segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

nonsense.

[tive medo ao início. ainda tenho medo todos os dias mas agora tento não pensar nisso; de alguma forma, tranquiliza-me saber que tentei escapar a tempo e que me deixei apanhar quando percebi que nunca quis realmente fugir. e tranquiliza-me saber que fomos os dois apanhados pela mesma rede, e que o destino é-nos agora tão incerto quanto o seria se eu tivesse tido oportunidade de sair de cena antes de entender isso mesmo; se não dá para controlar longe de ti, mais vale ir ficando contigo. vamos andando que a estrada é longa. talvez acabemos por nos perder um dia destes; ou porque esgotamos os temas de conversa ou porque não somos o suficiente para nos saciarmos um ao outro e precisamos de muito mais do que aquilo que nos podemos oferecer. é esta a inevitabilidade da nossa condição, não temos muito por onde fugir mas sempre a podemos ir fintando juntos enquanto não se faz tarde e nos fazem sentido as respirações ofegantes e as palavras entrecortadas que são pouco mais do que o quase nada que somos e que podemos vir a ser. apetece-me roubar-te para sempre, mas não posso; sei que até essa vontade é passageira e que o para sempre tem um limite que talvez já nem esteja muito longe, sei que nos vamos fartar, que vamos precisar de mudar de poiso, mas agora estou bem aqui. apetece-me dizer-te, perdão, apetece-me prometer-te, ou talvez jurar-te a pés juntos, que serás a sorte daquela que te tiver, pedir-te que não te percas porque és demasiado bom, demasiado raro e demasiado impossível, para não ser de ninguém. e, quando os nossos caminhos se separarem, vai ser isto que vou guardar de ti; uma coleção infindável de coisas menores que me foste ensinando ao longo do tempo e uma certa inveja da mulher que tenha a oportunidade de envelhecer ao lado de alguém como tu. de qualquer forma, não quero que a encontres tão cedo, só para poderes ser um bocadinho meu durante mais cinco minutos - e quando o nosso tempo se esgotar e não me restar outra alternativa senão fechar-te a porta, prometo deixar-te uma chave debaixo do tapete.]

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