terça-feira, 9 de agosto de 2016

hoje,

[primeiro pensei que nada doeria mais do que vê-la morta no caixão, depois pensei que nada seria pior do que ver o mesmo caixão a ser enterrado no cemitério, mas entretanto percebi que a dor verdadeira está nos outros dias todos que se seguem.

eu era dela todas as tardes - pegou-me o amor pelo café, pegou-me o gosto pelas conversas longas. sempre que estava em casa à tarde, esgueirava-me até à casa dela, logo depois de almoço, baixava o som da televisão e sentava-me no canto da mesa, no mesmo sítio de sempre, com ela ao meu lado. uma chávena de café e três ou quatro histórias, contadas ano após ano, durante horas - estou capaz de jurar que já as sabia de cor mas nem por isso era menos feliz ali, com ela perto.

hoje foi o meu primeiro dia de férias e pûs-me a olhar para a casa dela, logo depois de almoço. na casa onde ela não está, na casa para onde ela não volta mais - e hoje doeu outra vez.

doeu mesmo, caramba.]