Lembro-me de ser mais nova e de dizer a toda a gente que não acreditava no amor - demorei alguns anos a descobrir que o amor não era como o pai natal, e não havia como acreditar ou desacreditar: um dia não sabes o que é e, no dia seguinte, puff, aparece de surpresa.
Vi-o nas urgências: o amor andava por todo o lado. Senti-o - e amei-o.
O amor estava impresso no olhar preocupado de quem aguardava notícias. Estava espalhado no rosto aflito de quem entregava, às mãos dos profissionais, alguém doente. Estava nas mãos dadas, enlaçadas com força, de quem torcia para que fosse só um susto. Estava nos olhos marejados de lágrimas de quem sentia que estava a perder alguém. Estava nas palavras afetuosas de familiares que buscavam mais conforto do que os próprios doentes. Estava na espera, nas horas de uma espera infinita. Estava no sorriso de quem só queria que lho retribuíssem. E eu retribuía, porque era amor.
Se falasse comigo mesma há uns anos atrás, esbofeteava-me: o amor existe e está por aí.
É só abrir os olhos e procurar a beleza nos tempos mais negros.
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