segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

a saga das não-entrevistas: cinderela e a escola da vida

Vocês sabem que, se procurar trabalho contasse para o currículo, eu ganhava-vos em experiência. E, portanto, conto também com algumas humilhações na bagagem. 

De todas, esta é a que mais me chateia: há uns meses, recebi uma carta com os contactos referentes a uma vaga de emprego na qual eu estava mesmo, mesmo, mesmo, interessada, e o nome ao qual eu me deveria dirigir. E não, eu não estava, de forma alguma, a candidatar-me a algo que estivesse acima das minhas qualificações: eu poderia perfeitamente desempenhar aquela função. 

CV, carta de apresentação, tudo direitinho, e senta-te à espera sua gata borralheira miserável.

Por ser uma stalker competente, fiz o óbvio: fui procurar, no facebook, a senhora a quem me dirigi na carta de apresentação, na qual me esmerei para mostrar que podia perfeitamente ser a próxima funcionária daquela empresa e...

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*introduzir som de choro compulsivo, vindo do fundo da alma*

Eu, ainda hoje, não recuperei do choque de ter sido rejeitada para alguém que escreveu no facebook que frequentou a escola da vida.

(preciso mesmo de pedir a um dr. Cunha que me adote.)

sábado, 24 de fevereiro de 2018

já que somos tu-cá-tu-lá

Isto já aconteceu há mais de um ano mas, ontem, e sem saber porquê, lembrei-me disto e, como já perdi a vergonha na cara, acho que está na altura de partilhar com o mundo o quão retardada eu consigo ser.

Foi numa das muitas vezes que me dirigi ao centro de saúde por conta de um problema chato e persistente - comecei por descrever os sintomas, até que a médica pergunta:

- tem vesículas?

[Pausa.
Como assim?! Estará relacionado? Estou mais frágil, mais vulnerável, agora que sou uma pessoa incompleta? O que é que poderia ter a ver uma coisa com a outra? Será que ouvi mal? É por isso que ando há meses nesta vida e continuo com problemas? Que sentido fará tudo isto?]

Depois de todo um drama interior, respondo-lhe, baixinho:

- já não tenho vesícula, não.


Claro que ela se referia a erupções cutâneas - mas eu gosto de acreditar que isto foi num dia em que os meus neurónios fizeram greve.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

vamos falar de trabalho?

Repetindo-me um pouco, eu não posso garantir que este post vá ser útil para alguém, porque só vos posso falar do que sei por experiência.

Para quem não sabe, eu estava a trabalhar numa loja. Contudo, percebi, logo nos primeiros dias, que aquela não poderia ser uma solução a médio/longo prazo porque não me oferecia a estabilidade que eu procuro nesta fase da minha vida, em que a ideia é mesmo assentar arraiais. Por se tratar de uma cadeia de lojas, eu só tinha poiso certo durante a licença de maternidade de uma das funcionárias, e depois o mais provável seria começar a rodar por todas as lojas, o que não seria um problema se fossem relativamente perto de mim. Mas não eram.

Por gostar do trabalho propriamente dito, eu decidi ficar e ir procurando, com calma e sem a pressão do desemprego, algo que fosse mais certo, mais estável, e geograficamente mais favorável aos meus planos, enquanto ganhava experiência numa área diferente daquela em que tenho formação. O plano era perfeito, portanto. Só que não.

O primeiro ponto que eu estranhei, foi nunca ter assinado contrato algum. Se alguma vez tiverem utilizado o site do IEFP para se candidatar a ofertas de emprego, saberão que estas têm informação acerca do tipo de contrato, e eu sabia daí que se trataria de um contrato sem termo. Foi-me dito então que o meu contrato começaria a partir de determinada data, mas eu nunca vi documento algum. 

A dada altura, tratei de me informar: foi-me então explicado que, atualmente, os contratos sem termo não têm qualquer obrigatoriedade de ser celebrados por escrito e, consequentemente, assinados. Existia sim, o que me parece óbvio, a obrigação, por parte da entidade patronal, de fornecer ao funcionário os documentos onde estivessem expressas as condições do dito contrato. Por outras palavras, a informar os trabalhadores onde é que estão metidos.

Sabia que tinha todo o direito de ter acesso a esse documento mas, por uma cobardia infantil, por temer ser mal interpretada, por, sei lá, não fazer a menor ideia sobre quanto mais tempo me restaria na dita empresa e não estar para arranjar confusões, nunca o pedi. E, de certa forma, ainda bem.

Agora, eu não fazia a menor ideia de quais eram as condições, do tempo que teria dar de pré-aviso, quais eram os meus direitos e deveres quando tivesse como sair. Foi aí que entrou a tal rapariga: ela ligou-me, a propósito de uma entrevista de trabalho à qual eu não fui, porque a pessoa é estúpida e certinha e, uma vez que não foi possível agendar a entrevista para um horário em que não comprometesse o meu trabalho, disse que não. E, vejam só, isto aconteceu exatamente na véspera do que me fez saltar a tampa.

O que ela me explicou foi que, neste caso, não conhecer o meu contrato de trabalho jogava a meu favor: o código do trabalho prevê, no mínimo, 90 dias de período experimental (e atenção que, dependendo dos cargos e da responsabilidade, este período pode ser superior), durante as quais eu poderia fazer a denúncia de contrato sem pré aviso e sem ter de pagar uma indemnização. Este período pode ser encurtado se ambas as partes estiverem de acordo mas, já que eu, em momento algum, tinha tido conhecimento das condições contratuais, essa hipótese ficava automaticamente inviabilizada. 

A rapariga aconselhou-me então a tentar sair antes do término do período experimental, dado que depois seria sempre obrigada a um pré aviso de 30 dias, o que me dificultaria a vida na procura de emprego, já que uma das exigências, em quase todos os casos, é a disponibilidade imediata. 

Há mais! Apesar de esta ser uma situação rara, se estiverem a trabalhar para uma empresa onde nunca vos seja oferecido qualquer tipo de contrato, aplica-se o mesmo período experimental de 90 dias. Ao 91º dia, vocês são, oficialmente, trabalhadores efetivos naquela empresa. Excluíndo, como é óbvio, quem trabalha a recibos verdes.

Entretanto, as coisas começaram a correr mal mas, sobre esse ponto, não me vou alongar porque não sou de cuspir no prato onde comi. Apesar de tudo, foi-me dada uma oportunidade numa altura em que, infelizmente, há pouca gente a querer dar oportunidades a jovens, a não ser que tenham tido a sorte de nascer já com 5 anos de experiência profissional em vários setores diferentes. Isto é, que sejam as primas direitas do dr. Cunha.

Deixou de me fazer qualquer sentido continuar, e a minha saída tornou-se bastante mais urgente do que previa. No entanto, apesar de saber que a razão estava do meu lado e poderia simplesmente ter alegado justa causa no motivo da minha rescisão de contrato, optei por não o fazer. Socorri-me antes do facto de ainda me não ter completado os 90 dias, e saí sem confusões de maior. 

Podem encontrar a informação relativa ao dito período experimental nos artigos 112º e 114º do código do trabalho. 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

duas voltas na fechadura

A vida é toda encruzilhadas e momentos feitos para julgarmos que é agora ou nunca. Se calhar a coisa nem é bem assim, e esta ideia vem-nos de uma certa imaturidade, que não morre com os anos, e com a pressa de ser. Eu cá não sei mas, por via das dúvidas, não arrisco.

Poderia repetir-vos o clichê de as coisas nunca serem como esperamos, mas disso estamos nós todos cheios e não há nada a fazer; a vida é toda encruzilhadas, toda isto ou aquilo, toda escolhas que podem ou não ser as mais acertadas. Às vezes são, e corre tudo bem. Outras vezes, não são, mas as pessoas ajeitam as almofadas e deixam-se estar sossegadas a ver no que dá. Depois há os outros, os chatos, os que correm na direção oposta assim que se apercebem de que se enganaram no caminho. Sou dessas, das últimas.

Não me é sempre fácil escolher; volta e meia ainda dou por mim, miúda, estagiária no mundo dos adultos, finco o pé e recuso-me a tomar decisões mais drásticas do que escolher entre o gelado de baunilha e o de chocolate. Depois lá me abano para me obrigar a aceitar que não posso carregar no snooze eternamente para adiar mais um bocadinho a minha entrada no mundo das gentes crescidas, que isto de crescer é um caminho sem volta e, assim a brincar, parece que já cá cheguei. Há que me comportar como tal.

Portanto, o momento pedia decisões rápidas e certeiras, sem grande espaço para os ses e os mas habituais. Era sim ou sopas, agora ou nunca - claro que este nunca não era um nunca, era o acréscimo de dificuldades e o arrastar de uma situação que considero inadmissível. Como tenciono ter um futuro que não passa pela prostituição, fiz-me à vida. E aqui estou eu.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

o rei vai nu!

Há uns tempos, e creio que a propósito de um vídeo no youtube onde esse mesmo tema era abordado, li vários comentários de mulheres a dizerem que é sempre extremamente embaraçoso e desconfortável ter de ir ao ginecologista. Apercebi-me, mais uma vez, de que sou anormal.

Não me faz confusão alguma - calma que não estou a dizer que adoro, nem tão pouco vou ao médico por conta de uma dor de ouvido e começo a desapertar as calças. Mas também não me incomoda e, possivelmente, isto deve-se ao facto de trazer na bagagem alguma experiência em hospital; ver pessoas nuas, de todas as idades, fazia parte do meu trabalho diário e a coisa deixa de ter qualquer importância. É só trabalho.

Agora, há uma coisa que é, definitivamente, embaraçosa e eu não vejo as pessoas a falarem disso. O que é uma ida ao ginecologista... perto de uma ida à esteticista? Porque é que se queixam de um profissional de saúde e nem piam quanto a ter uma estranha a manejar as nossas partes pudendas?

Vamos começar pelo facto de estarmos ali, quase em posição de parir, enquanto a gaja espalha cera lá em baixo com a mesma felicidade com que nós barramos nutella numa torrada. Se cometermos o erro de demonstrar aquele esgar de dor de quem sente a parreca a cozer, ainda se mete a soprar lá para baixo, como se lhe tivessem acabado de cantar os parabéns e estivéssemos a meio de uma festa. Yaaaay... só que não.

Enquanto uma pessoa está ali, divivida entre a vontade de se livrar daquela situação o quanto antes e o desejo secreto de que a gaja deixe estar lá a cera, só mais um bocadinho, porque somos pessoas jovens e não estamos preparadas para sentir a alma a ser-nos arrancada sem dó nem piedade, ZÁÁÁÁS. A criatura dá aquele puxão, quase fatal, que nos faz gritar até acordar três marcianos e outro, meio confuso e meio orgulhoso, sair de cima da marciana-fêmea. 

O embaraço acaba aí?
Nãaao. É que depois, ainda não contente com o nosso orgulho morto e a vergonha tomar o lugar do nosso segundo nome, dá umas pancadinhas para atenuar a dor. Não dói nada, não dói nada. Claro que não dói. A ti, não!

Portanto, na ausência da hipótese de se pedir anestesia geral, ou a epidural que fosse, a pessoa decide não voltar. Até porque, ao preço a que estão as rendas hoje em dia, nem é assim tão má ideia mudarmo-nos para uma caverna e aceitar as nossas origens. Isso, ou encontrar meios menos tortuosos de exterminar o pêlo - deixo convosco e com a vossa imaginação.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

para verem que eu também sei ser simpática

Já é do conhecimento geral que esta pessoa tem uma vasta experiência com recrutadores, assim daquelas experiências que dão vontade de desistir da ideia de encontrar um emprego, fugir para baixo da ponte e viver só do que a terra dá. Contudo, e porque eu não sou assim tão má, acho que as coisas boas também devem ser ditas.

Ontem recebi uma chamada, por parte de uma empresa de recursos humanos, para me falarem acerca de uma proposta de trabalho - não, não eram vendas porta a porta nem encontraram o meu contacto em sites de emprego manhosos, era algo sério mas sobre o qual não me alongarei por agora. 

Ficaram de me contactar mais tarde para terem a minha resposta final sobre se iria ou não à entrevista; respondi que não, e comentei, vagamente, a minha situação atual, mais ou menos esquisita, mais ou menos irregular, com o rapaz que me ligou. 

Daí a nada, nova chamada: a mesma senhora com quem tinha falado em primeiro lugar. Sem obrigação alguma e a troco de nada, a rapariga (juro que, pela voz, me pareceu jovem), resolveu contactar-me para me dizer que já tinha passado pelo que eu estou a passar atualmente, aconselhou-me sobre o que eu deveria fazer, explicou-me como funcionavam as coisas e quais eram os meus direitos nesta situação em específico. Dispensou-me o tempo dela para, enfim, me dar informações que poderiam e deveriam ter-me sido dadas por outras entidades.

Para muitos, talvez entre aqui o não fez mais do que a obrigação dela mas, num mundo em que a maior parte dos "trabalhadores" não faz questão de cumprir sequer com as suas obrigações, alguém disponibilizar-se para ajudar, quanto mais não seja, informando, a troco de nada, é refrescante. 

Restaurou parte da minha fé na humanidade - ana, da manpower group, se por uma feliz coincidência andares por aqui, o meu muito obrigada, de coração. E continua assim, porque são pessoas como tu que fazem o mundo um bocadinho melhor.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

quanto vale o dinheiro?

Quero começar por dizer que estou ciente de que, infelizmente, ter mais do que um emprego não é uma escolha para algumas pessoas, e que há quem faça por real necessidade. Também já me cruzei com pessoas assim, e guardo-lhes todo o respeito. Aos outros... seriously?

Acredito que isto não faça sentido a toda a gente mas, para vos situar, posso explicar algo sobre mim: quis ser enfermeira durante muitos anos, assim, sem quaisquer dúvidas ou hesitações. Depois, fui trabalhar para um hospital e, ao fim de pouco tempo a praticar horários de loucos que nem ao diabo lembram, percebi que essa não é a vida que quero para mim. Ah, sua cachopa fútil, folgada, preguiçosa, não sabes o que é a vida!, and so on. Bem sei que há quem o pense - já eu, estou muito contente por contrariar a mania portuguesíssima de me prestar à infelicidade só para poder choramingar pelos cantos.

Descobri que, afinal, eu quero uma família. Daquelas a sério, das que não são constituídas por vinte e sete gatos e um ser humano, do sexo feminino, gordo, com bigode e um ar duvidoso. Nada temam: a cinderela não tenciona arrendar o útero a um monstrinho de berço nos anos mais próximos. Mas, e ainda que isto seja uma novidade até para mim, um dia quero poder sentir orgulho nas minhas próprias crias, ainda que o maior feito delas seja comer ranho e riscar a parede. E quero estar lá para ver isso - a este ponto pode uma pessoa mudar, vejam lá.

Não me venham dizer que estou a ser parva, que o que não falta são enfermeiros com filhos, porque disso sei eu bem. Foi exatamente por ter trabalhado a par com eles que percebi, bastante depressa, que não quero estar naquele lugar. Que, por mais que goste da profissão, sou incapaz de me imaginar a procriar para ver as criaturinhas só às vezes, quando os horários lá casam uns com os outros.

Ainda bem que há gente cujas vidas funcionam perfeitamente nesses moldes, mas não o quero para mim.

Posto isto, e correndo o risco de ser apedrejada em praça pública, não consigo perceber os segundos e os terceiros empregos. Não consigo; por mais que me esforce, sou incapaz de entender como é que alguém pode pensar que matar-se a trabalhar só para os putos poderem ter o último grito em tecnologia ou o número de países visitados aos três anos ser superior à quantidade de dentes que têm na boca, é dar-lhes uma vida melhor. Se calhar sou só chata e tenho uma alma de pobre sem remédio, mas é-me inconcebível colocar o luxo à frente do amor, preferir dormir três horas para que os putos nunca tenham de comprar roupa no lidl (olhem só a boquita para mim mesma), em detrimento de passar tempo com eles. Nem que seja a fazer nada.

Na volta, sou mesmo eu quem está enganada, os valores estão todos no sítio, mas eu continuo a preferir a ideia de ter de aproveitar as promoções para comprar shampõ, se isso implicar ter a oportunidade de passar tempo a fazer coisas que gosto, com as pessoas de quem gosto. São manias.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

mesa para dois

Tenho visto por aí muitas publicações a falar do dia dos namorados, do outfit ideal, da maquilhagem ideal, da prenda ideal, and so on. Lembrei-me de dar a minha colherada também, que isto nem era dia se eu não viesse aqui dizer que não gosto.

Apesar de uns momentos pirosíssimos amiúde, não somos propriamente lamechas - eu sei, eu sei: ninguém o diria, dado que 50% do casal ocupa os tempos livres a escrever textinhos pseudo-românticos e foficoisos, mas prometo que ao vivo somos mais fixes do que isto.

Ora, este é o nosso primeiro dia dos namorados juntos, a não ser que ele se lembre de me mandar pastar hoje ou amanhã, o que, vá-se lá saber porquê, coincide com a primeira vez em que eu tenho um valentim* comigo - que, graças a deus, não se chama valentim. Portanto, a pessoa está toda louca e mortinha por comemorar, certooooooo?

Errado.
Parece-me importante referir que me enche de orgulho confirmar que, afinal, não era uma dose de recalque e duas de dor de corno que me faziam revirar tanto os olhitos nos últimos 21 dias dos namorados, por não ter um tchutchuzinho com quem fazer um facebook de casal. É só mau feitio mesmo.

Não vou fazer de conta de que estou zangada por ir ver o meu rapaz a meio da semana, coisa que, infelizmente, só acontece de longe a longe - mas sem velas, balões ou ursinhos a dizer i love you. Confesso-me medianamente assustada com a perspetiva de sair de casa nesse dia, ou vá, noite, e ter de assistir a endoscopias, feitas com a língua, no meio da rua, pedidos de casamento, surpresas escandalosas, sabe deus. Ou nem deus sabe, que até tapa os olhitos para não ver.

É dia dos namorados mas, tal como nos restantes 364 dias, a pessoa só quer encher o bandulho sem outras declarações de amor que não as de todos os dias, daquelas que muitas vezes nem precisam de ser faladas. Basta-me a companhia, basta-me o carinho, bastam-me os gestos mais simples e a certeza de que afinal sempre estava certa a minha avó quando dizia que, quando deus faz uma panela, faz logo um testo para ela - afinal não sou uma frigideira, yay!

Aproveitem o amor sem preços, sem competições para ver quem dá o melhor presente, quem faz a maior surpresa só porque o mundo decidiu que a 14 de fevereiro é dia de estourar o ordenado para mostrar que se ama alguém. 

Estamos cá todos os dias e qualquer outro dia é um excelente dia para surpresas e comemorações que, além de ficarem muito mais baratas, quando não feitas todas ao mesmo tempo, tornam o mundo um local muito mais suportável. Sejam felizes, pá! 
(e preservem a língua dentro das vossas bocas em público.)

*somos todos traduções manhosas

sábado, 10 de fevereiro de 2018

dizem que é carnaval outra vez

Não gosto do carnaval - eu sei, eu sei. A pessoa é tão azeda que esta afirmação se torna previsível, e estranho seria eu gostar de alguma coisa deste mundo de que toda a gente goste. São vidas.

Adianta reforçar que não é um ódio de estimação, é mais o nem sequer compreender a ideia. Especialmente dos carnavais que conheço e destas imitações rascas do carnaval brasileiro, que de si já não me parece minimamente interessante. É só parvo, mas muito fixe para quem quiser apanhar uma pneumonia.

Calma lá que isto não é recalque - não estou em sofrimento por não me ter mascarado em pequenina, porque tive sempre disfarces diferentes. O maior mistério, para mim, continua a ser o porquê de ainda ninguém ter reparado que o carnaval, em portugal, lá calha ser sempre no inverno e que aquelas fatiotas finíssimas só oferecem duas opções às crias e aos pais das crias: morrer de frio ou adicionar o fator chouriço a cada máscara, com 6 camadas de roupa por baixo.

Como sou das friorentas, optei por ser um capuchinho vermelho-chouriço, palhaço-chouriço, princesa-chouriço, and so on. Até ao dia em que me apercebi que, à medida que os anos passam, o fator chouriço vira fator puta, e os disfarces de carnaval das gentes adultas são, na sua maioria, também bastante adequados a filmes duvidosos feitos a pensar em pessoas com fetiches esquisitos. Deixei de me disfarçar antes de conhecer a realidade da enfermeira-puta, bruxa-puta, polícia-puta. Acho que dá para perceber a ideia.

Portanto, nos carnavais de agora, disfarço-me de ernesto, tal como nos restantes dias do ano - conto usar e abusar do conforto do meu sofá, que a idade já pesa e eu não estou para palhaçadas. Nem para o frio.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

parecendo que não, já só faltam 5 meses!

Se há coisa de que me orgulho bastante é da consistência das minhas decisões. Ainda no ano passado, por exemplo, saí do somnii a dizer que foi muito bom mas não voltava porque, parecendo que não, a idade já pesa nas costas e a pessoa começa a sentir-se mal misturada com miúdas, que podiam ser minhas filhas, ali a aguentar o frio à força só para poderem mostrar as carnes ao povo - ah, sim, frio na praia, no mês de julho e no meio de, literalmente, milhares de pessoas! Nem é bom lembrar.

Portanto, tendo decidido não ir este ano, parece-me óbvio que estejamos em fevereiro e aqui a pessoínha já tenha comprado o passe para os três dias, assim logo no primeiro lote de bilhetes porque, apesar de estúpida, é sovina que dói e sabe que não estaria disposta a pagar mais do que pagou. E também sabe que, se tiver a sorte de ir para lá em melhor estado do que no ano passado, vai gostar, que vai.

De momento, ainda só há três confirmações mas é positivo que nenhuma delas seja os caricas, o panda ou a xana toc-toc. Vai correr tudo bem.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

a era da estupidez

Velha do restelo apresenta-se ao serviço: isto já não é nada como antigamente.

Confesso que, possivelmente, a culpa será minha. Em 7 anos de blog, nunca me dediquei aos fashion blogs e, no que aos giveaway toca, nunca fiz mais senão troçar deles. Não sou muito fixe, é certo. Mas isto vai de mal a pior.

Comecei por preparar nisto nos youtubers - ainda estou para perceber como é que alguém chama trabalho a mostrar-nos o que comeu ao pequeno almoço ou um hamburguer servido numa tábua que, lá em casa, usamos para cortar a carne sem riscar as bancadas, mas isto sou só eu que tenho a mania do dinheiro honesto e dos trabalhos gratificantes.

Adiante.

Apercebi-me disto quando andei à procura de tutoriais de maquilhagem e me deparei com todo um outro mundo que, até então, eu desconhecia:o da vida fácil. Tudo é simples. Uma camisola de 60€ nem é muito cara. Se for uma paleta de sombras, menos ainda. E alugar/comprar/rechear uma casa? É só passar o cartão - eu é que sou uma pelintra.

Mea culpa: comecei a seguir alguns. Acho que se torna num vício ver a ignorância e a futilidade alheias; raramente vejo os vídeos, mas adoro os instagrams metodicamente pensados, para não destoar - sabiam que há uma app que serve só para verem como vai ficar aquela foto no vosso instagram? Se acharem que não fica bonita, é só guardarem para depois. São o meu guilty pleasure e, se revirar os olhos contar como tal, o meu exercício diário.

Em tempos, cheguei a ponderar associar a minha conta pessoal ao blog, mas a ideia não chegou a criar raízes - deve ser uma canseira ter de me preocupar com o que os meus queridos followers pensam do meu almoço, e eu gosto de me dar ao luxo de só me preocupar com coisas sérias. Além disso, eu uso o instagram mais como uma galeria pessoal do que outra coisa, e consigo estar muiiito tempo sem publicar o que quer que seja: está cheio de fotografias simbólicas que foram ali colocadas por um motivo, e que (quase) ninguém conhece.

Agora, o verdadeiro fenómeno são os anúncios. Por estas alturas, páginas do facebook, perfis do instagram, canais do youtube, blogs, são pouco mais interessantes do que os folhetos promocionais do lidl. É que chega-se ao ponto ridículo de se fotografarem as crias para publicitar uma merda qualquer que lhes pagou para aquilo, e anda o mundo revoltadíssimo com a supernanny - incluíndo essas mãezinhas extremosas que, além de se venderem a elas, vendem os filhos também. Tudo quanto é blogger, youtuber, instagramer, merd-er, tem um código promocional. Não tarda nada e as faculdades do nosso país decidem abrir o curso de influencer. Isso ou as escolas primárias, porque se se empinar bem o cu e se souber fotografar as mamas no ângulo certo, até o quarto ano serve.

Cá estou eu: sete anos de blog e nunca me vendi a uma marca. Também nunca me tentaram comprar, que eu não sou uma menina bonita nem me tento auto-promover com outfits fancy para as marcas julgarem que sou uma boa parceira - na verdade, eu até sou mais de vos falar dos achados da feira ou do lidl, porque às zaras e às primarks desta vida qualquer um vai. Ninguém me paga para escrever, e eu também não me zango se ninguém ler - continuo a fazê-lo por puro amor à escrita, e não há dinheiro que me faça trocar a liberdade de ser quem me apetecer só para vos levar a comprar merdas em que nem eu acredito.

Isto sou eu - a velha do restelo, demasiado old school para esta era digital da estupidez.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

o que se ganha ao perder

Foi na semana passada.
Num desses dias mais tristes, escolhi uma mesa para tomar o meu café, e sentei-me. Não me apetecia ler - levo sempre um livro comigo, mas há dias em que não lhe toco porque não quero. Limito-me a observar, essa mania antiga e, talvez, assustadora, de observar os outros. Sou apaixonada por tudo quanto não conheça.

Na mesa do lado, estavam duas miúdas. Na do fundo, um grupo de rapazes. Reparei neles em primeiro lugar porque eram, indubitavelmente, barulhentos, e eu não gosto de pessoas que fazem demasiado barulho em cafés - é muito fácil transformar-se um momento calmo na feira da ladra. Depois, reparei nelas: os cappuccinos não vieram juntos e resolveram esperar pelo segundo para fotografarem as chávenas fumegantes. Modernices.

Uma delas é muito bonita, a outra nem por isso. Conversavam, e não me perguntem sobre o quê porque não vos saberia responder; não me esforcei por ouvir. Estava mais concentrada nos gestos, num histerismo mal contido, naquele fulgor próprio da adolescência. Passou-me várias vezes pela cabeça que era aquela a figura que eu fazia quando tudo em mim fervilhava, quando era cheia de expectativas tantas, tantas, vezes irrealistas e quase impossíveis quando, também eu, não tinha mais do que 16 ou 17 anos.

Um dos rapazes aproximou-se e cumprimentou-as; não foi difícil de perceber. A mais bonita ficou ainda mais histérica, corou, e começou a abanar-se como se o ar não lhe estivesse a chegar em doses suficientes ao cérebro. Provavelmente, não estaria mesmo. Tentou conter-se quando ele passou do lado de lá do vidro, e depois voltou a entregar-se à euforia que lhe trouxeram dois beijinhos na bochecha, e não falaram noutra coisa durante o resto do tempo.

De repente, voltei a ter 16 anos, a estar sentada naquela  mesa, ou noutra qualquer, de coração acelerado e olhinhos brilhantes enquanto contava e tornava a contar, vezes sem conta, histórias insignificantes, momentos banais, como se de grandes progressos se tratassem. Nunca o foram - a minha vida sentimental ainda tinha muito que penar até se resolver.

Pensei em mim mesma, e no quando a versão adolescente de mim se parecia com aquelas miúdas ali sentadas a quem, se tivessem reparado em mim, eu não teria parecido muito mais velha. E depois dei-me conta de que é como se existisse um abismo entre mim e elas, como se se tivessem passado mil anos desde que estive naquele lugar das felizes trivialidades, em que me senti daquela forma. 

Parece que cresci. 
Que a forma como a minha vida aconteceu me obrigou a despir essa pele de miúda tonta e que, no final das contas, ter largado algumas mãos me permitiu a avançar mais depressa do que se me tivesse deixado ir ao mesmo ritmo. Há ritmos que não funcionam em outros mundos, em outras vidas, e volta e meia torna-se imperativo que se cresça mais depressa. Se calhar envelheci ao invés de crescer, mas continuo contente com a maturidade que ganhei. São manias.

Não senti saudades daquela quase-inocência, dos tempos em que os dias maus eram todos aqueles em que não nos cruzávamos com o rapazinho. Ou em que, pura e simplesmente, ele não olhava para nós. Ainda que agora os dias me pesem mais nos ombros, ainda que agora os meus dramas tenham tendência para serem mais sérios, ainda que a minha vida não esteja perfeita, não há nada pior para uma boa noite de sono do que uma cabeça adolescente e desassossegada. 

Nem mesmo o café.