Mostrar mensagens com a etiqueta o livro que eu não escrevi. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta o livro que eu não escrevi. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

amores rasgados ao meio

Eu estou aqui, joana. 
Vim àquela pastelaria onde vínhamos, religiosamente, todos os sábados de manhã, antes de eu ter deixado de ter tempo, mas hoje não pedi um café cheio, em chávena fria, nem um pastel de nata; hoje pareceu-me melhor quebrar o ritual e limitei-me a pedir uma garrafa de água só para ter uma desculpa para me sentar numa das mesas.

Escolhi a da janela, aquela que fica de frente para a igreja. Odiavas este lugar, porque te sentias sempre observada por quem passava na rua, apesar de a maior parte das pessoas passar cabisbaixa e com pouca vontade de ver o que estávamos a comer. Tu eras simples e não chamavas a atenção de quem não soubesse o mulherão que se escondia por baixo do ar humilde e acanhado.

Não conseguia deixar de olhar a porta daquela maldita igreja. Tinham-me dito que era hoje e não consegui resistir ao impulso de vir até aqui. Provavelmente, foi uma forma de me punir. De tentar acelerar o suicídio lento patrocinado pelos cigarros que se tinham tornado nos meus mais fiéis companheiros depois de te ter perdido.

Entre duas baforadas, peguei no telemóvel e marquei o teu número - tinha-o apagado da memória do cartão, mas nunca da minha. Não sei porque o fiz: não tinha nada a acrescrentar a tudo o que já te tinha dito, e nem tão pouco te queria estragar o dia, mas a perspetiva de ouvir a tua voz silenciou-me a razão. Confesso: também tinha alguma curiosidade de saber o que aconteceria. Nunca me tinha perguntado o que fariam os noivos no dia do casamento, se se limitavam a viver o momento ou se escondiam o telemóvel em sítios inimagináveis para poder dar uma vista de olhos no facebook e no instagram em cada ida à casa de banho. Ri-me. Nunca largavas o teu, e imaginei-te a escondê-lo no bouquet. Diverti-me a imaginar o ar de horror dos convidados quando ouvissem a música dos system of a down a sair diretamente do centro das rosas. Não atendeste. Claro que não.

Esmaguei o cigarro no fundo do cinzeiro enquanto sentia o mesmo a acontecer com o meu coração. Mais uma vez.

Já se tinham passado mais de dois anos desde o dia em que me disseste que ias sair de casa. Não acreditei; achei-te sempre demasiado fraca para que fosses capaz de arrastar uma mala pela gare com todos os teus sonhos. Com a tua vida toda - enganei-me bem. Levaste os teus e os meus. Levaste a tua e a minha.

Nos três primeiros dias, não voltei a casa. Mantive-me o mais ébrio que me foi possível para não me lembrar de nada, dormi num banco de jardim e numa pensão rasca com mais três espanhóis. Valia tudo para não ter de encontrar a nossa casa semi despida - mas depois, com a roupa imunda e meio rasgada, achei que era hora de voltar.

Quando entrei, quis arrumar as malas e sair de vez. Livrar-me da casa onde fomos felizes, recomeçar do zero - depois consolei-me com o pouco que me restava de ti. O teu cheiro na roupa de cama, a escova de dentes esquecida, o frasco de shampô quase vazio que não quiseste levar. Demorei mais tempo do que me orgulho a ter coragem de trocar os lençóis, e mais ainda a passar um dia sem chorar. Demorei demasiado tempo, minha joaninha. Demorei demasiadas lágrimas tuas a tentar perceber o que te fazia chorar.

Dizia-te sempre que não entendia em que medida te poderia estar a fazer mal: ao fim de nove anos juntos, dava-te tudo quanto podia, pagava todas as despesas, oferecia-te flores no vigésimo primeiro dia de cada mês para te mostrar que nunca me esqueci do nosso dia. E mesmo assim, queixavas-te - de que nunca te ouvia, de que nunca íamos a lado nenhum, de que nunca te ajudava em casa, de que nunca mais te tinha abraçado. A verdade é que às vezes mal dava por ti, e quase nunca reparava realmente nas coisas que fazias. Elas apareciam feitas, e isso bastava-me.

Amava-te como se ama a mulher das nossas vidas, mas via-te como a empregada doméstica a quem eu oferecia flores. Desculpa-me, meu amor, mas eu vivia com a cabeça no trabalho para te poder dar tudo, e esqueci-me de te dar o mais importante. Por mais anos que viva, nunca me hei de perdoar pela forma como te fui perder - percebi, quando te deixei no comboio, que não havia nada a fazer. Estavas cansada da forma como te tratei, e de nada me adiantaria prometer que seria diferente. O daniel com quem te mudaste, com quem pintaste paredes e estreaste os pratos, tinha ficado perdido no tempo. Já não existia. 

Há danos irreparáveis quando se lasca um amor assim. Eu tinha matado o nosso, lentamente.

De repente, a porta da igreja abriu-se. Vi os convidados a sair, a alinharem-se nas escadinhas, de ambos os lados da porta. Sorri. Sempre disseste que ias odiar que te enchessem o cabelo de arroz no dia do teu casamento, mas, ali, à distância, pareceu-me que estavas condenada. Rezei para que estivesses tão feliz que isso nem importasse - e, quando te vi, finalmente, tive quase a certeza, a avaliar pelo teu sorriso, de que as minhas preces foram ouvidas. Estavas mais bonita do que nunca. A felicidade fica-te muito bem, e lamento não te ter sabido vestir essa roupa, tanto quanto lamento não ser o homem que saiu contigo, de braço dado, da igreja. 

Acendi outro cigarro à saída da pastelaria, mesmo a tempo dos nossos olhares se cruzarem.
«Cheguei tarde, não cheguei?», perguntei, baixinho, a mim mesmo. Sei que não me ouviste, mas vi-te um sorriso matreiro nos lábios, como quem diz:

«tu nunca soubeste chegar a horas.»

E não mesmo. 
Que sejas muito feliz, amor da minha vida.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

0

A vida mete medo às vezes: um dia acordas, olhas à tua volta e parece que a felicidade bateu a todas as portas menos à tua. Talvez seja uma ilusão, talvez aqueles sorrisos não sejam mais do que a farda do dia a dia, obrigatória para todos aqueles que não querem que se saiba que adormecem todos os dias a chorar, os que têm dívidas, os que têm saudades. Os que têm medo. Bem vistas as coisas, usas a mesma farda também: só tu sabes o que sentes.

Há dias em que parece que entraste numa espiral vertiginosa da qual não consegues sair. De acontecimento em acontecimento, os dias felizes são tão escassos que quase nem te lembras deles: e a vida mete medo nesses dias em que temes entrar no comboio errado e sair outra vez numa estação abandonada. 

Olhas para os relógios: três alinhados na parede. Três certos nas horas, nos minutos, nos segundos - três a fazer tic tac em uníssono como quem te grita aos ouvidos que o tempo não pára e que chega de indecisões. Que, de tanto esperar pelo comboio certo, daqui a nada estação fecha e não saíste do mesmo lugar: gostas de ver as pessoas a chegar e a partir. Gostas de ver os abraços fortes no reencontro, os beijos emocionados na despedida - nunca entras em comboio nenhum porque ninguém sentirá a tua falta. 

Ninguém vai ficar de lágrimas nos olhos quando partires e ninguém vai ter os braços abertos de par em par para te receber, se algum dia quiseres voltar: ficas aqui porque sentes a tua vida sem sentido, porque o que fazes nunca vale nada, porque nunca te consegues imprimir na história do mundo. Sentas-te a assistir, figurante na tua própria vida, porque achas que o mais que faças nunca valerá nada: choras a tua sorte e o teu azar. Olhas à tua volta e parecem-te todos tão felizes que não entendes o que deu errado com a tua vida.

A vida mete medo às vezes porque te dás conta do quão pequena és, de que nada te vale usares saltos altos porque nunca serás notada. Não nasceste para isso: aprendes que tens de te resignar à tua insignificância. Deixas que os medos, aqueles que trancaste no sotão, se soltem e se apoderem de ti. Já não tens nada a perder.

Na falta de sítios onde ir, ficas. Olhas à tua volta e ficas aturdida com a quantidade de pessoas, cheiros, cores e sons que existem diante de ti: mas não pertences a lado nenhum. Eles nem sabem que existes.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

mais ou menos isto

Love isn't always pretty, Tate. Sometimes you spend all your time hoping it'll eventually be something different. Something better. Then, before you know it, you're back to square one, and you lost your heart somewhere along the way.
Colleen Hoover,
ugly love

domingo, 10 de maio de 2015

ah, metáforas

Não há muito tempo, os marinheiros acreditavam que os mares tinham abismos, que as bússolas podiam indicar os locais onde, mais além, haveria dragões. Pensei nos exploradores que navegaram com os seus navios até ao fim do mundo. como deviam ter ficado aterrorizados ao arriscarem-se a cair no precipício; como deviam ter ficado maravilhados ao descobrirem que, em vez disso, havia lugares que apenas tinham visto em sonhos...

Jodi Picoult,
frágil

Ou isto é sobre como a picoult é o meu grande amor e sobre como é exatamente isto. Sobre os passos em falso, sobre o terror, sobre o risco. Mas, sobretudo, sobre as surpresas. Sobre as surpresas boas. Sobre o ir apesar de. O fazer embora. O ir - sempre e eternamente - o ir. 
E o bem que surge depois do mal, depois do medo. O bem que compensa e mata definitivamente as dores passadas.
Depois de tudo.

outros contextos.

- Não estava a queixar-me...
- Nunca disse que estavas. Só estou a dizer... sabíamos que não ia ser fácil, não sabíamos?
Sim, sabíamos que não ia ser. Mas acho que não nos apercebemos de que ia ser assim tão difícil.

Jodi Picoult,
frágil

domingo, 1 de março de 2015

ponto da situação

Estou revoltada - ler o the fault in our stars e o looking for alaska fez-me meter o john green num pedestal e achei que o papper towns ia ser qualquer coisa; ou então sou eu que preciso de finais trágicos que me levem a ter todos os sintomas de uma depressão de uma só vez. Não sei. Sei que o livro me viciou mas depois cheguei a um certo ponto em que já só queria que acontecesse alguma coisa que o fizesse valer a pena ou que acabasse de uma vez, porque estava a perder o interesse a cada página.

E pronto, eu não sou uma expert em crítica literária mas apeteceu-me vir aqui despejar veneno, essencialmente  porque tinha metido na cabeça que era desta que ia dar uma oportunidade à triologia fifty shades mas afinal acho que me apetece assim uma coisa mais trágica, daquelas de fazer chorar as pedras da calçada, e acho que me vou atirar ao wuthering heights. 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

decidi-me

Margo always loved mysteries. And in everything that came afterward, i could never stop thinking that maybe she loved mysteries so much that she became one.

John Green,
paper towns

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

back

Hoje também é um desses dias em que - finalmente! - voltei a mim. Apetece-me desligar-me das pessoas e enfiar-me no meio dos meus livros.

Não consigo acabar o prometo falhar agora - quer dizer, consigo, mas em tragos, assim como quem vai bebendo um chá aos golinhos para durar mais tempo; é muito oh hell, isto podia ser sobre mim, e pouca história, pouca ação. Preciso de mais agora.

Então fui procurar no tablet; está cheio de ebooks que eu ainda não li, muitos deles do chuck palahniuk, mas também não quero ir por aí agora; apetece-me um daqueles livros que me deixam a experimentar todos os sintomas da depressão de uma só vez, assim ao nível do john green, mas nem sei ao certo o quê. Estou perdida.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

até um dia destes

Já não me lembro de ler como deve ser - já nem me lembro de escrever como antes. Ando há mais de um mês a arrastar o prometo falhar mas, quando tenho tempo livre, ou tenho mais coisas para fazer ou estou absolutamente esgotada. E sinto a falta de me perder nas palavras alheias porque não sei conviver comigo própria durante muito tempo seguido - mas perdi-me de mim mesma e estou à espera de conseguir voltar. 

domingo, 11 de janeiro de 2015

mais ou menos isso

... pedias desculpa mas eras incapaz de amar um só corpo como eras incapaz de amar uma só vida, e que era por isso que inventavas pessoas em ti, eras a menina e a adulta, a rebelde e a certinha, eras tudo o que podias ser, isto e o seu contrário, para que pudesses resistir, não porque fosses traidora ou infiel, não porque não me gostasses até ao fundo da pele e até ao começo dos ossos, mas apenas porque tinhas a estranha mania de insistir em seres feliz.
Pedro Chagas Freitas,
prometo falhar

sábado, 10 de janeiro de 2015

dá vontade de transcrever tudo

às vezes há tetos insustentáveis dentro de nós, dias que nos pedem desistência, e é então que te deitas e te deixas ir à espera do que te vá buscar,
o mundo precisa de desistências periódicas para continuar, foi o que me ensinaste,
és tanto cobarde como herói e é assim que te amo, o menino que se faz grande para me poder defender,
gosto muito do heroísmo da tua fragilidade,
quando nos deitamos e nos apertamos nas nossas carências sabemos que nos atravessa o que não tem solução, o mal que nos afeta não tem cura, e mesmo assim curamo-nos,
o amor pode muito bem ser apenas a impossibilidade de curar um mal, e depois obviamente curá-lo.

Pedro Chagas Freitas,
prometo falhar

sábado, 3 de janeiro de 2015

não seguir as borboletas.

se as borboletas vivem tão pouco porque é que a que voa por ti ainda resiste?,
que se lixe a sociedade protetora dos animais e mais as associações todas, vou deixar de dar-lhe de comer e seja o que tiver de ser, entre a consciência e a loucura prefiro aquela que te trouxer, ou precisamente a que não te trouxer de todo, e até lá vou usar um xaile ou dois e um pano sobre o peito,
sempre ouvi dizer que há que tapar os mortos por uma questão de respeito.

Pedro Chagas Freitas,
prometo falhar

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

o livro por que eu andava a babar há meses

Amanhã ou outro dia qualquer ou então nunca,
declaras,
e percebo então que me deste a mais profunda declaração de amor, amanhã ou outro dia qualquer ou então nunca, e eu consinto sem hesitar, pessoas como nós não procuram promessas mas nunca se falham.

Pedro Chagas Freitas,
prometo falhar

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

isto

... conseguia perceber que o verdadeiro erro que tinha cometido naquele dia não tinha sido virar as costas momentaneamente. Tinha sido acreditar que podíamos perder alguém que amamos num instante, quando na realidade se tratava de um processo que demorava meses, anos, toda a vida dela.

Jodi Picoult,
o décimo círculo 

domingo, 14 de dezembro de 2014

esses dilemas

Não sei se estou chateada comigo própria por não me conseguir decidir entre reler o perks of being a wallflower ou o décimo círculo e então andar a ler os dois ao mesmo tempo e, ainda assim, estar mortinha para me lançar no paper towns, ou se estou contente por ter voltado a ser eu, esse ser perdido entre livros.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

mudasti

Queria extrair cada momento em que sabia que ele tinha ficado tão zangado que a odiava. Desejava que todas as suas recordações fossem dos bons tempos, mas os maus momentos continuavam a regressar para a assombrar. Tinham sido uma perda de tempo tão grande.
E ninguém lhes disse que tinham pouco tempo.

Cecelia Ahern,
ps: eu amo-te

domingo, 30 de novembro de 2014

orgasmos cerebrais múltiplos

Na semana passada, deparei-me com uma feira no centro de coimbra que, entre outras coisas, estava cheia de livros - uns novos, outros quase novos, outros a apodrecer de tão velhos. Por mania, estes últimos são, de longe, os meus preferidos, e então saí de lá com a queda de um anjo, do camilo castelo branco, e o l'etranger, do camus, feliz da minha vida.

Aquilo de que eu só me dei conta ontem foi que o l'etranger, em francês, está cheio de frases sublinhadas e notas escritas na margem... em inglês. E isto pode parecer só mais um dos meus vícios estranhos mas eu juro que há poucas coisas de que eu goste mais do que encontrar frases sublinhadas em livros que compro ou requisito; pois então que isto é amor do mais puro. Depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias, este é o expoente máximo da minha felicidade.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

e fodem tudo

Sempre disse que os ciúmes sabem mais do que a verdade.

Gabriel García Márquez,
memória das minhas putas tristes

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

muito isto

Descobri que a minha obsessão de que cada coisa estivesse no seu lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo, não era o prémio merecido de uma mente ordenada mas, pelo contrário, um sistema completo de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza.

Gabriel García Márquez,
memória das minhas putas tristes 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

ser eu

No tempo em que o tempo era coisa que não me faltava, entrava na biblioteca e passava meia hora a passear-me entre as estantes sem conseguir encontrar nada que me deixasse a ter orgasmos cerebrais múltiplos - mas hoje tinha prometido a mim mesma que me ia comportar e que me ia limitar a renovar a requisição das intermitências da morte porque não tenho vida para devorar não sei quantos livros em quinze dias. Pois sim. 

Para onde quer que eu olhasse, tinha aquela sensação de oh-meu-deus-eu-preciso-de-ler-isto, e acabei por voltar para casa com, não um, mas quatro livros. Para variar.