quarta-feira, 6 de setembro de 2017

o meu lado de gustavo santos

É engraçado.
Vivemos a dizer aos outros que nada é para sempre, que o que temos de mais certo na vida é a mudança constante, mas esperamos sempre que a nossa se comporte como uma menina de bem e siga em linha reta, tal como nos nossos planos. Ah, mas a vida, essa filha da puta... ela gosta mesmo é de nos baralhar as ideias.

Foi o que aconteceu comigo.
Em meia dúzia de meses, vi um par de sonhos a ir por água abaixo - não por se terem tornado, de repente, inconcretizáveis, mas porque deixaram de se enquadrar e de fazer sentido naquilo que percebi ser o que eu mais queria para mim. Lá está: nada é estático, nem mesmo esses desejos empoeirados dos quais jurámos a pés juntos que nunca nos iríamos desfazer mas, aí, tudo muda.

E depois?
Depois é um susto do caraças. Acho que continuo ligeiramente assustada, para vos ser franca: passar a vida toda a achar que se sabe perfeitamente o que se quer para, de repente, perder o pé e não se fazer ideia de para onde se está a ir, dá medo. Acredito que não estejamos sozinhos: no fundo, ninguém tem respostas concretas nem certezas definitivas, mas estamos todos mais ou menos convencidos de que o certo é aceitar uma qualquer verdade como sendo a absoluta e levá-la connosco ao longo dos anos. Eu não estava para isso.

Fechei portas que pensei que quereria sempre abertas de par em par; hesitei na hora de meter a mão na maçaneta, mas depois puxei-as com força. É precisa uma boa dose de coragem para cometer um par de loucuras em prol da felicidade. Mas lá está: é preciso. É imperativo que se lute sempre pelo que nos faz mais felizes, e não deixar que as vozes de um povo, que se quer eternamente sofredor, nos façam desistir: é verdade que é tudo muito difícil, mas não é por isso que temos de sorrir e acenar a condições que nos matam aos poucos. Não nascemos todos para ser a maria amélia a quem nada na vida agrada. Às vezes, as pessoas querem mesmo fazer algo por si: deixem-nas ir. Não sejam mal fodidos e aceitem que há quem não goste de choramingar pelos cantos.

E agora estou aqui.
Meio perdida, mas mais que salva da vida que planeei para mim mesma numa fase em que acho que não queria realmente viver; às vezes ainda tenho medo dos sítios onde o futuro me pode levar. Outras, apetece-me abraçar essa incerteza com toda a alegria de quem fugiu da previsibilidade dos dias arrastados: caramba, eu posso ir a qualquer lugar, posso ser qualquer coisa. Para quê ser outra coisa que não estupidamente feliz?

Tive medo. 
Tive muito medo ao início, mas ainda não senti o mais leve arrependimento. Vale a pena correr riscos, alforrecas. Vale a pena lutar por dias melhores, vale a pena não se conformarem ainda que pareça mais seguro e confortável não dizer nada e continuar infeliz - e, se está tudo a preto e branco, o melhor é pintar com outras cores. Só para complicar. E para ficar mais bonito.

1 comentário:

disse...

A estrada da vida é como as outras estradas. É feita de retas e de curvas. Se quisermos seguir sempre em linha reta, acabamos por nos despistar. O melhor é aceitarmos as curvas como algo que faz parte da estrada e não ter medo de curvar. Ir sempre a direito pode ser tão inadequado às curvas da vida, como curvar numa reta. A única coisa imutável é o passado e o futuro, como diz quem acredita, a Deus pertence.