível, em que era muito mais evidente o meu lado macho, bem como a minha gravidez que, pelo jeito, já devia ir no 36º mês de gestação. 

Pelo menos agora já sou só o equivalente a uma lontra obesa, não duas.
E eu nem dei pela diferença, geez.

humilhações

Há muito poucas coisas mais irritantes neste mundo do que a minha voz. Sério. E isto porque depois de quase 18 anos a achar que devia ter uma voz de garrafão, grossa que eu sei lá, percebi que isso é quase uma anedota, tendo em conta que tenho voz de pita. 

Outra das coisas que eu faço maravilhosamente bem é cantar. Canto tão bem que, da última vez que a infeliz de uma amiga minha teve o prazer de me ouvir, disse qualquer coisa como bem... nem foi muito doloroso.

Ela estava a ser simpática.

breathe in, breathe out

Não sou violenta mas apetece-me dar-lhe um abracinho bem forte, a ver se lhe parto costelas. Mas não posso, não posso. Vou comportar-me como a lady que não sou nos outros dias. Ou pelo menos vou tentar.

domingo, 12 de janeiro de 2014

a lógica masculina

Gostava de entender o que passa pela cabeça do gajo que achou que eu ia adorar conhecê-lo e então começou a colar-se a mim mais tempo do que o que seria saudável. Para ele, claro. Isto porque o moço nem me trata mal, mas tem aquela propensão irritante para se armar em coitadinho, outras vezes em parvo, e eu não sou propriamente simpática. Na realidade, sou mesmo má para ele.

E estava tudo bem, não fosse ele ter-se convencido que eu era uma miúda qualquer que vai para o ask dele com a típica conversa do és tão lindo, adorava conhecer-te. Uhm, uhm. Trato-o mal porque o adoro. Parece-me óbvio.

em tempo real


Para quê roer as unhas a ver os jogos?

sábado, 11 de janeiro de 2014

pequenos ódios

Nunca vou entender qual é que é a ideia de se passar os dias a fingir-se ser amigo de alguém que, no fundo, só se quer ver pelas costas. Não entendo mesmo. E, confesso, ontem meteu-me um nojo especial ver uma criaturinha a passar por mim, com o gajo ao lado, a rir-se. E, é preciso que se note, depois do que se tinha acabado de passar, eu nem os condeno por se estarem a rir porque acredito que tenha sido estranho pra caralho e tudo mais, e que os tenha deixado a pensar ainda pior de mim, mas por ser a pessoa que é. Mete-me nojo imaginá-la a falar mal de mim ao gajo como se fossem muito amigos, mas sem um pingo de coragem para lhe dizer a ele o que um dia disse à minha frente, mesmo sem me conhecer de lado nenhum e com a plena consciência de que eu estava a ouvir tudo. 

Sei lá. Provavelmente eu devia estar fodida por saber que o mais provável é que ele se tenha fartado de gozar e tudo mais, mas estou muito mais chateada por o ter feito com essa gaja do que outra coisa.

só isso

Ninguém acreditou em mim quando eu disse que determinada criatura seria capaz disto e daquilo - oh, não patrícia, que exagerada! lá estás tu a pensar o pior das pessoas, deixa-te disso, não inventes.

Afinal, eu estava certa. 
Antes não estivesse.

afinal não tinha saudades disto

Dizia eu há uns tempos que sentia a falta de ter alguma coisa que me fizesse acelerar o coração. Então ontem voltei ao tal estado em que consigo ver o peito a subir e a descer ao ritmo dos meus batimentos cardíacos. Há meses que não acontecia. 

Quase que me esqueci da arritmia, a única que nunca me abandona. Shame on me.

inegável

(...) ainda está por nascer o primeiro ser humano sem aquela segunda pele a que chamamos egoísmo (...)
José Saramago, 
ensaio sobre a cegueira 

gente que me cansa

Parece-me que a maior parte das pessoas fica sempre a achar que eu sou uma aspirante a delinquente ou potencial chula de cada vez que eu digo que não sei o que vou fazer a seguir nem e estou muito preocupada com isso, nem entendo o porquê de já estarem a entrar em pânico por causa da faculdade em janeiro.

Não estou à deriva por não saber o que quero. Ou, pelo menos, não estou mais à deriva do que os outros que me olham de lado, certos de que no fundo eu me contentaria a limpar sanitas para os senhores doutores - quiçá, eles próprios. Não, meus filhos, não. O que se passa é que não adianta em nada estar a pensar nisso agora. Faltam-me cerca de sete meses para ter de escolher - pressupondo, como é óbvio, que corre tudo bem nos exames. E se é verdade que os sete meses passam a correr, não é menos verdade que há imensas coisas com que tenho de me preocupar antes da candidatura. Assim de repente, sei lá, parece-me muito mais útil pensar em livrar-me do secundário. De fazer por isso. E, de qualquer forma, eu não sei o que quero dois dias seguidos, quanto mais para o resto da minha vida.

Não vou entrar na faculdade amanhã e já não me adianta de nada decidir que quero entrar em medicina porque já está um bocado tarde para isso. Tudo o que posso fazer agora é ficar com a melhor média que conseguir, sem grandes dramas. E no fim logo se vê no que dá - talvez enfermagem, talvez alguma coisa na área das letras, talvez arrumadora de carros. Who cares? Mas deixem-me em paz, pelo amor de deus.

teach me, master

A prova de que eu sou vítima de bullying na minha própria casa é que a minha mãe faz questão de me dizer que eu sou estranha a toda a hora. E depois sai-se com frases como ela faz tudo ao contrário das outras pessoas! nem a descascar bananas ela é normal.



Claro. Vou inscrever-me num curso intensivo para aprender a descascar bananas como as pessoas normais.

weirdos

Ontem, um rapazito chega ao pé de mim de manhã que coincidência! encontro-te sempre nestas escadas, com esse cabelo e com um livro!

Não percebi o comentário, mas fiquei a pensar que a criatura acredita que, eventualmente, me vai encontrar um dia com o cabelo do toy.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

a bida duma çoa

Uma pessoa acorda de manhã sem vontade nenhuma de sair da cama.
Uma pessoa veste as primeiras calças que encontra e uma camisola de lã.
Uma pessoa calça umas botas quaisquer e vai para a escola.
Uma pessoa repara que aquelas calças não ficam muito bem naquelas botas porque são demasiado largas.
Uma pessoa lembra-se de prender as calças com as meias.
Uma pessoa passa um dia inteiro na escolinha a ver a sua paciência levada ao extremo.
Uma pessoa tem um dia altamente merdoso e acontece um bocadinho de tudo.
Uma pessoa repara que a puta da camisola de lã decidiu descoser-se na manga.
Uma pessoa tem explicação e percebe que o melhor é mudar de camisola.
Uma pessoa veste uma sweat e percebe que não fica bem com botas.
Uma pessoa calça umas sapatilhas e sai.
Uma pessoa tem explicação e quando volta para o carro, percebe que só tinha composto uma das meias.
Uma pessoa sente-se um guna da street mas pensa que podia ser pior.
Uma pessoa chega a casa e repara que tem a berguilha aberta, sabe-se lá desde quando.
Uma pessoa tem uma vida difícil.

the evil inside

A principal razão para eu ser a favor do aborto tem nome de gaja e hoje voltou a atacar porque, provavelmente, achou que eu nunca descobriria. Descobri ainda mal tinha a criatura tido tempo para se auto-congratular por conseguir ser um monte de merda tão puro.

Tive vontade de a desfazer durante os primeiros 30 segundos. Depois tive ideias melhores.

que é feito de ti, patrícia?

Parece-me que há alturas em que devia ter medo da minha ausência de medo e daquela estranha determinação que me ataca de vez em quando e me empurra para sítios onde eu nunca pensei que teria coragem de ir. 

Ando a brincar com o fogo, para variar. A ver vamos quem se queima primeiro.

potterheads!



Pelos vistos, eu seria o snape. Não entendo porquê, eu juro que lavo o cabelo.


a puta da tradução

Uma das coisas maravilhosas de parte da minha família ser francesa é exatamente o facto de nem todos os elementos da mesma - da parte do clã que vive em portugal - falarem francês. E então assiste-se a diálogos absolutamente geniais, tipo este:

primo - j'ai soif! (tenho sede)
avó - queres-te assoar, meu amor? a avó não tem lenços aqui...

Então, tá.

ainda de ontem,

Não sei se foi pior sentir-me a mais numa reunião de alcoólicos anónimos aka feirantes aka cuscos, se o momento em que entra uma coleção de minimeus, vulgo, monstrinhos da pré, pela sala de espera adentro para cantar as janeiras. 

Nisto, enquanto os putos cantavam todos contentes, mete-se uma pequenita -  meteu-me medo, ela parecia o drácula - a gritar quero a minha mãaaaaae!

Durante uma fração de segundos eu achei que tal se devia à minha presença, já que não é habitual ver um ser raro como eu assim, do nada e sem alaridos, mas depois percebi que a miúda é só uma aspirante a cabra com mau feitio quando a mulher disse és uma princesa! mas não gostas nada disto, pois não?, e a miúda nem hesitou em dizer que não.
 
É assim que crescem as feras.

my parents raised a weird child



E isto é o shiuuu a fazer de mim uma pessoa mais feliz porque eu passei anos a achar que devia ser a única alienada incapaz de mijar quando sabe que está alguém do outro lado a ouvir. E sim, já cheguei a sair da casa de banho sem conseguir fazer nada porque... na casa de banho ao lado, estava uma gaja a cagar. Don't even ask. Um dia eu entendo-me.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

generalizando

Ainda gostava de perceber que raio de bruxaria leva as pessoas a falarem, nos centros de saúde, alto e bom som de forma a que todos ouçam. Sério. Para mim, uma sala de espera de hospital não me parece um ambiente mais familiar do que um banco ou um loja dos chineses e não entendo essa necessidade de se montar uma feira lá no meio como se fôssemos todos amigos.

E depois começam a partilhar as maleitas, porque toda a gente sabe que português que é português tem, no mínimo, cinco males diferentes de que se queixar para mostrar que está pior do que os outros todos. Na falta de doenças, fala-se na vida, e de repente aquela sala parecia uma reunião dos alcoólicos anónimos e eu dei por mim a desejar que toda a gente fosse tão anti-social quanto eu. Ou que aprendesse a calar a boca, simplesmente. 

mensagens que não vou enviar

Achei que te tinha perdido, mas afinal foste tu que te perdeste. E, imagina só, obra do acaso ou pura distração, fui eu que te encontrei outra vez nesse sítio onde tu finges não saber que estás. Só ainda não arranjei coragem para te tirar daí. 

Ainda não consegui dizer-te que conheço de cor os cantos desse abismo onde mergulhaste, e que não me importaria de te ajudar a sair dele - mesmo que isso implicasse cair outra vez.

santa paciência

Disseram-me que eu ia enlouquecer se continuasse a ler tanto. 

Ainda não decidi se devo rir ou chorar com isso - acho que enlouquecia era se não lesse, e se ficasse entregue a mim mesma a tempo inteiro com todos os pensamentos auto-destrutivos e tudo mais. Mas ninguém entende isso, sei lá. E, percebam, eu não fico cansada por ler; leio por gozo e não, não sou capaz de ficar meses sem pegar num livro como muitas dessas pessoas que juram a pés juntos que são umas leitoras exemplares.

Leio porque gosto, tal como uns de vocês vêm televisão, outros jogam, outros pescam, outros escarafuncham a patareca. Não quero saber. Deixem-me em paz.

mais ou menos isto

Não sei se sempre fui assim ou se é coisa recente, mas tenho uma tendência desastrosa para a sinceridade excessiva, até que comecei a perceber que, segundo as pessoas, não era suposto eu admitir que tenho menos autoestima do que probabilidades de vir a ser presidente do paquistão, ou que tenho medos ridículos e traumas que eu mal sei justificar. Parece que é feio dizer-se estas coisas. Parece que não devia admitir os meus pontos fracos. Parece.

Parece aos outros, claro, porque para mim continua a parecer uma estupidez fazer de conta que me adoro e que não tenho medo de nada. Não há praticamente nada que goste em mim e não me imagino a fingir o contrário. Sei lá. Se eu já sou incapaz de aceitar elogios e, na maior parte das vezes, acreditar que as pessoas gostam genuinamente de mim, mesmo croma e estranha, provavelmente espetaria um garfo na garganta se soubesse que alguém me adorava por aquilo que não sou. Parece-me uma maneira muito triste de se desperdiçar a vida, essa de se fingir que se é feliz. 

E no fim, eu percebo que não conheço realmente nenhuma dessas pessoas que se acham semi deuses por ninguém fazer ideia dos seus pontos fracos. Vão-se foder. É por isso que adoro gente simples.

siga

Percebi que mudei quando, ao ter a confirmação de que o plano perfeito tinha falhado, comecei a engendrar outro em vez de me atirar para um canto a chorar porque a vida é puta e eu não tenho sorte e cenas dessas. E não, não estou a planear um assalto nem faço parte de nenhuma rede de tráfico de orgãos; mas preciso de um plano só para ocupar os dias a pensar que tenho tudo controlado.

O meu problema é que eu sou a descontrolada por natureza e sei que no fim acabo por fazer o que me apetecer quando me apetecer, sem aviso prévio. Claro que corre mal, mas sabe bem. E, com sorte, até vale a pena.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

magoou meu corassaum

Hoje de manhã, um rapazito que conheci por acaso, mais novo do que eu mas adorável que só ele, encontrou-me agarrada ao livro do saramago nas escadas da escola e foi cumprimentar-me. Nisto, vira-se e diz és linda e estudiosa!


De facto, se há adjetivos que me assentam na perfeição, são esses. Oremos enquanto eu espeto a caneta na carótida.

estranhamente familiar

Que foi que eu disse, Que alguma coisa vai ter de suceder, Sucedeu, e eu não aproveitei, Outra coisa será, não esta.

José Saramago,
ensaio sobre a cegueira 

metaforicamente, mais uma vez

(...) já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos (...)

José Saramago, 
ensaio sobre a cegueira 

mother of god

Na maior parte do tempo, eu acho-me burra que nem uma porta, mas a minha mãe sempre me disse que devia estar grata pelo que tenho porque há sempre quem esteja pior. É bem verdade. Eu sei que há gente com um qi ainda mais baixo do que o meu quando apanho uma conversa a meio sobre as fases da lua - não sei porquê, estavam a ver se estávamos na  lua cheia ou na lua nova, idek - e ouço uma alminha a dizer qual é que é o primeiro e o segundo quarto? isto não diz se é quarto crescente ou increscente!

Hoje a patrícia sente-se um génio.

guerra aberta

Não sei a definição de amigo, mas duvido que inclua a postagem de uma foto tua cheia de cera no bigode, com o ar de felicidade de quem faz um exame à próstata. Há vidas tristes. 

metaforicamente

(...) esta deve ser a doença mais lógica do mundo, o olho que está cego transmite a cegueira ao olho que vê (...)

José Saramago,
ensaio sobre a cegueira 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

é por isto que eu sou má pessoa

Não querendo passar a imagem de cabra mansa ou de gaja-com-as-hormonas-aos-saltos-com-o-relógio-biológico-e-o-instinto-maternal-a-despontar, porque eu realmente não suporto a maior parte das crianças, mas há uma miúda lá na escola que me mete pena porque a vejo sempre sozinha. Idek. Não é bem como se eu não fosse anti-social e tivesse a mania de que só estou bem sem pessoas num raio de 3 km, mas a miúda tem um ar de abandonada que derrete meu corassaum porque, vá, mesmo com a mania que sou má, não suporto ver ninguém triste.

E então, como boa samaritana que sou, quase que me meti com ela. Quase. Provavelmente a miúda desataria a fugir quando visse uma lontra obesa a falar, mas não custava nada tentar e pelo menos a mocinha ficava a saber que ser anti-social desde tão nova ia ser uma merda, porque eu comecei há poucos anos e arrependo-me disso muitas vezes. Outras fico grata pelo feitio de merda com que fui presenteada, mas isso são outras andanças. O problema foi que, por qualquer motivo, não mexi o cu mal deliberei sobre o assunto, e isso foi um puro golpe de sorte.

Quando percebi quem a miúda era afinal, quase que me meti a caminho de fátima a pé para ir acender uma velinha a agradecer por ter sido vencida pela inércia, ou pelo cu gordo, e não ter ido ter com a criaturinha. Estava tão, mas tão fodidinha da vida se o tivesse feito, que nem é bom pensar nisso.