Há, precisamente, duas semanas, tive duas entrevistas no mesmo dia, para a mesma área mas em empresas diferentes. Se isto, logo assim de repente, já me parecia espetacularmente improvável e me fez convencer de que uma daquelas oportunidades tinha obrigatoriamente de ser minha, a coinciência de calhar na data em que comemorava o segundo aniversário daquelas cambalhotas extraordinárias na lama, fez-me ter a certeza de que era o universo a ser bonzinho comigo e a tentar compensar-me pelos traumas absurdos que guardo com tanto carinho. Só que não.
A intenção foi muito boa, e o dia até que nem foi mau: está visto que três colheres de esperança ao pequeno almoço fazem muito bem. Apesar de tudo, levantei-me com aquela fézada de que voltaria para casa satisfeita e com aquela data traumática transformada em algo positivo. Não aconteceu, mas enquanto acreditei, até estive feliz. Quase não fiz, mentalmente, a reconstituição do mesmo dia do ano filho da puta (aka, 2016), apesar de ter comido praticamente o mesmo ao pequeno almoço. E de ter saído de casa (quase) à mesma hora. Quase que não.
Não me posso queixar: foram as duas entrevistas mais boa onda de sempre. Na primeira, fui surpreendida por uma parte da entrevista ter sido feita em francês - eu percebo quase tudo, mas não tenho um vocabulário tão alargado que me permita uma conversa fluente. Ainda assim, e apesar de terem deixado claro que eu não me enquadrava exatamente no perfil que desejavam, elogiaram-me a pronúncia francesa e a forma como me desenvencilhei. Gostei deles, gostei mesmo - e, apesar de me ter desencorajado um bocadinho ao início, aquele não foi uma bênção.
A segunda nem sequer foi bem uma entrevista. Era para ser, mas não me senti como tal - pela primeira vez, estava perfeitamente à vontade. Conversei com a entrevistadora, ri-me bastante quando ela me disse que eu tinha uma voz tão fofinha que lhe apetecia apertar-me as bochechas. Ouvi-a dizer-me que tinha gostado de mim enquanto candidata - que era uma das possíveis escolhidas ao lugar. O final dessa história, acho que é percetível - aparentemente, não fiquei com o lugar nem tive direito a uma resposta. Nem a voz fofinha me salvou da tortura de não ouvir sequer um não.
Para quê tudo isto? Porque achei importante transmitir-vos este ensinamento para o futuro: nunca confiem nas boas intenções do universo, naqueles dias em que ele finge conspirar a favor - é um truque para tentar enlouquecer-vos.