sexta-feira, 15 de maio de 2020

sexta feira

E nenhum milagre aconteceu.
Não senti a falta deste viver com o telemóvel como uma extensão do braço, numa espera desesperada por respostas que nunca chegam. Não senti a falta de sentir a esperança a dissolver-se nas horas e a receber cada anoitecer com um sentimento de falha, de perda. Todos os dias.

Estou numa situação difícil de explicar, num limbo esquisito: poderei ou não ficar desempregada dentro de duas semanas, e se há uma parte de mim que está aterrorizada com a ideia de voltar ao desemprego, a outra está mais aterrorizada ainda com a ideia de renovar um contrato que nunca desejei em primeiro lugar. 

Fala-se muito das saudades, da falta que nos fazem as pessoas e nos reencontros mais esperados - ninguém fala do oposto. Da falta que não nos fez quem nos causava um mal estar constante, e da vontade de adiar esse reencontro eternamente. É impossível que eu seja a única a sentir isto. É impossível que não exista uma única alma neste mundo que sinta o que eu sinto, este nó no peito porque o período de afastamento torna insuportável sequer imaginar a reaproximação. Esse dia em que terei de sorrir, acenar e fazer de conta de que estou feliz por voltar.

Don't get me wrong: a quarentena não tem sido fácil para mim, tal como para a maior parte das pessoas. Não consegui encará-la como umas férias, ou uma pausa, porque só me veio desequilibrar: passei de muito ativa a quase sedentária, perdi bastante peso por falta de apetite e uma alimentação degradante, fiquei mais instável do que nunca ao nível emocional e, especialmente desde o final do mês passado, tenho-me sentido permanentemente nervosa porque não sei o que será de mim. Ainda assim, mesmo que o panorama seja miserável, a ideia de ter de voltar ao trabalho sem um backup plan para o fim do meu contrato, consegue fazer-me sentir muito pior. Eu já quereria sair, mesmo que não tivesse acontecido tudo isto - mas agora quero-o mais do que nunca porque, dois meses depois, não consigo imaginar-me a voltar para um sítio onde me arrastava até ser fim de semana outra vez.

Neste momento, não sei nada de mim. 
É bastante provável - ou quase certo - que estarei de volta na próxima segunda feira. Sem plano de fuga, sem cartas na manga, sem plano b. Mais ou menos obrigada a ficar. Mais ou menos condenada a continuar a arrastar-me por aí - e, acreditem, não há quarentena que supere esta sensação.

3 comentários:

O último fecha a porta disse...

"sem cartas na manga" - se não tens cartas na manga, então arregaça-as. Levanta a tua autoestima. Dá uma volta a pé, respira o ar puro, aproveita o sol e come um gelado, daqueles de chocolate para o açúcar ativar a tua alegria. Não entres numa espiral pessimista que essa sim não leva a lado nenhum ;)

helena disse...

Como não lhe posso ser útil mando-lhe só um abraço, carregado de força e coragem. Melhores tempos virão.

Abraço

ernesto disse...

Obrigada aos dois. Neste momento, já nada há a fazer :|