sábado, 31 de janeiro de 2015

déjà-vu

De repente, a pessoa que parecia não me querer deixar cair, custe o que custar manter-me de pé, começa a ter as mesmas reações e a dizer as mesmas coisas que a última que me atirou ao chão. Então, a pessoa maravilhosa deixa de me parecer assim tão maravilhosa, não sei se por estar demasiado magoada ou se por me deixar com a sensação constante de que já vi isto antes e acabou muito mal para o meu lado. E apetece-me fugir. Fugir eternamente de tudo o que me possa levar ao tapete outra vez. Começo a ficar cansada de pessoas que dizem querer o meu bem e depois só me fazem mal.

declarações de qualquer-coisa-indefinida

gosto de ti mesmo quando sou uma anormal contigo, mesmo quando me apetece espancar-te e apertar-te o pescoço. continuo a gostar muito de ti e a ter vontade de te provocar uma morte lenta por estrangulamento, com um abraço dado como deve ser. 

Até o meu lado mais doce tem uma pitada de humor negro e duas de morbidez. Dá para perceber porque é que nunca vou ter um namorado, não dá?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

cinderella goes to the gym

Acabei por ir ao ginásio - não foi por estar mentalizada de que a única forma de me livrar da espessa camada de gordura é indo, de facto, ao ginásio, mas porque a pt me disse que eu podia ir hoje à borla e só tinha de pagar o próximo mês, e eu sou portuguesíssima; toda a gente sabe que português que é português aproveita tudo quanto seja desconto ou promoção, nem que para isso acabe a comprar comida para unicórnio.

Valeu muito a pena, essencialmente porque eu estava mesmo a precisar de uma desculpa viável para me afirmar completamente inválida e derrotada, sem oferecer resistência, durante este fim de semana, que vai ser passado no inferno, mas também porque eu adoro aquela dorzinha no cu que precede um treino numa bicicleta estática com o selim duro cumóscornos. Ah, e gajos gostosos? Posso dizer que fui bem servida, obrigada.

cinderella goes to the gym

Primeiro dia:

está a chover e um vento do caralho. só um louco é que se mete na estrada com um temporal destes e aquela merda ainda é um bocado longe... vou amanhã. amanhã começa a minha dieta.


na alegria e a tristeza

Por estarmos a falar em todo um mar de possibilidades para o dia dos namorados, lembrei-me de um daqueles episódios que me deixam com a certeza que as minhas amigas são uns bichinhos inocentes que querem andar comigo por todo o lado. Até quando estão a mais.

Pois então que há uns tempos, não sei precisar quando, estava a falar com a bicha sobre eu e um rapazinho, com quem eu andava assim meio vai-não-vai, irmos sair, e onde íamos e blá blá blá, e dona bicha vira-se:

boooaaa! olha e podíamos ir ao karaoke...


Nunca soube como lhe explicar que não era suposto ela participar num encontro a dois.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

chubby cinderella

Acho que já deve ter passado quase um ano desde  que eu decidi ir para o ginásio - mas sou portuguesíssima e não via motivo para gastar dinheiro e gordura quando toda a gente sabe que basta assolapar a peida no sofá e ficar à espera do dia em que acordamos magras e gostosas. 

Quando, finalmente, disse a mim mesma «agora é que é!», comecei a comer que nem uma porca insaciável porque a ideia de emagrecer me dá fome e já sabia que ela me ia começar a proibir de comer tudo o que é bom.
Fui hoje inscrever-me e amanhã começo a ir.
Vou passar a noite a chorar baba e ranho e a comer chocolate. Só isso.

cinco minutos

Sou  perita em perder o rumo, em não saber onde meter os pés a seguir - a minha vida não é mais do que a dança desenfreada da confiança, dois passos para a frente, vinte passos para trás, troca de par mas os fantasmas são os mesmos. Sou perita em desconfiar e em não saber o que fazer - a minha vida não é mais do que um girar de maçanetas contínuo enquanto uns entram sem bater e outos saem sem se despedir; não sei de mim outra vez, e ao fim ao cabo descobri que vale mais é ser puta mesmo, nunca se apegar. Nunca querer saber.

Sou perita em voltar ao ponto de partida, mas não sentia a falta disto.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

sobre as revelações

O tempo não traz soluções, mas traz respostas. E isso pode ser um milhão de vezes melhor.

aqueles dramas exagerados

Ontem foi o dia em que esta que vos escreve podia ter quinado, vítima de um autocarro atiradiço que fez os possíveis para me saltar em cima.

Foi tudo estupidamente rápido e eu nem sei como consegui reagir - atirei-me para uma barreira. Dez metros à frente e teria aprendido a voar dentro de um carro, mas era isso ou acabar debaixo do dito autocarro.

Bati. Fiquei logo em modo vibrador, como é óbvio - e agora como é que eu saio daqui? terei estragado muito? se calhar morri. oh meu deus, e agooooora?, mas entretanto alguém me bateu no vidro. Se tudo corresse bem, estava viva, embora imaginasse a frente do meu pobre carro completamente amolgado e isso me estivesse a tirar do serio.

Afinal, era só o pára-choques sujo. Mas que me caíram os colhões, lá isso cairam.

esses momentos infelizes

Qualquer pessoa que me conheça sabe que eu me deixei de gajos e comecei recentemente a namorar com deus - não é menos preocupante do que ter um parceiro portador de genitália masculina porque, assim como assim, o tipo já engravidou uma. Contudo, não me chateia e é o que interessa. 

Ora, estava a minha relação com o criador a correr às mil maravilhas quando, num desses momentos de azar, estava toda a gente, mas TODA a gente mesmo à volta do meu pc quando se abre uma janela no chat por obra do demónio.

bom dia fofinha



E foi assim que o mundo descobriu que deus tem facebook.

oh, freak cinderella

Toda a gente fala das cabeleireiras comos se fossem uma invenção do demónio, só para nos foder o juízo, mas a minha é a melhor do mundo. Juro que é.

Entrei lá contrariada - tinha prometido a mim mesma que me ia portar bem e ia fazer o combinado: pintar o cabelo de castanho e deixá-lo ir voltando à cor natural, mas apetecia-me tanto abandonar o meu lado mais freak quanto comer o meu próprio rim.

Talvez porque deus não me curte, assim que assolapei a peida na cadeira, a rapariga, já habituada a ver-me de cabelo pintado comme il faut quase desde o útero, mostrou-me logo o catálogo com tudo o que é bom - todas as cores porque eu morro de amores ali, tantas opções, e eu a cismar num castanho. Fiz beicinho. Apetecia-me um vermelho intenso intenso como há séculos eu queria e, finalmente, estava ali, à distância de um pedido. Disse-lhe que não podia ser, que pintava de castanho e daqui a uns tempos ia pintar as pontas com aquele vermelho.

«E se saísses daqui assim hoje?»
Foi a voz de deus quem proferiu tais palavras, só pode. Mas assim foi.
E então, abandonei o modo sabes-aquela-tua-amiga-ruiva e voltei para o meu antigo ah-é-aquela-menina-do-cabelo-às-cores. Porque a minha cabeleireira é a melhor do mundo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

por hoje

Eu gostava de não chegar aos vinte anos mais encarquilhada do que a minha avó e com mais cabelos brancos do que a cruella, mas não tem sido tarefa fácil - como se já não me bastasse estar a passar por um dilema que parecem quatro, mais uma crise existêncial proveniente daqueles assuntos chatos que envolvem coração e merdas que tais, as minhas costas terem tirado o dia para me foderem o juízo enquanto que a minha mãe também parece ter feito o mesmo e, ainda por cima, estar a tentar acabar um trabalho de grupo grande que eu sei lá, em contra-relógio, estou com tpm. Na realidade, este último ponto justifica a irritação presente em todos os outros, mas eu preferi manter o suspence até ao fim.

mais ou menos isso

É como largarmos a mão um do outro depois de uma longa jornada e já não nos fazer sentido vermos a nossa própria mão sozinha e sem outra para agarrar - como se um bocadinho de nós tivesse começado a pertencer a esse ritual secreto e tão nosso, tão corriqueiro, que acabar com ele dói. E dei por mim de lágrimas nos olhos sem saber explicar porquê - já não estou habituada a não te ter na minha vida.

quero mudar de planeta

O vou-te comer o cu levado ao extremo.

no limite da vida

É estar num café a escrever isto, de frente para mais duas alforrecas, enquanto tento que ninguém descubra o meu antro. Isto é quase tão bom quanto bungee jumping.

domingo, 25 de janeiro de 2015

sweet

Ontem, após meter as mãos ao pé da lareira e o verniz mudar de azul para branco, mostrei-as à avó. Ela, na maior das aflições:

tira as mãos daí, olha que o verniz sai!

Tenho a melhor do mundo.

cinderela vira menina

Eu tinha algum preconceito acerca das unhas de gel - achava que eram só para as meninas de bem que se sentavam no sofá com as manápulas apoiadas em duas almofadas empilhadas, de forma a garantirem que as garras permaneciam intactas. Afinal não é bem assim.

Uma vez que sonho em formar uma carreira a limpar sanitas na disneyland, tive de ter em conta todos os pormenores - sim senhor, resistem a produtos de limpeza e outros que tais. Perfeito. E então, ao fim de 19 anos de uma existência máscula, rendi-me e, finalmente, acabou-se o dilema de sempre porque me faltava a pachorra para as pintar e andava sempre com resquícios de verniz da era dos dinossauros.

Ontem experimentei o gel térmico. Estou há mais tempo do que me orgulho a aquecer as mãos e a ir lavá-las com água fria de seguida - vou apanhar frieiras mas é estupidamente giro ver as unhacas a mudar de cor num segundo.

sábado, 24 de janeiro de 2015

não entendo

Ainda não entendi muito bem a febre da violleta, mas tudo bem - não estou propriamente mortinha por me sentar e fazer uma maratona, devorar todos os episódios, só para depois estar à vontade para me sentar a dissecar a moça. Já sei o essencial - é uma espécie de telenovela que parece uma mistura de rebelde way e morangos com açúcar, com o histerismo típico da floribella. Hey, nada de errado nisso! Eu também já tive 10 anos.

O que me parece incompreesível é que os papás e as mamãs invistam 1000€ para levar as criancinhas ao concerto, porque elas merecem. E depois, o melhor de tudo, é que a criatura nem sequer canta em português, o que significa que os pintelhos não percebem um caralho do que ela diz e ficam só a sorrir e a acenar, de olhos postos no palco, porque é giro e porque a gaja está lá aos saltos. Mas isto, claro, é só a minha alma de pelintra a falar mais alto. 

não faleci

Lembro-me de, há uns bons anos, ter conversado com um antigo blogger que eu sabia que escrevia bem pra caralho, e ele me ter dito que ia deixar isto porque tinha percebido que preferia ir viver a vida em vez de pensar tanto sobre ela. Achei-o louco, na altura, porque me parecia impensável largar isto, mas acabei por começar a sentir o mesmo. Recentemente, há toda uma panóplia de coisas que deixaram de ser apenas textos bonitos. Aconteceram. E então, deixei de querer escrever sobre elas.
Tenho prometido a mim mesma, quase todos os dias, que me vou esforçar mais por não deixar o cinderela morrer, mas sinto que o pobre está a dar o peido mestre. Não me resta tempo nem energia para isto e, quando a tenho, falham-me os assuntos. Oremos para que não passe de uma fase.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

inconvenientemente

Julguei-me de coração leviano, capaz de se apaixonar ao mais leve toque, mas encontro-o agora empedernido e inalcansável mesmo quando eu o tento entregar em mãos - tenho uma paixão antiga cravada a ferro e fogo e, tudo o mais que faça, nunca nada me sabe ao mesmo. Ainda que já tenha procurado abrigo noutros corações, ainda que já tenha procurado conforto noutros braços, ninguém é igual. Podem até ser melhores, mas não são iguais - e então é a ele que quero voltar sempre. Mas não posso.

pronto, ok

Devem existir poucas pessoas mais sovinas do que eu neste mundo - e, especialmente quando não estou a gastar o meu dinheiro, vou até ao fim do mundo para conseguir trazer o que for mais barato, nem que a diferença seja de um mísero cêntimo.

Como tal, durante uma excursão solitária às compras, lembrei-me de que não tinha ervilhas em casa e isso é um drama gravíssimo porque eu acredito que as ervilhas foram uma criação especial de deus para tornar o mundo num sítio mais apetecível.

Assim que cheguei à secção dos congelados, desisti da ideia das ervilhas - havia macedónia e, valham-me os santinhos protetores das criaturas esquisitas, eu adoro aquilo porque acho que a comida até sabe melhor quando tem muitas cores. Contudo, vi que havia uma embalagem muito mais barata do que todas as outras, e trouxe-a, sem pensar duas vezes.

Era jardineira.
Alguém me disse «a tua comida tem tão bom aspeto. Ninguém reparou que eu estava a comer arroz com batatas.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

like a lady

Ninguém me tira da ideia que eu não tenho namorado porque sou o repelente de pénis mais eficaz que a história alguma vez viu - não tenho emenda.

Depois de lhe ter dito um milhão de vezes que estava a morrer de sono e tinha mesmo de ir dormir, e de ele me ter dado a volta outras tantas vezes para eu ir ficando, não desliguei, mas adormeci. Adormeci assim a meio de uma conversa, não sei se a falar ou a ouvir, mas adormeci e acordei com ele do outro lado:

tiiiiiiiicaaaaas... adormeceste ou está a passar um comboio mesmo à frente da tua janela?


Sou uma lady dos dias de hoje; posso perfeitamente ressonar. E coçar os colhões em público também. 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

especialmente ele

Se há coisa que eu detesto no inverno é necessidade de usar três mil e oitocentas camadas de roupa. Até acho que, em vez de andarem todos com a mania do je suis charlie, era boa ideia andar com um letreiro a dizer je suis uma cebola, não vão as pessoas julgar que isto é tudo banha. Não é; só ando com tantas camisolas que quase que é preciso mudar a configuração de tudo num raio de três quilómetros para me conseguir movimentar.

Uma coisa gira é que isto é uma boa forma de perceber quem é que está ou não preparado para ser mãe, já que é certo e sabido que as progenitoras sofrem da síndrome não-te-esqueças-do-casaco-olha-que-vais-ficar-doente. Isto porque, entenda-se, eu não sinto necessidade de usar casacos quando tenho uma camisola grossa tão larga que dava para ser usada por oito pessoas ao mesmo tempo, e, lá está, as tais três mil e oitocentas camisolas por baixo, ainda que a minha progenitora pareça achar que eu estava mais quentinha com um casaco, mesmo que estivesse de bikíni por baixo.

Ora, no outro dia, assim que cheguei, a primeira pergunta que ouvi, da boca de uma amiga, foi a sério que saíste de casa sem casaco com este frio?
Minutos depois, um gajo disse exatamente o mesmo.
Sim, estão prontos para ser mães.

deus é pai

Expliquei-lhe que o meu tempo de chamadas gratuitas era limitado, e que ao fim desses minutos teria de esperar. Expliquei-lhe isto um milhão de vezes, assim como lhe disse que, por essa mesma razão, teríamos de tentear o tempo que passávamos em chamada.

Ontem, recebi a mensagem de que só me restavam mais 200 minutos. Disse-lhe.

- olha, agora é que temos mesmo de parar com as chamadas porque já não tenho muito tempo e preciso desses minutos.
- ah, então eu ligo-te, espera.
- então mas tu não pagas?
- não...
- nunca me disseste nada!
- nunca perguntaste!



A minha mãe costuma dizer que eu mato os rapazinhos todos. Acho que se percebe porquê.

domingo, 18 de janeiro de 2015

vidas difíceis

Engane-se quem pensar que a maior dor de uma gaja está relacionada com aquela época do mês em que parece ter-se iniciado uma terceira guerra mundial no interior do útero - nada dói mais do que chegar ao final do dia com a maquilhagem intacta e perfeitinha como raramente fica e ter de lhe passar com o desmaquilhante por cima, sem dó nem piedade, quando, tantas horas depois, ainda sentimos que podíamos enfiar-nos num vestido e casarmos mesmo assim, sem sequer retocar. 

Isso e porque é sempre um bocadinho antes de ir para a cama que os génios do mal me deixam quase-gira e de cabelo bonito. Sad life is sad.

sábado, 17 de janeiro de 2015

foi assim que aconteceu

Queria não ter uma memória tão exageradamente boa ao ponto de me sentir obrigada a marcar o dia de hoje no calendário como o primeiro aniversário do início de tudo. E isto é a prova de que a minha vida dá voltas estranhíssimas.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

ser eu é isto

Outra prova de que eu não regulo bem do sistema é o facto de eu ser daquelas pessoas chaaaatas que pensam em tudo e mais alguma coisa com todos os pormenores possíveis e prováveis e tudo e tudo e tudo, mas depois tomo sempre as decisões mais loucas de repente, de forma impensada e completamente aleatória.

como nós

Há um encanto especial nas cidades adormecidas - é como se estivessem a respirar, a renovar, a preparar para mais um dia de longas passadas e do ruído silencioso de todas as vozes quase nada dizem. E eu apaixonei-me por ela assim, vazia, escura, silenciosa.

Faço de propósito; dou uns minutos desde que o comboio pára até que me decido a sair, só para dar tempo à multidão para se dispersar e me devolver a solidão destas manhãs frias em que enterro as mãos nos bolsos e me deixo ir, em passo lento e desacertado, numa cidade que parece minha de tão oca que está. E é mesmo um bocadinho minha, tal como o é de todos os eternos apaixonados porque são os únicos que a vêem como é.

Gosto de variar nos trilhos, de trocar as voltas à rotina, de andar por onde calha; pergunto-me muitas vezes quantas histórias não contarão aquelas esquinas, quantas discussões não estarão cravadas na alma de cada parede, quantas gargalhadas não ecoarão ainda nas ruas. Quantas lágrimas não se terão escondido nas pedras da calçada que agora piso, indiferente a todo o sofrimento alheio que um dia ali ficou gravado. 

Vaguear pela cidade transformou-se no meu prazer secreto e solitário - nunca ninguém se apercebeu de que chego tão cedo de propósito, porque encontrei o amor na penumbra a sós comigo mesma, antes da enchente, antes da cidade se mascarar de novo; passo por todos os locais que me parecem impossíveis de tão diferentes que ficam antes de amanhecer. A esquina onde uma cigana vende cuecas todos os dias. A rua onde três sem abrigo drogados, mal cheirosos e estrangeiros empatam as pessoas. A outra rua onde um falso cego pede esmola enquanto observa quem passa. A praça onde ainda se vendem castanhas quentinhas. E, invevitavelmente, o rio onde volto sempre que perco o rumo e onde me sento à espera de um dia também eu conseguir atracar num porto seguro em vez de andar sempre à deriva. Mas este é só mais um dos muitos sonhos que ficam pelo caminho - e só mais um dos segredos que esta cidade encerra.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

boa boa

Quando eu digo que lidar comigo é mesmo fodido não estou a brincar - e acredito que muita gente tenha vontade de me arrancar o fígado de cada vez que eu abro a boca porque a minha espontaneidade é incrível.

Ainda hoje, por exemplo, estava com várias pessoas quando a miúda grávida se foi embora e uma rapariguinha lhe disse para ter juízo. A única coisa que me ocorreu dizer foi não te preocupes porque pior do que já estás não ficas!

Foi quando vi o ar de choque das pessoas à minha volta que entendi o porquê de não ter amigos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

porque é que não gostas de pessoas?

Pior ainda do que aquela espécie que faz com que se forme uma fila que dá três voltas ao supermercado enquanto conta as moedas porque decidiu pagar uma despesa de 98930292€ com moedas de 1 e 2 cêntimos, é aquela outra espécie, não mais rara, que acha que qualquer momento é bom para ter uma conversinha com a mulher da charcutaria.

Shame on me - estava atrasadíssima e com cada minuto contado, feitas as contas com o tempo que demorava a chegar à estação a tempo mais o máximo que podia demorar na caixa para pagar, tinha cerca de 5 minutos, no máximo, para conseguir que alguém me desse um bocadinho de atenção e, já agora, um frango. Era na boa se a mulher que estava a ser atendida quando eu cheguei não se tivesse dado ao luxo de passar para o lado de lá do balcão, talvez por achar que aquele era um bom momento para desabafar, iniciou uma agradável e interminável conversa acerca do melhor fiambre, e que era daquele que gostava mais e blá blá blá. Pois.

Como se já não bastasse, a mulher com a senha antes da minha tinha bigode e não sabia o que queria. Devem ter-me crescido uns 800 cabelos brancos naqueles minutos, enquanto lhes roguei pragas baixinho, mas depois chegou a minha vez e a senhora da charcutaria parecia meio reticente em livrar-se do pobre frango como se tivessem criado uma qualquer relação afetiva e fez questão de demorar bastante tempo a besuntar-me a criatura com molho de limão.

Estava a ferver por dentro e capaz de provocar um atentado ali mesmo, mas já estava atrasada que chegue - e então, estava um casalinho na caixa, já com as compras todas passadas e a conta feita, mas deviam ser portadores de um qualquer atraso mental e não lhes ocorreu que, sei lá, na puta da loucura, era fixe despacharem-se. E lá estava a senhora a enfiar as compras, uma a uma, no saco, calmamente, enquanto o conas do gajo se limitava manter o saco aberto que, por aquela altura, já não havia de fechar nem à lei nem à bala, e a empregada da caixa à espera que um daqueles génios se lembrasse de pagar. E, claro, uma fila enorme onde havia uma gaja prestes a matar alguém. Só não matei porque, com uma corridinha, ainda cheguei a tempo do comboio - mas só por isso.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

juro

Cruzo-me diariamente com um mocito cigano gostoso que eu sei lá - juro, o rapaz é todo asseadinho e era capaz de fazer a minha roupa popicar em 3 segundos se quisesse, ainda que eu fosse acusada de pedofilia a seguir. 

Assim como assim, vou esperar mais um anito e oferecer-me para ir vender meias e cuecas para a feira para o resto da vida. Isto sim, é amor!

nonsense.

[tive medo ao início. ainda tenho medo todos os dias mas agora tento não pensar nisso; de alguma forma, tranquiliza-me saber que tentei escapar a tempo e que me deixei apanhar quando percebi que nunca quis realmente fugir. e tranquiliza-me saber que fomos os dois apanhados pela mesma rede, e que o destino é-nos agora tão incerto quanto o seria se eu tivesse tido oportunidade de sair de cena antes de entender isso mesmo; se não dá para controlar longe de ti, mais vale ir ficando contigo. vamos andando que a estrada é longa. talvez acabemos por nos perder um dia destes; ou porque esgotamos os temas de conversa ou porque não somos o suficiente para nos saciarmos um ao outro e precisamos de muito mais do que aquilo que nos podemos oferecer. é esta a inevitabilidade da nossa condição, não temos muito por onde fugir mas sempre a podemos ir fintando juntos enquanto não se faz tarde e nos fazem sentido as respirações ofegantes e as palavras entrecortadas que são pouco mais do que o quase nada que somos e que podemos vir a ser. apetece-me roubar-te para sempre, mas não posso; sei que até essa vontade é passageira e que o para sempre tem um limite que talvez já nem esteja muito longe, sei que nos vamos fartar, que vamos precisar de mudar de poiso, mas agora estou bem aqui. apetece-me dizer-te, perdão, apetece-me prometer-te, ou talvez jurar-te a pés juntos, que serás a sorte daquela que te tiver, pedir-te que não te percas porque és demasiado bom, demasiado raro e demasiado impossível, para não ser de ninguém. e, quando os nossos caminhos se separarem, vai ser isto que vou guardar de ti; uma coleção infindável de coisas menores que me foste ensinando ao longo do tempo e uma certa inveja da mulher que tenha a oportunidade de envelhecer ao lado de alguém como tu. de qualquer forma, não quero que a encontres tão cedo, só para poderes ser um bocadinho meu durante mais cinco minutos - e quando o nosso tempo se esgotar e não me restar outra alternativa senão fechar-te a porta, prometo deixar-te uma chave debaixo do tapete.]

domingo, 11 de janeiro de 2015

inverno rima com inferno

Já é do conhecimento geral que eu sou uma florzinha de estufa e passo metade do tempo doente e a outra metade a arranjar mais doenças, mas tem sido demasiado até para mim - num momento, estou aqui prestes a bater a bota de tão doente, a fazer o testamento e a deixar tudo o que não tenho aos filhos que nunca tive, ai jesus que é desta, depois dá-se assim um milagre qualquer e eu volto a conseguir respirar sem parecer um aspirador entupido, e pareço uma pessoa razoavelmente saudável durante uns incríveis dois minutos. Entretanto começo a ficar doente outra vez e ai jesus que é desta, para não variar.

Tenho a garganta a implorar por férias e o nariz à beira de cair, depois de ter largado torrentes de ranho. Sou capaz de parecer um bocado leprosa mas eu gosto de acreditar que as pessoas vão perceber as semelhanças entre mim e o voldemort.

mais ou menos isso

... pedias desculpa mas eras incapaz de amar um só corpo como eras incapaz de amar uma só vida, e que era por isso que inventavas pessoas em ti, eras a menina e a adulta, a rebelde e a certinha, eras tudo o que podias ser, isto e o seu contrário, para que pudesses resistir, não porque fosses traidora ou infiel, não porque não me gostasses até ao fundo da pele e até ao começo dos ossos, mas apenas porque tinhas a estranha mania de insistir em seres feliz.
Pedro Chagas Freitas,
prometo falhar

sábado, 10 de janeiro de 2015

isto acontece mesmo

Ainda que esteja a atravessar um momento de mudanças drásticas a vários níveis, não mudei ainda o suficiente para que o pseudo-amor dos dias de hoje deixasse de transcender os meus níveis de compreensão. Não é por má vontade minha, juro, mas continua a fazer-me uma certa comichão que existem casais em que uma das criaturas decide que o morxituh não pode ir aqui ou ali porque assim não poderão estar juntos. Porque eles vivem juntos, comem juntos, bebem juntos, respiram juntos. Porque três nanossegundos a mais do que vinte centímetros um do outro lhes poderá ser fatal. Porque quem namora não tem amigos, não tem vícios, e nem uma punheta pode bater descansado sem que a gaja lhe esteja a perguntar se ele já não gosta dela.

Acho que foi mais ou menos assim que eu descobri que adoro ser solteirinha e boa menina - mas, por via das dúvidas, estou mesmo a tentar entender como é que alguém consegue viver assim e ainda dizer que é amor porque isto ainda me atormenta mais do que confundir a direita com a esquerda.

dá vontade de transcrever tudo

às vezes há tetos insustentáveis dentro de nós, dias que nos pedem desistência, e é então que te deitas e te deixas ir à espera do que te vá buscar,
o mundo precisa de desistências periódicas para continuar, foi o que me ensinaste,
és tanto cobarde como herói e é assim que te amo, o menino que se faz grande para me poder defender,
gosto muito do heroísmo da tua fragilidade,
quando nos deitamos e nos apertamos nas nossas carências sabemos que nos atravessa o que não tem solução, o mal que nos afeta não tem cura, e mesmo assim curamo-nos,
o amor pode muito bem ser apenas a impossibilidade de curar um mal, e depois obviamente curá-lo.

Pedro Chagas Freitas,
prometo falhar

ou então sou só eu que não tenho sensibilidade para tanta profundidade numa música só

Creio que estaremos todos de acordo que se saíste à noite e não ouviste, pelo menos, oito vezes o jajão, cinco vezes o jeito dela, o controla ou aquela do se-janto-fora-jantas-fora e tal e coise, é porque certamente adormeceste e limitaste-te a sonhar que saíste à noite.

Ora, o que me chateia é exatamente a última música de que falei, a amor de hoje, porque há aqui qualquer coisa que me está a escapar. Já nem quero entrar no clichê de perguntar com quem é que fica a filha quando a mamã e o papá saem porque, se já pode falar, também pode muito bem aguentar-se sozinha em casa a chorar o divórcio eminente dos pais - o que me intriga é qual é ao certo o problema do gajo. Se ele janta fora e ela janta fora, se ele dorme fora e ela dorme fora, se ele vai para os copos e ela também vai, para quê tanto drama? Ela tinha de ficar em casa enquanto ele andasse a furunfunfar na outra, era?

je ne suis pas charlie

Quem tem famelga lá pelos reinos da frança sabe o que é ter o coração apertadinho, apertadinho.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

o cinderela está de cama

Não é que eu não queira escrever ou que nem tenha ideias, mas não as apontando logo a seguir, vai tudo com o caralho e quando, finalmente, aqui venho, não tenho tempo nem paciência. Já nem me lembro do que é dormir mais de 3h por noite. Ahhhh deus.

essas rotinas

Quando uma pessoa acha mesmo que é desta que vai conseguir resistir mas depois, oh boy, não dá.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

continuo o repelente de pénis mais eficaz de sempre

Ele diz que não entende as minhas súbitas mudanças de direção - não tem nada que enganar, amigo, a resposta é simples: fui brindada com um cromossoma x quando tudo o que eu queria era ter a capacidade de mijar de pé, mas à parte disso sou bastante fácil de entender e nada complicada. De todo.

Ainda hoje, por exemplo, parece-me óbvio que passei do modo ai-deus-que-eu-gosto-tanto-de-ti ao modo nem-respires em aproximadamente 30 segundos porque, depois de uma eternidade a remoer no assunto mais ou menos em silêncio, decidi ir procurar uma conversa que tivémos há mais de um mês, que na altura me foi absolutamente indiferente mas agora me deixou cheia de raivinha dos dentes quando a reli e amuei sozinha, só porque sim, mesmo depois de ter passado os últimos dias a torturá-lo só porque ele fica adorável com ciúmes. É por isto que eu não tenho um namorado.

domingo, 4 de janeiro de 2015

romeiro, romeiro, quem és tu?

Devo ter batido com a cabeça ou estar a sofrer um momento de revelação de um eu que viveu escondido nas profundezas lá do meu eu de trazer por casa, porque ultimamente tenho feito coisas que achei que nunca faria. E o pior é que gostei.

a faca e o queijo

Ah mas provocar ciúmes é bom, tem piada e ai jesus que é fofinho vê-lo assim prestes a roer unhas, dedos, braços e tudo o que mais lhe sirva para imaginar que está a dilacerar alguém - mas entretanto lembraste de que tens o triplo dos motivos para ter ciúmes e a coisa perde a piada.


É só.

sábado, 3 de janeiro de 2015

não seguir as borboletas.

se as borboletas vivem tão pouco porque é que a que voa por ti ainda resiste?,
que se lixe a sociedade protetora dos animais e mais as associações todas, vou deixar de dar-lhe de comer e seja o que tiver de ser, entre a consciência e a loucura prefiro aquela que te trouxer, ou precisamente a que não te trouxer de todo, e até lá vou usar um xaile ou dois e um pano sobre o peito,
sempre ouvi dizer que há que tapar os mortos por uma questão de respeito.

Pedro Chagas Freitas,
prometo falhar

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

ir na corrente

É que eu entro sempre em pânico quando não tenho pé mas agora já estou em mar alto e não consigo sair daqui.

being me

Outra das expressões que eu nunca entendi é aquele típico conselho do entra com o pé direito. Então e o que é que eu faço ao esquerdo? Deixo-o à porta ou levo-o no bolso?

milagres de natal

Isto é capaz de ir deixar muita lady com raivinha dos dentes mas, inesperadamente, eu que normalmente até com o ar engordo, emagreci de repente apesar de andar a comer que nem uma porca - e eu sei que provavemente devia ir ver disto, que não é normal e tudo e tudo e tudo, mas vou só esperar mais um bocadinho a ver se deixo de ser lontra.

esse azedume habitual

Se há coisa que enerva um bocado é aquela teoria de que o dia um é como um livro de 365 páginas que temos de começar a escrever como se todo o poder do mundo estivesse nas nossas mãos, como se pudéssemos escolher o desenrolar da trama, como se não existisse uma qualquer força alheia à nossa vontade que nos mudasse o enredo de repente.

Ou então o mal é meu, que nunca aprendi a escrever histórias com finais felizes.

apontamentos

Não costumo ser supersticiosa mas sempre acreditei, ainda que meio inconscientemente, que a minha maneira de estar na passagem de ano iria influenciar de alguma forma o dito ano que iria começar - como se eu tivesse de estar no meu melhor para garantir que as coisas iam correr bem.

Portanto, prevê-se que 2015 seja ainda mais estranho, atribulado e surpreendente do que o ano passado - e é o que se quer porque as águas paradas começam a cheirar mal ao fim de um tempo.

cinderela sobrevive a passagem de ano atribulada

O melhor de tudo é mesmo falar-se na passagem de ano quase desde a páscoa, e ai jesus que fazemos isto-isto-e-isto, e acaba-se por ir completamente de improviso porque à última da hora dá tudo para o torto; confesso que, durante uns bons 30 segundos, eu me arrependi por ter trocado o aconchego do meu lar e a dita maratona de hp pelo gelo de uma noite à beira da praia, mas entretanto deu-se aquele momento meio mágico em que uma pessoa entra numa discoteca a meio da noite e quando sai já são quase 9 da manhã, o mundo voltou a acordar e nós já nem sentimos os pés depois de tantas horas a dançar em cima de saltos altos, e mais ou menos consciente de que há muito tempo que não tinha uma noite tão boa.

Deixem-me que vos diga uma coisa: não vos digo nada. E ainda vos digo mais: só vos digo isto. 

back.

Acredito que esta minha curta ausência vos tenha levado a pensar que, quiçá, eu me teria afogado realmente no álcool ou que o meu fígado explodiu - ou, depois de um post em que eu me queixei de que os meus planos para a passagem de ano estavam todos em risco, tenham pensado que me suicidei logo que acabou a minha maratona de harry potter por estar a caminho dos 20 e ainda não ter recebido a minha carta de hogwarts.

Lamento informar-vos de que nenhum dos cenários se verificou e vocês vão mesmo continuar a aturar os meus frequentes surtos psicóticos. Feliz 2015, alforrecas!