[São duas margens de um mesmo rio - eu estou numa delas e, tudo o que me poderia fazer feliz, está na outra. Não vejo pontes, não vejo barcos, não vejo ninguém do meu lado. Agonizo de dor: dou por mim a imaginar o que seria a minha vida do outro lado, dou por mim a sonhar que sou salva, que alguém me tira daqui. Fecho os olhos e tento convencer-me de que sou feliz no meio desta existência vazia, desprovida de sabor, que talvez este seja o meu verdadeiro lugar. Fecho os olhos para não chorar outra vez.
Volta e meia, arrisco: talvez o rio seja baixo, talvez a maré ajude, talvez eu consiga nadar. Mas, mal me sinto a perder o pé, volto para trás com uma angústia acrescida pela sensação de que estive mais perto do que nunca mas não fui forte o suficiente. E volto para o meu lado do rio, o meu lado do mundo, o meu lado da vida: só, e com mais uma cicatriz. Sempre só porque tenho demasiado medo de me magoar - e magoo-me mais, inevitavelmente.]
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