[ia falar-de de como a minha vida era antes. do quão desencantada eu era pelo mundo, e por mim mesma. de todos os dias tristes em que achei que não valia a pena, que nunca preencheria as medidas, que nunca seria suficiente - mas, de repente, dei-me conta de que essas memórias, se vão perdendo e já não é tão simples assim construir esses paralelismos. de alguma forma, renasci quando te conheci. e a minha vida começou a contar aos 21 porque, finalmente, comecei a viver.
obrigada. e desculpa: não sou sempre a melhor namorada, não sou sempre a mais paciente, e talvez não te diga as vezes suficientes a reviravolta que deste na minha vida, a forma como me forçaste a olhar para mim de outra forma. a sonhar tão alto quanto todas as outras pessoas, porque podia, porque o mundo não me estava vetado. e porque eu não sou menos do que qualquer outro ser humano. obrigada por me teres obrigado a ver que merecia mais do que as migalhas que me iam satisfazendo a carência de afeto e de atenção.
volta e meia, pergunto o que fiz para te merecer. poderá soar a modéstia exagerada ou a tentativa de redenção por todas as vezes que pus o pé ao lado, mas não é: dois anos depois, eu ainda não descobri como é que te ganhei. eu, que acho sempre que não tenho sorte, ainda sinto que ganhei a lotaria de todas as vezes que olho para ti. mesmo quando estou zangada contigo pela maior patetice do mundo. zangarmo-nos também sabe bem - aprendemos sempre qualquer coisa nova um sobre o outro. e eu diria que é de estranhar duas pessoas serem tão idênticas que nunca entram em discórdia: gosto da nossa resmunguíce, também. do bater o pé, do querer levar a sua avante. de não fazer de conta só para evitar confusões. e, depois, gosto de me sentar contigo para encontrar o meio termo. ninguém ganha, ninguém perde. ou talvez eu ganhe mais vezes do que tu porque fazes batota para me ver feliz. e eu amo-te. mesmo quando perco.
há quem duvide da existência de amores perfeitos. eu só acredito porque, há coisa de duas semanas, me ofereceste uma saqueta de sementes - e eu relembrei-me do porquê de gostar tanto de ti: és diferente de todas as pessoas que eu conheci. e, se há momentos em que me apetece apertar-te o pescoço por isso mesmo, não há um único momento em que eu não tenha a certeza de que, se me fosse dado a escolher por quem me apaixonaria, mesmo com todos os dramas de um namoro à distância, mesmo depois de tudo o que passámos até chegar aqui, não hesitaria em escolher-te a ti. sempre. acima de tudo. acima de qualquer coisa.
estou contente por poder continuar a dizê-lo mesmo depois de o namoro ter perdido aquele cheirinho a novo e os defeitos terem ficado a descoberto: há coisas que não gosto em ti, e outras tantas em que eu acho que nunca vamos acertar o passo. literalmente: esses teus 20cm de perna a mais fazem-te andar, normalmente, a um ritmo que me obriga a correr para te acompanhar; nem eu o faço, nem tu abrandas e preferes parar, para me deixar chegar a ti, ao meu ritmo. e recomeçamos. mas chegamos sempre, sempre, ao mesmo tempo - acho que o amor é um bocado isso também.
obrigada por estes vinte e quatro dias vinte e oito das nossas vidas. atrevo-me a dizer que és a pessoa que melhor me conhece - talvez mais ainda do que eu própria. obrigada por não teres fugido.
mas sim, meu amor, eu meto sempre mais sal na massa quando tu não estás a ver.]