[nunca comemorámos o somar dos meses à nossa conta. não te escrevi sequer para comemorar o nosso primeiro aniversário: em boa verdade, também não sei o porquê mas nunca o julguei necessário, nunca achei relevante, porque o que se soma, mais do que os dias, mais do que os meses, mais do que os anos, é o amor, a cumplicidade, e o desapego da palavra, cada vez menos essencial para que saibamos o que o outro quer dizer.
há muita estrada para andar, mas às vezes olho para nós e parece que estamos juntos há uma vida inteira, que já tivemos tempo para aprendermos os cantos à casa e a melhor forma de nos encaixarmos um no outro. depois não. depois não te conheço a cem por cento, sei tudo e não sei de nada e, de repente, descobrimos uma paixão nova, uma paixão comum, e volta o fascínio daqueles primeiros tempos em que tudo era novo. caramba, como eu gosto de ti! sei que não sei tudo, e sei que tenho de ter uma paciência sábia o suficiente para aceitar que só (te) vou descobrindo com o passar dos anos, mas às vezes fico em pulgas para saber o que se segue. para saber mais, para te saber ainda melhor. para aprender tudo como se estivesse a estudar uma criatura fascinante. e não estou?
és diferente - eu sei, é o que todos dizem, mas és mesmo. estava ainda bem lúcida quando o descobri, e são essas diferenças que me fazem gostar de ti, da pessoa que és. e até da pessoa em quem me transformaste, talvez: fizeste-me crescer. e, de uma forma geral, fizeste-me ser melhor também.
dizes que não vergo por nada deste mundo, mas eu ainda não fiz mais nada do que dar o braço a torcer desde que te conheço. ok, talvez não sempre - calma, que às vezes não se pode - mas muito mais vezes do que me parecia possível.
gosto de ti. gosto de ti porque tens tanto de adulto responsável quanto de criança inocente, e fazes-me cair de amores por ti outra vez sempre que te ouço rir - talvez por não seres de riso fácil como eu, uma vendida às piadas banais, talvez porque és genuíno.
tu vais além de tudo o que poderia ter sonhado para mim porque, em momento algum, ousei sonhar tão alto.
se há um ano e meio atrás me tivesses dito que hoje iríamos estar aqui, diria que era impossível. tive medo muitas vezes de que acabássemos por desistir por ser tão difícil, mas nunca teria sido capaz de te deixar ir. teria sido o maior erro da minha vida.
sejamos sinceros: termo-nos apaixonado um pelo outro não deu jeito nenhum, não fica em conta, não é fácil, e andamos com algumas horas de sono em dívida: mas, meu amor, valeu cada segundo - e tem de ser amor, mesmo.
definitivamente, só pode ser amor.]