Antes de ti, eu já fechava todas as portas à noite, três voltas à chave e um puxão rápido só para confirmar - não era que acreditasse realmente que, no caso de ser assaltada, isso impediria qualquer pessoa de chegar até mim, se assim o quisesse. Mas acreditava que o barulho me acordaria e me daria hipótese de fugir. Curiosamente, fiz o mesmo contigo; mas, um dia, passei a deixar as portas abertas de par em par, e foi assim que me apaixonei por ti.
Não gosto de ti por ser fácil - gosto de ti apesar de nunca ter sido tão difícil gerir o que sinto por alguém. Gosto de ti mesmo nestes dias em que o cansaço nos consome e a distância se adensa, nos afasta ainda mais. Gosto de ti mas nem sempre estou certa de que consiga levar isto avante, de que valha a pena sentar-me aqui à tua espera quando nunca me chegas a prometer vir. Mas vens, quando queres. Quando podes. E eu espero.
Nada no futuro nos é certo. Nem no presente - talvez amanhã isto já não faça sentido. Talvez estejamos, daqui a trinta anos, a regar as alfaces no quintal, lado a lado, enquanto nos miramos, no espelho que somos um para o outro, e damos graças a um deus qualquer por termos envelhecido juntos. Por estarmos a envelhecer. Ou talvez não. Talvez te esqueças do meu nome e eu me esqueça do tom da tua voz. Talvez eu deixe de gostar do sotaque do norte e tu arranjes outra ticas que te encha mais as medidas. Talvez nunca mais sejamos o que fomos - mas nunca perderemos o que vivemos. Nunca perderemos estes tempos que foram os nossos, que são os nossos, e em que o sentimento é suficientemente forte para encurtar caminhos e nos fazer sentir perto, tão perto, que a minha vida já não é a mesma quando te imagino longe. Mais longe do que a distância - mais longe do que o que sinto por ti alcança.
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