quinta-feira, 13 de julho de 2017

nem tudo foi mau

Desde que o somnii - ou sunset, para os amigos -  se mudou cá para a figueira, esta pessoa fez sempre questão de marcar presença a abanar o cu pelo areal, tirando o ano passado. E este ano lá estava a wild criatura outra vez, feliz e contente, a ser revistada duas vezes a cada entrada, qual criminosa, a esconder garrafitas de água como quem esconde droga - ainda assim, foram vistas e deixadas passar, aleluia! -, a passar horas em pé para o desespero desta coluna idosa que está, claramente, mais queixosa desde há dois anos atrás.

Fresca e fofa depois de ter passado a noite a trabalhar, fui para lá a tossir, em média, dezassete vezes por minuto, condição esta agravada pelo facto de estar constantemente a levar com o fumo dos que insistem em fumar quando estamos todos ensalsichados no meio de uma multidão aos saltos. Foi giro e correu tudo bem: contra todas as expectativas, consegui não cuspir nenhum pulmão. E, com sorte, contagiei uns quantos para verem o que é bom.

Agora, o que me fez alguma comichão foi olhar à volta e sentir-me velha. Palavra de honra: a maior parte das criaturinhas que desfilavam no meu campo de visão, a fumar e a beber, ainda não tinham pintelhos. Dançavam como se conhecessem cada música desde o útero o que, bem vistas as coisas, até nem é assim tão improvável. E eu ali: empurrão da direita, cotovelada da esquerda, pisadela sabe deus de onde, cheia de frio, de calças, sweat, encostada ao monsieur ao máximo a ver se me safava dali com vida, o ar de horror e a promessa secreta, uma vez mãe de filhos, só os deixar sair depois dos 18. Porra.

Cheguei a temer estar num concerto dos caricas, mas felizmente correu tudo bem - os miúdos deviam estar só a comemorar a positiva nas provas de aferição - isso ainda existe, não existe?

Quanto aos djs, já vi melhor a pagar bem menos. Tirando a tosse e as dores nas costas, senti-me quase a pessoa jovem que aparentemente deveria ser - e apesar do esforço hérculeo que tive de fazer para conseguir ser liberada durante o fim de semana para poder ir, apesar da desilusão por o festival em si não ter acompanhado a escalada no preço, fá-lo-ia outra vez. Mas só pela companhia.

(começo a parecer fofa e domável, socorro)

domingo, 2 de julho de 2017

bring the old times back

Quando vejo festas de aniversário temáticas para os putos, uma parte de mim morre e a outra quer suicidar-se: sou do tempo em que as festinhas de anos eram à volta de uma mesa cheia de bolos, sandes de queijo e fiambre em pão de forma cortado ao meio, perninhas de frango e mousse de chocolate. Jogavam às escondidas, à apanhada, ao quarto escuro, à mamã dá licença - corríamos na rua e fodíamos os joelhos no alcatrão. E isso era fixe.

Agora não há festas para os meninos sem que se pense numa personagem qualquer, sem palhaços, balões de hélio e insufláveis. A comida é uma mistura de gourmet com labrego, porque não há como negar as origens, mas pelo menos há sereias engarrafadas espalhadas pela mesa e passeios de pónei pelo jardim. Carinhas pintadas. Bolos tão elaborados que dá pena comer. Fogo de artifício, música ambiente, after party. 

Elucidem-me: isto é para os putos ou uma competição de mãezinhas raivosas?

dois de julho

Sempre gostei do meu aniversário - por alguma razão tola, gosto da data. Dois de julho: soa bem, soa bonito. Parece a melhor combinação possível aos meus ouvidos; o dois e o julho. Marca o meu início, o meu dia zero, um recomeço a cada ano novo.

Hoje, são 22: sem presentes, com um bolo pequenino e a família à volta da mesa. A possível, a presente, a que resta. (Parte da) que importa. Alguém novo, sentado ao meu lado - e o coração cheio, as tormentas apaziguadas e a certeza de que, o melhor presente de todos, deu-mo a vida.

Agora que chega de coisas lamechas, parabenizem-me.