domingo, 20 de abril de 2014

sobre o cabeleireiro

Continuo ruiva, ninguém achou que eu tinha trocado de pais e consegui passar as ditas três horas em silêncio na maior parte do tempo, a ler. Mas depois abandonei o livro e fui obrigada a levar com as conversas do costume, sobre tudo, sobre os nadas da vida, sobre o tempo, e começou a ser difícil não me partir a rir.
Primeiro, uma queixava-se das maleitas todas a outra, muito entendida no assunto, que parecia já ter tido todas as doenças do mundo, e saem-se com esta conversa:

- ... depois não conseguia mexer as mãos nem os pés.
- coluna. isso é coluna!
- não é nada! é um problema nos tendões...
- ah, pois, tendões... foi o que eu pensei.

(orly?)

Entretanto, outra decide começar a falar do quando a incomodavam os cães dos vizinhos, que ladravam a noite toda e não a deixavam dormir, mas achou que precisava de fazer uma descrição demasiado pormenorizada da coisa:

- eram umas onze, onze menos vinte, quando o marido disse que eu podia apagar a televisão, se quisesse, porque ele ia dormir. e eu, toda contente, fui-me lavar por baixo, vestir a camisa de dormir, enfiar-me debaixo das mantas e - um caralho foda o cão! - foi por deus eu me deitar, começou a ladrar e nunca mais se calou.

...
...
...

Eu devo mesmo ter sido uma pessoa muito má noutra vida. 

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