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segunda-feira, 29 de março de 2021

gata borralheira, take mil.

Perdi a conta de há quantos anos prometo a mim mesma que vou voltar ao blog em força, que vou procurar aquela chama que sentia pela escrita, e que vou conseguir fazer disto a minha terapia novamente. Mas depois falho, de todas as vezes que tento. Acabo sempre por desaparecer.

Agora é só porque não me apetece. Porque os meus dias são cheios de nada e, na maior parte do tempo, nem pachorra tenho para conversas. Tenho mensagens por ler há dias e um projeto na gaveta há semanas em que não pego - por falta de energia, que tempo tenho de sobra.

Há um mês e dez dias que acordo à espera de que o telefone toque e me deixo ficar em ânsias até às seis ou sete da noite. Depois desisto, aceito que passou mais um dia sem respostas, não consigo dormir e recomeço o processo na manhã seguinte.

Ninguém fala sobre isto, mas parece-me impossível que eu seja a única a senti-lo: tenho vergonha de dizer às pessoas que estou desempregada. Outra vez. Tanta vergonha que já cheguei a mentir, dizendo que estava de férias e depois que continuava em teletrabalho. Não sei se acreditaram, mas sei que não fizeram mais perguntas e isso chega-me.

Entre a empresa que faliu, a loja que não faliu mas deixou de pagar, a clínica onde não tinha quaisquer direitos e ainda era humilhada constantemente e um emprego temporário, resta-me o meu primeiro emprego, num hospital, de onde saí porque estava a recibos verdes e tinha a garantia de um contrato sem termo se fosse a concurso, mas não estava feliz. Quatro anos depois, ainda há quem não entenda a minha decisão de rejeitar a oportunidade única de ter um trabalho na função pública - costumo dizer que a minha decisão final foi tomada às quatro ou cinco da manhã, num turno da noite, quando dei por mim, exausta, a lavar o balde de uma cadeira arrastadeira cheio de diarreia. Não sei se me levam a sério, mas é esta a verdade: naquela noite, olhei-me ao espelho e tentei imaginar-me a fazer aquilo durante os 40 anos seguintes. A resposta foi óbvia.

Ainda assim, e mesmo tendo achado sempre que tomei a decisão certa ao querer mudar de vida, ao ter de contar às pessoas que estou outra vez em casa, conseguem fazer-me questionar - com exceção do último emprego, onde fui verdadeiramente feliz a fazer o que fazia, a verdade é que fui colecionando empregos de merda ao longo dos tempos e acabei sempre na mesma posição.

E agora estou aqui - mais desesperada e mais exigente do que nunca porque a última coisa que quero é voltar a ter um emprego que me obriga a procurar outro quando chego a casa desde o primeiro dia. Procuro uma estabilidade que às vezes acho que não é mais do que um oásis no meio do deserto, porque vivo na ilusão de que não preciso de me sentir miserável todos os dias para pagar as contas ao final do mês.

Os dias seguem lentos, as horas demoram-se no silêncio de um aparelhozinho de que pareço depender, e nada acontece além do aumento da angústia. E o engraçado é que nem se trata de eu estar a ser demasiado esquisitinha e não me candidatar mesmo a coisas de que não gosto tanto - a pouca oferta que tem havido é exatamente nas coisas de que eu gosto de fazer.

Só que, aparentemente, não estou à altura de nada.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

sexta feira

E nenhum milagre aconteceu.
Não senti a falta deste viver com o telemóvel como uma extensão do braço, numa espera desesperada por respostas que nunca chegam. Não senti a falta de sentir a esperança a dissolver-se nas horas e a receber cada anoitecer com um sentimento de falha, de perda. Todos os dias.

Estou numa situação difícil de explicar, num limbo esquisito: poderei ou não ficar desempregada dentro de duas semanas, e se há uma parte de mim que está aterrorizada com a ideia de voltar ao desemprego, a outra está mais aterrorizada ainda com a ideia de renovar um contrato que nunca desejei em primeiro lugar. 

Fala-se muito das saudades, da falta que nos fazem as pessoas e nos reencontros mais esperados - ninguém fala do oposto. Da falta que não nos fez quem nos causava um mal estar constante, e da vontade de adiar esse reencontro eternamente. É impossível que eu seja a única a sentir isto. É impossível que não exista uma única alma neste mundo que sinta o que eu sinto, este nó no peito porque o período de afastamento torna insuportável sequer imaginar a reaproximação. Esse dia em que terei de sorrir, acenar e fazer de conta de que estou feliz por voltar.

Don't get me wrong: a quarentena não tem sido fácil para mim, tal como para a maior parte das pessoas. Não consegui encará-la como umas férias, ou uma pausa, porque só me veio desequilibrar: passei de muito ativa a quase sedentária, perdi bastante peso por falta de apetite e uma alimentação degradante, fiquei mais instável do que nunca ao nível emocional e, especialmente desde o final do mês passado, tenho-me sentido permanentemente nervosa porque não sei o que será de mim. Ainda assim, mesmo que o panorama seja miserável, a ideia de ter de voltar ao trabalho sem um backup plan para o fim do meu contrato, consegue fazer-me sentir muito pior. Eu já quereria sair, mesmo que não tivesse acontecido tudo isto - mas agora quero-o mais do que nunca porque, dois meses depois, não consigo imaginar-me a voltar para um sítio onde me arrastava até ser fim de semana outra vez.

Neste momento, não sei nada de mim. 
É bastante provável - ou quase certo - que estarei de volta na próxima segunda feira. Sem plano de fuga, sem cartas na manga, sem plano b. Mais ou menos obrigada a ficar. Mais ou menos condenada a continuar a arrastar-me por aí - e, acreditem, não há quarentena que supere esta sensação.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

parece mal dizê-lo.

Passaram (quase) seis semanas; seis semanas em que, na maior parte do tempo, esta casa me parece demasiado pequena para que seja capaz de respirar dentro dela mas que, apercebo-me agora, se transformou no meu forte, no meu porto seguro. Ver o mundo do lado de dentro da janela já não me pesa da mesma forma, e já não me sinto tanto a viver dentro de um aquário desde que me apercebi de que estou demasiado assustada com a ideia de voltar a sair.

Ensinaram-nos o medo.
Ensinaram-nos a refugiarmo-nos nas nossas casas e a desinfetar a nossa própria sombra, não vá o diabo tecê-las: de repente, a perspetiva de um regresso à normalidade, uma normalidade vestida com aspas por tempo indeterminado, não me traz o conforto que achei que sentiria há um mês. Traz o medo.

Há alguns dias que não durmo: ninguém se decide, ninguém avança com a decisão, mas parecem ter todos a expectativa de que o fim do estado de emergência dite a reabertura das clínicas dentárias. E eu acho que não poderíamos começar pior, a confirmar-se, numa altura em que têm de ser dados passos pequeninos até podermos correr grandes distâncias. Parece-me um disparate o regresso a um local onde o perigo de contágio é real, e senti-me obrigada a preparar todo um plano de isolamento para mim mesma. O meu isolamento real começará no dia em que tiver de voltar a trabalhar porque sei que o risco de ficar doente é elevado, e não quero colocar ninguém em perigo - e estou a entrar em pânico por isso.

A incerteza do futuro não me deixa respirar.
Já tinha assumido por aqui o meu desamor pela pela profissão que tenho há quase um ano: nunca fui capaz de gostar, nunca fui capaz de me sentir feliz. E, nos últimos meses, essa não-felicidade tinha começado a transformar-se numa infelicidade e num mal estar geral que me consumia os dias e me devorava as semanas numa pressa constante de viver fora dali, por mais que fossem só dois dias. E aquilo que ninguém ousa assumir, num momento em que se quer que estejamos todos gratos por um regresso, é que estou mais ou menos certa de que voltar, depois de todo este tempo, vai tornar tudo muito mais difícil.

Tenho estado à espera de um milagre: empenhei-me a procurar trabalho, o mais afincadamente possível, numa esperança vã e mais ou menos estúpida de não ter de voltar. De poder chegar ao fim do meu contrato e sair pela porta da frente sem ter de voltar a arrastar-me para lá. Não sou boa no arrasto, não sou adepta do vai-se andando - deixa-me desesperada acordar constantemente com vontade de voltar para a cama, só para não pensar em todas as horas que separam um momento e outro. 

A incerteza do futuro não me deixa respirar porque há uma parte de mim que teme a possibilidade de estar desempregada dentro de um mês, pela não renovação do contrato, e a outra parte de mim teme exatamente o contrário: este é um capítulo que precisa de ser encerrado, mas eu não tenho a coragem de escrever as últimas linhas - temo que possam ser a minha assinatura numa renovação que não desejo, pelo medo de aceitar que nunca vou conseguir sentir-me bem neste lugar e que viver assim nem é bem viver.

[em resposta a alguém que presumo que virá à procura dela: 
raramente sou a primeira a fechar as portas mas, quando o faço, ficam trancadas a sete chaves. a vida foi-me mostrando que há pontas que ficam soltas mesmo. talvez um dia se atem por si, ou talvez não - mas há pouco ou nada no passado que faça questão de trazer para o presente e menos ainda carregar para o futuro. estou a tentar curar o que ainda me dói, e o resto é só isso mesmo: o resto. deixou de me interessar, com toda a honestidade.]

sexta-feira, 5 de abril de 2019

os eternos estagiários

No início desta semana, tive uma entrevista de emprego para uma vaga deeee... operadora de call center.

Entenda-se que ofertas para call center é, literalmente, o que mais há em Coimbra, o que já me parece um claro indicador das condições de trabalho: diariamente - sem exagero: DIARIAMENTE - são colocados anúncios exatamente para a mesma função, mas com textos diferentes e com títulos mais ou menos originais, a ver se ainda alguém cai. Não me vou alongar sobre algo que só sei por relatos alheios, mas nunca me candidatei por ter consciência de que é trabalho precário ao mais alto nível.

Até que apareceu um novo anúncio, também para call center mas numa zona completamente diferente, e a pessoa lá envia o cv, como quem atira o barro à parede, e logo se vê no que dá.

Portanto, como comecei por dizer, tive uma entrevista.
Tenho a noção de que disse as coisas certas e de que os conquistei em poucos minutos. Isso ou o desespero deles é maior do que o meu e os restantes candidatos eram ainda mais merdosos do que eu - eu nunca saberei, vocês nunca saberão, mas em todo o caso... vamos dizer que tenho aquela lábia para convencer as pessoas de que sou capaz de vender as alminhas deles em troca de um bolicao.

A dada altura, o senhor diz: 

- sabe que num emprego na área comercial... há uma coisa que está sempre presente...

*fica a olhar para mim, à espera de que eu complete a frase como se fôssemos um casalinho*

- comissões! - respondo com os dois neurónios que ainda respiram.

Sorri ligeiramente. Entendo que fiz merda.

- também, mas eu estava a falar da pressão.

Apesar deste deslize, a coisa foi indo bem. Eu estava pouco convencida, devido a uma série de fatores que não vos interessam, mas disposta a tentar porque, assim como assim, era melhor do que nada. Até que eles dizem...

- não sei se reparou mas isto é para um estágio profissional! são 9 meses, o salário é quase o salário mínimo, essas coisas...

Não, não reparei porque não estava no anúncio - se estivesse, com toda a certeza de que este fat ass não se teria sentado naquela cadeirinha, e a pergunta que não quer calar é... para quando colocar limites nos estágios profissionais? 

Assim de repente, eu consigo entender os estágios profissionais em situações específicas, quando pessoas recém formadas em alguma coisa pretendem enriquecer o currículo, por forma a facilitar a entrada no mercado de trabalho (gostaram da inocência aqui? the truth is: em primeiro, 9 meses de experiência são uma gota no oceano quando as empresas pedem 5 anos, e em segundo, provavelmente só vão perder oportunidades em outras empresas que também queriam um trabalhador a custo zero, mas entretanto vocês já gastaram o vosso plafond de um estágio por vida.), mas não consigo entender que toda e qualquer profissão possa ter os ditos estagiários.

Por que caralho vai andar o povo a pagar a um estagiário de... operador de call center? O trabalho em si já não é precário e merdoso que chegue? É mesmo necessário trabalhar sem quaisquer direitos e acabar desempregado nove meses depois, para que a empresa possa repetir o processo e nunca chegar a pagar a alguém?

Isto se, entretanto, não tiver sido colocado na rua por não ter cumprido os objetivos de vendas. Aqui trabalhamos com estabilidade e sanidade mental, já se viu.

Também já vi anúncios a pedir candidatos, elegíveis para estágios profissionais, para estafetas. Empregados de balcão. Operários fabris. Pergunto-me para quando os varredores de rua estagiários.

Depois a parte mais triste é que estes estagiários nem sequer podem usar o estatuto para se negarem a alguma coisa, tipo faz tu isso que eu sou só estagiário - não, filhos, estas pessoas trabalham o dobro, a ganhar pouco e sem férias, na esperança vã de, ao fim de 9 meses, a empresa achar que era um bom negócio ficar com eles. E, na maior parte das vezes, não fica - vai buscar outro e repete-se o processo.

Até quando? 
Vale mesmo tudo para fazer de conta de que a taxa de desemprego diminuiu? Vale mesmo a pena não ter qualquer respeito pelas pessoas que vêem a estabilidade como um desejo inalcansável?

Acho que não.

como são os dias, cinderela?

Perco sempre seguidores de todas as vezes que ouso mostrar que há toda uma vida de deprimência por trás de uma criatura que, na maior parte do tempo, só diz disparates pontuados por palavrões, mas continuarei a escrever sobre o que me dói as vezes que forem necessárias para deixar de doer. Cada post, é uma lambidela na ferida. Um dia, ela há de fechar.
O meu estado atual é o nervosismo permanente; sinto-me sempre a fervilhar nos piores sentidos possíveis e, na maior parte do tempo, sinto-me confusa, sem saber muito bem para onde me virar. Não há um ponto da minha vida que me pareça cem por cento certo, não há absolutamente nada que não me deixe com a sensação de que há alguma coisa por resolver. Estou desapontada. A remar contra uma maré que talvez acabe por me afogar, a tentar o melhor possível em vão. E a colecionar desilusões que não confesso em voz alta para nem assumir que estou magoada e a perder o norte.
Levanto-me sem vontade. Tenho feito mil e uma coisas, resolvido mil e um assuntos para evitar ter alguma coisa pendente na hora do tão esperado sim- mesmo assim, chego ao final do dia com a mesma sensação de inutilidade e de cansaço desmerecido. Estou cansada, já o terei dito?
Há semanas, encontrei algo no meu corpo que não deveria lá estar - conversei com uma médica que me disse para não entrar em histeria, que não parece algo complicado, mas o meu novo entretém é passar a vida a tocar-lhe, numa tentativa vã de perceber se está igual ou se mudou alguma coisa. Que mudasse - não seria em meia hora. A paranóia é tal que sou capaz de começar a ter dores onde não existem, ou de o sentir muito maior mesmo que esteja exatamente igual: been there. O respeito que tenho pela saúde é tanto que não consigo ficar descansada. Vai ser um longo mês e meio à espera da consulta, e na altura talvez já tenha de pedir um bilhete de ida para psiquiatria também.
Está tudo errado.
A ansiedade, a minha velha amiga, voltou a instalar-se. Volta e meia, dou por mim ofegante a fazer nada, de repente todo o ar do mundo não é suficiente para encher o meu peito onde um coraçãozito bate descompassado. Já tive muito medo destes sintomas, mas hoje já aceitei que, muito provavelmente, conviverei com eles para sempre. O que eu não sei mesmo é viver com a incerteza constante, com sonhos arrumados ao canto.
Eu, que nunca gostei da vida traçada a régua e esquadro, eu que nunca gostei muito de planear o que vinha a seguir, dei por mim transformada numa control freak que é incapaz de lidar com um plot twist. Tinha planos mais engraçados para esta altura, mais felizes. E sonhos para concretizar que, volta e meia, já duvido que algum dia venham a ser possíveis.
Estou cansada... cheguei a escrevê-lo antes?

terça-feira, 26 de março de 2019

cinderela e as vinganças não cozinhadas

A melhor parte de se estar desempregado e inscrito no iefp é que, com uma frequência absurda, recebemos uma convocatória para uma sessão coletiva que não serve para muito mais do que para nos fazer sentir que estamos em regime de identidade e residência. Pergunto-me para quando a pulseira eletrónica para localizar desempregados, não vão eles fugir do país com o subsídio milionário. Especialmente pessoas que, tal como eu, recebem a módica quantia de zero euros com zero cêntimos.

Como é do conhecimento geral, esta pessoínha está desempregada há perto de dois meses - na primeira semana, recebi duas convocatórias de uma só vez, para duas reuniões em semanas consecutivas. A primeira foi um insulto tão grande à inteligência dos presentes que cheguei a começar um post sobre isso, mas nunca o publiquei. A segunda, foi mais do mesmo: sessão ilucidativa sobre a importância de ter um currículo. Pode parecer uma piada, mas não é.

No final de cada um destes encontros regionais de desempregados, entregam-se as convocatórias a quem a dirigiu, como prova de que estivemos presentes. Assim o fiz, em qualquer uma das duas vezes. Entenda-se que eu só me dou ao trabalho de comparecer para poder manter a minha inscrição, devido à quantidade de empresas que recorrem aos estímulos à contratação que exigem isso mesmo dos candidatos. 

Foi ontem, por ter começado a estranhar estar há mais de um mês sem ficar a ferver por dentro, que fui verificar o estado da minha candidatura: anulada. Alegadamente, não compareci a uma convocatória. Gravíssimo. Devo ter fugido do país.

Ora, eu sabia que isto só podia ser uma de duas coisas: ou a convocatória em questão nunca chegou até mim, ou algum dos seres geniais a quem as entreguei, no fim da sessão de humilhação, usou a minha folha para outros fins que não para confirmar a minha presença. Foi a segunda hipótese: misteriosamente, marcaram-me falta apesar de eu ter estado lá.

Portanto, aqui estou eu, com a minha inscrição anulada e impossibilitada de me reinscrever até ao dia 29 de maio, por um erro que não foi meu. Escrevi uma carta à diretora do centro de emprego, a explicar o sucedido e a pedir que me deixem voltar a inscrever sem esse castigo de 90 dias, mas não sei qual será a resposta.

Irritadíssima desta vida por saber que este é um ponto contra mim, aos olhos de muitas empresas, e mais ainda por saber que não tenho culpa alguma disto... recebi um email, do próprio iefp, a pedir-me que avalie o meu último contacto com a instituição. 

Afinal, deus até me curte um bocadinho.

quarta-feira, 20 de março de 2019

[aconteceu no sábado, pela primeira vez, e hoje repetiu-se: comecei a chorar descontroladamente. queria parar, queria acalmar-me mas, sempre que parecia ter recuperado a capacidade de respirar, era acometida por uma nova onda de pensamentos que trazia ao cimo mais uma enxurrada de lágrimas que eu não sabia existirem dentro de mim. era impossível secá-las.
tenho, neste momento, a mesma sensação que experimento num elevador: mesmo que queira, mesmo que precise, não tenho como fugir. estou encurralada. e é tão sufocante que não consigo perceber onde encontrei fôlego para chorar. para reagir.
contrariamente ao que se diz, o pior não é não ter esperança - o que é mesmo difícil, é tê-la e perdê-la. é dizerem-nos as palavras certas, exatamente o que queremos ouvir, vermos o brilho a voltar ao nosso olhar, o sorriso a surgir, depois de semanas e semanas de ausência, para depois voltarmos à estaca zero. ou menos um.
ficam as dúvidas, acima de tudo, acerca do meu próprio valor. das minhas capacidades. ou do que terei de tão errado assim, para que nunca nada dê certo.
quase dois meses depois, esgotei aquela réstia de esperança. e sinto que desisti daquilo em que mais acreditava, daquilo que mais defendi durante todo este tempo, porque não me restam forças para lutar por isso. não dá mais. não posso continuar a fingir que mereço o que ninguém me quer dar.
hoje morreu aquela réstia de esperança que ainda me ia mantendo sã. paz à sua alma.]

sexta-feira, 8 de março de 2019

porque é que me devias contratar?

É verdade, amigos: estou em casa há coisa de cinco semanas e já sinto que, não tarda, estou a atingir a idade da reforma sem ter tido sequer a oportunidade de ir preparando o tachinho para a altura em questão. E isto nem é tão descabido assim, se pensarmos que estamos demasiado velhos para a maior parte dos postos de trabalho a partir dos 40 - talvez seja uma sorte ter este arzinho de menor de idade aos 23 mas, se continuo em tamanho stress, sou capaz de começar a envelhecer precocemente muito em breve.

A verdade é que o mercado de trabalho é cada vez mais uma selva competitivo: quando não se tem a sorte de ser prima direita do dr Cunha, é mais fácil ficar milionária a pedir esmola à porta de uma igreja do que conseguir um emprego em condições, onde a pessoa não acabe explorada ou à beira do suicídio. 

Depois existo eu, uma teimosa do caraças que não acredita nos vai-se andando e quer mesmo é ser feliz e levantar-se todos os dias com vontade de ir trabalhar. Já viram coisa mais absurda para se querer? Eu sei, eu sei: sou pouco dada a modas e a tradições. Sei que é mais comum querer ser-se infeliz e resmungar todos os dias da má sorte e do euromilhões que nunca mais sai, do que querer realmente fazer algo que nos complete e nos faça felizes. Espantem-se: o que eu quero mesmo é não encarar aquelas 40h semanais como uma constante ida ao dentista. Ou, pior, como uma ida ao dentista para extrair o siso! 

Infelizmente, os recrutadores/empregadores/gente à procura de funcionários, estão com alguma dificuldade em perceber isso, portanto eu vou deixar abaixo uma lista a explicar porque é que já me deveriam ter contratado ontem. Ora vejam:

Boa apresentação
Gente, vamos lá ver: eu não sou bonita, que não sou, mas fui feita com muito amor e carinho. Isso conta, ou não?
Apesar desta tromba, que podia ter dado uma boa máscara de carnaval, não posso deixar de referir que tenho os dentinhos todos no sítio, ou já teria enveredado pela carreira de arrumadora de carros e não estaria a candidatar-me a vagas mais, digamos, fancy.


Assiduidade e pontualidade
Isto é muito simples de explicar: sou demasiado ansiosa para correr o risco de chegar atrasada. Quando tenho um compromisso, minha vida é cronometrada ao minuto para garantir que chego a horas. Se, ainda por cima, implicar estacionar num sítio onde estou pouco à vontade, chego duas horas antes e ainda vos tiro um café.
Quanto à assiduidade, mais simples ainda: fiz uma cirurgia e, no dia seguinte a ter tido alta do hospital, com mais buracos na barriga do que um crivo, estava de volta às aulas. Querem mais? Era sexta feira. Quem mais teria voltado às aulas, apenas três dias depois de ter perdido uma das suas peças de origem e, ainda por cima, a uma sexta feira? Exato: eu. Contratem-me.

Experiência em softwares que nunca nesta vida ouvi falar
Não tenho experiência mas, graças a deus nosso senhor, tenho um cérebro. E, melhor ainda: consigo usá-lo. Ensinem-me o básico para começar e, em menos de nada, vão ficar chocados com tudo o que eu já descobri. Sou mulher, pessoas, e mulher que é mulher tem uma costela de FBI, que tanto serve para desencantar os podres dazinimigas quanto para investigar e assimilar informação em tempo record. 

Jovem e com 30 anos de experiência na área
Vou contar-vos um segredo: experiência não faz, necessariamente, um bom funcionário. Já trabalhei com pessoas que, de facto, tinham mais de 30 anos de experiência na área e continuavam a ser maus funcionários - não por não saberem fazer, mas porque nem sempre isso é o mais importante.
Trabalhei em três áreas completamente distintas e, garanto-vos, dei o meu melhor em qualquer uma delas, porque não sei ser de outra forma. Não participo em nada onde não esteja disposta a entregar-me a 100%, a vestir a camisola - e nem numa altura em que já não estava feliz nem a gostar do que fazia, deixei de desempenhar as minhas funções com brio.
Portanto, a experiência adquire-se trabalhando, há sempre espaço para aprender coisas novas e, garanto-vos, dou uma funcionária do caraças.

Conhecimentos matemáticos
Este não costuma ser um ponto muito presente nos anúncios mas, em entrevista, já passei pelo momento constrangedor em que explico o meu percurso escolar e como acabei num curso profissional alternativo porque chumbei a matemática no secundário, e ouvir um ahhhh, mas os conhecimentos de matemática eram importantes para a função. Vamos lá clarificar a coisa: eu não consegui passar no exame, mas não sou necessariamente acéfala ou inválida para o o mundo do trabalho por isso. Ou ponderavam dar-me uma equação trigonométrica para eu calcular o horário de uma reunião?

Vontade de trabalhar
Eu gosto sempre deste ponto porque uma pessoa não tem como se defender. Como é que explico? Acrescento na carta de apresentação que já queria ter começado a laborar ontem? Digo que mal posso esperar para *copiar e colar neste espaço todas as funções descritas no anúncio*? Se não estivesse com vontade de trabalhar, não me candidataria. Mas às vezes tenho vontade de acrescentar que, pelo menos, não vou fazer trezentas pausas para fumar/tomar café/olhar para o teto, porque tenho a síndrome da menina certinha e esse tipo de comportamentos nunca me fez sentido. Ainda por cima, nem sequer fumo. Porque é que não perguntam isso? Deve contar como vontade de trabalhar, ou não?

Carta de condução
Esta é sempre a minha favorita - para todos os efeitos, sim, tenho carta de condução, e veículo próprio. O problema é que sou sovina, não adoro conduzir e, podendo, não conto fazer outra coisa que não usar transportes públicos - numa época em que toda as pessoas se preocupam mais em ter uma vida sustentável e poupar o ambiente parece-me, no mínimo, irónica a obsessão pela carta, ou não, pelo carro, ou não.
Já cheguei a ser descartada de uma oferta de emprego porque, quando me começaram a questionar sobre a distância a que vivia daquele posto de trabalho, eu respondi que nunca seria um problema porque, sendo mesmo ao lado da estação, poderia facilmente utilizar o comboio como meio de transporte. Que não, que não podia ser, que um dos requisitos era a carta de condução e viatura própria - entendam que estamos a falar de uma vaga para rececionista. RECECIONISTA.

Conhecimentos informáticos na ótica do utilizador
Fico sempre um bocadinho baralhada com esta - é para dizer que sei ligar o computador? Que sei o que é um browser e que até me safo muito bem em meia dúzia de programas que não uso no dia a dia? Que gosto de explorar? De qualquer forma, tenho um blog, ando nisto há quase 9 anos desta vida, acho que encaixo, ou não?

Perfil comercial
Também gosto muito desta, especialmente quando surge em anúncios que, à primeira vista, nada teriam a ver com a área comercial. Mas o que é, afinal, ter um perfil comercial? É ter lábia para, se for preciso, vender as vossas mãezinhas? Sim, as vossas. A minha é que não, de certeza, que quem quer vendas são vocês.

Domínio do inglês
You'll never know if you don't ask - i already had a job interview in french, but i was never asked to say a single word in english, wich is curious if we think that most of them want me to be fluent. Ok. I am. Even though i can get a bit nervous and, don't even know, end up telling you that i want to eat your mother, i promess you that i can really talk and have a decent conversation.

Agora a sério: por que raio é que eu estou desempregada? Não veem o que andam a perder?

quinta-feira, 7 de março de 2019

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Há duas ou três semanas, ao ver-me a correr, uma daquelas senhoras especialistas na vida alheia achou por bem pôr-se aos gritos, no meio da rua, para me perguntar se ainda estava a trabalhar no mesmo sítio. Irritou-me pelo absurdo da situação: eu não iria parar de correr para conversar com ela, fosse qual fosse o motivo, muito menos entendi a necessidade daquela pergunta quando eu já estava largos metros à frente. Despachei-a com um não atirado por cima do ombro e escrevi um post a resmungar com o assunto.

Só que, depois, percebi que sentia vergonha. Vergonha de me assumir desempregada porque, por mais que eu não tenha tido a culpa, o sentimento é sempre o mesmo: falhei. Falhei às expectativas dos outros, mesmo daqueles que não parecem ter motivo algum para ter expectativas sobre mim. E isso dói.

A vida segue exatamente igual, sem outra emoção que não o desespero, e cada dia, parece ser só a extensão do anterior. É difícil fazer os outros perceberem o porquê de estar desanimada ou de não ter nada de novo para contar. É meio complicado colocar em palavras o sentimento de inutilidade ao chegar ao fim de cada dia, de cada semana, sem uma única resposta positiva. Sem uma luzinha que seja ao fim do túnel. 

Para os outros, eu ainda nem estou em casa assim há tanto tempo e tenho de ter paciência - para mim, passou uma eternidade desde a última vez que eu soube o que era ter uma rotina. E que bem que sabe uma puta de uma rotina que implique sair de casa e fazer coisas que resultam em dinheiro ao fim do mês! Que bem que sabe poder fazer planos, poder ter coisas a acontecer, poder seguir com a vida.

Todos os dias aumenta o peso no peito e a sensação de que isto não tem fim à vista, de que ninguém vai ser capaz de entender o verdadeiro conflito que vive na minha cabeça e o quanto me sinto a sufocar. Ou que é mais uma facada de cada vez que voltam a falar-me do hospital, como se tudo o que aconteceu depois me tivesse, ou devesse, feito lamentar a decisão de sair de lá - não fez. For god's sake, ainda não me arrependi por um segundo que fosse, e duvido um bocadinho de que vá fazer em algum dia.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

cinderela e as entrevistas traumáticas

Depois de toda a odisseia para chegar à entrevista, subi as escadas, completamente encharcada e com a dignidade ferida, e dirigi-me à senhora da receção. Pedi desculpa pelos dois minutos de atraso porque me perdi, mas disse-me que não fazia mal, que tinha chegado muito a tempo e encaminhou-me para o fundo do corredor, para uma sala onde já estavam três senhoras sentadas, também elas para entrevista.

Nada de estranho até este ponto, só extremamente desconfortável - um dos meus problemas foi ter-me esquecido da confiança no útero da minha mãezinha, e sinto-me sempre extremamente desencorajada quando vejo os outros candidatos à vaga porque, mesmo que lhes faltem três dentes à frente ou pareçam dealers em part-time, eu acho que terão mais hipóteses do que eu. E, neste caso, tinham todas o dentiçal completo e aquele ar fancy que deixa uma pessoa a questionar as decisões que tomou, em relação à vestimenta, desde a camisola até às cuecas. Fui perscrutada com o olhar, especialmente pela moça mais nova, a única que não tinha idade para ser minha mãe. 

Confesso que o que senti naquele momento roçou a humilhação: tinha andado imenso tempo à chuva e, apesar do cabelo seco, estava encharcada da cintura para baixo e parecia que a base me tinha dado aquele ar suado de quem tinha ido correr antes de ir para ali, e trocado de roupa sem tomar banho. Um must. Uma clara candidata. Só que não.

Até que aparece o senhor e nos encaminha a todas para a mesma sala: eu já tive entrevistas muito distintas, algumas delas muito esquisitas mesmo, desde as presenciais às por skype, desde chegar lá e descobrir que metade da entrevista seria em francês, àquela em que me chamaram barbie e que poderia muito bem ter sido para algo na indústria pornográfica. Mas, em grupo, apesar de saber que era possível, foi a minha primeira vez. Uma estreia em grande.

Inicialmente, quis acreditar que o senhor se limitaria a explicar as condições do emprego e, depois sim, falaria connosco em privado. Não demorei a perceber que não iria ter essa sorte.

Gente, poderá haver coisa mais desconfortável do que, além de já se estarem a sentir inferiorizadas por terem nascido com esta tromba que deus nosso senhor estava a guardar especificamente para uma máscara de carnaval e vos deu por engano, ainda estarem a ouvir o percurso profissional incrível das pessoas com quem estão a competir por uma vaga? 

De repente, sentia que ainda estava a arrotar ao bolo do meu próprio batizado e que, de facto, é uma loucura tentar procurar um trabalho antes de se ter 20 anos de experiência ou um mestrado numa área completamente diferente daquela a que me candidato mas que, ainda assim, dá quatro milhas de avanço a qualquer outro ser que tente a mesma vaga com o 12º ano. Independentemente de tudo o resto. Sempre.

Não fiquei com o lugar, como é óbvio, coisa que foi percetível que aconteceria mal confessei que, sim senhor, ao contrário de todas as outras senhoras presentes, eu já trabalhei a recibos verdes. Aliás, uma delas chegou mesmo a perguntar que raio de modalidade de contrato era aquela, porque só tinha ouvido falar em contrato a termo certo ou incerto, nunca de recibos verdes - por onde andou estes anos todos, senhora? Em que gruta se escondeu, que também estou interessada em esconder-me por uns tempos?

Ah, Cinderela, mas qual é o interesse desta história?
Absolutamente nenhum, para ser franca. Foi só mais um episódio deprimente dos tantos que eu gosto de relatar. Esta entrevista aconteceu no meu último dia de trabalho na empresa de onde fui despedida - e, mesmo que tenha durado pouco, ainda foi a luz ao fundo do túnel durante algumas horas. Vale a pena só por isso.

E o resto, olhem... é (des)esperar.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

cinderela, que espécie de pessoa és tu no mundo?

A desorientada. A que nunca sabe muito bem onde está. A perdida. Aquela que vive na mesma casa há mais de 23 anos e continua a experimentar todos os botõezinhos dos interruptores até acertar na merda da luz que quer ligar/desligar. E também sou a que procura o estacionamento mais fácil nem que tenha de percorrer 20km a pé, só para chegar à conclusão de que tinha um parque à porta. Prazer.

Eis que esta adorável criatura teve uma entrevista de emprego, numa zona com um ar tão abandonado que chegou a temer ser confundida com um traficante de orgãos ou algo do género. Estou a exagerar, claro - se não encontro o meu carro num estacionamento, como que raio poderia encontrar o orgão encomendado?

Fiz o óbvio: morada no gps, e vamu lá.
Não conhecia a zona, nunca por lá tinha passado e o fazer, pela primeira vez, ao volante, não ajudou - tenho a carta há mais de 5 anos e, mesmo assim, sempre que estou fora da minha zona de conforto, continuo a sentir-me aquela tia que tirou a carta aos 63 anos para correr os bailes das velhas todos da região centro. Estão a ver o cenário.

Vejo um estacionamento: fácil, grátis e o gps indicava que estava apenas a 500m do meu destino. O que é que uma atoleimada pobre pode querer mais?

Estacionei.
Chapéu de chuva numa mão, currículo na outra - gente, se eu enviei, por que caralho tenho de o levar impresso também? Para a próxima mando por correio registado, para vos poupar ao trabalho de o imprimir - e o telemóvel a mandar-me seguir em frente. Confiei nele, porque deus nosso senhor sabe que na minha capacidade de orientação é que não se pode confiar.

Andei. Andei muito - talvez tenha sido mesmo só meio quilómetro mas estava a chover torrencialmente, os minutos continuavam a passar e eu queria chegar a horas. Até que aquele filho da puta diz "chegou ao seu destino". Say what? Cheguei onde?

Estava no meio do nada e não parava de chover. Na verdade, parecia que chovia cada vez mais e a única coisa de que me lembrei foi de ligar para a moça - que vim a perceber ser a rececionista - que me tinha ligado no dia anterior a marcar a entrevista. Disse que estava perdida, que o gps me tinha levado para outro lugar qualquer - prestável e simpática, a senhora ajudou-me. 

Para ser franca, ao início não estava a perceber, talvez por não querer acreditar na minha estupidez - depois, comecei a andar. 

E onde era, Cinderela?

Ahhhhhh... precisamente no sítio onde tinha deixado o carro.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

como vai a vida, cinderela?

Na semana passada, fui despedida.
Antes de ter tido tempo para pensar, lembrei-me de que tinha sido contactada no dia anterior e tinha uma entrevista daí a coisa de duas horas. Saí a correr do trabalho, fui trocar de roupa, disfarçar o ar de morta-viva, e meti-me a caminho.

A entrevista nem foi má de todo, mas eu percebi que a coisa nunca poderia funcionar quando me explicaram que implicava conduzir de norte a sul - longa vida a quem faz anúncios de emprego claros e honestos, you rock! Assim como assim, tive aquela oportunidade única na vida de responder a um mas está a trabalhar? com um na verdade, fui despedida há cerca de duas horas, sempre naquela onda play it cool, super compreensiva porque sabia que despedirem-me tinha sido a decisão mais sensata, tendo em conta a situação atual da empresa. 

Só chorei quando cheguei ao carro.
Há meses que ia enviando o currículo amiúde, por estar mais ou menos ciente de que isto poderia acontecer - há meses que vou adiando a minha vida, que vou deixando para depois algo que já queria ter feito ontem, e, agora que sinto a sua concretização ainda mais distante, estou particularmente desmotivada. 

Depois disto, os dias têm sido lentos. 
Continuar a trabalhar quando se foi despedido, deve ser o mais semelhante que há, na vida adulta, a ter de continuar a ir às aulas quando já se sabe que não há nada a fazer e estamos mais do que chumbados. É uma merda, portanto.

Arrasada, desmotivada e com pouca vontade de sair da cama, esta semana também incluiu duas idas ao centro de saúde com um espaço de quatro dias entre elas: tenho este condão de ter sempre manifestações físicas quando a parte psicológica está nas ruas da amargura, e aqui estou eu com mil e um sintomas inespecíficos, embaraçosos e que me fazem sentir meio ridícula, mas que não passam por nada deste mundo porque, para isso, é preciso que eu seja capaz de me acalmar e acreditar que vai ficar tudo bem.

Hoje, ainda não é o dia.
Era suposto que esta fosse uma fase carregada de ansiedade boa, não de incertezas e de esperas intermináveis por um sim que me permita, finalmente, viver a minha vida como era suposto.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

bofetadas da vida

Há uns meses, desempregada e com os senhores do iefp pelos cabelos, resmunguei com aquelas reuniões super úteis onde eu era convidada a estar, sob pena de me anularem a inscrição, com uma periodicidade absurda. Fiquei rabugenta com uma em especial, que serviu para dizerem ao povo que era importante termos um currículo se queríamos encontrar emprego. Então, mas isso não é óbvio?

Agora estou do outro lado: a empresa onde trabalho está a recrutar funcionários e eu fiquei incumbida de colocar o anúncio e de fazer a triagem dos candidatos - avaliar, enfim, se tem mais de dois neurónios a funcionar. 

Portanto, ontem recebi uma chamada de um senhor a pedir mais informações e a perguntar quando seria a entrevista - pára tudo! calma lá que somos à moda antiga, não há cá essa de saltar passos. Pedi-lhe que me enviasse o currículo primeiro, e depois de o apresentar aos patrões marcaríamos a entrevista.

- currículo? não tenho nada disso, nunca na minha vida precisei de tal coisa.
- então, mas se o senhor anda à procura de trabalho, o cv é essencial. é quase o seu bilhete de identidade.
- ahhhh... pois, mas nunca fiz. olhe que, se o fizesse, seria muito preenchido!



E a lição do dia é: afinal, não é óbvio para toda a gente, e talvez aquelas reuniões não fossem assim tão inúteis.

terça-feira, 3 de julho de 2018

d'aqui.

Demorei algum tempo a gostar deste sítio. 
A senhora do café é carrancuda, e eu até poderia ter gostado dela por me ter aprendido tão depressa os gostos e não precisasse de me perguntar como queria o meu café - entrega-mo sempre cheio, mesmo sem me falar. Ou sem olhar para mim sequer.

Os velhotes estranhavam-me. É o lado mau dos sítios pequenos: uma pessoa nova, desconhecida, é sempre uma presumível assaltante - não era capaz de me sentir bem com todos os olhos postos em mim, com os comentários sussurrados, ou não tão sussurrados assim que a idade não está para dar tréguas aos ouvidos moucos.

Não era mesmo capaz de gostar - eu, que sou genuinamente simpática, dava por mim cabisbaixa, de olhar preso ao chão, porque era mais confortável do que olhar para as pessoas - não estava sequer a gostar desta versão de mim mesma. 

Um dia, levantei a cabeça, ganhei coragem para fazer soar a minha voz no jardim, e disse boa tarde, com um grande sorriso, aos velhotes que estavam sentados num banco, à sombra. Responderam-me em coro, e eu perguntei-me por que raio nunca o fiz antes. Porque é que tinha tanto medo de que me ouvissem, de que dessem por mim.

Depois disso, nunca mais me calei.
Nunca lhe perguntei o nome, mas há um senhor que me pergunta todos os dias se já me vou embora. Relatou-me o dia dele, relatou-me a vida, falou-me de como cá veio parar aos 18 anos e nunca mais de cá saiu. É simpático e janta antes de eu sair do trabalho.

Outro, vive perto do parque onde deixo o carro. Está sempre sentado à porta e berra-me um bom dia e um até amanhã, todos os dias. E ainda há aquele que me responde com um olá, riqueza!.

Demorei a gostar deste sítio, não o posso negar - achava as pessoas fechadas, pouco dadas à intrusão do sangue novo, e eu deixei-me vencer sempre por uma timidez que não me pertence. Agora gosto daqui, gosto de andar pelas ruas, de me cruzar com as mesmas caras e de lhes perguntar como vai a vida.

Estou mais feliz e sorrio mais - acho que até consegui contagiar a senhora do café: há dias em que não me fala, mas já me sorriu algumas vezes.
Estamos a progredir.

sábado, 16 de junho de 2018

cinderela e o médico do trabalho

Pela primeira vez, tive de ir ao médico do trabalho - para ver se tenho os dentinhos todos, se o tico e o teco estão operacionais, se vejo bem ao longe e não tenho maleitas esquisitas, essas coisas. 

Cheguei antes da hora. Mal entrei, dei-me com três portas abertas: dois consultórios, um deles vazio, e uma casa de banho - confesso, que eu cá sou pessoa honesta e não tenho vergonha na cara, que comecei logo a fazer olhinhos à casa de banho, que a pessoa não vai para nova e bebe água até mais não. 

Fiquei ali, plantada no meio da sala de espera, sem um balcãozinho com uma moça de sorriso colgate para me receber, e sem saber se pareceria muito mal pura e simplesmente utilizar a casa de banho como se não me tivesse dado conta de que existia um ser humano ali, a quatro metros de mim.

Fui fazendo pequenos barulhinhos, enquanto remexia na minha mala sem fundo, até que o moço me notasse. E notou.

Apareceu na sala um doutorzinho - elucidem-me: são mesmo médicos ou é um qualquer outro curso? - com todo o ar de quem poderia ter sido da minha turma - e não, não estou a dizer que ele parecia do ensino especial, mas aparentava ainda arrotar ao bolo do próprio batizado, tal qual eu. Perguntou-me o nome, o nome da empresa, e acrescentou:

- aguarde um bocadinho que eu já chamo. tire um frasco e vá fazer a colheita de urina.

Não quero parecer rabugenta, mas não gostei. Isto não é assim que funciona! Chega ali e, sem qualquer introdução, manda-me fazer pontaria para um frasco. Fiquei danada. E feliz, que uma desculpa para usar a casa de banho, ainda que precedesse the walk of shame, de frasquinho em punho, era bem vinda.

Ainda que aliviada, entrei no consultório de dignidade ferida. 
Começou o interrogatório, a auscultação, a subida para a balança. Estava a piorar a cada minuto, e eu resolvi vingar-me, mostrar-lhe que era uma moça que sabia das coisas por mais que tivesse entrado por lá adentro com um frasquinho de xixi na mão. 

Perguntou-me se nunca tinha sido operada. Falei-lhe das quatro primeiras, e acrescentei que a quinta, há dois anos, tinha sido uma colecistectomia. Olhando para trás, ainda podia ter acrescentado que foi laparoscópica, por mais irrelevante que seja tal informação, só para lhe mostrar que sei o que é uma laparoscopia e ele não pensar que é assim às três pancadas que me dá ordens.

Ficou a olhar para o ecrã durante um bocado, antes de perguntar:

- colecistectomia... tirou a vesícula, certo?

Foi a minha saída triunfal.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

randomness.

Por mais estranho que pareça, quase todos os dias abro o editor de texto do blog; ensaio posts atrás de posts que nunca me satisfazem, e dou-me por vencida por falta de tempo. Deixo o cansaço levar a melhor, e chateia-me que me contente com isso. Que viva mais feliz por estar cansada, por me faltarem minutos nos dias, por nunca conseguir chegar a todo o lado. 

Não me lembro de algum dia ter estado tanto tempo sem escrever, e chateia-me a facilidade com que o fiz, e que as saudades que tenho de escrever palavras bonitas não sejam suficientemente fortes para vencer a inércia, para calar todos os escrevo amanhã que me têm passado pela mente. Todos os dias.

Mais de um mês, e já foi tanto: acalmou-se uma tempestade, seguiu-se um funeral. Logo depois uma entrevista de trabalho, e um sim. O universo é irónico.

Obriguei-me a uma rotina rígida desde o primeiro dia de trabalho. Acordo sempre uma hora mais cedo, vou sempre trabalhar com aquela felicidade genuína do pós-treino. Voltei a correr. Devagarinho, mas voltei - não sei porque ainda cometo a burrice de parar, mas desconfio que é pela alegria de voltar, por aquela sensação boa de redescobrir que tenho gostos mesmo esquisitos e, afinal, correr sabe mesmo bem.

Ainda que sejam sete da manhã e eu pudesse estar a dormir. Tranquilo.

Mais de um mês e uma mudança drástica em mim. Planos novos, planos melhorados, velhos sonhos a tomar forma - envolvidos numa certa nostalgia, naquela nostalgia que precede o fim do mundo como o conhecemos. O prenúncio de um recomeço. O medo, também, aquele medo bom de quem sabe que nem sabe onde se está a meter, mas que está estupidamente feliz com a partida à descoberta.

Está tudo igual e absolutamente nada é como antes. Conheci pessoas também - daquelas pessoas boas que já vêm com cheirinho a casa, e que nos fazem sentir que o que se segue só pode ser bom. Conheci outros lados do meu rapaz que me fizeram ter a certeza de que escolhi bem - sinto que vivo ansiosa pelos próximos capítulos da minha própria vida. Deve ser isto que as pessoas sentem com as séries - mas, acreditem, acho que é melhor quando se trata das nossas vidas.

Passou-se mais de um mês. Na minha vida, talvez tenham sido três anos inteirinhos - mas estou calma, estou tranquila, estou bem. E talvez um dia destes vos fale das coisas boas, e escreva coisas bonitas sobre os meus dias, mas hoje não. 

Amanhã. 
Amanhã eu escrevo.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

balada do desempregado

Ainda há dias vi uma notícia onde falavam da poluição e do facto de a maior parte das pessoas preferir continuar a andar no seu próprio carro, ao invés de se preocupar com o planeta e utilizar transportes públicos. Achei fofo.

Falo por mim: podendo, prefiro mil vezes usar transportes públicos porque, além de ficar estupidamente mais barato, não tenho de passar pelo massacre diário de conduzir - é que a pessoa, além de ter traumas, cruza-se com demasiados atrasados mentais a quem, infelizmente, alguém se lembrou de meter uma carta de condução nas mãos. 

A questão é que a maioria dos anúncios de emprego tem, como requisito, carta de condução e viatura própria - se eu até percebo isto em determinados contextos, ainda não consegui entender porque fui rejeitada quando, inocentemente, disse que o transporte nem sequer seria um problema, dado a loja ser mesmo ao lado da estação de comboios. Aparentemente, uma rececionista também precisa de sair da loja; pergunto-me se farão receções ao domicílio ou coisa que o valha.

Claro que aprendi a lição: se me perguntam se tenho carta e carro, digo sempre que sim, porque é essa a verdade, omitindo que tenciono fazer os possíveis para não ter de o usar. Agora, alguém que me explique: desde que eu chegue a horas, que raio de diferença poderia fazer se eu vou de carro ou montada num unicórnio cor de rosa?

É que depois isto ainda traz outro problema no bolso, que é o seguinte: ora começam a torcer o nariz dada a distância a que vivo do local em questão, porque fica longe para ir de carro, e me rejeitam... ora explico que não há problema algum porque eu até prefiro ir de comboio, e rejeitam a hipótese porque, aparentemente, não se pode. Eeeee... continuamos na mesma merda.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

aos senhores do iefp

Meus queridos,

leiam devagar, porque quero que entendam tudo e sei que nem sempre vos é fácil perceber as coisas. Vamos com calma. Ninguém nasce ensinado e ninguém vos obriga a ser competentes - o que é uma pena, diga-se, mas enfim.

Sou só mais uma das milhares de pessoas inscritas. Pergunto-me muitas vezes porquê, o que é que já ganhei com isso além de raivinha dos dentes mas, às vezes - muitas vezes, aliás -, essa é uma das primeiras perguntas que me fazem em entrevistas de emprego, e convém dizer que sim.

Quero que saibam que gosto muito daquelas reuniões para as quais sou cordialmente convidada com uma frequência absurda, sob pena de anularem a minha inscrição e impedindo-me de me re-inscrever durante os 90 dias seguintes. Apesar da utilidade inegável destes encontros, ou sessões coletivas, como tanto gostam de lhe chamar, no fundo eu sinto que estou em regime de identidade e redidência, obrigada a apresentações periódicas para vos sossegar. Eu prometo que não fujo do país, não se preocupem!

Sem vocês, nunca teria descoberto que é essencial ter um currículo quando se está à procura de emprego. Achei que bastaria meter um anúncio nos grupos de emprego, a oferecer-me para trabalhar, como um que li há uns dias e dizia algo do género quem tiver aí um emprego fixe, que chute a proposta. Ou, melhor ainda, acender uma velinha à nossa senhora! Muito obrigada pela diferença que fizeram na minha vida. Se calhar, já chega.

Também não estou interessada em fazer formações só para fingirmos todos que a taxa de desemprego está nas ruas da amargura, sujeita a desaparecer. Eu sei, todos sabemos, que o conhecimento não ocupa lugar mas, tentem perceber, há alturas das nossas vidas em que 120€ por mês não nos chegaram, que a sabedoria não enche a pança de ninguém nem paga contas.

Não vos censuro - eu sei que, não sendo uma miss, há gente mais desagradável à vista e é normal que me queiram ver tantas vezes, mas eu gostava muito que pudessem parar de gastar energia e papel comigo, a não ser que seja para me enviar aquilo que eu, de facto, quero - os contactos das empresas que me deveriam ser enviados depois de vocês, meus adoráveis trabalhadores, validarem a minha candidatura. É o passo seguinte. O suposto. O normal.

Sabem a morada para onde enviam aquelas convocatórias semi-agressivas? É a mesma. Também podem usar o email, que eu não me importo. Telefone, fax, sinais de fumo, artes mágicas - o que quiserem. Vale tudo se começarem, realmente, a ajudar as pessoas a encontrar trabalho, em vez de lhes impingir formações ou, pior ainda, reuniões sem qualquer propósito.

Releiam as vezes que forem necessárias, sublinhem as partes mais importantes, estudem em grupo. Não estou a julgar as vossas dificuldades de compreensão, que eu não gosto de gozar com as pessoas - mas espero que algum dia sejam capazes de entender. E que me enviem a porra dos contactos que estão em falta.

Sem mais a acrescentar,
continuem com o bom trabalho a fingir que trabalham.

quinta-feira, 29 de março de 2018

dois dois dois

Há, precisamente, duas semanas, tive duas entrevistas no mesmo dia, para a mesma área mas em empresas diferentes. Se isto, logo assim de repente, já me parecia espetacularmente improvável e me fez convencer de que uma daquelas oportunidades tinha obrigatoriamente de ser minha, a coinciência de calhar na data em que comemorava o segundo aniversário daquelas cambalhotas extraordinárias na lama, fez-me ter a certeza de que era o universo a ser bonzinho comigo e a tentar compensar-me pelos traumas absurdos que guardo com tanto carinho. Só que não.

A intenção foi muito boa, e o dia até que nem foi mau: está visto que três colheres de esperança ao pequeno almoço fazem muito bem. Apesar de tudo, levantei-me com aquela fézada de que voltaria para casa satisfeita e com aquela data traumática transformada em algo positivo. Não aconteceu, mas enquanto acreditei, até estive feliz. Quase não fiz, mentalmente, a reconstituição do mesmo dia do ano filho da puta (aka, 2016), apesar de ter comido praticamente o mesmo ao pequeno almoço. E de ter saído de casa (quase) à mesma hora. Quase que não.

Não me posso queixar: foram as duas entrevistas mais boa onda de sempre. Na primeira, fui surpreendida por uma parte da entrevista ter sido feita em francês - eu percebo quase tudo, mas não tenho um vocabulário tão alargado que me permita uma conversa fluente. Ainda assim, e apesar de terem deixado claro que eu não me enquadrava exatamente no perfil que desejavam, elogiaram-me a pronúncia francesa e a forma como me desenvencilhei. Gostei deles, gostei mesmo - e, apesar de me ter desencorajado um bocadinho ao início, aquele não foi uma bênção.

A segunda nem sequer foi bem uma entrevista. Era para ser, mas não me senti como tal - pela primeira vez, estava perfeitamente à vontade. Conversei com a entrevistadora, ri-me bastante quando ela me disse que eu tinha uma voz tão fofinha que lhe apetecia apertar-me as bochechas. Ouvi-a dizer-me que tinha gostado de mim enquanto candidata - que era uma das possíveis escolhidas ao lugar. O final dessa história, acho que é percetível - aparentemente, não fiquei com o lugar nem tive direito a uma resposta. Nem a voz fofinha me salvou da tortura de não ouvir sequer um não.

Para quê tudo isto? Porque achei importante transmitir-vos este ensinamento para o futuro: nunca confiem nas boas intenções do universo, naqueles dias em que ele finge conspirar a favor - é um truque para tentar enlouquecer-vos.

terça-feira, 27 de março de 2018

a saga das entrevistas: cinderela e as esperas intermináveis

Se há coisa que sempre me fez comichão, nos mais variados campos da minha vida, é a não-resposta. Aquela gente que nos deixa ali, eternamente à espera, pendurada entre um sim e um não; parte de nós já aceitou que é um não definitivo mas, na ausência de provas, o nosso coraçãozinho tosco ainda guarda aquela ténue esperança de um sim tardio. Que. Nunca. Chega.

Aceito que as empresas não respondam a tooooodos os candidatos a uma determinada vaga, mas acho desrespeitoso que nunca lhes cheguem a dar uma resposta depois de uma entrevista. Principalmente quando deixam claro que gostaram bastante da pessoa e que a conseguem facilmente imaginar a ocupar aquela vaga - irão ponderar e tomarão a decisão mais tarde. Por volta do século XXIV, presumo.

Ouvir um não é muito mais fácil do que ficar nesta incerteza - pelo menos, o assunto fica arrumado de uma só vez e ponto final. Agora, quando a pessoa encontra algo de que realmente gosta, com ótimas condições e, ainda por cima, a deixam com esperança de ser a candidata escolhida, torna-se muito mais difícil aceitar algo de que se goste menos, ou não goste de todo, enquanto ainda existe alguma possibilidade de atingir os objetivos.

É desesperante, que é. E dá muita vontade de rogar pragas aos empregadores, também.
Custa assim tanto ter um bocadinho mais de respeito pelas pessoas? Não me parece.