Ainda me lembro do tempo em que havia uma espécie de hierarquia nos autocarros. Meio inconscientemente, sentávamo-nos de acordo com a idade; os mais velhos ocupavam os bancos de trás, e os bancos da frente eram para aqueles que tinham praticamente do tamanho das mochilas que carregavam às costas.
Tive sorte nessa altura. Logo no meu primeiro ano, quero dizer, no meu quinto ano, o primeiro de autocarro, sentava-me lá atrás, junto de duas raparigas mais velhas que prometeram à minha avó que ninguém havia de me tocar. E cumpriram. Nunca ninguém me tocou, e eu sentava-me como gente grande, no meio da gente grande. Tímida mas orgulhosamente - estava onde os outros queriam estar.
Agora é tudo muito diferente. Apesar de ser uma das mais velhas, acabo por me sentar no meio do autocarro e por passar a viagem toda concentrada na minha música. De quando em vez, ouço conversas por alto e entendo, cada vez mais, o quanto as coisas mudaram desde que eu deixei de ter a idade deles - eu era tão mais inocente, tão mais criança, tão mais simples. Os miúdos já não parecem sentir-se intimidados pela presença de pessoas com meio metro a mais do que eles. Ao invés, ainda reagem como se os papéis se invertessem e fôssemos nós os putos assustados - é estranho.
Não quer dizer necessariamente que sejam piores do que nós, do que - nem acredito que vou dizer isto aos 18 anos! - a minha geração. É diferente, tal como acredito que eu e os monstrinhos ranhosos da minha altura também tenhamos representado um balde de água fria para os mais velhos. O mundo não pára, e acho que nos esquecemos disto. É preciso não pararmos no tempo, é preciso avançar - e, neste caso, avancei uns lugares no autocarro. Sentar-se lá atrás é para meninos.
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