Embora este assunto sempre tenha sido um tanto ou quanto embaraçoso para mim, julgo que está na altura de falar - ou escrever - abertamente sobre ele: eu costumo cortar-me.
Por mais que tente, não consigo evitar fazê-lo; em situações de aperto, pegar na lâmina sempre me pareceu um gesto tão inóquo que nunca fui capaz de me negar a esse facilitismo. Nunca fui capaz de dizer não, enquanto penso para comigo que aqueles cortes não são nada comparados com as dores inerentes a qualquer outra alternativa. E continuo.
Há muitos anos que me corto; já fiz de tudo para tentar parar, mas não sou capaz. Quando acabo, há sangue em todo o lado: na banheira, no corpo, na toalha e, às vezes, até no chão. Mas continua a haver alturas em que me parece a única alternativa viável.
Tenho quase vinte anos e continuo a cortar-me sempre que sou obrigada a depilar-me com gilete.
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