segunda-feira, 18 de abril de 2016

[arroz com atum. esse é, possivelmente, o prato mais banal de todos, o mais prático, o mais rápido, o mais tudo. arroz com atum não é uma iguaria capaz de deixar qualquer com água na boca - mas há alguns que são diferentes. o da minha tia é o da minha tia, e não há nenhum arroz com atum que me saiba melhor do que aquele. arroz, milho, ovo, atum e amor. muito amor - o amor com que cresci, o amor com que vivo, o amor que lhe tenho e que me faz querer segurá-la no tempo e impedir que o cancro a continue a consumir. mas o tempo é uma coisa curiosa: ora abranda ora acelera, ora fica ora foge. e o meu tempo com ela parece-me água a escapar por entre os dedos, e a distância mói, e a saudade dói, e o medo mata. medo de a perder, a minha tia, a minha terceira avó. medo de não chegar a tempo. 

não estou bem, mas hei de aguentar. um mês e dou um saltito até ela. um mês e posso abraçá-la. um mês e tê-la-ei a fazer-me rir - um mês e terei o único pedido que lhe fiz: preciso de eternizar essa banalidade, preciso de sentir, mais uma vez, o sabor que deixa na boca o único ingrediente que eu nunca vou conseguir arranjar em mais lado nenhum, por ser específico, por ser único, por ser nosso. arroz com atum. arroz com atum com amor, por favor.]

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