sexta-feira, 13 de outubro de 2017

sinking

Perdi-me. 
Cheguei a um beco sem saída e todas as portas onde bato estão trancadas a sete chaves e ninguém está disposto a abri-las. Noutras tantas, sou eu quem não pode usar o batente. Volta e meia vejo alguém espreitar através da janela, e deixo que o meu peito se encha de fé para, logo a seguir, cair de joelhos. Estou cansada. Exausta. Cheguei aqui de mochila às costas e o regaço cheio de esperança, mas já a gastei; tudo o que tento construir, destrói-se quando viro as costas - convenci-me de que podia ser feliz, de que não tinha de me limitar a sobreviver como tantos outros. Acreditei que tinha escolha - mas não tenho. As soluções estão sempre à distância do horizonte, tão longínquas e inalcançáveis que há dias em que acho que vou desistir.

A vida acontece devagar, como se alguém, em jeito de piada de mau gosto, se tivesse lembrado de a fazer passar diante dos meus olhos em câmera lenta. Não me faz sentido, nunca me faz sentido: as respostas chegam a conta gotas e os poucos sonhos que mantive comigo começam a derreter no fundo da mala. Eu queria que tivesse sido diferente, queria ter sido mais feliz. Queria ter valido mais, significado mais - mas perdi-me. No sítio onde estou, sou nada. Sou nada todos os dias.

De repente, já é outubro e o outono recém instalado parece ser o segredo mais bem guardado dos calendários confusos por um verão que teima em ir muito além do seu tempo. E a falta que me faz o som das folhas estilhaçadas por baixo das minhas botas quentes, e o cheiro a castanhas assadas no ar frio que parece pronto a rasgar-me os pulmões. A falta que me faz sentir-me viva, todos os dias, e sentir que viver vale a pena, por todas estas pequenas coisas.

Hoje não sinto isso.
Hoje não sinto nada.

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