Aquando do primeiro confinamento, esta que vos escreve estava viciada no ginásio, focadíssima no corpo que nunca terá, a treinar religiosamente de segunda a sábado, volta e meia com dose dupla no mesmo dia. E depois, o drama, o horror, a tragédia: confinámos. Confinámos e fecharam os ginásios para podermos ficar gordos e culpar o governo.
Durante dois meses e meio, rebolei pela casa. Só. De vez em quando, procurava vídeos de treinos de 10 ou 20 minutos só para tirar o peso da consciência, mas surtia tanto efeito quanto beber água com limão em jejum - e voltei para o ginásio no mesmo dia em que reabriram estes antros do demónio, jurando a mim mesma que não o abandonaria até que nos proibissem novamente.
Não aconteceu - ali por meados de outubro, vi que os números estavam a subir e os cuidados a descer, e achei por bem informar que não mais lá colocaria os chispes enquanto julgasse que me estava a expôr desnecessariamente. E meio que achei que era o fim, que iria voltar aos bons velhos tempos de obesa flácida porque o passado dizia-me que eu não sou um bichinho de treinos naquele pouco mais de um metro quadrado da sala lá de casa. Mas... enganei-me. E foi por isto que julguei que poderia ser útil para alguém que também tenha passado o primeiro confinamento debaixo de uma rocha, tal como eu, e tenha descoberto isto tardiamente.
Foi um acidente.
Não sei como aconteceu, mas apareceu-me um vídeo de alguém a mostrar os resultados obtidos com os treinos da Chloe Ting, e sem querer eu estava a fazer binge watching em todos os vídeos do género. To-dos. E ao 3021º vídeo, pensei: será que não funcionaria melhor se eu tentasse de facto os treinos?
Da Chloe, fiz dois diferentes: comecei com o
2 weeks shred challenge de 2019, e depois
o de 2020. E foi a revolução: percebi que esta coisa de ter um treino estruturado me ajudava a ser mais disciplinada, porque se fosse por autorrecriação eu faria apenas um daqueles vídeos de 10 ou 15 minutos, nunca faria 3 ou 4, nem treinaria com aquela frequência. Em suma, passei a permitir que uma desconhecida me controlasse. Confiei-lhe este corpitxo.
Em relação a resultados, não posso mentir: do primeiro desafio, foram nulos em termos visuais, mas senti que fui melhorando muito a minha resistência. É bom para começar porque é fácil de seguir, e lá para o quinto ou sexto dia, já nem apetece tanto chorar quando ouvimos "up and down planks". No segundo, sim: o meu corpo mudou, vi resultados engraçados e todo o plano em si é mais intenso e mais prazeroso. Pelo menos para mim: se acordo às 6h para treinar (sim... continuo a só funcionar de manhã), é para me cansar mesmo e acabar nojenta. Caso contrário, continuaria a dormir.
Claro que isto dos resultados foi giro, mas acabei esse plano a 23 de dezembro e entretanto meteu-se o natal. Pois.
Comecei outro plano da Miss Ting, mas não gostei porque não me parecia suficientemente intenso: nem uma gota de suor. Fazer o treino ou ficar no sofá era praticamente o mesmo, e iniciei toda uma busca por outros planos do género.
Tentei a
Pamela Reif: semanalmente, ela faz planos que publica no
instagram, para vários gostos, entre 30 a 45 minutos. Tentei o que eu achei que seria mais próximo do que gosto - o sweaty - mas desisti ao terceiro dia também. Não estava a sentir nada e, again, eu acordo demasiado cedo para sentir que o que fiz não valeu a pena.
No entanto, a Pamela tem a vantagem de não falar nos vídeos. Vai direita ao assunto e pronto: um vídeo de 10 minutos é mesmo um treino de 10 minutos. Fácil e prático.
De volta à busca desenfreada, li muito sobre a
Sidney Cummings que, ao contrário das outras duas, é uma profissional da área e sabe o que está a fazer. Pequeno problema: é meio impossível seguir os planos dela sem ter pesos, e a 'çoa não tem porque a 'çoa acha esse equipamento absurdamente caro.
Ela tem muitos vídeos sem equipamento mas são vídeos aleatórios, de vários planos diferentes, o que, infelizmente, eu sei que não funciona comigo porque me aborreço demasiado facilmente e preciso de me comprometer a seguir determinado desafio, ou iria começar a procurar o mais fácil porque não me apetecia, ou a saltar dias porque me faltava motivação. No entanto, para quem não for como eu, ou tenha pesos, acredito que valha a pena tentar.
So far so good: em poucos dias, estava de volta aos resultados que tinha tido antes do natal, e gosto de como fico com os treinos dela no geral. Não transpiro tanto quanto gostaria, mas sinto que me desafio todos os dias.
Um contra: vídeos demasiado longos porque, na sua maioria, são lives gravadas onde ela pára para conversar - como treino em contra relógio para poder tomar banho e chegar ao trabalho a horas, nem sempre é muito simpático. Outro ponto contra, é que, também por ela fazer live, às vezes tornam-se meio confusas as variações para principiantes, intermédios e avançados.
Não acho que funcione para quem só agora está a começar - se são como eu e têm uma camada de gordura tal que até os vossos abdominais se esqueceram de que aí estão, acho que a melhor, inicialmente, é mesmo a Chloe. Os treinos são simples, com modificações para que seja acessível para todos, e servem para começar a mexer. Para quem não gostar de repetição, talvez não ache grande piada porque consiste em repetir os mesmos vídeos praticamente todos os dias.
Pelo contrário, os treinos da Lilly são sempre diferentes, embora tenham quase todos em comum... os burpees. Pessoalmente, deixei de detestar burpees quando descobri as up and down panks e os plank jacks - mas é com vocês. Não deixa de ser mais difícil de seguir para quem está a começar: ainda que não seja exatamente a intensidade de que eu gosto, é possível que já seja demasiado para quem só está habituado a mexer os dedinhos no comando da televisão.
Agora, só para clarificar, os títulos que as moças colocam são bastante fofinhos, mas não vamos mesmo acreditar que basta fazer um vídeo de 5 minutos durante 7 dias que vamos despertar a Carolina Patrocíno que há em nós, certo? Certo. Os títulos são sensacionalistas, mas é importante manter em mente que milagres não existem se não houver cuidado com a alimentação também. Assim como assim, o importante é mexer, mesmo que se saiba que não irão chegar ao fim de 14 dias gostosonas.
Para acabar, e nem digam que vão daqui, não duvidem de que precisam de um tapete de fitness/pilates/yoga/o que caralho lhe queiram chamar. Eu achei que a carpete da sala seria o suficiente, até que comecei a ficar com nódoas negras a assinalar exatamente onde vive cada uma das minhas vértebras, e com os cotovelos queimados de tantas pranchas. Menos essencial, porém importante: bandas de glúteos. Acreditem que faz a diferença.
E com isto tudo... ainda não senti nem uma pontinha de saudades do ginásio. Sinto-me a um tiquinho de começar a gostar mesmo mais de treinar em casa.
Manias.