Não ia voltar a sacudir o tapete agora que a poeira assentou, mas ontem dei por mim a ler os comentários a um texto de alguém que é contra a lei que permite a entrada dos animais domésticos em cafés e restaurantes, e fiquei ligeiramente enojada com aquelas mentalidades. Mais revolucionários de sofá, desejos de morte e juras de que nunca entrariam num restaurante onde ela estivesse. A dada altura, tive esperança de que se tratasse só de gente muito brincalhona mesmo, depois quis acreditar que era doença. É um perigo coexistir com gente assim.
Esclarecendo: eu também não concordo. De forma alguma.
Para começar, há que ter em conta que os animais de estimação não são só cãezinhos e gatinhos; quem tiver um porco como animal de companhia, tem todo o direito de querer fazer-se acompanhar da criatura ao jantar. E quem diz um porco diz uma ovelha, aquela ovelha que o Xico Zé diz que só lhe falta o falar e é a companheira dos dias tristes. Uma cobra de estimação. Um canário amarelo.
Sim, faço parte daquele grupo de pessoas pouco habituada a ver o cão passar da soleira da porta. Felizmente, enquanto tive cães, sempre tive espaço para os ter fora de casa. E não consigo imaginar-me a viver de outra forma.
Tenho todo o respeito por quem os tem, e na casa dos outros não é da minha conta se o cãozinho borra o tapete ou lambe o lençol do dono. Não sou eu quem vai limpar, não sou eu quem vai dormir naquela cama. No entanto, e perdoem-me os ofendidinhos - estou a brincar, podem apedrejar-me que eu 'tou nem aí -, eu não gosto do cheiro a cão. Não há nada a fazer quanto a isso; tal como eu gosto do cheiro a gasolina e muitos outros detestam, eu não suporto aquele odor natural do cão, intensificado quando o pêlo está molhado. (Nem vou falar do que sinto quando vejo donos babados porque o cão lhes lambe a cara. A boca.)
Apesar de, aparentemente, pessoas como eu parecerem alliens num momento em que os protetores dos animais surgem em massa, não sou caso único. Há mais gente como eu. E, entenda-se, já me custa ir comer fora e ter de lidar com os guinchos das criancinhas, quanto mais ter de estar a ouvir 34 cães a arfar à minha volta, os donos a darem-lhe a comidinha do próprio prato, a deixá-los lamber a mão que depois levam à boca para tirar o caroço da azeitona e aquele restinho de carne nos dentes. Pior: pagar por isto.
Ah, então podes sempre ir a outro restaurante.
Claro. Porque os restaurantes agora são feitos a pensar nos animais e sou eu que estou errada, logo, sou eu quem tem de se mudar. Eu e todos aqueles que sofram de alergias ou fobias: somos nós que temos de evitar os cafés e restaurantes, sendo ou não os nossos sítios preferidos, porque os cães vão usufruir muito mais do que nós. E o consumo? Oh oh. Nós íamos só beber um suminho de laranja, e o bicho, se for preciso, até a empregada come. Tudo lucro.
Além disso, tenho para mim que esta é só mais uma das atitudes egoístas de quem se diz proteger os animais. Eles não estão naturalmente habituados a frequentar cafés e restaurantes, e não lhes faz falta - metam-nos a correr no jardim, na praia, no campo, e certamente vão estar bem mais felizes do que fechados numa sala com não sei quantos desconhecidos e não sei quantos animais. Há bichos que não se dão bem uns com os outros. Há cães que tentam brincar com qualquer pessoa na rua e há cães que rosnam só porque não gostam da nossa camisola de capuz. Resta-me uma ténue esperança de que haja o bom senso suficiente por parte dos donos para perceberem se aquele cão vai estar ou não sossegado num sítio desses. No entanto, depois do que li ontem, temo que estejamos, literalmente, entregues aos bichos.
Não consigo ver benefícios em levar os animais para estes espaços - mas se o objetivo é mostrar que somos todos iguais, que os animais são da família e não há motivo para diferenciar, sugiro-vos que comecem a dormir nos hotéis para cães e gatos também.
10 comentários:
Claramente a ganhar seguidores :)
Bravo!
Sempre bom saber! :)
Sou forçada a discordar, e não é por isso que deixo de te seguir :)
Como em grande parte das coisas que dizem respeito aos animais a culpa é, e será sempre, dos donos. Seja com animais, seja com crianças, aliás, a culpa é sempre de quem é responsável por eles e por gerir o que faz com eles.
Ainda agora em Amesterdão, tomei por duas vezes o pequeno-almoço num espaço onde podiam estar cães (não sei se é hábito geral, ou só naquele sítio). E uma das primeiras coisas que comentei foi, precisamente: isto em Portugal não dava. Porquê? Porque, regra geral, os portugueses são pouco civilizados. Se naquele espaço não me fez qualquer confusão ver cães, com zonas próprias para estar, com camas, em paz e sossego, sem se ouvirem, sem chatearem ninguém, sem se dar por eles, sei que em Portugal muita gente não educa devidamente os seus animais.
E o problema será sempre o mesmo. O problema não é os cães (ou as criancinhas) frequentarem estes espaços: é a forma como se comportam. Porque tal como há pais que acham razoável levar uma criança de dois anos a jantar fora, e a mesma passa o tempo todo aos berros porque devia mesmo era estar a dormir, também haverá donos que acharão razoável levar um cão irrequieto e que ladre muito para um café/restaurante.
A mim não me incomoda. Não me faz confusão. Desde que sejam respeitadas as regras de higiene e desde que os animais se comportem.
E se na tua experiência o normal é os cães estarem na rua, sabes bem que nas grandes cidades não é assim, e os cães são, na maioria, animais de casa. Animais habituados a companhia e atenção, que muito podem beneficiar da companhia dos seus donos enquanto estes tomam um café. Porque os animais precisam, e gostam, de companhia. Pergunta à pulguentita que aí tens agora :)
Agridoce, estamos 100% de acordo quanto ao facto o comportamento dos cães - e das crianças - depender sempre de quem os cria. Mas não consigo imaginar isto a correr bem, muito honestamente.
É óbvio que não acho que todos os cães são irrequietos ou mal comportados, tal como as crianças, mas há de tudo e na hora não me parece que vá haver grande critério. Entra tudo. Bons e maus.
Quanto aos cães, eu não me imaginaria a viver com cães dentro de casa. Para mim, um apartamento e um cão nunca funcionaria, e percebi isso mal tive uma experiência, em casa alheia, nesse sentido. Gosto de cães, sim, mas não acho que seria uma boa dona para eles. Os que tive foi sempre mais porque os meus pais gostavam e se ocupavam deles. Acredito que seja diferente.
(a pulguentita mimada cá de casa adooooora estar deitada em cima dos pés dos donos :p)
100% de acordo com a Agridoce!!!
Epá, desde meio do texto que estava a pensar em qualquer coisa parecida com o último parágrafo.
Também não aprovo esta lei, apesar de ter a impressão que isto nunca vai avante, porque é facultativo e não imagino muitos empresários de restauração arriscarem perder metade da clientela por causa de meia dúzia de cães.
Sabes que tive a minha Nina durante 17 anos, conviveu comigo em casa porque moro num apartamento, mas nunca subiu para a minha cama e as poucas vezes que tentou o sofá, foi corrida e assim nunca se habituou e nunca tive necessidade de a levar ao restaurante.
O que eu fazia quase todos os dias, era ir com ela para o campo e deixá-la andar sem trela. Fiz sempre o que estava ao meu alcance para que ela se sentisse um canídeo, pelo menos algumas horas por dia, porque é isso que os faz felizes. Deixá-los correr que nem doidos (os cães adoram correr, mesmo que não queiram ir a lado nenhum), poderem cheirar tudo, mesmo montes de merda, deixá-los rebolar na relva cheia de carraças (e depois ter uma trabalheira a catá-los antes de entrarem em casa) e tratar deles quando estão doentes, é quanto basta para ser um bom dono.
Os restaurantes foram feitos para pessoas, embora algumas se comportem pior do que animais. Se alguém quiser abrir um restaurante para cães, onde os donos possam ir, estou de acordo. Ter restaurantes para pessoas onde os cães possam ir, pelo que conheço dos cães e de alguns donos irresponsáveis, não acho boa ideia.
P.S. saiu-te o Euromilhões e deixaste de passar cartão aos pobres? xD
Acho que não há nada que possa acrescentar :) não me faz sentido algum levar os animais para esses sítios, nem acho que seja para benefício dos bichos. É rezar para que tenhas razão e isto nunca dê em nada :p
Ahah, não, continuo pobre, mas uma pobre que perdeu o ânimo para isto. Até mete dó, mas estou sempre na fé de ainda o recuperar e voltar a andar por aqui como deve ser!
Eu ia comentar mas opto por assinar por baixo do comentário da Agridoce :p mas, adicionalmente, espero mesmo que se torne a excepção e não a regra. É que os portugueses tendem a ser uns péssimos treinadores de cães. Em teoria adoro a ideia de deixar a bicharada entrar - e não adoro cães, por causa do cheiro de que falas, mas acho uma ideia gira - mas na prática acho que se a maioria dos restaurantes aceitar iso vamos passar a comer com cães mal educados, mal cheirosos e donos parvos à mistura. Hope not.
Este post já tem quase 1 mês mas não podia deixar de comentar. Tenho um cachorro com quase um ano e não tenciono levá-lo a nenhum restaurante. Primeiro porque nunca tive o hábito de jantar muito fora. Segundo porque não acho que seja o melhor sítio para ele.
Há alguns sítios com esplanada e a esses até posso ir (como já fui a um) mas tento ficar mais afastada para comodidade de todos. Mesmo em casa o meu cão não sobe para a cama e tem o sítio dele para ficar. Não come da nossa comida, nem se empoleira em nós a pedir o que estamos a comer. Há limites e os animais têm que ser animais. Não pseudo humanos.
Concordo que os animais tenham que ter mais direitos mas não acho que entrar em cafés/restaurantes seja o mais importante. Preferia que criassem mais espaços próprios para eles. Preferia que, por exemplo, educassem civicamente certos donos para limparem aquilo que os seus animais sujam. Moro perto de Lisboa e os jardins estão sempre um nojo. Fui de férias a Porto Covo e não se vê nada, nem na relva nem no passeio. Há que estabelecer prioridades!
Desde que não me mordam nem façam xixi contra mim, nada contra cães em esplanadas ;)
E sim, os animais têm de ser educados, mas primeiro ainda é preciso educar as pessoas.
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