Apetece-me falar sobre... gordas.
Este é aquele momento em que o povo começa a pirar ligeiramente, encarquilha os dedos dos pés e se prepara para agarrar o punhado de pedras que me vai atirar - mas sim, gordas. Apesar de hoje ser quase um dos pecados capitais chamar gorda a alguém... lembrem-se de que a gula também entra nesse mesmo grupo e, portanto, por esta altura já estamos todos com um lugarzinho reservado no inferno.
Há dias, e por mero acaso, esbarrei numa plus size model, como verifiquei mais tarde, no instagram - não percebi bem se é ou foi blogger, se é mais uma das chamadas influencers, não sei. Comecei por ver os stories (descobri-a por estar a falar de um assunto que me suscitou interesse) e só depois fui ver o perfil propriamente dito, todo ele de fotos em lingerie. XXL.
Cinderela, mas para quê tanta maldade nesse coração?
Não é maldade, gente. Mas acho que as coisas estão a avançar demasiado rapidamente, para o extremo oposto daquilo que, até então, tinham sido vistos como modelos, e nenhuma das duas posições é boa.
Se, por um lado, não acho positivo ter como modelos mocitas que almoçam lenços de papel humedecidos para que continue a ser possível contarem-se-lhe todos os ossitos do corpo a olho nu, também não acho positivo ver como modelo alguém com os ossos soterrados numa espessa camada de gordura. Desculpem: qualquer uma das duas tem um problema, qualquer uma das duas está errada.
Quero esclarecer que não me faz qualquer tipo de diferença se as pessoas são gordas ou magras, se cabem num XS ou num XXL - isso não diz o quer que seja acerca da pessoa em questão. O que não me faz sentido é que estas pessoas se vejam como um modelo a seguir e queiram passar a imagem de que está tudo bem. Que são só plus size models e que o importante é aceitarem-se.
Vou-vos dar uma novidade: é importante aceitarem-se, sim, mas desde que vejam essa fase como algo transitório porque, a meu ver, cuidarem da vossa saúde deveria ser um ponto obrigatório na história do amor próprio. Não, não é porque têm 30kg a mais do que deveriam e continuam a gostar de vocês que devem manter-se tal qual estão e promover essa imagem como algo positivo. Não é. Por favor, entendam isto: não é.
Aquilo que eu imagino quando penso no conceito plus size é, basicamente, o que gosto de ver no corpo de uma mulher: curvas, sim. Coxas grossas qb, sem ocupar dois lugares no autocarro mas a notar-se que são duas coxas e não dois pauzitos ao alto a sustentar o resto do corpo. Curvas, enfim. Talvez o corpo a que as velhotas chamam "ser bem constituído", se assim o quiserem dizer - e isso, é bonito. E acredito que possa não ter quaisquer implicações na saúde da pessoa.
Agora, a miúda em quem me inspirei para escrever este post, é mais gorda do que eu era há 22kg atrás - e, relembro, eu era já considerada obesa.
Vale o que vale: honestamente, EU não consigo achar o corpo da rapariga bonito. Não consigo, não acho, tal como repudiei o meu corpo durante anos a fio até um susto, no campo da saúde, me ter abanado e feito mudar. Que alguém ache, não acho estranho nem errado porque, afinal, temos todos gostos diferentes - agora, o que não entendo mesmo, é a aceitação, o conformismo. A quantidade de comentários que transpiram um "afinal nem faz mal eu ser gorda", porque há uma gordinha bonita - bah, também não acho a rapariga bonita, mas isso é relativo - que tem muitos seguidores nas redes sociais e que me faz sentir melhor sobre mim mesma - isto, eu acho assustador. E perigoso, até certo ponto.
Gostarem de vocês começa por cuidarem da vossa saúde: já o disse, já falei do quanto me assustei, aos 20 anos, e da forma como isso mudou a minha vida. Continuo a não ser exemplo para ninguém: adoro comer, tenho mais 4kg do que deveria e há dias em que me sinto novamente obesa. Mesmo que não esteja, mesmo que seja assim-assim, nem gorda nem magra - mas precisei de um susto para perceber que estava a matar-me aos bocadinhos. Não façam o mesmo, por favor. Amem-se, sim - e, por isso mesmo, cuidem-se. Estética nenhuma vale mais do que a vossa saúde.