Há semanas que decidi que iria voltar aqui, e há semanas que adio também essa decisão. Uma parte de mim acha que escrever talvez me devolva aquela parte de mim que parece ter sido arquivada num sotão bafiento, ao lado das bonecas de porcelana e dos naperons de renda que ninguém quer - outra parte de mim teme ter perdido essa capacidade de dar voz aos sentimentos. Mas aqui vamos nós.
Estou cansada.
Estas talvez sejam as palavras mais simples e mais verdadeiras, capazes de justificar a minha ausência: estou cansada porque vivo a correr, não literalmente nem tão pouco por escolha, mas porque me parece sempre que viver no futuro é mais fácil do que estar no presente. E sinto-me sempre esgotada de nunca estar em tempo algum.
Às segundas, estou ansiosa pela sexta. Sinto que passo pelas semanas como quem enfrenta a descida mais íngreme de uma montanha russa: de olhos fechados e a suster a respiração. Volta e meia, dou por mim a abri-los a meio de um looping e a gritar para me deixarem sair deste carrocel. Só que é este carrocel que me paga as contas ao fim do mês.
Creio que foi isto que me fez desaparecer em primeiro lugar: depois de uns tempos desempregada, parecia-me injusto, e bastante ingrato, demonstrar que não estou feliz a fazer o que faço, um emprego meio que caído do céu - e demorei nove meses, uma gestação inteira, a ganhar coragem para escrever sobre isto.
Também estou perdida, além de cansada.
De certa forma, vendem-nos a ideia de que aos 17 já teremos tomado uma das maiores decisões das nossas vidas, que já acertámos contas com a verdadeira resposta ao o que queres ser quando fores grande?,e que é suposto não termos dúvidas. Não aconteceu comigo: aos 21, percebi que o meu sonho de infância era um pesadelo e estava muito longe de ser o caminho que eu queria seguir.
Aos 24, ainda não o encontrei.
Sinto-me quase envergonhada por ter de assumir que não sei o que quero fazer com a minha vida. Tenho uma ideia, claro - mas não sei como lá chegar porque nenhum caminho me parece curto o suficiente, nem caber na minha carteira. Então, na maior parte do tempo, sinto-me encurralada, condenada a empregos que me façam sentir na pele que não fui capaz de ir mais além, todos os dias. A sentir que nunca terei um papel suficientemente importante, seja onde for - e tudo o que mais faça nunca será suficiente.
Já tive a sorte de trabalhar em algo de que gostava verdadeiramente de fazer. Algo que me fazia acordar tão contente à segunda feira quanto estava à sexta à tarde: e o que só aprendi depois, é que é impagável e difícil de encontrar. Para vos ser franca, acho que nem sequer soube valorizar a sorte que tive, antes da ameaça de falência me ter deixado fora de jogo - e, durante todo este tempo, tenho andado à procura dessa sensação.
Desapareci porque estou cansada, e voltei pelo mesmo motivo: não posso continuar a viver só dois dias por semana, muito menos a fingir que não faz mal que assim seja.