terça-feira, 5 de setembro de 2017

no meu tempo é que era bom, dizia a minha avó

Contactar com as crianças faz-me temer a procriação: old school no alto dos meus 22 anos, olho para os monstrinhos de hoje como se tivesse nascido há três séculos atrás. Eu já não percebo nada disto; chamem-me tacanha, mas faz-me confusão ver criaturinhas, que ainda só têm dois dentes na boca, a manobrar um smartphone melhor do que eu. Choca-me, por assim dizer.

Quanto mais o mundo avança, mais os pequenos cérebros estagnam. Ficam emperrados com tanta falta de uso: somos todos pela lei do menor esforço e pelas crias sossegadas, conectamos os putos à internet mal nascem, para que possam ter um facebook antes do cartão do cidadão. É mais fixe porque se pode usar filtros, o que dá muito jeito quando expulsamos um pequeno alien pelas partes baixas. 

São todos príncipes, claro. Fazem sessões de fotos incríveis, todos nus, dentro de cestos, em posições de yoga, essas coisas todas. Aquilo de ir ao fotógrafo lá da rua e tirar uma foto num tapete de pêlo é coisa do passado: agora quer-se é tirar fotos com uma produção ao nível das grandes estrelas. E nem assim o puto fica bonito. Ups.

Faz-me confusão, desculpem lá. Os miúdos são cada vez menos miúdos e mais nenucos; as mãezinhas raivosas vivem empenhadas em mostrar que têm a cria mais bonita, com a melhor sessão fotográfica - pelo preço de três ordenados mínimos - a festa de anos mais escandalosamente ridícula. E, claro, o que melhor dominar as tecnologias: 10 pontos para ligar ao pai antes dos dois anos, 15 por abrir o facebook, 50 se souber utilizar filtros e hashtags no instagram. Tudo para que estejam calados e não dêem trabalho.

Eu tenho pena. 
Cresci naquela altura em que, o único contacto com um computador, era uma aula de informática, de quinze em quinze dias, onde nos ensinavam a criar um email e a abrir o paint. Brincava na rua, sentava-me na terra. Falava sozinha, com as minhas bonecas, imaginava cenários, histórias. Pensava - é uma coisa que os mostrinhos mais novos sabem cada vez menos o que é, porque as brincadeiras lhes são servidas de bandeja. Ou de tablet.

É assustador. Mas, pior do que tudo, é que de nada me vale dizer que vou ser diferente - vai ser cada vez mais difícil criar miúdos como miúdos, e não como robots produzidos em massa. Vai ser cada vez mais difícil afastá-los desse mundo maravilhoso onde não têm de pensar muito - e eu bem posso tentar convencer-me de que vou ser diferente, mas não vou. 

Quando chegar a minha altura de ser uma mãezinha raivosa, vou ser igual às outras todas.

2 comentários:

A Extraterrestre disse...

Exemplo, estamos num restaurante e ouvimos um grito estridente de uma criança pequena. Comentário habitual antes de teres filhos:
"Que horror, e viste os pais até acham piada ao grito do miudo..."
Quando é o teu filho a dar o grito:
"Ohhh tão fofo, está a tentar comunicar connosco..."
Quando o teu filho já é crescido:
"Que horror, e viste os pais até acham piada ao grito do miudo... O nosso nunca fez isso.."

disse...

É como com o namoro. ahahahahahahahahahahahahahahahahahahah