segunda-feira, 11 de maio de 2020

ESTOU A RECRUTAR

Um santinho simpático para um milagre laboral.
(desculpem lá a desilusão, mas é para verem o que sinto quando leio anúncios de emprego para teletrabalho e afinal é só para vender sabonetes da avon)

Esta foi a forma mais leve que encontrei para explicar ao mundo o verdadeiro estado de calamidade, atualmente em vigor dentro de mim, que não foi decretado pelo governo mas está a ter bastante mais impacto do que o outro, o verdadeiro, aquele que deveria abranger toda a gente e relembrar que ainda estamos mais ou menos fodidos, embora já não pareça.

Tenho duas semanas para encontrar um novo emprego.
Duas semanas para fazer o que não consegui fazer em meses, e que tenho ainda menos esperança de conseguir agora, numa fase em que está tudo virado do avesso e a fé de conseguir um milagre escasseia a cada hora que passa sem qualquer resposta. Dizer-vos que estou a entrar em desespero não chega sequer para levantar o véu do que têm sido os últimos dias - ou semanas. Sinto um friozinho na barriga permanente, num desassossego constante que me acelera o coração e não me deixa respirar.

No final do mês, o meu contrato acaba.
Sempre imaginei que já teria conseguido encontrar alguma alternativa por esta altura. Que poderia entregar a farda, agradecer pelo ano de aprendizagem e sair, pela porta da frente, sem olhar para trás: não lamento, nunca lamentei, nada do que levo na bagagem, mas também nunca fiz questão de prolongar a estadia num lugar onde, claramente, nunca fui muito feliz. 

Achei que tinha tempo, que a vida se haveria de compor. 
Talvez tivesse tido, se não fosse tudo isto, se o mercado de trabalho não estivesse nas ruas da amargura e a concorrência tivesse aumentado drasticamente. Talvez tivesse sido possível, mas não foi.

Continuo em casa: ninguém fez questão de me avisar que afinal a clínica ainda não estava pronta para ter todos os funcionários a trabalhar e o meu lay off iria ser prolongado por mais um mês. Não posso, definitivamente, queixar-me senão de mim mesma, ou da pouca sorte ou das fracas escolhas, e de ter falhado redondamente em encontrar uma saída a tempo - tempo esse que parece não faltar e, ao mesmo tempo, nunca ser suficiente. Sinto-me a viver em contra relógio, numa batalha ingrata contra o passar das horas sem que mais nada possa fazer.

Resta-me respirar fundo, e esperar.
Esperar que ainda haja um plot twist na minha vida, que ainda bata certo no final.
Esperar que corra tudo bem.

5 comentários:

O último fecha a porta disse...

Confiança, otimismo e sobretudo acredita em ti própria.

Anónimo disse...

Tenta enviar o teu currículo para o Lidl. Estão a recrutar pessoas e pelo que sei pagam uns 900 euros por mês. Mesmo num part time pagam bem pelo que ouvi dizer.
Nesta altura não é fácil arranjar trabalho ainda mais um que gostemos mas se quiseres tenta mandar currículo.
Muita força. Sei que vais arranjar algo bom.

helena disse...

Espero que as coisas lhe corram bem, que a vida não lhe seja muito madrasta.

ernesto disse...

Muito obrigada aos três! :|

Emma disse...

Boa sorte!