Mea culpa: estão a ver aqueles programas merdosos que têm passado na sic e na tvi, de encontros e arranjinhos e cenas? Tenho papado o carro do amor quase-quase com a mesma sagacidade com que devoro uma embalagem de filipinos brancos, só para que vejam o que o desemprego faz às pessoas.
Poderá parecer-vos uma perda de tempo mas, pessoalmente, tenho achado bastante educativo.
A conclusão é óbvia: as pessoas já não gostam de cozinhar em casa, e ir acrescentando ingredientes e temperos até a coisa ficar em condições - agora é mais fácil requisitar um daqueles serviços em que os estafetas vão buscar a comidinha ao restaurante, e está pronta a comer. Não dá trabalho e vem tudo no ponto. No amor, querem o mesmo tratamento.
Fico um bocado em choque: ah, é giro mas é muito baixo; ah, é boa pessoa mas não gosto de olhos claros; é simpático mas demasiado romântico.
Gente: podem mandar fazer roupa e sapatos à medida, mas com pessoas não funciona bem assim. Aquela criatura linda e maravilhosa, cheia de características excecionais, por quem vocês se apaixonaram... também vai vir com defeitos e pontos de discórdia. Ou lidam com isso, ou nem vale a pena.
Ainda assim, e já que estes programas existem, dei por mim a olhar para o monsieur e a pensar no que é que eu acho que poderia funcionar melhor entre nós e que, por isso mesmo, daria um bom item para incluir quando se está a encomendar um eventual futuro parceiro, e elaborei uma lista para ajudar os possíveis interessados:
Ponto Número Um: O Frango
É engraçado porque ainda não ouvi ninguém a referir isto, embora me pareça um ponto absolutamente crucial: é importante perceber, desde o início, se gostam ou não das mesmas partes do belo frango de churrasco. Acredito que o par ideal é aquele em que um só gosta da metade inferior, isto é, das coxas, e o outro é feliz a comer aquele peito completamente seco e a chuchar as asinhas.
No nosso caso, temos os dois uma predileção por coxas e acabamos por ter de, desconsoladamente, dividir o frango ao alto para que nenhum saia prejudicado. Nunca seremos plenamente felizes.
Ponto Número Dois: A Cama
Acho muito importante saberem de antemão em que tipo de cama é que a vossa presumível futura cara metade está habituada a dormir. Se estivermos a falar de uma pequena cama de solteiro, deverá ser uma pessoa mais modesta e recatada, facilmente domesticada para dormir no seu canto, e só no seu canto, quando em casal. Agora, meus amigos, quando ambos estão habituados a dormir em camas grandes, é a rebaldaria total! É ver-me com 20cm de espaço para me mexer, quando eu sou uma pessoa espaçosa, é vê-lo a dar-me cotoveladas porque entretanto já estamos os dois com a cabeça na mesma almofada.
É muito complicado. Tem de ser conversado logo desde o início, para perceberem se há alguma hipótese de o espaço ser bem gerido. Casos como o meu... saltem fora. Nem tentem!
Ponto Número Três: A Televisão
No primeiro encontro, devem começar por questionar imediatamente quais são os programas a que a pessoa gosta de assistir. Se forem incompatíveis, corram o mais depressa que puderem. Ou rebolem.
Imaginem um casal em que ele é um aficcionado por desporto, devora todos os programas do género, e ela é uma pequena baleia com uma paixão sobrenatural por bolos que preferia estar a ver programas de culinária. Acham que vai correr bem? Pois. Nem vale a pena estarem a chatear-se. Vão comer e esqueçam essa cena do amor.
Ponto Número Quatro: As Pipocas
Tão ou mais essencial do que descobrir as partes do frango favoritas, é perceber como é que o outro gosta das pipocas. Eu sei, eu sei - para casais não-modernos que ainda se dão ao trabalho, a coisa é simples: compra-se o milho, faz-se as pipocas na panela e depois cada um faz como lhe apetecer. Mas como a generalidade de nós prefere aquelas que é só meter o pacotinho no microondas e faz-se a magia, pode ser um drama gigante haver incompatibilidade de sabores.
Se um só gosta das doces e o outro só gosta das salgadas, está a puta armada porque ninguém vai querer ter de comer um balde de pipocas sozinho. Pelo menos, eu não quero ter de comer um balde de pipocas sozinha, mas não tenho grande fé de algum dia o conseguir converter às salgadas. É mesmo complicado.
Ponto Número Cinco: A Música
Está em quinto lugar nesta lista, mas é um tema deveras fraturante que devia ser conversado ainda antes de se ter perguntado o nome. Neste caso, não basta haver uma compatibilidade parcial, essa coisa de gostarem os dois das mesmas músicas mas depois cada qual gostar de um género completamente diferente, que o outro não suporta.
Nada poderia ser mais dramático numa relação do que um deles, no carro, passar o caminho armado em dj botão, correr todas as estações pré-gravadas na rádio, resmungar que nunca passa nada de jeito, e recomeçar a clicar nos botõezinhos todos outra vez, do início, na fé de que entretanto todas as músicas anteriores já tenham acabado e que alguma lhe agrade ao ouvido. Enquanto isso, o outro chora baixinho porque só queria ter tido a hipótese de berrar a shallow a plenos pulmões. Já vi relações acabarem por muito menos.
Assim de repente, estes parecem-me pedidos muito razoáveis para se incluir quando, afinal, se está à procura da pessoa com quem iremos passar o resto das nossas vidas. Se tudo correr bem, e se um dia não houver um motim porque já ninguém suporta comer asinhas de frango. Oremos por esses casos complicados.
Se se lembrarem de mais características cruciais para o par ideal, sintam-se à vontade para acrescentar a lista. Ñão sejam modestos a exigir pedir, príncipes e princesas!
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