segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

sem nada a acrescentar

Hoje, voltou a instalar-se a discussão, desta vez numa aula, sobre a lei da co-adoção. E o drama é o do costume - ah, que ninguém ia gostar de ter dois pais ou duas mães e as criancinhas ficam revoltadas and so on. As mesmas desculpas ridículas, portanto. 

Isto porque, pensei eu há uns meses, que esta teoria de que as crianças acabariam por sofrer de bullying se fossem forçadas a dizer que o pai se chama antónio e a mãe ernesto, até tinha um certo fundamento. Depois pensei melhor; foda-se, eu preferiria crescer num orfanato, a ser tratada como mais uma ranhosa sem amparo, ou no seio de uma família homossexual? Não precisei de pensar duas vezes para descobrir a resposta. 

Quer parecer-me que nem é bem nas crianças que esta gente pensa quando teima em proibir a adoção de crianças por parte de casais constituídos por pessoas do mesmo sexo; creio que a ideia é só tentar travá-los, mostrar-lhes que nunca terão o direito a uma vida normal e que, se querem mesmo ter filhos como os outros, o melhor é entrarem nos eixos e gostarem do sexo oposto como toda a gente. E, cada vez mais, esta ideia revolta-me - não por fazer parte da comunidade gay, mas por ser incapaz de compreender em que medida me deveria afetar o facto de haver mulheres que gostam de mulheres e homens que gostam de homens. Ou, mais do que isso, revolta-me que tentem contrariar sentimentos, obrigar a escondê-los, porque é indigno gostar-se de algo que fuja à regra. Mas não é mais ou menos a mesma coisa do que gostar-se da gaja gorda com quem todos gozam? Ou do gajo feio e estrábico para quem ninguém olha? Não entendo o drama. 

E se as crianças forem gozadas, que sejam. Não sei em que mundo vivem, mas pelo menos naquele que eu conheço, as crianças são gozadas por tudo e mais alguma coisa; por serem altas, por serem baixas, por serem magras, por serem gordas, por serem burras, por serem inteligentes. Por existirem, vá. Limitar a vida dos homossexuais não vai acabar com isso. Vai contribuir para que o preconceito continue, vai dar aso aos retrógrados para que continuem a sê-lo. Afinal, o mundo quer-se é como deus nosso senhor o criou. Só não entendo é como é que não andamos todos nus a comer o que as árvorezinhas dão, mas quem sabe se não cortaram da bíblia o capítulo em que deus era dono de uma loja de roupa e criou a internet, para ficar mais pequenina. Se assim for, estão à vontade para julgar os gays. Caso contrário, deixem-se de merdas, leiam a teoria da hospitalidade do spitz e entendam que viver num orfanato não é, de todo, preferível ao amor de um casal. Seja ele quem for. Mas, sobretudo, deixem-se de julgamentos e párem de  fazer com que ainda existam pessoas que, com medo de estarem erradas, de parecerem erradas, varrem os sentimentos para debaixo do tapete.

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