Cheguei pouco depois da hora de almoço, ainda nem todas as senhoras tinham tido tempo de regressar aos seus postos de trabalho.
Tirei a senha: quatro pessoas à minha frente. Ok. Tudo bem.
Vamos clarificar uma coisa: apesar de até ser um bichinho simpático, não sou sociável por aí além nem gosto muito deste tipo de repartições onde uma pessoa se sente quase que obrigada a saber das maleitas alheias ou das desgraças financeiras da vizinha da frente. Posto isto, sentei-me na cadeira mais ao cantinho da sala e, três nanossegundos depois, tinha a senhora que se sentou ao meu lado a esticar o pescocito para ver o número da minha senha, porque era a seguir a mim.
Não percebi o que se passou entretanto: num momento, estava tudo medianamente calmo e, no momento seguinte, a segurança social parecia o pingo doce naquele fatídico primeiro de maio em que as pessoas se agrediam pelo melhor rabo de bacalhau. De todos os lados, não paravam de chegar pessoas.
Chegou uma miúda grávida - sério, com que idade é que os miúdos começam a pinar agora?! - acompanhada daqueles que, pelo ar, poderiam ser os pais e uma avó (?!), e assentam arraiais a um canto numa espécie de confraternização familiar que poderia ser muito bem feita na sala de casa. Entretanto, já tinha dado o meu lugar a um velhotito que tinha chegado e estava ao canto, em pé, a rezar para chegar rápido a minha vez.
Ao meu lado, um senhor chuchava nos próprios dentes como se estivesse à procura de algum resto do almoço, escondido nos recônditos do dentiçal, para se ir entretendo na espera. Deve ter sido nesta altura que eu senti uma gota de suor a formar-se no canto direito do meu farto bigode.
Entrou mais um casal que resolveu instalar-se por baixo do sensor que fazia as portas automáticas abrirem. Comecei a hiperventilar, mas baixinho para não acharem que era uma crise e chamassem ajuda, que eu ainda tinha de voltar ao trabalho. A cada gingar da anca do senhor, as portas abriam, numa dança interminável. A senhora dizia ai credo, isto irrita! mas passaram uns bons 15 minutos nisto até que se lembrassem de que, talvez, a culpa fosse deles.
Enquanto isto, ia lançando olhares assassinos ao real chuchador que continuava ao meu lado e de quem eu não tinha grande hipótese de me afastar, enquanto me apegava a todos os santinhos em que nem sequer acredito para ver se me livrava daquele cenário traumático.
Fui atendida por uma senhora mega simpática mas depois acabei por sair de olhos pregados no chão, porque as gentes, as outras gentes que não eu, têm a mania esquisita de se despedir sempre neste tipo de locais, como os que nunca saem do centro de saúde sem desejar as melhoras, nem que seja às cadeiras ou às plantas que por lá estão, mas na segurança social não se deseja as melhoras. Talvez um RSI para todos? Sei lá, a vida é difícil e eu não gosto de falar alto neste tipo de ajuntamentos.
Fui atendida por uma senhora mega simpática mas depois acabei por sair de olhos pregados no chão, porque as gentes, as outras gentes que não eu, têm a mania esquisita de se despedir sempre neste tipo de locais, como os que nunca saem do centro de saúde sem desejar as melhoras, nem que seja às cadeiras ou às plantas que por lá estão, mas na segurança social não se deseja as melhoras. Talvez um RSI para todos? Sei lá, a vida é difícil e eu não gosto de falar alto neste tipo de ajuntamentos.
Isto era tudo muito mais giro quando o único sítio sério onde tínhamos de ir era à secretaria da escola.