terça-feira, 29 de março de 2016

vim só cuspir veneno

Desenganem-se se pensam que a minha vida é fácil, alforrecas: já se sabe que eu vivo à base do foda-se, mas é ainda mais triste começar a semana - ah, sim, começar a semana à terça; privilégios - a ter de virar as costas a um funcionário da cp para evitar mandá-lo para o caralho. Pode não parecer, mas eu até sou uma gaja bem educada.

Entenda-se que eu tento ser sempre o mais simpática que me é possível para os funcionários, porque ninguém merece ser mal tratado no local de trabalho. Pronto, sou um bocado parva com os tipos dos call center, mas uma pessoa também não pode ser perfeita!

Hoje, tentei pedir informações sobre os novos passes magnéticos. Note-se que, até à data em que eu e o meu carro nos enrolámos na lama, eu passei meses e meses sem andar de comboio e, por isso mesmo, não carregava o passe e estava alheia ao facto de ter até ao fim deste mês para tratar de fazer um novo. Dirigi-me ao balcão, e aconteceu isto:

- bom dia. queria saber como é que posso pedir um passe magnético, porque não tenho andado de comboio.´
- para este mês já não dá! o mais que lhe posso fazer é carregar o passe.

Fiquei baralhada, mas achei que o senhor me estava a tentar dizer que já não teria o meu passe novo antes de dia 1.

- tudo bem, se ainda dá para usar este...
Entreguei-lhe o passe. Olha-me como se eu lhe tivesse acabado de dizer que o pai natal não existe:

- ah, mas a menina tem passe? 
- pois, só vinha saber como é que posso ter um dos novos...
- isto é magnético?

Saltou-me a tampa. Parecia que estava a desabafar com uma porta. Ou com uma pedra. Ou com uma criatura cujo QI andava à volta dos 20.

- não, senhor! mas não me está a ouvir? este é dos antigos, eu não tenho andado de comboio!
- então tem de trazer uma foto tipo passe e uma fotocópia do CC. isto já era para estar tratado, o papel estava afixado desde o início de janeiro.

Por esta altura eu já estava capaz de o convidar a usar a minha bota como se fosse uma máscara de oxigénio, a ver se acordava. Respirei fundo. Não resultou; não me acalmei.

- ó senhor, mas está-me a ouvir? eu não ando de comboio há meses!
- então mas o papel está ali acho que desde dezembro! 

Ótimo. Agora já o tinham afixado um mês mais cedo. Afastei-me. Ainda lhe tentei explicar, mais uma vez, que não andava de comboio desde agosto e que não sabia que parte é que ele ainda não tinha entendido. Não sei se me respondeu; virei-lhe as costas, ironicamente, por ser bem educada e não querer recomendar ao homem que se dirigisse ao caralho. 

Seria agradável se as pessoas acordassem antes de se dirigir aos seus postos de trabalho - e que entendessem que, não usando o comboio como meio de transporte, se torna um bocado óbvio que não ia à estação só para lhes dizer bom dia. Sei lá. 
Eu tenho mau feitio e para mim hoje é segunda: não me fodam a cabeça.

1 comentário:

Joana Sousa disse...

Ahhhhh competência ao máximo. Coisa boa.

Solidariedade, hein? <3

Jiji