terça-feira, 28 de janeiro de 2014

refletindo

Desde que me lembro de mim que sempre quis viver noutro país - ou porque me apresentaram a frança muito cedo, ou porque percebi que não queria acabar a ouvir toy enquanto conduzia um camião. Eu sei, eu sei - não precisam de me bater. Não é por ser uma portuguesa portuguesíssima que vou acabar com bigode e uma monocelha farta, mas nunca fiando.

Sempre quis mudar de país, e nem é por embirração, nem pela crise, nem por nenhum desses motivos que agora move cada vez mais emigrantes - quero mudar-me por gosto, conhecer outros sítios, aprender outras línguas, escolher onde quero ganhar raízes em vez de me confinar ao país onde nasci.

Tenciono fugir mal possa, acabar com tudo, recomeçar. Depois de tudo o que tem sido a minha vida, preciso disso, preciso de uma mudança que faça tudo valer a pena. Ou, pelo menos, é isso que eu penso na maior parte do tempo. Às vezes, tenho medo. Tenho medo de me imaginar sozinha, num sítio qualquer do mundo, num mundo que não se parece com o meu, longe da redoma de vidro onde a minha mãe sempre me quis manter com medo que eu fosse raptada, violada e me extorquíssem os rins a sangue frio mal metesse um pé na rua; quero fugir, mas tenho medo. Quero começar do zero, mas tenho medo do que vou perder. Sei lá.

E, é certo, não me vou mudar amanhã e talvez nem faça sentido estar a preocupar-me com isto agora, mas há alturas em que temo não estar a fazer o que é certo. Não quanto à hipotética mudança, entenda-se, mas quanto a deixar os pontos nos is em tudo o que um dia terá de ficar para trás. As histórias pendentes, o que fica por dizer, por fazer. Por mais que isto, por enquanto, me pareça um futuro longínquo, eu sei que talvez já não seja tão longe assim e que é uma estupidez fazer as malas primeiro para depois andar a correr, de casa em casa, para atar as pontas soltas antes de partir. Queria atá-las já, mas para isso precisava que me deixassem fazê-lo. E, sobretudo, ainda que não o confesse, precisava que me dessem uma razão para não querer fugir. Pelo menos, sozinha.

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