Sentei-me à beira mar, a tremer de frio - de todos os lugares do mundo, este continua a ser o meu preferido nos dias em que não sei de mim. Como hoje.
Apetece-me perdir-te desculpa, uma e outra vez, todos os dias, por ser um poço de problemas, por não saber como ser tão leve e tão simples como tu, por não conseguir encarar os sentimentos de frente e deixar-me ir: a vida é um ir e vir, como as ondas deste mar que vêm e vão ao encontro dos meus pés, mas nunca chegam a tocar-me a alma, e eu temo isso em ti. Temo não suportar ver-te ir embora no dia em que perceberes que eu não valho o esforço.
O frio enregela-me os ossos: perco-me num casaco demasiado grande para mim. As mangas, compridas demais para os meus braços, deixam a descoberto as pontinhas dos meus dedos que procuram, ansiosamente, as tuas mãos para aquecer as minhas. Mas não estás: frio como outubro, gelado como a água do mar, permaneces demasiado longe para que eu te possa tocar. Tenho medo de ti na mesma medida em que te admiro: tudo em nós é contraditório e, quando ninguém está a ver, admito a mim mesma que temos tudo para acabar mal. Mas tento, ainda assim, que acabe bem.
Culpo-te um bocadinho mas apetece-me pedir-te desculpa logo a seguir. Sou má a confiar, em ti e em mim; olho-me ao espelho e tenho mais medo outra vez - medo de que os meus modos simples te envergonhem, medo de que te sintas embaraçado ao meu lado, medo de nunca ser suficientemente boa, inteligente, bonita. Medo de que percebas que eu não sou mais no mundo do que qualquer um destes grãos de areia que o vento arremessa contra mim. Medo de que percebas de que sou nada e que nada valho, embora me sinta tudo ao teu lado. Tenho medo de gostar de ti - medo de que o teu espírito livre e leve te arraste para longe de mim se algum dia eu gostar demais. E ainda não gosto?
Sentei-me aqui hoje porque não sabia de mim, e aqui continuo porque não sou capaz de me achar: tenho um milhão de perguntas na cabeça, um milhão de dúvidas que mal me deixam respirar. A vontade de te fugir só é equiparável à vontade que tenho de esquecer o mundo e de me perder nos teus braços: trouxeste-me a luz de volta, depois de meses e meses de trevas, e é exatamente isso que me faz temer-te tanto. Sinto que não me entendes, apesar de tudo. Sinto que ainda não percebeste a raíz das minhas inseguranças e o quanto eu preciso de alguém que me segure na mão e não largue até eu ganhar pé.
Desculpa, mas gosto de ti - e isso é quase como estar perdida, em alto mar, e nunca saber muito bem se me vais salvar ou se me vais afogar.
É por isso que não posso ficar.
2 comentários:
Ai, esse coraçãozinho está triste... espero que o mar te tenha deixado melhor :) um bom feriado para ti!
Tens de ter mais fé em ti... Mas percebo cada palavra que escreves...
Abraço!
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