sexta-feira, 8 de março de 2019

porque é que me devias contratar?

É verdade, amigos: estou em casa há coisa de cinco semanas e já sinto que, não tarda, estou a atingir a idade da reforma sem ter tido sequer a oportunidade de ir preparando o tachinho para a altura em questão. E isto nem é tão descabido assim, se pensarmos que estamos demasiado velhos para a maior parte dos postos de trabalho a partir dos 40 - talvez seja uma sorte ter este arzinho de menor de idade aos 23 mas, se continuo em tamanho stress, sou capaz de começar a envelhecer precocemente muito em breve.

A verdade é que o mercado de trabalho é cada vez mais uma selva competitivo: quando não se tem a sorte de ser prima direita do dr Cunha, é mais fácil ficar milionária a pedir esmola à porta de uma igreja do que conseguir um emprego em condições, onde a pessoa não acabe explorada ou à beira do suicídio. 

Depois existo eu, uma teimosa do caraças que não acredita nos vai-se andando e quer mesmo é ser feliz e levantar-se todos os dias com vontade de ir trabalhar. Já viram coisa mais absurda para se querer? Eu sei, eu sei: sou pouco dada a modas e a tradições. Sei que é mais comum querer ser-se infeliz e resmungar todos os dias da má sorte e do euromilhões que nunca mais sai, do que querer realmente fazer algo que nos complete e nos faça felizes. Espantem-se: o que eu quero mesmo é não encarar aquelas 40h semanais como uma constante ida ao dentista. Ou, pior, como uma ida ao dentista para extrair o siso! 

Infelizmente, os recrutadores/empregadores/gente à procura de funcionários, estão com alguma dificuldade em perceber isso, portanto eu vou deixar abaixo uma lista a explicar porque é que já me deveriam ter contratado ontem. Ora vejam:

Boa apresentação
Gente, vamos lá ver: eu não sou bonita, que não sou, mas fui feita com muito amor e carinho. Isso conta, ou não?
Apesar desta tromba, que podia ter dado uma boa máscara de carnaval, não posso deixar de referir que tenho os dentinhos todos no sítio, ou já teria enveredado pela carreira de arrumadora de carros e não estaria a candidatar-me a vagas mais, digamos, fancy.


Assiduidade e pontualidade
Isto é muito simples de explicar: sou demasiado ansiosa para correr o risco de chegar atrasada. Quando tenho um compromisso, minha vida é cronometrada ao minuto para garantir que chego a horas. Se, ainda por cima, implicar estacionar num sítio onde estou pouco à vontade, chego duas horas antes e ainda vos tiro um café.
Quanto à assiduidade, mais simples ainda: fiz uma cirurgia e, no dia seguinte a ter tido alta do hospital, com mais buracos na barriga do que um crivo, estava de volta às aulas. Querem mais? Era sexta feira. Quem mais teria voltado às aulas, apenas três dias depois de ter perdido uma das suas peças de origem e, ainda por cima, a uma sexta feira? Exato: eu. Contratem-me.

Experiência em softwares que nunca nesta vida ouvi falar
Não tenho experiência mas, graças a deus nosso senhor, tenho um cérebro. E, melhor ainda: consigo usá-lo. Ensinem-me o básico para começar e, em menos de nada, vão ficar chocados com tudo o que eu já descobri. Sou mulher, pessoas, e mulher que é mulher tem uma costela de FBI, que tanto serve para desencantar os podres dazinimigas quanto para investigar e assimilar informação em tempo record. 

Jovem e com 30 anos de experiência na área
Vou contar-vos um segredo: experiência não faz, necessariamente, um bom funcionário. Já trabalhei com pessoas que, de facto, tinham mais de 30 anos de experiência na área e continuavam a ser maus funcionários - não por não saberem fazer, mas porque nem sempre isso é o mais importante.
Trabalhei em três áreas completamente distintas e, garanto-vos, dei o meu melhor em qualquer uma delas, porque não sei ser de outra forma. Não participo em nada onde não esteja disposta a entregar-me a 100%, a vestir a camisola - e nem numa altura em que já não estava feliz nem a gostar do que fazia, deixei de desempenhar as minhas funções com brio.
Portanto, a experiência adquire-se trabalhando, há sempre espaço para aprender coisas novas e, garanto-vos, dou uma funcionária do caraças.

Conhecimentos matemáticos
Este não costuma ser um ponto muito presente nos anúncios mas, em entrevista, já passei pelo momento constrangedor em que explico o meu percurso escolar e como acabei num curso profissional alternativo porque chumbei a matemática no secundário, e ouvir um ahhhh, mas os conhecimentos de matemática eram importantes para a função. Vamos lá clarificar a coisa: eu não consegui passar no exame, mas não sou necessariamente acéfala ou inválida para o o mundo do trabalho por isso. Ou ponderavam dar-me uma equação trigonométrica para eu calcular o horário de uma reunião?

Vontade de trabalhar
Eu gosto sempre deste ponto porque uma pessoa não tem como se defender. Como é que explico? Acrescento na carta de apresentação que já queria ter começado a laborar ontem? Digo que mal posso esperar para *copiar e colar neste espaço todas as funções descritas no anúncio*? Se não estivesse com vontade de trabalhar, não me candidataria. Mas às vezes tenho vontade de acrescentar que, pelo menos, não vou fazer trezentas pausas para fumar/tomar café/olhar para o teto, porque tenho a síndrome da menina certinha e esse tipo de comportamentos nunca me fez sentido. Ainda por cima, nem sequer fumo. Porque é que não perguntam isso? Deve contar como vontade de trabalhar, ou não?

Carta de condução
Esta é sempre a minha favorita - para todos os efeitos, sim, tenho carta de condução, e veículo próprio. O problema é que sou sovina, não adoro conduzir e, podendo, não conto fazer outra coisa que não usar transportes públicos - numa época em que toda as pessoas se preocupam mais em ter uma vida sustentável e poupar o ambiente parece-me, no mínimo, irónica a obsessão pela carta, ou não, pelo carro, ou não.
Já cheguei a ser descartada de uma oferta de emprego porque, quando me começaram a questionar sobre a distância a que vivia daquele posto de trabalho, eu respondi que nunca seria um problema porque, sendo mesmo ao lado da estação, poderia facilmente utilizar o comboio como meio de transporte. Que não, que não podia ser, que um dos requisitos era a carta de condução e viatura própria - entendam que estamos a falar de uma vaga para rececionista. RECECIONISTA.

Conhecimentos informáticos na ótica do utilizador
Fico sempre um bocadinho baralhada com esta - é para dizer que sei ligar o computador? Que sei o que é um browser e que até me safo muito bem em meia dúzia de programas que não uso no dia a dia? Que gosto de explorar? De qualquer forma, tenho um blog, ando nisto há quase 9 anos desta vida, acho que encaixo, ou não?

Perfil comercial
Também gosto muito desta, especialmente quando surge em anúncios que, à primeira vista, nada teriam a ver com a área comercial. Mas o que é, afinal, ter um perfil comercial? É ter lábia para, se for preciso, vender as vossas mãezinhas? Sim, as vossas. A minha é que não, de certeza, que quem quer vendas são vocês.

Domínio do inglês
You'll never know if you don't ask - i already had a job interview in french, but i was never asked to say a single word in english, wich is curious if we think that most of them want me to be fluent. Ok. I am. Even though i can get a bit nervous and, don't even know, end up telling you that i want to eat your mother, i promess you that i can really talk and have a decent conversation.

Agora a sério: por que raio é que eu estou desempregada? Não veem o que andam a perder?

3 comentários:

disse...

Gostei daquela parte dos 30 anos de experiência. Nos últimos 5 anos em que trabalhei, fui chefe de uma oficina que fazia manutenção de diversos equipamentos, noutras secções (como reparar estores ou correias de máquinas). Tinha lá gente com os tais 30 anos de experiência que eu preferia deixar sentados a ouvir música e ia eu fazer as reparações. Funcionários que não valiam o dinheiro do passe social. xD
Este post fez-me lembrar os "putos" da equipa do Benfica. Têm pouca experiência, mas jogam à bola melhor do que algumas "vedetas". lol

ernesto disse...

É como tudo: haverá gente com 30 anos de experiência a ser muito bons no que fazem, e háverá gente com 30 anos de experiência a não perceber um caralho do trabalho. Exatamente o mesmo para jovens sem experiência.
Precisamos todos de uma oportunidade para vingarmos no mercado de trabalho, ou acabaremos velhos e sem experiência em merda nenhuma.
Enquanto não entenderem isto...

disse...

Enquanto a sociedade não perceber isso, o pessoal acaba com experiência em "coçar a micose".