sexta-feira, 5 de abril de 2019

como são os dias, cinderela?

Perco sempre seguidores de todas as vezes que ouso mostrar que há toda uma vida de deprimência por trás de uma criatura que, na maior parte do tempo, só diz disparates pontuados por palavrões, mas continuarei a escrever sobre o que me dói as vezes que forem necessárias para deixar de doer. Cada post, é uma lambidela na ferida. Um dia, ela há de fechar.
O meu estado atual é o nervosismo permanente; sinto-me sempre a fervilhar nos piores sentidos possíveis e, na maior parte do tempo, sinto-me confusa, sem saber muito bem para onde me virar. Não há um ponto da minha vida que me pareça cem por cento certo, não há absolutamente nada que não me deixe com a sensação de que há alguma coisa por resolver. Estou desapontada. A remar contra uma maré que talvez acabe por me afogar, a tentar o melhor possível em vão. E a colecionar desilusões que não confesso em voz alta para nem assumir que estou magoada e a perder o norte.
Levanto-me sem vontade. Tenho feito mil e uma coisas, resolvido mil e um assuntos para evitar ter alguma coisa pendente na hora do tão esperado sim- mesmo assim, chego ao final do dia com a mesma sensação de inutilidade e de cansaço desmerecido. Estou cansada, já o terei dito?
Há semanas, encontrei algo no meu corpo que não deveria lá estar - conversei com uma médica que me disse para não entrar em histeria, que não parece algo complicado, mas o meu novo entretém é passar a vida a tocar-lhe, numa tentativa vã de perceber se está igual ou se mudou alguma coisa. Que mudasse - não seria em meia hora. A paranóia é tal que sou capaz de começar a ter dores onde não existem, ou de o sentir muito maior mesmo que esteja exatamente igual: been there. O respeito que tenho pela saúde é tanto que não consigo ficar descansada. Vai ser um longo mês e meio à espera da consulta, e na altura talvez já tenha de pedir um bilhete de ida para psiquiatria também.
Está tudo errado.
A ansiedade, a minha velha amiga, voltou a instalar-se. Volta e meia, dou por mim ofegante a fazer nada, de repente todo o ar do mundo não é suficiente para encher o meu peito onde um coraçãozito bate descompassado. Já tive muito medo destes sintomas, mas hoje já aceitei que, muito provavelmente, conviverei com eles para sempre. O que eu não sei mesmo é viver com a incerteza constante, com sonhos arrumados ao canto.
Eu, que nunca gostei da vida traçada a régua e esquadro, eu que nunca gostei muito de planear o que vinha a seguir, dei por mim transformada numa control freak que é incapaz de lidar com um plot twist. Tinha planos mais engraçados para esta altura, mais felizes. E sonhos para concretizar que, volta e meia, já duvido que algum dia venham a ser possíveis.
Estou cansada... cheguei a escrevê-lo antes?

4 comentários:

helena disse...

Pois eu então venho aqui precisamente por este blogue não ser cor-de-rosa.

Que o seu problema de saúde se resolva sem grandes aflições.
Um abraço

disse...

A espera devia ser incluída no "menu" das doenças prolongadas. E quanto maior a espera, maior o prolongamento da ansiedade. No fim, mesmo que a doença seja benigna, a verdade é que a ansiedade da espera, matou-nos mais um bocadinho.
O que é que eu posso dizer mais, sem cair no mesmo erro daquelas pessoas que de tanto nos quererem animar, acabam por nos agravar o desânimo.
Todos morremos um dia, mas eu desejo-te o mesmo que desejo para mim: que esse dia seja, no mínimo, daqui a 500 anos, com muita saúde e felicidade, porque a "viagem" é longa.

Mary Silva disse...

É normal o sentimento que vives, depois de tanta batalha sem nenhum resultado o cansaço, chega instala-se sem pedir autorização e domina a nossa pessoa por completo.
Todas as palavras que escreves são muito familiares, não que esteja ou tenha passado exatamente a mesma situação, mas já vi algumas parecidas daí entender o que falas.
Não deixes que a ansiedade te prenda, te condicione, que se instale de vez na tua vida, tem dias que eu também a tenho.
Respiro fundo um milhão de vezes, falo sozinha para me tentar acalmar, se for preciso solto uma dúzia ou mais de palavrões volto a respirar fundo mais uma dúzia de vezes e peço a mim mesma para me controlar.
Quem disser que a vida é fácil de lidar e de viver esta a mentir, ela é bem difícil e tem dias que consegue ser chata e perturbadora.

ernesto disse...

helena, que bem que me sabe ler isso, sinceramente! :) espero que sim, que se resolva sem grandes dramas. Obrigada :)

Seminovo, a espera é mesmo a pior parte. A incerteza. Poderá não ser mesmo nada de especial, mas dormiria melhor se soubesse, e pronto :|

Mary, fica mesmo difícil. A cada semana que passa, parece uma nova facada, e uma pessoa começa mesmo a questionar tudo...
Quanto à ansiedade, tenho algumas dificuldades em controlá-la, confesso. E começo a ter manifestações físicas, como dores e assim... a tática de falar ajudou-me muito na condução! Especialmente em ultrapassagens, que foi o que mais demorei a conseguir voltar a fazer depois de um acidente :)
E obrigada pelas palavras.