Mostrar mensagens com a etiqueta inexplicáveis. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta inexplicáveis. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

planos para 2019

Há um ano atrás, e pela primeira vez na minha vida, fiz uma lista com as 12 coisas que eu queria realizar ao longo deste ano - e isto é o mais próximo que tenho de uma comédia trágica escrita pour moi-même. 

Não atingi a minha meta de peso, não ganhei a estabilidade profissional e financeira que queria, não corri tanto quanto seria de esperar - e portanto também ainda não foi desta que fiz a minha primeira prova -, não ultrapassei o trauma da condução, não voltei a ler um livro desde que saí da loja onde trabalhei, e a lista dos nãos continua. Posto isto, para 2019 eu resolvi criar uma lista muito mais realista, e altruísta, por forma a chegar a 2020 cheia de sonhos concretizados e com a certeza de que melhorei o mundo. 

Ora vamos lá:

Substituir as passas da passagem de ano por pepitas de chocolate.
Não sei quem teve a infeliz ideia de que as pessoas deveriam espetar 12 passas pela goela abaixo mal o ano começa, mas - excuse me - foi uma ideia de merda. Aliás, eu tenho para mim que, se não estou magra e esbelta, é precisamente por isto: eu nunca consigo pedir os meus desejos. Nunca! Mal meto a primeira passa na boca, já estou com vontade de cuspir o ano inteiro, e fica difícil. 
Então, a minha sugestão é trocar as passas por pepitas de chocolate - confesso que a minha primeira escolha foram os filipinos, mas aspirar 12 filipinos em menos de 1 minuto poderá ser difícil, até para mim, e ninguém quer começar o ano com alguém a fazer-lhe uma manobra de heimlich.

Iniciar um negócio de tráfico de celulite.
Poderá parecer-vos esquisito mas, tal como partilhei pela página, vi bastantes miúdas sem celulite durante este verão, e isso incomodou-me um bocadinho. Estamos numa era em que a igualdade é tudo: passa-se a ideia de que somos todos seres disformes, não há gordos nem magros, não há macho nem fêmea, nada. Portanto, parece-me injusto que haja gajas, tal como eu, com as coxas a parecer as estradas de portugal e outras convencidas de que a vida é só planícies sem uma única cratera.
Estou a planear desenvolver celulite injetável para aplicar, à socapa, em coxas virgens desta praga. Como é óbvio, irei sacrificar-me em prol do bem do mundo, e serei a primeira a doar a minha própria celulite. Isto vai render.

Registar um novo sexo.
Já tentaram criar uma conta online onde vos pediam para designar o sexo e, além do masculino e feminino surgia a categoria outro? É o mundo a preparar-se para a minha ideia.
Numa época em que se tornou ofensivo categorizar as pessoas por sexo tendo em conta a genitália que tem no momento, parece-me que está mais do que na altura de criar um terceiro sexo, que deverá ser globalizado, para que deixe de haver essa distinção ridícula. Ainda estou a tentar decidir os contornos estruturais da coisa mas, um pouco ainda a frio - e em primeiríssima mão - parece-me bastante bem a ideia de ter um pénis a pender do centro da vagina, sem os habituais e inúteis testículos - se não há macho nem fêmea, certamente não haverá reprodução portanto já lá não estão a fazer nada - para não perturbar. 
Em relação ao nome, vaginis parece-me a fusão perfeita. E o mundo será, certamente, um lugar melhor.

Criar piscas amovíveis.
Esta parece-me a mais fácil de compreender, e um gesto bastante altruísta, quase uma questão de voluntariado. A minha ideia é começar a distribuir os piscas amovíveis por todas aquelas pessoas carenciadas que não conseguiram comprar um carro que já os trouxesse de origem. 
Não julgo, como é óbvio: o ordenado mínimo é uma miséria, o preço do tabaco está pelas horas da morte e as pessoas têm de fazer escolhas. Nem toda a gente tem arcaboiço financeiro para comprar um carro com piscas e, mesmo os que os têm, preferem não usar para poupar a bateria. 
Para resolver esta situação, pretendo distribuir piscas a pilhas para todos.

Promover os amendoins a frutos secos.
Ah e tal, se queres ser fit tens de comer um punhado de frutos secos por dia. 'Tá bem, e como é que eu faço isso? Peço um empréstimo ao banco?
Parece-me um bocadinho injusto que o único "fruto seco" ao alcance do pobre nem sequer seja realmente um "fruto seco". É mesmo a gozar. Ou és rico ou morres obeso, pronto. E isso chateia-me.
Portanto, o meu plano para 2019 é que o amendoim seja legalizado. Perdão, promovido.

Investir todo o meu dinheiro em tendas rascas.
Pois é, meus amigos. Este objetivo é mais pessoal e menos comunitário, mas uma pessoa tem de fazer por si: como sabem, por todas as vezes que venho aqui exibir a minha indumentária do lidl, eu sou uma pessoa endinheirada. Não vale a pena estar cá com falsas modéstias porque somos todos adultos e conseguimos lidar com isto. 
Decidi que esta seria a fase ideal da minha vida para investir e, apesar de ter pensado na bolsa em primeiro lugar, achei muito mais inteligente comprar tendas para arrendar. Tendo em conta o preço das rendas atualmente, eu não tenho quaisquer dúvidas de que seja algo que valha a pena: as pessoas estão dispostas a pagar valores ridículos para viver em buracos. Quase 400€ por 16m2? Please.

Falando um pouco mais a longo prazo, tenciono investir o dinheiro que vou lucrar com o arrendamento das tendas para comprar um prédio a cair de podre e arrendar, novamente, apartamentos miseráveis ao preço de uma mansão de luxo no centro de NY, e aconselho toda a gente a fazer o mesmo porque é, sem sombra de dúvida, um negócio que vale muito a pena.

Ainda é um pouco cedo para falar, mas a minha ideia é incluir uma infestação de pulgas para que os donos de bichinhos não precisem de os levar sequer à rua para conseguirem ter sacos de pulga em casa - posteriormente, irei apostar numa empresa de desinfestação e arranjar um parceiro no campo da desparazitação dos bichos. 

Portanto, terei um ano cheio e com projetos para o futuro. Muito mais concretizável do que perder 4kg ou continuar a levantar-me uma hora mais cedo para ir correr com 2 ou 3ºC.
Alguém se lembra de mais algum projeto que valha a pena colocar em prática?

sábado, 24 de janeiro de 2015

não entendo

Ainda não entendi muito bem a febre da violleta, mas tudo bem - não estou propriamente mortinha por me sentar e fazer uma maratona, devorar todos os episódios, só para depois estar à vontade para me sentar a dissecar a moça. Já sei o essencial - é uma espécie de telenovela que parece uma mistura de rebelde way e morangos com açúcar, com o histerismo típico da floribella. Hey, nada de errado nisso! Eu também já tive 10 anos.

O que me parece incompreesível é que os papás e as mamãs invistam 1000€ para levar as criancinhas ao concerto, porque elas merecem. E depois, o melhor de tudo, é que a criatura nem sequer canta em português, o que significa que os pintelhos não percebem um caralho do que ela diz e ficam só a sorrir e a acenar, de olhos postos no palco, porque é giro e porque a gaja está lá aos saltos. Mas isto, claro, é só a minha alma de pelintra a falar mais alto. 

sábado, 10 de janeiro de 2015

ou então sou só eu que não tenho sensibilidade para tanta profundidade numa música só

Creio que estaremos todos de acordo que se saíste à noite e não ouviste, pelo menos, oito vezes o jajão, cinco vezes o jeito dela, o controla ou aquela do se-janto-fora-jantas-fora e tal e coise, é porque certamente adormeceste e limitaste-te a sonhar que saíste à noite.

Ora, o que me chateia é exatamente a última música de que falei, a amor de hoje, porque há aqui qualquer coisa que me está a escapar. Já nem quero entrar no clichê de perguntar com quem é que fica a filha quando a mamã e o papá saem porque, se já pode falar, também pode muito bem aguentar-se sozinha em casa a chorar o divórcio eminente dos pais - o que me intriga é qual é ao certo o problema do gajo. Se ele janta fora e ela janta fora, se ele dorme fora e ela dorme fora, se ele vai para os copos e ela também vai, para quê tanto drama? Ela tinha de ficar em casa enquanto ele andasse a furunfunfar na outra, era?

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

being me

Outra das expressões que eu nunca entendi é aquele típico conselho do entra com o pé direito. Então e o que é que eu faço ao esquerdo? Deixo-o à porta ou levo-o no bolso?

domingo, 21 de dezembro de 2014

isso isso

É esse querer sabendo que não devia, esse gostar sabendo que não posso, e essa certeza de que vale mais meter-me ao fresco e fugir a correr mas, oh, está tão quentinho aqui.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

4 days to go

Um misto de ansiedade e de medo enquanto vou dando largas ao motto go hard or go home. O mesmo do costume, portanto.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

5 days to go

Um dia eu vou deixar de ser dessas pessoas que morrem antes de levar com a bala. Prometo.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

é uma pena

Quando a possibilidade de perder alguém importante nos berra aos ouvidos, deixamos de ter relógios - as horas deixam de contar porque ninguém quer saber do tempo que se dispende, mesmo que inutilmente. Desaprendemos a dizer não, não se adiam compromissos, por mais banais e desinteressantes que pareçam - começam-se a aproveitar todos os segundos. E, finalmente, deixa-se boca a dançar ao ritmo dos sentimentos e perde-se o medo de se dizer o que sente.

Quando sabemos que vamos perder alguém, temem-se as conversas pendentes, as frases inacabadas, os sentimentos escondidos - queremos tudo às claras. Queremos lembrar-nos dos momentos em que fomos realmente felizes e percebemos, finalmente, que para isso é preciso que se comece por aprender a aproveitar realmente cada momento. A estar lá. A sentir.

Só é pena aprendermos isto apenas quando a ameaça nos assombra os dias. Seríamos todos tão mais felizes se estivéssemos conscientes da efemeridade de tudo - absolutamente tudo - quanto se vive.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

isso





Quero um herói de rua em coimbra, que descobri graças ao mê rique gonçalo, e as imagens não foram escolhidas ao acaso - são o reflexo da minha confusão. Minhas alforrecas... estou fodida.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

mood

Voltamos ao se tudo correr bem, hoje vai dar merda. E eu tenho quase a certeza de que vai mesmo dar merda.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

das coisas que vocês não vão compreender

Ainda me lembro do tempo em que havia uma espécie de hierarquia nos autocarros. Meio inconscientemente, sentávamo-nos de acordo com a idade; os mais velhos ocupavam os bancos de trás, e os bancos da frente eram para aqueles que tinham praticamente do tamanho das mochilas que carregavam às costas.

Tive sorte nessa altura. Logo no meu primeiro ano, quero dizer, no meu quinto ano, o primeiro de autocarro, sentava-me lá atrás, junto de duas raparigas mais velhas que prometeram à minha avó que ninguém havia de me tocar. E cumpriram. Nunca ninguém me tocou, e eu sentava-me como gente grande, no meio da gente grande. Tímida mas orgulhosamente - estava onde os outros queriam estar. 

Agora é tudo muito diferente. Apesar de ser uma das mais velhas, acabo por me sentar no meio do autocarro e por passar a viagem toda concentrada na minha música. De quando em vez, ouço conversas por alto e entendo, cada vez mais, o quanto as coisas mudaram desde que eu deixei de ter a idade deles - eu era tão mais inocente, tão mais criança, tão mais simples. Os miúdos já não parecem sentir-se intimidados pela presença de pessoas com meio metro a mais do que eles. Ao invés, ainda reagem como se os papéis se invertessem e fôssemos nós os putos assustados - é estranho.

Não quer dizer necessariamente que sejam piores do que nós, do que - nem acredito que vou dizer isto aos 18 anos! - a minha geração. É diferente, tal como acredito que eu e os monstrinhos ranhosos da minha altura também tenhamos representado um balde de água fria para os mais velhos. O mundo não pára, e acho que nos esquecemos disto. É preciso não pararmos no tempo, é preciso avançar - e, neste caso, avancei uns lugares no autocarro. Sentar-se lá atrás é para meninos.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

talvez nem seja isso

Apesar de ter ficado vidrada no looking for alaska, acho que nunca consegui compreender bem a questão central - não percebia o que era o great perhaps. Agora acho que entendi.

Passei meses, anos até, a duvidar de tudo, a questionar tudo, a tentar arranjar significados que me enchessem as medidas e me dessem sossego - nunca fui das pessoas que se conseguem deitar à noite sem preocupações quando sinto que algo está por resolver. Sou paranóica e um  bocado chata, mas gosto das coisas no seu devido lugar. Entretanto, percebi que esta busca obsessiva pela verdade era só uma obsessão que nunca me levaria a verdade nenhuma - estava encalhada.

Penso ter compreendido, finalmente, que nem quero assim tanto que isto seja desvendado. As perguntas têm movido a minha vida muito mais do que as respostas algum dia o fariam - creio até que tenham efeitos completamente opostos. Enquanto todas as minhas dúvidas agitam as águas, as respostas acabariam por as acalmar definitivamente e obrigar-me a arranjar outra ocupação - não sei viver sem dramas. Desculpem, mas é verdade; acho que nem sei ser feliz sem uma boa dose de infelicidade e confusão à mistura. Preciso de coisas que me ocupem os dias.

Foi aqui que entendi que tinha descoberto o meu great perhaps. Sei que tudo podia ter sido diferente e que, de certa forma, a escolha foi minha - mas estou feliz com a minha escolha. Talvez pudesse ter corrido melhor, talvez eu até pudesse ter sido mais feliz no meio disto tudo, mas não deu certo e não vale a pena lamentá-lo mais; acredito até que, um dia, acabe por descobrir tudo o que sempre quis saber, quando menos esperar, quando menos sentido fizer. É sempre assim, não adianta forçar. De qualquer forma, já parti para outra e, muito sinceramente, há muito tempo que não me sentia tão bem, tão livre. E um bocadinho feliz.

Procurar o sentido de tudo é uma perda de tempo, é certo. Talvez seja verdade o que dizia o caeiro, o heterónimo de que eu nunca fui capaz de gostar, quando escreveu que o único sentido oculto das coisas é elas não terem sentido oculto nenhum. Talvez eu sempre tenha sabido mas não tenha querido ver. Talvez, mas é um talvez que importa cada vez menos.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

metaforicamente

Passo metade do tempo a tentar abrir os olhos aos outros e a outra metade a tentar fechar os meus. É errado, mas é inevitável - todos queremos ser felizes, mesmo quando sabemos que é mentira.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

imperdoáveis

Um dos erros crassos dos que se regem pelas frases feitas, é interiorizarem que quem ama, perdoa, e esquecerem-se de que também o perdoável tem os seus limites. Por vezes, pode ser difícil delimitá-los, mas existem. 

Era importante as pessoas perceberem que, por mais que seja crucial respeitar os outros, é essencial metermo-nos em primeiro lugar. E que, por mais que gostemos de alguém, chega a uma altura em que não dá para continuar a fechar os olhos a erros sistemáticos que, no fundo, sempre soubémos que nunca seriam corrigidos. Ninguém muda por ninguém, a não ser que queira mudar - e isso é raro. Raríssimo. E necessita de uma maturidade que me parece ser cada vez mais escassa.

domingo, 27 de abril de 2014

ainda a procissão vai no adro

Às vezes, o silêncio parece capaz de abafar qualquer voz que se tente fazer ouvir por entre o caos dos pensamentos, parece capaz de destruir todas as palavras proferidas, trocá-las pelo não dito, pelo mal entendido, pelo mediocremente subentendido. O silêncio marca uma pausa, um compasso de espera, um tempo vazio. Mas o silêncio não resolve nada - deixa em suspenso. Nunca ninguém sabe se se trata de um ponto e vírgula ou de um ponto final, ou até se se deixaram reticências na esperança de se escrever um final quando houver mais tempo, quando houver mais paciência, quando fizer sentido. O silêncio mata, tal como nos mata essa espera infindável em que a vida se transforma. E então, quando o silêncio impera, só resta uma alternativa: não o deixar reger a nossa vida. Muda-se a linha, muda-se o parágrafo. A página, se quiserem - ou o capítulo. Ou então, fecham o livro com força, ainda meio por escrever, ainda meio por explicar, e quem quiser que lhe arranje um fim melhor. Ou que o queime. Quando o silêncio se instala, o melhor é sair de cena e recomeçar outra vez. Com palavras. Com explicações. O truque é não desesperar. É não o deixar destruir. Pode ser que o quebrem - mas, se não o quebrarem, tudo bem. Deixai-o matar histórias, deixai-o matar sentimentos, mas nunca, por nunca ser, pessoas. E que a festa continue!

terça-feira, 22 de abril de 2014

enfrente ou em frente

Parecendo ou não, há uma diferença abismal entre resolver um problema e optar por ignorá-lo, ainda que, na prática, quem opta por qualquer uma das hipóteses acabe por ter exatamente a mesma atitude: seguir em frente. 

Cortar o mal pela raiz não é fácil, mas creio que vale a pena. Acredito piamente que será sempre muito mais fácil do que deixar que o mal se arraste no tempo, atrás de nós, à espera de que algum dia, por obra de uma qualquer divindade, se nos dê a pachorra de o resolver. É preciso coragem, é certo, mas é sempre o melhor a fazer antes de, e aí sim, com toda a dignidade, esquecer o que quer que tenha acontecido.

Varrer o lixo para baixo do tapete é desesperante, especialmente para o lixo que, incapaz de fazer o que quer que seja, terá mesmo de se contentar com a posição onde o deixaram, mas acredito que também o seja para quem o varreu. Se querem que vos diga, estou mesmo a rezar para que seja - é o mínimo preço a pagar pela cobardia de fazer de conta que, escondendo o que não se quer ver, ele desaparece.

Às vezes, o monte de lixo é demasiado grande para ficar coberto por um tapete, de maneira a ser espezinhado até que, reduzido a grãos de pó cada vez mais finos, deixe de ter importância. Não. Às vezes, a ponta enrola-se e a poeira espalha-se. Outras vezes, graças ao esquecimento disfarçado, tropeça-se no tapete, vezes e vezes sem conta, até que alguém se decida a ir buscar a merda do aspirador. Se nunca se decidirem a fazê-lo, tudo bem, é convosco - mas não culpem o lixo pelas vossas quedas. Nem o culpem por ficar contente de vos ver ficar sem dentes. Vocês merecê-lo-ão.

domingo, 20 de abril de 2014

notas soltas

Encontrei uma nota no telemóvel que dizia:

por vezes, nem sabemos o efeito que temos nos outros. coisas de que nem nos lembramos, podem ter sido momentos decisivos para eles.

Percebi que nunca como agora isto fez sentido na minha cabeça. Provavelmente, nem no momento em que a ouvi algures num filme qualquer tinha tantas razões para concordar com ela. E isto, deixem-me que vos diga, é assustador. Não há nada pior do que tomarmos consciência de que nada podia ser mais verdade do que isto - não sabemos. Não sabemos as marcas que deixamos no mundo, não sabemos quantas vezes uma frase irrefletida da nossa parte não terá magoado alguém, não a terá tornado um bocadinho mais fria, não a terá afastado de nós. E as pessoas que perdemos por nunca termos percebido que as tínhamos - era só estarmos mais atentos. 

sábado, 19 de abril de 2014

do tempo perdido, do demasiado tarde

Nunca consegui compreender como é que há pessoas que conseguem estar sem fazer nada enquanto esperam. Se pensarmos bem, esperamos todos os dias - pelo comboio, pelo autocarro, pelo sono, pela vontade de fazer outra coisa qualquer. E, bem vistas as coisas, o que conta mais no final da vida nunca vão ser aqueles grandes momentos que aguardámos durante dias, semanas, meses, e que duram pouco mais do que nada. O que importa, são as pausas entre eles, os momentos em que, não tendo mais nada para fazer, podemos fazer qualquer coisa - e é exatamente uma dessas esperas que pode mudar a nossa vida. Para quê ficar somente a ver o tempo passar?

quinta-feira, 17 de abril de 2014

sobre isso do sentir

Gostar de alguém, nunca é o problema. O problema é de quem se gosta, e o que fazemos com isso.

Disseram-me um dia que era preciso ter calma. Que o importante era aprender a esperar e não nos tentarmos apoderar de um coração de uma só vez; há que manejá-lo, dia após dia, nas pontinhas dos dedos, e esperar que ele se nos entregue de livre vontade. Mas eu nunca fui capaz de o fazer. Por mais que tente contrariar essa tendência, sinto que começo a elaborar o meu plano de fuga aproximadamente trinta segundos após perceber que gosto de alguém, para não me permitir sequer a ganhar a ilusão de que há alguma coisa a fazer.

Torno-me fria, torno-me esquiva - e isto é só para usar palavras bonitas, porque a realidade é que me torno estúpida, mesmo. Tenho tanto medo que me descubram, que me escondo bem de mais. Faço de tudo para que não percebam como me sinto realmente, custe o que custar. Porquê? Nem eu sei explicar. Acho que, com o tempo, acabei por me convencer mesmo que sou uma aberração e que não tenho o direito de sentir como as pessoas normais. Que não sou digna de dizer gosto de ti sem ser gozada porque, com a minha idade, já devia ter compreendido que isso é exclusivo de pessoas bonitas. E por mais deprimente que isto vos possa parecer, juro que é verdade.

O mal é mesmo do que se faz quando se gosta, porque perdemos a noção das coisas. E eu, sempre tão desajeitada nisto do sentir, não sei ter calma, não sei ter meios termos, não sei fazer nada pela metade. Se num dia enterro num buraco bem fundo aquilo que sinto, no dia a seguir canso-me de fingir que gostar de alguém é um crime e atiro-me de cabeça. Porquê? Também não sei explicar. Acho que me canso de fazer de conta que não sinto, que não me importo, que não gosto - mas depois não sei lidar com isso porque não sou capaz de me habituar à ideia de que alguém saiba que é capaz de me levar onde quiser. Ou, principalmente, porque continua a magoar-me a ideia de haver alguém que, com a perfeita consciência de que me tem nas mãos, decide deixar-me cair. Ou empurrar-me.

segunda-feira, 17 de março de 2014

devia estar a dormir, talvez

Tenho uma tendência desastrosa para pensar demasiado em tudo, para me meditar sobre assuntos que nem ao menino jesus lembram, nem ao diabo importam - sempre fui um bocado estranha. E esta talvez venha a ser a confissão mais stalker alguma vez aqui feita, mas eu dava tudo para poder fazer um milhão de perguntas a desconhecidos.

É tudo uma questão de sorte. Cruzamo-nos diariamente com dezenas, centenas, de pessoas sobre as quais não sabemos nada, nunca saberemos nada, e algumas podem ser tão parecidas connosco que pareça impossível que não haja uma qualquer conexão, outras podem ser tudo o que mais repugnamos. E então eu tenho a mania de ficar a olhar para gente que não conheço muito mais tempo do que aquele que seria confortável - gostava de saber mais. Gostava de saber quais são os sonhos, do que é que tem medo, se está à espera de alguma coisa. Se acredita em deus, se acha que há vida para além da morte - se, secretamente, também espera como eu que um dia cheguem, vindos de outro planeta qualquer, uns seres estranhos para nos provar que há vida noutros planetas, noutras galáxias, e nos esfregarem na cara que são mais inteligentes do que nós e descobriram primeiro. 

Acredito que, de vez em quando, nos cruzemos com pessoas que escondem a história de vida mais incrível e que a única razão para continuarmos a dizer que o nosso herói preferido é o batman, é o facto de nunca nos termos dado ao trabalho de nos conhecermos uns aos outros. Desculpem-me - mas é mesmo uma questão de sorte. Já pensaram na quantidade enorme de pessoas em todo o mundo que nós nunca chegaremos a saber que existem? Pessoas que para nós nunca terão uma cara, nem um nome. Pessoas que não são nada e, quem sabe, podiam ser tudo. E quando nos cruzamos com alguém, é quase como jogar na loteria - repito: é uma questão de sorte. Podemos cruzar-nos com o pior dos marginais, ou com a pessoa mais espetacular que alguma vez conhecemos - e podemos nunca o descobrir, ou podemos ter a sorte de não nos desencontrar-mos. E isso... oh, isso é mágico.