quarta-feira, 31 de agosto de 2016

das saudades

Portuguesíssimos, o saudosismo exacerbado está-nos cravado a ferro e fogo na alma: crescemos a acreditar que se morre de saudades. E vivemos à espera de que as saudades nos matem; demorei, mas percebi que é verdade. Percebi que são as saudades nos consomem mesmo, por passarmos a vida a tentar voltar atrás.

Entendi isto recentemente: as saudades aprisionam-nos no passado. Levam-nos a achar que nunca poderemos ser tão felizes quanto já fomos e fazem-nos insistir na ideia absurda de arrastar o passado para o presente - e tentamos, tentamos, tentamos. Levamos uma vida inteira de lágrimas pelo que já passou e somos tão estúpidos que nunca percebemos que somos infelizes porque insistimos em impedir-nos de ser felizes hoje - alimentamo-nos de recordações, de sentimentos passados, tantas vezes mortos, e acreditamos que não há mais nada a fazer por nós.

Estúpidos. É isto que somos todos: estúpidos.
O passado pode ter sido bom, mas o presente pode ser ainda melhor - há que desligar, há que recomeçar, há que permitirmo-nos a ser felizes outra vez. Há que arrumar cada tempo no seu lugar... e ser feliz. Ser muito feliz.

3 comentários:

Anónimo disse...

Não estou totalmente de acordo contigo.
A saudade é um sentimento, não depende da nossa vontade, não tem um interruptor que desligue a saudade.
Isso não quer dizer que deixamos de viver o presente a tentar viver o passado. Vivemos no presente com o pensamento no futuro e a saudade no coração. Somos felizes ou infelizes, independentemente de sentirmos saudade de outras vivências, porque não é a saudade que determina como vivemos. Quando o for, então algo está mal.
As saudade são como as nuvens: vêm e vão com o vento. Temos de continuar a caminhar, nem que seja preciso usar o guarda-chuva. :)
Eu tenho muitas saudades de muitas coisas, mas não me deixo agarrar por elas. Não as espanto, mas também não as incentivo a ficar. :/

ernesto disse...

Depende.
Escrevi-o porque demorei algum tempo a entender que era exatamente isto que eu estava a fazer de errado. As saudades que tinha de determinada fase da minha vida, levavam-me a tentar, insistentemente, recuperá-la. Em vez de avançar, recuava. E sofria em dobro, porque os meus esforços eram em vão.

É a isto que me refiro. É preciso desligar mesmo. Compreender que, por muito bom que tenha sido o passado, já não estamos lá. Olha... cabeçadas que uma 'çoa dá xD

Anónimo disse...

É a dar cabeçadas que se aprende, que se cresce. Aprendeste que o caminho é para a frente e o passado é só uma recordação. Boa ou má, disso depende sermos felizes ou infelizes com a saudade.
Às vezes também tenho saudades dessas, que me deixam triste e infeliz. Mas, de um modo geral, a saudade das coisas boas deixa-me nostálgico, mas não infeliz. São coisas que ninguém nos pode tirar, percebes. Agora podem-nos tirar até a vida, mas do passado não nos podem tirar nada. Encontro nisto uma certa ligação a uma ideia que julgo ser invenção minha (lol):
O lado positivo de ser velho, é que não morremos novos.