sábado, 30 de abril de 2016

no supermercado

Instintivamente, levo a mão à barriga sempre que algum movimento mais brusco me causa dor; nada de errado com isso. O problema é que eu tenho ar de pita, normalmente dão-me 15-17 anos, e este gesto - ainda recém-adquirido - já levou muita gente a olhar-me meio de lado.

Não filhos, não estou grávida e a entrar em trabalho de parto, podeis estar descansados.

outros problemas

Tornei-me numa daquelas pessoas super fit que saem à rua de leggins, sweat e ténis, como se estivessem a pensar iniciar o seu joggin' a qualquer momento, entre o corredor das frutas e a peixaria, autênticas carolinas patrocínios que ponderam usar duas meloas como halteres para não desperdiçarem nem um segundo que passam fora do ginásio.

Só que não: apercebo-me agora do quão desconfortável e desadequada me parece a roupa que uso no ginásio quando estou fora dele.

Aguentem o meu fat ass encolhido numas leggins e o meu andar duvidoso: de momento, é a indumentária possível.

ponto da situação

Quase quatro dias depois de estar oficialmente desvesiculada:

- ainda não encontrei os meus gémeos, mas estou certa de que os pari;
- levantar, sentar, tossir, arrotar ou respirar fazem-me sentir que a qualquer momento vou precisar de me dirigir a uma costureira para remendar isto;
- lembro-me vagamente do tempo em que comia comida com sabor;
- se tanto agachamento não fizer um milagre nos meus glúteos, nada mais o fará;
- já vi velhos de 90 anos a andarem melhor do que eu;
- quem me disse que não doía, enganou-me mesmo bem.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

que é feito de ti, cinderela?

Sinto-me como se tivesse acabado de parir gémeos, mas fui só ali ao hospital cuspir um orgão. E agora vocês fingem-se de interessados e perguntam «quaaaaal?».

Deixo a adivinha por vossa conta.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

ainda sobre o galo

Senhora dona avó explica: não fui atrás dele porque não valia a pena. aquilo era um galo pequenino, nem sequer era para comer... não me ia arriscar a cair por aí por causa de um galo de enfeitar.

Ah, quando o galo de barcelos se cansa de ser um bibelô e foge do móvel da sala.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

a fuga do galo drogado

Qualquer pessoa que chegue ao blog entende que a autora sofre de perturbações graves e indisfarçáveis - mas sosseguem, alforrecas! A minha loucura tem par neste mundo; diria que é genético, ou não fosse eu a neta da avó mais louca de sempre.

Ontem, fui dar com ela a rir-se, sozinha, à janela. Nisto, chama-me:

- anda cá! olha ali o meu galito na estrada.

Espreitei pela janela e não havia margem para dúvidas: ao longe, via-se um galo a desfilar à porta de uma vizinha, ainda razoavelmente longe da casa da minha avó, e mais longe ainda da capoeira. Ri-me também, achando que ela estava a gozar. Não estava.

- então e não vais atrás dele? não o tentas apanhar?
- eu não! já me fugiu quase há oito dias, e tem andado por aí.

Aparentemente, a minha avó não acredita em segundas oportunidades: passou a enumerar-me todos os locais onde o bicho tinha sido visto e fiquei a saber que, de há uma semana para cá, tanto ela como as vizinhas se cruzam com o galo, livre e feliz, sem que em momento algum o tentassem apanhar. 

Imagino que a criatura se tenha transformado no ferrari dos galináceos e que, muito em breve, se começarão a gerar motins por esses galinheiros fora, que todas as galinhas comecem a lutar pela liberdade e a fugir, só com a roupa que levam no corpo.

E o galo? Bem, dada a reação da minha avó, deduzo que se tenha transformado num toxicodependente qualquer.

terça-feira, 19 de abril de 2016

como ultrapassar velhas sem piscas

Diz a panda que é muito constrangedor irmos a caminhar atrás de um grupo que prossegue com a sua vidinha em marcha lenta, num passeio que nos impossibilida de as ultrapassar a não ser que o nosso objetivo de vida seja acabarmos esborrachados na calçada. E é verdade, sim senhora dona panda, que isto é coisa para enervar uma pessoa. 

No entanto, a cinderela tem solução porque a cinderela não estava em casa quando deus nosso senhor distribuiu o juízo.

Há já algum tempo, estando a passar pela situção acima descrita e já num estado de nervos tal, entre "com licença... com LICENÇA... COM LICENÇA"'s nunca ouvidos pelo grupo de velhas que escolheram aquele dia para arejar a naftalina e acabaram a fazer uma procissão sem santos, concentrei-me, olhei o céu com ar de quem pede a paz e o amor no mundo, estiquei os braços e, aproveitando a oportunidade de assistir a uma procissão  inesperada (nah, isto não aconteceu, estou só a criar ambiente), disse alto e bom som:

AVÉ MARIA, CHEIA DE GRAÇA (...)

As velhas abriram um espaço entre elas, olhando-me como se eu fosse louca, e deixaram-me passar. Tenho a certeza de que me rogaram pragas e que foram para casa dizer aos bisnetos para nunca fazerem tal coisa em praça pública - o drama, o horror, a tragédia -, mas tanto faz.
O que importa é que eu passei.

ginecologista em casa

Ninguém me tira da ideia que as unhas de gel gigantes servem para raspar o útero.

isto

Não tenham medo de uma gaja que se passa com vocês e vos manda 25 mensagens seguidas a queixar-se da forma como a tratam, a dar dicas sobre como a deveriam tratar e a sugerir - ainda que subtilmente - que se apressem a fazer o pedido de casamento porque o relógio biológico já despertou e o vestido de noiva não combina com um barrigão.

Preocupem-se, mas preocupem-se mesmo, com uma gaja que está suficientemente zangada para não vos dizer nada. Nesse caso, façam aquela malinha que vos ensinaram a fazer na escola primária, para se manterem em caso de sismo: mantimentos e uma pilha para conseguirem chamar a atenção nos escombros. Um apito, talvez.

Ou então, um pacote de lenços. Se a tiverem conseguido fazer chegar a esse ponto, é provável que não tenha volta a dar.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

[arroz com atum. esse é, possivelmente, o prato mais banal de todos, o mais prático, o mais rápido, o mais tudo. arroz com atum não é uma iguaria capaz de deixar qualquer com água na boca - mas há alguns que são diferentes. o da minha tia é o da minha tia, e não há nenhum arroz com atum que me saiba melhor do que aquele. arroz, milho, ovo, atum e amor. muito amor - o amor com que cresci, o amor com que vivo, o amor que lhe tenho e que me faz querer segurá-la no tempo e impedir que o cancro a continue a consumir. mas o tempo é uma coisa curiosa: ora abranda ora acelera, ora fica ora foge. e o meu tempo com ela parece-me água a escapar por entre os dedos, e a distância mói, e a saudade dói, e o medo mata. medo de a perder, a minha tia, a minha terceira avó. medo de não chegar a tempo. 

não estou bem, mas hei de aguentar. um mês e dou um saltito até ela. um mês e posso abraçá-la. um mês e tê-la-ei a fazer-me rir - um mês e terei o único pedido que lhe fiz: preciso de eternizar essa banalidade, preciso de sentir, mais uma vez, o sabor que deixa na boca o único ingrediente que eu nunca vou conseguir arranjar em mais lado nenhum, por ser específico, por ser único, por ser nosso. arroz com atum. arroz com atum com amor, por favor.]

domingo, 17 de abril de 2016

ernesto, prazer


Fiquei em estado de choque quando vi isto - não é que seja propriamente uma novidade que há gajos sem barba, até porque a minha especialidade são mesmo os gajos sem colhões. O triste é que toda a gente identificava machos e eu tive de assumir - para mim mesma, bem bem bem baixinho - que eu sou esse gajo.
Este ernesto é o tipo de moço que tem um pêlo que cresce, teimosamente, no queixo, por mais vezes que eu acabe com a lágrimita no olho ao arrancá-lo com uma pinça.

Eu sabia. Eu sabia que tinha alma de macho men.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

mas volto. um dia destes, volto.

Volta e meia eu venho aqui, cheia de boas intenções e de esperança de conseguir reanimar este antro em escombros - mas não consigo. Quando vejo o que escrevia há uns tempos, não me consigo encontrar: tenho saudades da felicidade até dos dias que, há uns meses atrás, me pareciam infelizes. Sinto falta daquele meu lado que gozava com as desgraças, mas resta-me pouca vontade de o fazer agora.

Na realidade, ultimamente tenho passado os dias à espera da próxima crise, do próximo drama, do próximo momento de pânico - começo a ponderar vender a história da minha vida à globo ou enviar um mail ao nicholas sparks para lhe dar umas ideias.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

não sejam esse peido

Imaginem isto: vocês peidam-se. Não importa se foi uma bufita ou um peido a sério, o ferrari dos peidos, um peido que não deixa margem para dúvidas: vocês peidam-se e cheira mesmo mal. Vocês não gostam de cheirar mal e também não gostam que as pessoas percebam que vocês são absolutamente normais e se peidam. 

Então, vocês tentam fugir do cheiro. Andam, andam, andam. Esbracejam, entoam cânticos de adeus-ao-peido-que-me-vou, saltitam, rabeiam, e andam, andam, andam. Mas o cheiro não desaparece: não, cheiro a peido é um cheiro de raça, com pedigree. Por mais que fujam, por mais que se mostrem desagradados, o cheiro persegue-vos para todo o lado.

E há pessoas que são exatamente isto: um peido. Mas notem que não é um peido de alívio, um peido confortável e feliz: um peido extremamente indesejável.

domingo, 10 de abril de 2016

esta pobre mente perturbada

Certamente nem deus sabe porquê, sonhei que estava internada no serviço onde estagiei mas, por qualquer motivo, em vez das habituais cinco camas, o quarto só tinha duas. King size.

Uma delas já estava ocupada e então eu fiz o óbvio: deitei-me nessa, ao lado de um moço jeitoso que eu sei lá.
Depois ele virou-se para mim; era todo bexigoso, como se tivesse acabado de entrar na puberdade. E anão.

terça-feira, 5 de abril de 2016

cinderela murphy

Tudo o que puder correr mal, vai correr ainda pior do que o previsto; se vos contasse todas as aventuras das últimas semanas, choravam comigo. Chega a uma altura em que a pessoa já nem sabe se há de rir ou de chorar com a lista de tragédias e mini-tragédias que se somam.

Rir, de incredulidade, entenda-se. Ou de orgulho pela resistência que me sobra num momento em que já não sei mais para onde me virar - sempre acho que não pode piorar, piora. Sempre que acho que vem aí um período mais calmo, a tempestade regressa.

Se pudesse escrever, não teria tanta vontade de o fazer. Critico-o por se isolar, mas faço o mesmo; ignoro mensagens, adio a hora de responder, porque não me apetece. Não me apetece lidar com dramas alheios, não me apetece lidar com banalidades, não me apetece fingir que está tudo bem - mas há alturas em que consigo. Outras, não.

Preciso de uma dose de paz e duas de sorte. Preciso de um dia em que esteja tudo bem. É pedir muito?

desabafando

Agora que estou confinada a computadores alheios e por tempo limitado, apetece-me escrever-vos tudo sobre a existência humana e os problemas do mundo, apetece-me escrever um livro, um manual de sobrevivência a estas fases em que nos puxam o tapete, apetece-me, sei lá, tornar-me numa boa blogger, comentar-vos mais vezes, oferecer-vos shampôs e amostras de cremes e tudo mais. Claro que não faço nada disto; ao invés, aproveito para sacar músicas.

Mais um bocado e ouvia-as num walkman.

pequenos prazeres

A pessoa está tanto tempo sem poder ligar um computador e, consequentemente, renovar a lista de músicas do mp3 que, assim que sai da gruta e encontra um pc com net, enlouquece.

Sinto que voltei a 2005.