domingo, 27 de abril de 2014

ainda a procissão vai no adro

Às vezes, o silêncio parece capaz de abafar qualquer voz que se tente fazer ouvir por entre o caos dos pensamentos, parece capaz de destruir todas as palavras proferidas, trocá-las pelo não dito, pelo mal entendido, pelo mediocremente subentendido. O silêncio marca uma pausa, um compasso de espera, um tempo vazio. Mas o silêncio não resolve nada - deixa em suspenso. Nunca ninguém sabe se se trata de um ponto e vírgula ou de um ponto final, ou até se se deixaram reticências na esperança de se escrever um final quando houver mais tempo, quando houver mais paciência, quando fizer sentido. O silêncio mata, tal como nos mata essa espera infindável em que a vida se transforma. E então, quando o silêncio impera, só resta uma alternativa: não o deixar reger a nossa vida. Muda-se a linha, muda-se o parágrafo. A página, se quiserem - ou o capítulo. Ou então, fecham o livro com força, ainda meio por escrever, ainda meio por explicar, e quem quiser que lhe arranje um fim melhor. Ou que o queime. Quando o silêncio se instala, o melhor é sair de cena e recomeçar outra vez. Com palavras. Com explicações. O truque é não desesperar. É não o deixar destruir. Pode ser que o quebrem - mas, se não o quebrarem, tudo bem. Deixai-o matar histórias, deixai-o matar sentimentos, mas nunca, por nunca ser, pessoas. E que a festa continue!

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