É sexta feira, passa da minha hora de sair mas não me apetece ir para casa.
Este não era o outubro que eu esperava. Não era isto que estava nos meus planos. Culpa minha, talvez, e desse vício danado de idealizar e programar a vida a régua e esquadro - eu, que nunca gostei de seguir linhas traçadas -, de marcar datas no calendário como prémio de consolação para os dias infelizes de uma vida só levemente polvilhada com felicidade. Está tudo do avesso.
Sonhava com mudanças, com concretizações pessoais. Com projetos rabiscados num pedaço de papel sujo, passados a limpo e postos em prática - sonhava com a felicidade montada, pecinha a pecinha, até fazer sentido. Sonhava com pormenores e coisas ridículas que só fazem sentido na cabeça de quem se sente na eminência de ser ridiculamente feliz. Depois, tudo desapareceu.
É sexta feira, passa da minha hora de sair e o que me apetece mesmo é chorar.
Passei todos os sonhos para segundo plano e sinto-me a viver um pesadelo: nada bate certo, tudo corre mal, e o medo de perder, muito mais do que as coisas, mil vezes mais do que as coisas, as pessoas, pesa-me no peito e não me deixa respirar. Nada chega. É tudo pouco pano para tanta manga e a felicidade que eu esperava ficou soterrada, algures, nos escombros de tudo o que em mim parece ter desabado.
Estou cansada, exausta - não foi o furacão, foi a minha vida toda. Não foi sequer pelos bens materiais - foi pela dor, pela impotência, por não saber mais o que fazer para recuperar os pilares da minha vida. Por ser pequena, tão pequena, ínfima, insignificante. E por ter perdido muito mais do que se pode ver a olho nu.
É sexta feira, passa da minha hora de sair, e o que me apetece mesmo é chorar, mesmo que ninguém seja capaz de me ouvir. Mesmo que ninguém seja capaz de me entender. Chorar de dor, de angústia, de raiva e até - porque não? - de pena.
Não foi este o outubro que eu pedi.
1 comentário:
Poucas vezes conseguimos ser felizes com o que pedimos e nunca chega. Por isso é que temos de aprender a ser felizes com o que temos.
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