O medo voltou, sub-reptício, mal ela avançou alguns metros, talvez estivesse enganada, talvez ali mesmo à sua frente, invisível, um dragão a esperasse de boca aberta. Ou um fantasma de mão estendida, para a levar ao mundo terrível dos mortos que nunca acabam de morrer porque sempre vem alguém ressuscitá-los. Depois, prosaicamente, com uma infinita, resignada tristeza, pensou que o sítio onde estava não era um depósito de comidas, mas uma garagem, pareceu-lhe mesmo sentir o cheiro a gasolina, a este ponto pode iludir-se o espírito quando se rende aos monstros que ele próprio criou.
José Saramago,
ensaio sobre a cegueira
É. Na maior parte das vezes, o nosso maior medo é sobre algo que nem existe.
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