segunda-feira, 23 de abril de 2018

upside down

As coisas nunca foram fáceis para mim - eu sei, eu sei. Frase típica de alguém cujas maiores decisões giram à volta da torrada de abacate ou dos ovos mexidos para o pequeno almoço, tanto que lhe tira o sentido e me faz parecer só mais uma menininha fútil e dramática. Que pareça. Quem me dera - neste momento - sê-lo!

Há alturas na vida em que tenho a capacidade de me rir das desgraças - depois, há outras em que não dá mais: é como se estivesse no mar e deixasse de ter pé por conta de uma onda maior do que o esperado. Eu não suporto a ideia de não ter pé, entro em pânico - assim, mal volto a sentir a areia, vem outra onda grande. E outra. Mais outra. Sempre, e cada vez maiores, sem me dar espaço para respirar ou para fugir - começa a ser um sufoco. Afogamento, se quiserem.

Estou numa dessas fases, em que as desgraças acontecem em cadeia e eu sinto que não sou capaz de suportar mais uma unha encravada que seja. Está difícil, está tudo do avesso, e o que está por vir é assustador: este é outro daqueles casos em que sei mais do que gostaria de saber. Conheço demasiado para conseguir assobiar para o lado e fingir que vai correr tudo bem. Não vai e, infelizmente, eu sei-o bem.

Os últimos dois meses foram caóticos: pareço estar a ser atacada por todas as frentes possíveis, parece tudo um plano engenhoso para me enlouquecer. Só que não é - é a vida real, e os problemas não podem esperar que eu esteja disponível para os abraçar. Há que saber manuseá-los, mas eu não sei gerir as emoções. Lamento, mas não sei - tenho esta mania horrível de tomar as dores alheias e, agora, além de todos os meus problemas, não estou a conseguir lidar com os dramas que poderiam não ser os meus se eu conseguisse ser suficientemente fria para sacudir a água do capote e seguir com a minha vida como se não estivesse a acontecer. Mas está. E é horrível que esteja.

Sinto-me a perder a esperança de dia para dia, a desistir de tudo aquilo em que acredito, a aceitar que não vai funcionar como gostaria. Já não dá. Já não tenho disponibilidade mental para travar lutas inglórias, para me fazer ouvir, para tentar mostrar que vale a pena lutar pela felicidade. Está tudo tão errado que, mesmo o que estava certo, perdeu o sentido.

sábado, 21 de abril de 2018

questões pertinentes

Estou aqui com uma dúvida:

vocês sabem que esta pequena lontra obesa continua na luta para exterminar uns quilinhos que sobraram e estão a cobrir toda a minha sexyness, não sabem? 

Acontece que ontem, mal acordei, saltei para cima da balança, ainda antes do pequeno almoço e tal qual vim ao mundo - é quase um ritual, que a pessoa já aceitou que a sanidade mental deu o que tinha a dar. 

Chego ao centro de saúde e a enfermeira convida-me a subir para outra balança. Vestida, calçada e de pequeno almoço no bucho. 1kg a menos do que em casa.

Portanto, a minha questão é: quanto é que devo oferecer para poder trazer aquela balança para casa? Pago em dinheiro ou ofereço laranjas e três galinhas vivas?

domingo, 15 de abril de 2018

a melhor noite de sempre

Além de ter descoberto que uma moça que eu conheço anda a criar ovelhas e cabras na varanda lá de casa, no meio da cidade, ainda fui conhecer os dois pretendentes da minha (falecida) tia avó que, viúva, resolveu voltar a casar.

Não me lembro das caras dos senhores, mas sei que ambos usavam naperons na cabeça porque achavam bonito. 

Estou aqui um bocado chateada, porque ainda comecei a dizer à minha tia que aquilo lhe iria dar muito jeito para lhes meter uma jarrinha com flores em cima, no alto da pinha, mas acordei a rir às gargalhadas antes de saber o veredito final - aposto que escolheu o do naperon mais bonito.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

aos senhores do iefp

Meus queridos,

leiam devagar, porque quero que entendam tudo e sei que nem sempre vos é fácil perceber as coisas. Vamos com calma. Ninguém nasce ensinado e ninguém vos obriga a ser competentes - o que é uma pena, diga-se, mas enfim.

Sou só mais uma das milhares de pessoas inscritas. Pergunto-me muitas vezes porquê, o que é que já ganhei com isso além de raivinha dos dentes mas, às vezes - muitas vezes, aliás -, essa é uma das primeiras perguntas que me fazem em entrevistas de emprego, e convém dizer que sim.

Quero que saibam que gosto muito daquelas reuniões para as quais sou cordialmente convidada com uma frequência absurda, sob pena de anularem a minha inscrição e impedindo-me de me re-inscrever durante os 90 dias seguintes. Apesar da utilidade inegável destes encontros, ou sessões coletivas, como tanto gostam de lhe chamar, no fundo eu sinto que estou em regime de identidade e redidência, obrigada a apresentações periódicas para vos sossegar. Eu prometo que não fujo do país, não se preocupem!

Sem vocês, nunca teria descoberto que é essencial ter um currículo quando se está à procura de emprego. Achei que bastaria meter um anúncio nos grupos de emprego, a oferecer-me para trabalhar, como um que li há uns dias e dizia algo do género quem tiver aí um emprego fixe, que chute a proposta. Ou, melhor ainda, acender uma velinha à nossa senhora! Muito obrigada pela diferença que fizeram na minha vida. Se calhar, já chega.

Também não estou interessada em fazer formações só para fingirmos todos que a taxa de desemprego está nas ruas da amargura, sujeita a desaparecer. Eu sei, todos sabemos, que o conhecimento não ocupa lugar mas, tentem perceber, há alturas das nossas vidas em que 120€ por mês não nos chegaram, que a sabedoria não enche a pança de ninguém nem paga contas.

Não vos censuro - eu sei que, não sendo uma miss, há gente mais desagradável à vista e é normal que me queiram ver tantas vezes, mas eu gostava muito que pudessem parar de gastar energia e papel comigo, a não ser que seja para me enviar aquilo que eu, de facto, quero - os contactos das empresas que me deveriam ser enviados depois de vocês, meus adoráveis trabalhadores, validarem a minha candidatura. É o passo seguinte. O suposto. O normal.

Sabem a morada para onde enviam aquelas convocatórias semi-agressivas? É a mesma. Também podem usar o email, que eu não me importo. Telefone, fax, sinais de fumo, artes mágicas - o que quiserem. Vale tudo se começarem, realmente, a ajudar as pessoas a encontrar trabalho, em vez de lhes impingir formações ou, pior ainda, reuniões sem qualquer propósito.

Releiam as vezes que forem necessárias, sublinhem as partes mais importantes, estudem em grupo. Não estou a julgar as vossas dificuldades de compreensão, que eu não gosto de gozar com as pessoas - mas espero que algum dia sejam capazes de entender. E que me enviem a porra dos contactos que estão em falta.

Sem mais a acrescentar,
continuem com o bom trabalho a fingir que trabalham.