quarta-feira, 21 de março de 2018

vamos atear fogueiras?

Ontem, ia escrever-vos que esta febre das greves é mais contagiosa do que o sarampo e, nos últimos tempos, parece que a moda pegou mesmo - contudo, e curiosamente, não são os que se esfolam a trabalhar pelo ordenado mínimo que fazem estas birras. 

Abortei a ideia quando precisei de recuperar do choque depois de, em conversa com uma conhecida, lhe ter dito isso mesmo e a criatura me ter respondido:

- quem ganha o ordenado mínimo não se queixa porque ele está sempre a aumentar, já vai quase nos 600€!

Wait... what?
Estaremos a insinuar que quase 600€ são suficientes para se viver decentemente e com dignidade? Talvez o sejam, para quem tem a vida feita e tudo pago. Ou para quem vive pendurada na carteira de alguém. Agora, tendo em conta que os quase 600€ são, na realidade, 580€, que os preços das rendas são uma atrocidade, juntando-lhe todas as outras despesas essenciais, como a água, a eletricidade, o gás, mantendo aquele vício absurdo de comer e, pior ainda, de tentar comer bem e não viver à base de pacotes de batatas fritas de marca branca, pelas minhas contas, o ordenado mínimo dá para viver confortavelmente numa gruta. 

Estou a exagerar, claro. Ginástica bem feita, o ordenado mínimo dá perfeitamente para pagar todas estas despesas, mas sem margem para qualquer imprevisto, doenças e afins, e estando psicologicamente preparado para contar cêntimos até ao próximo salário, para repetir: trabalhar para sobreviver até que se morra, basicamente. Parecer-vos-á uma perspetiva exagerada? Se calhar até é, mas a ideia de viver para mais do que trabalhar sempre me agradou bastante. Excentricismos.

Para piorar o quadro, o pior argumento que podem usar comigo: ah, mas eu sou licenciada e só ganho mais 250€ do que o ordenado mínimo. Sou novita, que sou, mas já vi muita coisa, e coleciono revoltas que julgo não terem cura; gostava muito, mas gostava mesmo, que ser-se licenciado, mestre, doutor, fosse sinónimo de ser-se realmente bom, de ser-se competente, trabalhador, responsável. Merecedor, enfim, de um grande salário que faça jus ao tanto que estudou para chegar ali - mas, já se sabe, na prática a coisa não é bem assim, é chegar-se ao posto sem se saber muito bem como e querer ser remunerado pelo lugar que ocupa independentemente da mediocridade com que atua.

Não me lixem. 
Façam o vosso trabalho, e não me venham dizer que é quase bem feito que quem não estudou tenha um trabalho duro onde lhe pagam uma miséria, só porque vocês são licenciados e não têm dinheiro para comprar um porsche. Se calhar escolheram mal o curso - em certos casos, para o que fazem, o que recebem já é demais. Mas isto sou eu, que conheço demasiados "profissionais".

5 comentários:

disse...

Apesar da minha filha se "esfalfar" a dar aulas a putos sem os 5 alqueires bem medidos e depois ainda ter que ir dar explicações, porque o coleginho de merda lhe paga um ordenado miserável, concordo 100% contigo. Porque é que um licenciado ou um doutor tem de ganhar muiiiiito mais do que um trolha ou uma pessoa que lhe limpa a casa? Não são trabalhos necessários? Então os doutores que façam as próprias casas e limpem-nas.
Quanto às greves, quem ganha o salário mínimo não faz greve porque, normalmente, são os desgraçados que estão com contrato a prazo e se fizerem greve, quando acabar o contrato vão para o olho da rua.
E sim, é uma tristeza uma pessoa andar neste mundo apenas a trabalhar pela sobrevivência. Acho que é indigno que uns, que não fazem nada, vivam uma vida principesca à custa do trabalho dos outros. Se a riqueza produzida no mundo dá para comprar aviões particulares e iates e palácios, se fosse mais bem dividida, dava para toda a gente viver com dignidade e os ricos continuavam ricos na mesma.
Puta que pariu a ganância.

P.S. Não te esqueceste. Era mesmo no dia 19 eheheh. É fácil: dia do pai.
Já eu sinto-me em dívida contigo. Esqueci-me... faço sempre confusão com o dia 2 e o dia 7 e, à media que vou ficando mais velho, tem tendência a piorar. xD

ernesto disse...

Atenção que a minha revolta não é contra licenciados, e acredito que nem todos ganhem bem. E mais na área do ensino, que é a fantochada que já se sabe todos os anos... há tantos professores em caixas de supermercado que não me espanta que alguns acabem a ganhar uma miséria só para poder fazer o que gostam. Sou apologista do gostar-se, acima de tudo, mas as contas não se pagam com felicidade :(
Chateia-me que se queiram salários baseados em estatutos, independentemente do que se faz, de ser-se ou não um bom profissional. Precisamos de bons médicos, mas também precisamos de boas empregadas de limpeza se queremos bons hospitais. Precisamos de um bom arquiteto, mas também é essencial que tenhamos um bom pedreiro. Porque é que não se aceita que existem pessoas boas no que fazem, mesmo quando não têm um Dr a acompanhar-lhes o nome? Pouco importa o quanto trabalhes, o quão bom sejas, se és ou não o funcionário mais competente de uma empresa. Um canudo ultrapassar-te-á sempre, mesmo que não faça ponta de corno.
Isto chateia-me muito, mesmo. Especialmente na área da saúde, por conhecer bem os bastidores.

Esqueceste-te do quê, pá?! Juízo! Por acaso é mesmo a junção desses dois, nunca tinha pensado nisso xD 02/07.

disse...

Esqueci-me no ano passado. Só me lembrei dois dias depois. xD

ernesto disse...

A sério? Nem sequer me lembro xD Já disse, e é verdade, eu não sou rancorosa ahah

disse...

Não posso ter a certeza, mas assim à distância, não parece. lol